terça-feira, 28 de julho de 2015

A MARCHA DO ORGULHO HUMANO.

Marcha para Jesus, marcha do orgulho gay, do orgulho hétero, marcha da maconha, marcha das vadias, marcha do orgulho crespo, marcha do orgulho Cláudia Ohana, marcha do orgulho raspadinha, marcha dos coxinhas, marcha dos risoles, marcha do soldado cabeça de papel, marcha disso, marcha para aquilo. E se não marchar direito que vá para Cuba ou para Miami. Ou para qualquer pátria que não o tenha parido. E assim vamos caminhando e marchando e desafinando a canção. Cada um cantando no seu tom e no arranjo que mais lhe soa favorável. Mas a canção não é a mesma? Ou pelo menos deveria ser?

Nosso repertório de marchas está cada vez mais farto. Farto de orgulho e individualidades. Os objetivos de uma marcha quase sempre vão de encontro aos objetivos de outras. Isso quando não ocorre de membros de uma invadir a marcha dos outros para protestar. É comum vermos cristãos na marcha do orgulho gay panfletando sobre a sua marcha pessoal. Também vemos gays e "vadias" marcando presença, nem sempre muito respeitosa na marcha dos cristãos para defender a sua causa. Ainda temos situações onde tucanalhas se infiltram na marcha dos petralhas, e vice e versa, para defenderem as suas ideologias. Cada um com o seu orgulho e com a certeza ímpar de estar absolutamente certo.

E assim vamos andando com pressa, pois já andamos devagar demais, com a certeza de que muito sabemos ou nada sabemos. Talvez cumprir a nossa missão de vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Mas qual é a sua marcha? Qual é o seu orgulho? A sua marcha é em causa própria? O seu motivo de orgulho é uma característica física, um vício pessoal ou a sua orientação sexual? Sabiamente o poeta diz: "Todo mundo ama um dia, todo mundo chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora". E se cada um de nós compõe a própria história e temos o dom de sermos felizes, porque não termos orgulho apenas de sermos humanos? Mas como podemos nos considerar humanos se marchamos em causas próprias e invadimos as marchas dos outros para impor a nossa vontade e o nosso orgulho?

Deveríamos marchar para a humanidade. Deveríamos ter orgulho de sermos honestos. Não existe honra na cor da pele. Não existe caráter na lisura ou no encaracolar dos cabelos. Não existe honestidade na orientação sexual. A sua santidade não está apenas no louvor que sai da sua boca ou na fé que você professa. A sua dignidade não está na classe social a qual você pertence. A estrada é bem mais longa e somos todos velhos boiadeiros levando a nossa boiada nas costas e contando os dias até o fim do caminho. Se marchássemos juntos por uma mesma causa, a caminhada seria mais leve. O fardo seria menos pesado. Faríamos menos paradas para isso ou para aquilo, pois estaríamos nos abastecendo uns aos outros com o combustível do amor ao próximo.


Pode ser utopia. Talvez isso nunca aconteça. Mas sabemos qual é o caminho, só não queremos passar por ele. Nosso orgulho vai pelo atalho. Nossa causa própria determina o trajeto com menos trânsito. Nossa falta de humanidade nos guia pela contra mão. Nosso egoísmo não liga a seta para quem está atrás. Nossa arrogância faz bandalha na vida dos outros. E assim vamos tocando em frente. De marcha-ré.





POR: Nêggo Tom

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