Um líder
africano implantou muitos benefícios para seu povo. Ao regressar de uma
viagem comunicaram-lhe que sua esposa morrera. Depois de passar algum
tempo na mais absoluta desolação, começou a preocupar-se em preservar
sua memória. O que ele poderia fazer de grandioso para que sua esposa
jamais fosse esquecida? O primeiro pensamento foi o de erguer um grande
monumento fúnebre, que conservasse a memória da pessoa a quem ele mais
amara em vida. Mas um mestre, carregado de anos e de sabedoria,
aconselhou: construa um poço no deserto, assim todas as caravanas que
passarem por ele lembrarão sua esposa. E darão graças a Deus por ela ter
existido.
Na vida, tudo transcorre com rapidez e a morte estabelece
a cortina do esquecimento sobre todos. O dinheiro, a glória, as
realizações são logo esquecidos. Os próprios monumentos envelhecem e de
uma vida cheia de acontecimentos sobra o registro de poucas linhas. Tudo
passa, só o amor permanece. A história guarda poucos nomes e privilegia
os que fizeram de suas vidas um poema de amor. Ainda lembramos
Alexandre da Macedônia, César, Napoleão, mas amamos Francisco de Assis,
João XXIII, Luther King, Gabriela Mistral, Teresa de Calcutá. Eles e
elas, cada um do seu jeito, semearam amor.
A vida não é aquela que
sonhamos, mas a que efetivamente temos. As perdas se acumulam ao longo
dos anos. Pessoas queridas partiram quando menos esperávamos. De nada
adiantaria morrer afogado nas próprias lágrimas. É muito mais
inteligente abrir um poço de água para os outros. É o poço da
gratuidade, de quem nada espera para si. É uma árvore que plantamos, sem
a pretensão de colher os frutos. E se pudermos colhê-los, façamos isso
sem euforia e com um sentimento de gratidão. São Francisco de Assis
lembrava que era muito melhor amar do que ser amado.
Nosso tempo
está cheio de desertos, repletos de pessoas, que carregam uma sede
profunda. Sede de reconhecimento, sede de amor, sede de fé. E todos
temos o incrível privilégio de poder abrir fontes límpidas. E isso
jamais passará. Pablo Neruda desejava que em seu túmulo colocassem a
legenda: aqui jaz um amante da liberdade. Feliz daquele que, em seu
túmulo, alguém escrever: ele abriu muitos poços no deserto.
O
apóstolo Paulo fala das possíveis realizações da pessoa e exemplifica: o
dom da profecia, a eloquência, transportar montanhas, repartir a
fortuna, entregar o corpo para ser queimado... E proclama: se não tiver
caridade, isso nada me adiantará e conclui: tudo terá fim, mas o amor
jamais acabará (1Cor 13). Deus nos fez à sua imagem e semelhança. E Deus
é amor.
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