quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O PASSADO E O FUTURO.

Sucessivas gerações se encantaram com as fábulas. Trata-se de um gênero literário pedagógico que, quase sempre, empresta voz aos animais e árvores. Através de pequenos fatos, a fábula ilustra pontos do bom senso. Esopo, na Grécia antiga, parece ter sido o inventor da fábula. Mais perto de nós, no século XVII, o francês Jean de La Fontaine deu novo impulso, criando alegorias que a humanidade nunca esquecerá.

Uma das mais conhecidas fábulas de La Fontaine conta a história da cigarra e da formiga. Ao longo do verão a cigarra fez festa, cantou, sem preocupações com o futuro. Enquanto isso, a prudente formiga abarrotou sua casa de alimentos. Quando chegou o inverno, a cigarra foi pedir auxílio. Inflexível, a formiga aconselhou: você cantou durante todo o verão, pois dance agora!
Foi criada uma nova versão desta fábula. Ela começa da mesma maneira, com a formiga trabalhando e a cigarra usufruindo a vida. Quando começou o frio, a formiga, estressada, fechou-se em sua casa, onde havia alimento para muitos invernos. Ao tocar a campainha, a formiga comentou: deve ser a cigarra... E de fato era, mas bem produzida e pilotando uma esplêndida Ferrari. A cigarra pediu que a formiga desse uma olhada em sua casa, pois ela passaria o inverno em Paris. E contou que fora contratada para se apresentar numa famosa casa de espetáculos, com um fabuloso cachê. Gentil, a cigarra pediu se a formiga queria alguma coisa de Paris. Sim, quero, disse a formiga: se encontrar um tal de La Fontaine, em meu nome, pode enchê-lo de caroços.
Uma afirmação popular garante que nossas virtudes são nossos defeitos. A pessoa que é demasiadamente boa corre o risco de ser enrolada; aquela que economiza demais, pode acabar avarenta; alguém excessivamente generoso pode prejudicar a própria família. O costumeiro bom senso garante que a virtude está no meio termo.
É bastante comum a pessoa que passa a vida privando-se de tudo, com medo de que poderá passar necessidades mais tarde. Também acontece o contrário, com pessoas que esbanjam tudo e acabam na pior. O Evangelho aconselha: não vos preocupeis (Mt 6,3). Isso não significa descaso diante da vida. Preocupar-se é ocupar-se antes do tempo. A pessoa de bom senso resolve um problema por vez, sempre a seu tempo. O passado e o futuro têm sua importância, mas o tempo presente é o mais precioso e deve ser aproveitado. O passado não é mais nosso, o futuro ainda não é nosso. Inteiramente nosso é o presente, que devemos aproveitar, sempre com alguma preocupação no futuro. É ainda o Evangelho que aconselha armazenar tesouros para o céu.
Se você viver bem o momento que passa, terá todas as chances de enfrentar com alegria o futuro. O ideal é um meio termo entre o dinamismo e a preocupação da formiga, com a festa e a gratuidade da cigarra. De resto, São Francisco não apreciava a avarenta formiga, mas amava a festiva cigarra.

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