Nosso repertório de marchas está cada vez mais farto. Farto de orgulho e individualidades. Os objetivos de uma marcha quase sempre vão de encontro aos objetivos de outras. Isso quando não ocorre de membros de uma invadir a marcha dos outros para protestar. É comum vermos cristãos na marcha do orgulho gay panfletando sobre a sua marcha pessoal. Também vemos gays e "vadias" marcando presença, nem sempre muito respeitosa na marcha dos cristãos para defender a sua causa. Ainda temos situações onde tucanalhas se infiltram na marcha dos petralhas, e vice e versa, para defenderem as suas ideologias. Cada um com o seu orgulho e com a certeza ímpar de estar absolutamente certo.
E assim vamos andando com pressa, pois já andamos devagar demais, com a certeza de que muito sabemos ou nada sabemos. Talvez cumprir a nossa missão de vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Mas qual é a sua marcha? Qual é o seu orgulho? A sua marcha é em causa própria? O seu motivo de orgulho é uma característica física, um vício pessoal ou a sua orientação sexual? Sabiamente o poeta diz: "Todo mundo ama um dia, todo mundo chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora". E se cada um de nós compõe a própria história e temos o dom de sermos felizes, porque não termos orgulho apenas de sermos humanos? Mas como podemos nos considerar humanos se marchamos em causas próprias e invadimos as marchas dos outros para impor a nossa vontade e o nosso orgulho?
Deveríamos marchar para a humanidade. Deveríamos ter orgulho de sermos honestos. Não existe honra na cor da pele. Não existe caráter na lisura ou no encaracolar dos cabelos. Não existe honestidade na orientação sexual. A sua santidade não está apenas no louvor que sai da sua boca ou na fé que você professa. A sua dignidade não está na classe social a qual você pertence. A estrada é bem mais longa e somos todos velhos boiadeiros levando a nossa boiada nas costas e contando os dias até o fim do caminho. Se marchássemos juntos por uma mesma causa, a caminhada seria mais leve. O fardo seria menos pesado. Faríamos menos paradas para isso ou para aquilo, pois estaríamos nos abastecendo uns aos outros com o combustível do amor ao próximo.
Pode ser utopia. Talvez isso nunca aconteça. Mas sabemos qual é o caminho, só não queremos passar por ele. Nosso orgulho vai pelo atalho. Nossa causa própria determina o trajeto com menos trânsito. Nossa falta de humanidade nos guia pela contra mão. Nosso egoísmo não liga a seta para quem está atrás. Nossa arrogância faz bandalha na vida dos outros. E assim vamos tocando em frente. De marcha-ré.
POR: Nêggo Tom
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