segunda-feira, 5 de outubro de 2015

USO INTENSIVO DE TABLETS DIITAIS. ESPECIALISTAS DA PRIMEIRA INFÃNCIA ALERTAM SOBRE OS RISCOS.

Por Cécile Thibert 


Número um das vendas de brinquedos no ano passado, o touchpad já atraiu muitos pais e ao mesmo tempo causou a preocupação de alguns especialistas. Este é o caso de seis profissionais da infância (uma psicóloga, dois professores, um fonoaudiólogo, um psiquiatra infantil e um pediatra *) que, em um fórum publicado há poucos dias no site do jornal Le Monde, advertiram sobre distúrbios graves observados em jovens «viciados» no tablet e apelaram para a implementação de diretrizes de uso.

Este panfleto critica em parte a opinião publicada em janeiro de 2013 pela Academia francesa de Ciências, intitulada “A criança e as telas” bem mais entusiasta em relação a essas «ferramentas extraordinárias de aprendizagem e intercâmbio de informações ». Neste parecer, a Academia de Ciências toma uma posição específica em favor do uso precoce de tablets digitais, desde que tenha um acompanhamento.

Consequências adversas

Em seu fórum, os autores elaboram uma constatação de consequências deletérias do uso excessivo do tablet nas crianças. Antes de tudo, eles destacam os distúrbios de atenção. Ao se concentrar em imagens e sons atraentes da tela, a criança mobiliza menos energia para o que realmente importa, como o desenvolvimento da linguagem. Os seis especialistas denunciam também «programas supostamente «interativos», que não permitem a troca adequada de comunicação humana ». Segundo eles, o excesso de tablet seria uma das causas do aumento de consultas por atrasos de linguagem.

Ao separar a criança do seu ambiente, o mundo virtual prejudica o desenvolvimento de sua lógica e seus marcos: «A bola rola se eu der um chute nela. Esta experiência é impossível pela tela e pode até ser tendenciosa: o quadrado pode rolar, o ovo pode cair sem quebrar…». Quanto à substituição da dupla papel-lápis pelo tablet, os autores argumentam que isso altera as capacidades gráficas da criança.

A lista de danos relatada pelos autores não para por aí. Eles concluem ironicamente ao lembrar que, em 2010, o fundador da Apple, Steve Jobs disse ao New-York Times que ele optou por limitar o uso de novas tecnologias por seus filhos, e solicitou a implementação de limitações claras para todas as crianças.

Recomendações

Enquanto a Academia americana de pediatria recomenda não expor as crianças de menos de dois anos de idade aos riscos inerentes ao uso das telas e a limitar de 1 a 2 horas diárias a exposição das crianças mais velhas (todas as telas), a Academia francesa de Ciências permanece na retaguarda e não propõe um tempo limitado de uso. Por outro lado, ela insiste sobre o papel crucial dos pais e a necessidade de utilizar softwares de controle parental. Na opinião do Professor Olivier Houdé, diretor do laboratório de psicologia do desenvolvimento e da educação infantil (Sorbonne/CNRS), coautor do parecer da Academia de Ciências, devemos primeiro ensinar as crianças a se autorregularem, em vez de isolá-las das telas.

O pesquisador relatou ao Le Figaro Saúde suas impressões sobre o artigo publicado nesta segunda-feira: «Esta reação lembra aquela que aconteceu no Renascimento, quando muitas vozes se levantaram contra os livros que, supostamente, pervetiam a juventude. A história tem mostrado que os livros são essenciais para a construção da inteligência, e tal fato será igual para as telas ».

«Os engenheiros não projetaram o tablet digital para despertar a mente das crianças, mas ele corresponde exatamente à sua forma de inteligência, sensório-motora. É portanto contra intuitivo proibir um bebê, em família, de tocar uma cor, uma forma, ouvir um som, ver o efeito de seu dedo (causalidade), tal como ele pode fazê-lo em um tablet, acrescenta o Prof. Houdé. O tablet não substitui a tabela do despertar tradicional clássico, confeccionado com tecidos, uma roda, um espelho, que também estimula através do toque e gestos de preensão: os bebês devem ter os dois. Não devemos reduzir todas essas aberturas neuronais disponíveis!».

Experiências na escola

No seu parecer de 2013, a Academia de Ciências desaconselhava um uso desacompanhado desses objetos, recordando que «esses objetos digitais são capazes do melhor e do pior: o despertar, a solicitação da inteligência, a socialização além da dependência mais ou menos patológica, o esquecimento da vida real e a ilusão ».

Enquanto os touchpads estão no centro de um debate agitado, eles fazem parte das preocupações do Ministério da Educação Nacional, que até hoje, distribuiu cerca de 130.000 nas escolas.

* Os autores do fórum são:

Sabine Duflo, psicóloga em centro médico-psicológico (CMP) para crianças e adolescentes.

Jacques Brodeur, professor, fundador do Edupax, site especializado em prevenção de violência, educação para a paz, educação para os meios de comunicação

Janine Busson, professora, fundadora da Infância -TV: perigo?, iniciadora da Semana sem tela na França.

Emmanuelle Deschamps, fonoaudióloga em centro médico-psicológico para crianças.

Bruno Harlé, psiquiatra infantil.


Erik Osika, pediatra, referente de «Educo meu filho », de Laurence Pernoud.

Nenhum comentário:

Postar um comentário