quinta-feira, 4 de outubro de 2018

VOVOZINHA E O LOBO MAU

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O humorista Chico Anysio fazia um stand-up sobre o Chapeuzinho Vermelho onde ‘denunciava’, de forma muito bem humorada, o caráter ‘deseducativo’ das histórias infantis.
Segundo ele, quase tudo estava errado na história da menina que, ao invés de botar um uniforme e ir pra escola, pegava uma cesta e ia pra floresta. E o quê ela ia fazer na floresta? ‘Levar uma cesta de doces pra vovozinha, que morava sozinha no meio do mato...’.
Cá pra nós, deixar uma idosa morando sozinha no meio do mato é ou não é uma sacanagem? E ainda por cima, encher a velha de doce, é quase uma tentativa de assassinato por overdose de glicose.
E a menina não para por aí. Confunde a avó com um lobo e ainda vem com aquela conversa: ‘pra que esse olho tão grande? Pra que essa orelha tão grande? Pra que essa boca tão grande?
Ainda bem que parou por aí, pois de certo ponto em diante a diferença de uma avó pra um lobo é um negócio desproporcional.
E no fim da história ainda tem um caçador que mata o lobo, abre sua barriga e tira a avó lá de dentro viva? Viva? Isso não era um caçador, era um cruzamento de cirurgião com David Copperfield.
Ou seja, o único personagem decente e coerente da história era o lobo. Lobo é lobo e ele faz o que se espera de um lobo.
Lembrei-me dessa história ao ver o noticiário um dia desse,  Renan Calheiros, que usou um jatinho da Força Aérea Brasileira para ir de Brasília ao Recife, onde fez duas cirurgias, uma delas para implantar 10.118 fios de cabelo na sua careca.
Gostei da precisão; 10.118 fios. Isso é que é bem informar.
Mas o que vocês queriam? Renan Calheiros é o que é; o Renan Calheiros. Desde sempre. Ao contrário dele, com seus 10.118 novos fios de cabelo, nós estamos carecas de saber o que fazem os Renans Calheiros. Assim como lobo, é o personagem coerente da história. Grotescos, canalhas e idiotas são, pela ordem, os marqueteiros que montaram sua campanha, as empresas que financiaram a mesma e os eleitores que sufragaram seu nome nas urnas.
Renan Calheiros é mais que Renan Calheiros. É um símbolo. Já escrevi sobre isso no meu blog. Talvez nem ele tenha consciência disso. Apenas se beneficia do nosso subdesenvolvimento ‘eleitorístico’. Sua limitação obtusa é tanta que, na transgressão da qual é manchete, é transgressor contumaz. E deve ficar surpreso com a nossa indignação. Para os Renans Calheiros é absolutamente natural que lobistas paguem as contas de suas amantes, que os jatos da FAB estejam à disposição para seus convescotes de fim de semana ou intervenções estéticas capilares, tudo, é claro, a bem do serviço público.
Grotescos são os juramentos éticos proferidos nas cerimônias de formatura das nossas faculdades de Comunicação, canalhas são as empresas que entopem os cofres dos Renans Calheiros de dinheiro, o nosso dinheiro, empacotando-os, via marqueteiros, em belas embalagens e apresentando-os aos idiotas que somos nós, os que continuamos elegendo os Renans Calheiros.
Ano que vem eles estarão aí, de novo. E não é só nas Alagoas. Há Renans Calheiros por todo o Brasil, por todo o mundo. Os americanos não elegeram e reelegeram Bush pai e Bush filho? Berlusconi não foi, por tanto tempo, o rei da Itália?
O que nos falta é um caçador (não de marajás) que abra a barriga (ou a cabeça) do idiota eleitor e, quem sabe, tire de lá um cidadão, vivo, consciente, indignado e competente!

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