quarta-feira, 23 de maio de 2018

O FRIO, O FOGÃO E O PINHÃO.

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O frio chegou sem muito alarde. Quando ele se apresenta desse jeito, o corpo sente mais, até a natureza também se ressente. Particularmente sempre gostei de temperaturas mais baixas. Há quem se arrepia só em pensar nos dias frios. As estações variam as condições climáticas, sem levar em contas os diversos gostos e opiniões. Conforme a agenda, a reunião iniciaria logo cedo, pela manhã. O pessoal foi chegando de diversos lugares. Com um bom dia festivo, um dos participantes chegou com um balde cheio de pinhões. Em dois toques, o fogão à lenha já estava com ardente fogo. Em seguida os pinhões foram levados à chapa quente. Várias mãos se intercalavam para remexê-los. Não faltaram relatos pitorescos, ingênuas piadas e muitos risos. Por uns instantes o passado tornou-se presente. Alguns contaram as façanhas dos tempos de escola, quando os pinhões eram cozidos com os próprios galhos secos dos pinheiros.

A reunião iniciou e os demais foram para suas respectivas atividades. Enquanto fazia outras tarefas, recordei das mãos geladas da infância, rumo à escola. Caminhava-se alguns quilômetros até chegar ao pequeno e aconchegante prédio, que abrigava alunos de diversas séries. As mãozinhas, ao longo do caminho, tocavam o gelo que se formava nas poças d’água. O senso de humor era maior do que o impacto do frio. Hoje, olhando para trás, a sensação é de que na infância não se sentia tanto frio, quanto os adultos sentiam. Tempos que não voltam, saudades que brotam das lembranças, que a idade não consegue deixar no esquecimento. Cada época fornece registros que invadem o pensamento, de acordo com a situação e o momento. Recordações alcançam leveza ao dia, provocam intervalos interessantes, abrem animados espaços nas pesadas agendas do cotidiano.

Mas o frio não é tão afetivo como se pensa. Tem crianças sem agasalhos adequados, tem casas sem aquecimento, fogões que não recebem lenha há tempo. O inverno convoca à solidariedade. Que bom que ainda existe sensibilidade diante do sofrimento alheio. É dolorido ver crianças e idosos passando frio. Por outro lado, há gestos extraordinários: o amor provoca criatividade. Nestes dias, a Pastoral do Pão, que está prestes a completar o jubileu de prata na distribuição de cestas básicas, foi chamada por uma confecção e recebeu 400 casacos infantis. Além de lindas peças, os casaquinhos de lã certamente amenizarão o frio de muitos, que não têm fogão à lenha e muito menos pinhão cozido. Importar-se com aqueles que pouco ou nada possuem não é uma obrigação, mas um privilégio que aquece as mãos que ofertam e, principalmente, as mãos que recebem. Em todas as estações, a caridade sempre será o amor em ação. Pessoas que desejam a felicidade estão caminhando em direção aos que vivem em situação de vulnerabilidade. O mundo prefere registrar tragédias. Nossos olhos ainda conseguem alcançar o crescimento da bondade e da solidariedade. As mãos facilmente ficam geladas por causa do frio. Mas o coração está aquecido por causa do amor.

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