segunda-feira, 9 de setembro de 2019

SOMOS TODOS LADRÕES

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Nos meus tempos de aluno  havia um tipo de questão usada em provas que era da minha especial predileção. O professor alinhava uma série de frases, com parênteses ao lado, e enunciava: “Coloque Falso (F) ou Verdadeiro (V) nas afirmativas abaixo”.

Eu adorava. As questões que eu sabia, sabia, e nas que não sabia tinha 50% de chance de sacar corretamente. Eram tempos de uma metodologia avaliativa curta e grossa que causaria horror e espanto aos pedagogos atuais.

Então, para matar as saudades, vou propor a vocês um exercício daqueles tempos, usando como referência algumas questões atuais. Vamos lá:

“Coloque F ou V nas afirmativas abaixo”.

01- ( ) Renan Calheiros, Jucá e Sarney receberam milhões em propina

02- ( ) Aécio Neves está envolvido em desvios de dinheiro público no escândalo de Furnas

03- ( ) Policiais militares alteram cena de crime para esconder execução

04- ( ) Todos os partidos políticos, do PT ao PSDB, recebem dinheiro no caixa 2

05- ( ) Padre abusa de deficiente mental

06- ( ) Juiz federal troca sentenças por propina

07- ( ) Líder evangélico compra fazenda de 20 milhões com dízimo dos fiéis

08- ( ) Policiais civis cobram “pedágio” de traficantes para liberar o tráfico

09- ( ) Dono de empreiteira paga milhões em suborno para conseguir contratos com o governo

10- ( ) País perde bilhões com sonegação de impostos e pirataria

Acho que nessa prova periga todo mundo tirar um dez... Infelizmente.

Não sei se você reparou, mas nas questões acima são citados representantes das principais instituições do país. As várias instâncias do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, as Igrejas, a Polícia, o setor empresarial privado e até o cidadão comum, aquele que, quando pode, frauda o Imposto de Renda ou compra produto pirata no camelô da esquina.

Um dos princípios básicos do Direito é o benefício da dúvida. Hoje vivemos o malefício da certeza.

Imagino que a maioria, senão todos os leitores, cravaram (V) em todas as questões, o que vem a ser uma tragédia política e um tiro quase fatal na nossa esperança.

Por trás dessa descrença geral na capacidade ética e moral das nossas autoridades, se esconde um corporativismo cínico e cruel, que estende sobre toda uma instituição a lama que pertence a parte dela.

Quando um grupo de deputados se reúne para blindar um colega ladrão, o senso comum intui: “são todos ladrões”. Quando autoridades religiosas acobertam crimes cometidos por alguns dos seus membros uma nuvem de descrédito paira sobre toda a instituição. Quando policiais e juízes, pagos para proteger o cidadão em sua integridade e direitos, tornam-se carrascos desse mesmo cidadão, quando representantes eleitos para defender os interesses de seus eleitores e garantir o bem estar social tornam-se defensores de seus próprios interesses ou de seus grupos, fazendo na vida pública o que fazem na privada, ou seja, cagada, o desencanto é geral, a esperança, qual Inês, é morta.

Daí advém minha ira indignada com Bolsonaro e grande parte dos seus. Eleitos pela nossa ânsia de moralidade e ética, conduzidos ao poder por apresentarem à sociedade a possibilidade de fazer política de um modo diferente para fazer diferença, assim que chegaram lá, em nome da tal governabilidade, aceitaram o jogo de alianças que fizeram dos nossos sonhos e do projeto de um país mais que verdadeiro (V), uma triste e decepcionante falsidade (F).

Há quem comemore o naufrágio do PT e de tudo o que ele representou, um dia. Eu lamento.

Há quem esteja festejando a mais que previsível e progressiva desmoralização do desgoverno Temer. Eu lamento.

Há quem diga “não voto mais em ninguém, não há em quem votar”. Eu lamento.

É fácil dizer “são todos ladrões”! Mas o mais trágico seria ter o malefício da certeza e admitir nosso complexo de vira-latas: “somos todos ladrões!”.

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