A vida é inteira mas incompleta. É inteira porque dentro dela estão juntos o real e o potencial. Mas é incompleta porque o potencial ainda não se fez real. Como o potencial não conhece limites a vida sente um vazio que nunca consegue preenchê-lo totalmente. Por isso nunca se faz completa para sempre. Permanece na ante sala de sua própria realização.
É neste contexto que surge o tempo. O tempo é a tardança do potencial que quer irromper a partir de de dentro e deixar de ser potencial para ser real. Essa tardança poderíamos chamar de tempo. Seria a nossa abertura esperançosa, capaz de acolher o que poderá vir. O potencial realizado nos permite passar de incompletos para inteiros sem, contudo, fazer-nos plenamente inteiros. O vazio continua. É a nossa condição de finitos habitados por um Infinito. Quem o preencherá?
Não pode ser o passado porque já não existe e passou. Não pode ser o futuro porque ainda não existe, pois ainda não veio. Só resta o presente.Mas o presente não pode ser apreendido, aprisionado e apropriado. No que tentamos prendê-lo ele já virou passado.
Mas ele pode ser vivido. Quando é intenso nem percebemos que passou. Parece que o tempo não existiu. É o tempo denso e intenso de dois ardentemente apaixonados. É o tempo chamado kairós, diferente do kronos, sempre igual como o tempo do relógio.
É possível fazer uma representação do presente? Sim, é com a eternidade, porque somente ela é um é. Cada presente tem algo do eterno, porque só ele é. Um dia foi e um dia será. Mas somente ele é um é. Por isso o “é” do tempo representa a presença possível da eternidade. A nós cabe vivê-lo na maior intensidade possível, pois logo se esvai para o passado.
De todos os modos constatamos que estamos imersos na eternidade do é. Não se trata de uma quantidade congelada do tempo. É uma qualidade nova, que nunca para, sempre vem e passa: provem do futuro e logo passa por nós em direção do passado. É a pura presença inagarrável do é.
Para nós que estamos no tempo, cabe viver esse “é” como se fosse o primeiro e o último. Desta forma nós participamos, fugazmente da eternidade do é. E nos eternizando, participamos Daquele que sempre é sem passado nem futuro.
Esse é vem sob mil nomes: Tao, Shiva, Alá, Olorum, Javé. Este, Javé, se revelou como “sou Aquele que sou”, melhor dito: “Sou o é que sempre é”.
Quem sabe se um dos sentidos, entre outros, de nosso existir no tempo não seja participar desse é? E no dizer do místico São João da Cruz, por um momento, “ser Deus, por participação”. E aqui vale o nobre silêncio porque já não cabem mais palavras.
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