sexta-feira, 20 de março de 2015

APOSSAR-NOS DO QUE NUNCA SERÁ NOSSO.

Se você ainda não conhece as ideias de Jesus nem do rabino Hillel procure conhecer. São duas fontes judaico-cristãs ricas de altruísmo. Jesus nasceu judeu. Nós cremos que ele é o Filho de Deus, mas isto não o torna menos judeu. Independente do que o leitor creia, há muito que aprender sobre ambos.
Da ascese de Jesus já conhecemos algumas sentenças: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” . Então disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” .
Citado no livro “Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo”, de Jacques Atalli, o rabino Hillel aborda quatro tipos de posse que expressam quatro comportamentos. 1-Meu-meu/teu-teu; 2-meu-teu/teu-meu; 3-meu-meu/teu-meu; 4-meu-teu/ teu-teu. 1-O que é meu é meu e o que é teu é teu. 2-O que é meu é teu e o que é teu é meu. 3-O que é meu é meu e o que é teu é meu. 4-O que é meu é teu e o que é teu é teu.
Somente o último conceito expressa sabedoria, porque somente ele contém a entrega de si, que vai além da barganha ou do exclusivismo. Somente a última postura reflete alteridade plena. Trata-se de ascese no mais alto grau. Poucas pessoas saberiam vivê-la.
Platão, na sua obra Politeia (A República), também acentua que a cidadania consiste em alguém saber a diferença entre o “meu” e o “não meu”. Quem não sabe o limite, extrapola e toma posse. Mas toma posse do que passa e isto soa como tomar posse de um rio. Teria que tomar posse outra vez e outra vez e outra vez, porque a cada minuto o rio não é mais a mesma água da qual ele se apossou. A água da qual ele tomou posse já passou! Apossar-nos do efêmero é apossar-nos do que nunca será nosso…

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