quinta-feira, 2 de abril de 2015

MEDO DA NOITE?

O s ritos de passagem são comuns a todas as culturas. Por vezes são festivos, outras vezes exigentes. É um mundo que termina e um mundo que começa. Em nossa cultura o rito mais conhecido é a festa de quinze anos da menina moça. Entre os índios Cherokees, para ser considerado homem, o jovem deve submeter-se a uma dura prova. Ao final dela, o reconhecimento ou a decepção. E ele não poderá revelar a ninguém os detalhes desta noite memorável. É uma experiência única e pessoal.
O jovem é levado para a encosta de uma montanha, onde é deixado sozinho. Seus olhos são vendados e ele não pode remover a venda antes dos primeiros raios de sol. Diante dele existe uma longa noite de trevas absolutas. Perto dele existe uma floresta, onde animais ferozes podem se abrigar. Ele escuta o pio da coruja e o uivo dos lobos. Ao seu redor zunem insetos e a qualquer momento uma cobra peçonhenta pode deslizar a seus pés. As trevas aumentam os temores imaginários. Mas ele resiste. Ao amanhecer será considerado homem com todos os privilégios inerentes. Finalmente o sol ilumina a paisagem e a venda dos olhos é tirada. Uma surpresa: a cinquenta metros, sentado, está o seu pai.
Os místicos falam da noite escura da fé. Todas as luzes se apagam, as certezas empalidecem e o futuro se mostra sombrio. São as crises de todo o tipo, mas iguais em suas garras envolventes. A pessoa está só, abandonada à própria sorte. Ela não se dá conta que o Pai está perto e, porque está perto, está protegida de qualquer perigo e logo a luminosidade do sol voltará a embelezar a vida. Existe uma solução infalível para esses momentos: a oração. Rezar não é apenas uma atitude da inteligência. Eu rezo porque tenho fé, garante alguém. A atitude mais racional é: eu rezo para ter fé. O Evangelho nos mostra um pai desesperado em busca da saúde do filho. Jesus afirma a esse pai aflito: tudo é possível para quem tem fé. E o interpela: você acredita? E a resposta se torna um modelo de prece para quem está no meio das trevas, mas acredita na luz: “Eu tenho fé, Senhor, mas ajuda minha falta de fé” Marcada pela fragilidade e pela exuberância da graça, a criatura humana percebe-se imensamente amada por Deus e este amor, afirma o Salmo 103, é maior do que a distância entre o céu e a terra, um amor que não volta atrás. Mesmo que alguém não creia em Deus, Deus acredita nele. É nas noites escuras que é mais agradável crer na luz. Por mais densas que sejam as trevas, serão vencidas pela luz.

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