No meio
do oceano existia uma ilha onde moravam todos os sentimentos: alegria,
tristeza, amor... Um dia souberam que a ilha seria inundada pelas águas.
Todos os sentimentos apressaram-se a fugir com seus barcos. Mas o amor –
sem muita noção do tempo - resolveu ficar mais um pouco para melhor
contemplá-la, antes de desaparecer.
Quase inundada a ilha, o amor
começou a pedir socorro. O primeiro pedido foi feito ao barco da
riqueza. A resposta foi negativa: não posso, carrego muito ouro e prata,
não há lugar para você. O amor continuou pedindo ajuda, agora à
vaidade: não posso ajudá-lo, você está todo molhado e poderia sujar e
estragar meu barco. A tristeza também recusou o pedido do amor, alegando
que estava muito deprimida, preferia ir sozinha. As chances diminuíam e
o barco da alegria estava muito cheio – por causa da euforia e do
barulho – e não escutou o pedido. Desesperado, o amor começou a chorar
quando uma voz o chamou: venha, amor, eu levo você no meu barco. Era um
velhinho e o amor ficou tão feliz que esqueceu de perguntar-lhe o nome.
Já na margem, o amor perguntou à sabedoria: quem era aquele bom velhinho
que me trouxe em seu barco? Foi o tempo, afirmou a sabedoria, e
completando a resposta garantiu: só o tempo é capaz de ajudar a entender
um grande amor.
Vivemos hoje o tempo da pressa, da velocidade e do
barulho. Para ganhar tempo, a sociedade de consumo oferece coisas
pré-fabricadas e instantâneas. Você vai a uma loja e compra o que
precisa num instante. Em poucos minutos, a dona de casa prepara uma
refeição, um financiamento é obtido e um objeto qualquer é adquirido via
Internet. Em poucas horas é feita uma viagem que, no passado, demorava
uma semana. Além disso, existem coisas virtuais, especialmente amigos e
amigas virtuais.
Ninguém tem tempo de esperar e a vida é sacudida
por mil sentimentos, quase sempre, na superficialidade. Aí surge o amor à
primeira vista, o amor instantâneo, um sentimento misturado com mil
outros sentimentos, por vezes, contraditórios. Nós nos amamos e isto
basta, é o dogma de muitos jovens. E o amor eterno pode acabar em meses.
A sabedoria antiga explicava que, para conhecer uma pessoa, era
necessário antes comer com ela um saco de sal. Era o sal do cotidiano e
do tempo. O Evangelho lembra: sobre a areia, é possível construir
rapidamente uma casa. E com a mesma velocidade que é construída, ela
desaba. Deus é amor e o amor verdadeiro tem um pouco da divindade, mas
tem muito do tempo. Um carvalho leva 80 anos para a maturidade, uma
abóbora está pronta em 30 dias... Um grande amor tem tudo a ver com o
tempo.
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O tempo faz esperar, crescer e ter sabedoria.
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