sexta-feira, 21 de maio de 2021

RESPEITAR O PONTO DE VISTA DO OUTRO.

Viver na contramão da fraternidade e da amizade social provoca impagáveis passivos, que se revelam nas estatísticas sobre a violência, a exclusão social, os preconceitos e as discriminações que ferem mortalmente a dignidade humana. O prejuízo incide também nos parâmetros do desenvolvimento humano integral, com consequências deletérias na cultura. Descompassos ameaçam a vida e minam as condições para se alcançar mais justiça e paz. Por isso, é ainda mais necessário o olhar genuinamente cristão, que possui uma luz intrínseca: a luz da fé, que capacita o ser humano a enxergar para além das aparências. Os que verdadeiramente são discípulos de Jesus não recorrem à usura, nem se deixam dominar pelo apego ou por lógicas que favoreçam a corrupção. Os cristãos devem se opor à hegemonia de interesses exploratórios que depredam o meio ambiente e os direitos, com injustificável indiferença em relação ao mais pobres.

Espera-se sempre dos cristãos atitudes coerentes com a sua dignidade e identidade, enraizadas nos valores do Evangelho. Por isso, são vergonhosas as lógicas perversas e excludentes de uma sociedade de maioria cristã. Os discípulos de Jesus, em diálogo e intercâmbio com cidadãos de outras confissões religiosas também depositárias de relevantes contribuições humanísticas, precisam reagir. O momento atual está urgindo uma atuação mais lúcida, incidente e transformadora dos cristãos. Isto significa investir em ações individuais e sociais mais fortes e produtivas, à luz de uma compreensão inspirada no diálogo e na amizade social.

Diálogo é mais que troca de opiniões – principalmente quando se pensa nos juízos formados a partir de informações não confiáveis. Há uma grande urgência na superação de tudo que possa impedir a sociedade de dialogar. O ponto de partida é a derrubada de preconceitos e do fechamento às novas ideias. Assim, é possível superar entendimentos limitados para alcançar a verdade. Também é importante o cuidado com a linguagem midiaticamente produzida. Não se pode investir no acirramento do ódio, caminho adotado por muitas campanhas políticas. Os debatedores na sociedade não podem correr o risco de constituir quartéis de manipuladores nos segmentos da política, da religião, da economia e da mídia, em defesa de interesses econômicos e ideológicos cartoriais.

“Os heróis do futuro serão aqueles que souberem quebrar esta lógica doentia e, ultrapassando as conveniências pessoais e partidárias, decidam sustentar respeitosamente uma palavra densa de verdade”. O compromisso com a verdade é princípio inegociável da autenticidade cristã. E o cristianismo ensina, com a sua doutrina, posturas que fermentam o diálogo social, cultivando a capacidade de se respeitar o ponto de vista do outro. Essa capacidade é que torna factível, em uma sociedade pluralista, o diálogo que ultrapassa um mero consenso ocasional. A hora requer a qualificação do debate público, da capacidade para dialogar, demandando de todos os cidadãos – exigência sobretudo para os cristãos – dedicação na promoção da fraternidade e da amizade social.

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