domingo, 29 de março de 2015

OLHAR O TODO, MAS NÃO ESQUECER AS PARTES.

Um casal de agricultores, em tempo de calamidade em sua lavoura por causa da seca de janeiro, decidiu sair e visitar pela primeira vez a praia. Carregando consigo o cenário da aridez de sua terra, a tristeza da falta de água em suas fontes, foi se aproximando do litoral. Sem deixar as preocupações de sua casa, o casal ia imaginando o encontro com o mar pela primeira vez. A novidade que esperavam ia diminuindo a angústia da seca de sua terra.
Finalmente, ainda de longe o casal avistou um horizonte diferente e sem limites. Para quem sempre viveu entre horizontes limitados pelas montanhas, um cenário assim só podia propiciar uma sensação curiosa e deslumbrante. A proximidade do mar, o dinamismo das ondas e o barulho deste movimento levou o casal a silenciar por alguns instantes, como quem não tivesse mais nada a dizer, a não ser curtir o choque da surpresa.
Deixando o carro na praia, eles foram se aproximando das águas, em silêncio, deixando-se tocas pelas ondas que chegavam à margem. O marido exclamou: “Lá em casa falta água e aqui está sobrando! Nossas fontes estão secando e aqui o mar transborda”. A esposa também se animou a falar: “Lá em casa, nesta seca, até uma gota de água é importante, mas aqui há tanta água que nenhuma gota é importante!” O marido olhou para a esposa e disse: “Você sabe que o mar também é feito de gotas!” E ali a conversa levou o casal a um longo diálogo contemplativo.
Uma gota de água no oceano parece assunto de quem não tem o que falar, mas o realismo dessa verdade nos chama atenção para aquilo que, na rotina da vida, não se costuma valorizar. Geralmente nos envolvemos, olhamos e nos movemos no todo e esquecemos a importância das partes. Em nossos dias, onde queremos ver tudo pronto às pressas, onde a ânsia de novidade atropela tudo, precisamos reaprender a dar valor às gotas de água do oceano.
Em tempo de seca, até uma gota de água pode garantir a esperança de uma chuva fecunda. Quando se apagam as luzes, a chama de uma pequena vela pode nos salvar de um acidente. Quando nos pomos a caminho, cada passo nos ajuda a chegar. Quando programamos um dia, cada segundo garantirá o minuto, cada minuto vai compondo uma hora e cada hora vai tecendo esse dia. Ao construirmos um edifício, cada tijolo vai compondo o projeto a ser habitado.
Se o todo de todas as coisas proclama a importância das partes, assim também um projeto de vida chama a valorizar e iluminar a dignidade e a grandeza dos atos e dos fatos, das decisões e realizações que vamos fazendo acontecer no dia a dia da vida. Aqui vale a sabedoria de Madre Tereza de Calcutá, que costumava dizer: “Não nos é comum fazer grandes coisas, mas todos os dias podemos fazer as pequenas coisas com grande amor”.
Certamente seremos bem mais felizes e viveremos com mais alegria se conseguirmos contemplar o mar a partir de cada gota que o compõe. Nosso viver vai engrandecendo o seu todo na medida da grandeza que dermos às pequenas coisas que vão tecendo o nosso dia a dia.

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