domingo, 17 de dezembro de 2017

QUAL O MELHOR PRESENTE?



No meu prédio sou sempre a primeira a pendurar a guirlanda de Natal na porta. Nós enfeitamos a árvore no primeiro dia do Advento, enquanto os italianos fazem isso no dia 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição.

As diferenças não param aí: nós costumamos comer peru na noite de Natal (ou frango, sejamos francos), enquanto as tradições italianas não são apenas diferentes das nossas, mas variam de acordo com a região. Em Roma, come-se peixe, em Milão, frango capão, uma espécie parecida com o chester.

Nós somos exagerados nas decorações e o resultado nem sempre está à altura da festa: é que entre nós prevalece o espírito carnavalesco, a explosão de cores, o festejo explícito. Na Itália é tudo bem mais comedido e o clima frio ajuda a compor uma atmosfera que sugere uma introspecção onírica e rarefeita. Dois são os elementos principais: a árvore de Natal, geralmente colocada no centro das cidades, e o presépio, uma invenção de São Francisco de Assis, que não pode faltar em lugar nenhum.

Mas a maior diferença está na polêmica: os italianos passam o Advento comentando qual é a árvore mais bonita, qual é a maior, qual é a mais cara, qual é a mais triste. Este ano, na categoria tristeza, Roma ganhou de novo, com uma árvore apelidada de “depenada”. A árvore chegou do norte com os ramos murchos, com ar de fim de festa. Decoraram a árvore com lâmpadas de LED, que emitem uma luz fria e branca, dando à arvore um ar entre o melancólico e o minimalista.

Entre a distração colorida e calorosa dos nossos preparativos e a discussão animada dos italianos, o tempo voa e amanhã já estaremos à beira de um novo ano. Desmontaremos a árvore no mesmo dia, em 6 de janeiro, mas esse dia festivo final, na Itália – e em Roma, em especial – reserva uma outra surpresa: a Befana, uma bruxa que traz presentes para todos, mas nem sempre o que se espera. Ao contrário de São Nicolau, o nosso Papai Noel, que reserva a todos uma lembrancinha, indistintamente, a Befana dá doces e presentes para os que foram bons e dá carvão aos que se comportaram mal. Os romanos, sabiamente, sempre colocam um carvãozinho entre os presentes, para lembrar que ninguém é completamente bom ao longo do ano. É a vitória do realismo. Isso não significa que São Nicolau não tenha razão: os presentes deveriam recordar que às vezes a gente recebe até quando não merece e que a bondade não é uma virtude ativa, mas é uma gentileza da qual usufruímos quando entre nossos pares o altruísmo ganha espaço.

Este ano gostaria de ganhar muitos presentes, admito. Não é pelo valor dos objetos, mas pela confiança no outro. Quanto aos carvões, o ano já reservou muitos para todos ao longo do ano. Nesta Epifania, a Befana bem que poderia se fantasiar de Papai Noel de novo para duplicar a generosidade. Sim, a generosidade é o melhor presente
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