quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

FESTAS E AFETOS

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O espírito das festas já não é o mesmo. A inocência irrefletida da infância já não volta mais. Até as crianças já não são as mesmas. Todavia, há um eterno retorno do mesmo, na semana entre o Natal e o Ano Novo. Fim e começo, o ontem e o amanhã, o adeus e o bem-vindo, o já e o ainda não se conectam e se cruzam em poucos dias. É nesse encontro dos extremos que o mais excelso da nossa existência acontece e, por isso, celebramos, festejamos e brindamos.

Contudo, a overdose festiva em apenas oito dias nos deixa tontos, em êxtase, excitados e, no meu caso, num misto de alegria e tristeza que identifico como “melancolia”.

Alegria é um afeto do corpo em que sentimos aumentada a potência de ação do próprio corpo. Na alegria nos tornamos expansivos, contagiantes, vibrantes e com a potência do corpo no seu estágio mais elevado. Na alegria o ser quer aparecer, mostrar-se, comunicar-se, relacionar-se e quase impor-se. A alegria é ostensiva e imperiosa.

A tristeza é um afeto de diminuição de nossa potência de agir. A tristeza nos apequena, nos encolhe e nos tira as energias que movimentam o corpo. A tristeza nos retém e nos torna sem graça e sem vitalidade. A tristeza dilacera e enfraquece a alma.

As festas de Natal, final e início de ano, deixam-me em um estado entre a alegria e a tristeza. Esse estado é a “melancolia”. A melancolia tende mais para a tristeza do que para a alegria, mais para o recolhimento do que para a expansão, mais para a solidão do que para a multidão, mais para a introspecção do que para a extroversão, mais para o silêncio do que para o barulho, mais para uma leitura do que para a televisão, mais para a sobriedade do que para o êxtase do consumo, mais para contemplação do que para a ação, mas para uma música do que para vídeos de mensagens no WhatsApp.

A melancolia não é um estado de tristeza ocasionada por alguma razão objetiva de perda ou de impotência de ação. A melancolia é uma tristeza sem causa e sem razão objetiva. É uma tristeza vaga. É uma tristeza pelo “não sentido do ser”! A melancolia, assim como angústia, é um sentimento do “nada”, de tal forma que quando passa a gente diz: “não era nada”. Quando dia dois de janeiro chegar eu direi: “não era nada”...

Se me perguntarem porque estou tomado por esse estado de melancolia, eu não saberei exatamente dizer porquê. Contudo, tenho uma leve impressão que seja pela obrigação de ser alegre e feliz, que essas datas impõem. Recuso-me fazer parte do espírito do mercado, das compras, dos presentes, das cores exuberantes, dos sorrisos forçados, das promessas irrealizáveis e dos “excessos do ser”. Não sei se sou saudável, mas só sei e sinto que não estou doentio...

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