Ler, ver, crer, ser, ter. Verbos monossilábicos da segunda conjugação. Termos estranhos, pois análise sintática e classificação gramatical devem ser temas apenas constantes em manuais antigos e provas de concursos públicos. O aprendizado moderno supõe amplitude, generalidade, contemporaneidade, interdisciplinaridade. Mas parece que querem nadar na superfície de um campo do conhecimento que é bem profundo. Todos boiam, fazendo um trocadilho. O saber consolidado fica longe de tais estratégias.
Lemos pouco. E não é literatura de formação social e política. Não lemos nem livros de autoajuda e religiosos. Ruy Castro fez crônica boa com os números que revelaram a tragédia brasileira, mostrando que menos da metade de nossa população leu algum livro no ano passado e apenas 27% dos brasileiros havia lido um livro inteiro em 2024, ou nos meses que antecederam a pesquisa. É alarmante, não se podendo apenas imputar a baixa leitura à troca pelos dispositivos eletrônicos, pois parte das telas que pipocam pode conter algum livro. Páginas viradas, páginas passadas a limpo, nada disso vivenciamos em profusão. Não lemos, nada somos. Doemos pelo que não sabemos. Mas as fake news de Nikolas Ferreira e comparsas são vistas e aceitas por milhares de pessoas ou de robôs, pode-se escolher. Sem, ao menos, procurar algum contraponto ou explicação para corroborar o que é divulgado. O ruim não é somente o que falta, mas pelo que foi substituído. Da lista inicial de verbos assim classificados, o suposto empreendedorismo individual do capitalismo passivo (aquele que preconiza que mais-valia é bem de produção, já que ninguém leu para saber) reforça o ter ante o ser. O púlpito leva ao crer antes de ver a realidade. Assim, o ler passa a ser inexistente. Em breve, será um verbo defectivo, conjugado apenas no pretérito.
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