quarta-feira, 31 de outubro de 2018

PARA PENSAR: O DOM DA PAZ


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No Sermão da Montanha, é a sétima bem-aventurança: "Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus". Quem são os pacíficos? Os que estão em contato com a paz. Se você tiver esse canal aberto, você não vai ser um violento. E quem tem a paz? Quem põe a sua confiança em Deus. A violência nasce da agitação interior. Mas se você se colocou nas mãos de Deus, por que você seria violento? Por que teria ódio? Daí o grande Salmo, que é o salmo da paz: "O Senhor é o meu pastor, nada me pode faltar ..."
É a paz que o Cristo prometeu: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz ..." Esse era o fundo do coração de Cristo. Lá no fundo, estava a paz (ninguém pode dar o que não tem!). A paz como repouso no Ser. Nós recebemos o Ser. Este é o milagre da existência - e sobretudo do ser humano, onde o dom da existência se combina com o da consciência. Sabemos que existimos; e é isso o que nos separa dos animais. Mas, por isso, também sabemos que morremos; a uma certa luz escura, a vida pode parecer uma corrida para a morte - o que, num certo sentido, ela é. Por isso é que a dádiva do Ser é só o começo de um caminho: para o ser humano, ela não vem completa, pronta, acabada (como é o caso dos animais). Há toda uma série de desafios até que finalmente desembarquemos no Ser. O encontro com o Sagrado é uma etapa importante nesse itinerário - porque o que chamamos de Sagrado, no fundo, é o mistério do Ser. Assim se dirigiu Javé a Moisés, no deserto, de dentro de uma sarça ardente: "Eu sou aquele que Sou!"
Quando esse encontro se torna efetivo - como no caso das pessoas espiritualmente realizadas -, a sensação é a de uma liberdade que não conhece limites; o que são Paulo chamou de "uma paz que transcende todo entendimento".

terça-feira, 30 de outubro de 2018

QUE BICHO É O HOMEM!

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O mundo é cheio de maravilhas, mas nada mais maravilhoso do que o homem, dizia Sófocles. À imagem e semelhança de Deus e pouco abaixo dos anjos fomos criados, diz a bíblia. Somos um caniço, mas um caniço pensante e isso nos faz nobres e com dignidade superior, diz Pascal.

Não há como negar que somos um animal interessante, contudo, parece que não damos certo.

Nada do que é vil nos é estranho, nada do que é demente nos é desconhecido, não há crueldade imaginável que já não praticamos com requinte. Divinos e dementes. Divinos e diabólicos. Capazes de grandes atos heroicos e capazes das maiores atrocidades e maldades. Que bicho é o homem!

Entre nossas piores recomendações está a nossa vocação para a vida hipócrita e incoerente. Aparentamos ser melhores do que realmente somos, exigindo dos outros o que não somos capazes de ser, sempre prontos para apontar o dedo na ferida do outro, escondendo a nossa. Que bicho é o homem!

Os animais não humanos são o que são, sem dissimulações, sem máscaras e, por isso, ao meu ver, estão mais próximos de Deus do que o animal humano, pois neles tudo é perfeito, nada sobrando e nada faltando. Olhe o voo de um pássaro e tente achar um defeito nele. Olhe o pulo do gato e tente achar um defeito nele. Na verdade, não há, eles são perfeitos. Não consigo entender o escritor bíblico que disse que nós somos feitos a imagem e semelhança de Deus...E se fosse um animal a escrever a bíblia, o que ele diria deles mesmos?

Mas, desejo é falar ética e não de antropologia, de animais e de teologia. E, em se falando de ética, não há como não falarmos de hipocrisia. Nos apresentamos como éticos e acusamos os outros, sobretudo os políticos, de serem os vilões morais e agentes de todas as corrupções. Uma simples recordação do que acontece no cotidiano desmente qualquer pretensão de nos acharmos diferentes. Senão vejamos.

Quem nunca furou fila, sonegou impostos, burlou o fisco, ficou com troco a mais, tirou vantagem de alguma mentira, estacionou em lugar proibido, teve uma atitude preconceituosa com gay, mulher ou negro, faltou aula acima do máximo de direito, mas exige “compreensão” por parte do professor, adulterou produtos e peso, vendeu produtos e serviços acima do valor justo, vendeu produto vencido, falsificou atestado, traiu esposa e filhos, foi à missa e pediu misericórdia de Deus e depois maltratou vulneráreis, sobretudo os animais, para quem somos seus deuses, foi vítima de um guarda que pede propina ou ofereceu propina para se safar, usou caixa dois e compartilhou fakes News para destruir a reputação alheia? Quem nunca? A lista é longa, mas os corruptos são os outros, não é mesmo, sempre os outros!

A hipocrisia, diz François de la Rochefoucauld, “é a homenagem que o vício presta à virtude”, querendo dizer, com isso, que o hipócrita ainda tem salvação ao reconhecer o valor e a virtude daquilo que aparenta ser, mas não é. O hipócrita se diz solidário, mas é egoísta. Defende valores da família, mas ele mesmo já abandonou e traiu. Se diz “homem de bem”, mas faz coisas como as acima elencadas, etc. E por que se diz solidário, fiel e “do bem”? Porque sabe que é isso que deveria ser e todos, no interior da comunidade moral, esperam que ele seja. O hipócrita, sendo hipócrita, aceita e reforça as virtudes, na medida em que se esforça para aparentar ser o que não é, pois sabe que o certo seria ser. Se não reconhecesse a virtude, não precisaria aparentar ser. Nisso ele presta um louvor à virtude.

Quer-se com isso diminuir o caráter imoral da hipocrisia? De jeito nenhum. Mas há algo ainda pior. Mais baixo e vil do que a hipocrisia, é o cinismo. Cínico é aquele que goza e menospreza o virtuoso e a virtude. O cínico relativiza o bem e sequer faz questão de reconhecer que haja o bem, dando uma justificativa para sua atitude viciosa. O cínico não disfarça o seu vício, ele tem orgulho de ser. O cínico despreza e menospreza o virtuoso desconstruindo-o, para se afirmar na sua própria vilania. Veja os críticos dos defensores dos direitos humanos, ambientalistas e animalistas. Preste atenção neles. No fundo eles querem dizer: vocês se acham superiores por defender os pobres e vulneráveis, mas são uns oportunistas e manipuladores deles. No ataque e no desprezo, se auto afirmam como virtuosos sendo despudoramente viciosos. O cínico diz abertamente: eu não gosto de gay mesmo, não gosto de negro, sou preconceituoso e contra o politicamente correto, e daí? O cínico olha para o mundo de sofrimentos e mortes inocentes e diz: não tenha nada a ver com isso! O cínico se sente moralmente justificado por não ser igual ao hipócrita.

O hipócrita presta uma homenagem à virtude e nisso está a sua salvação. O cínico, perdido está. O cínico peca contra o Espírito Santo, pecado sem perdão. O hipócrita e o cínico não são, contudo, as únicas possibilidades de atitude moral. Entre os dois está a virtude, no meio está a virtude. No meio caminho virtuoso, entre o hipócrita e o cínico, está o que se esforça para ser coerente, agindo de boa-fé e na humildade, reconhecendo o valor tanto das virtudes quanto do valor da coerência entre o ser e parecer. A raridade do moralmente coerente o faz valioso, como valioso é tudo o que é raro.


domingo, 28 de outubro de 2018

HÁ VIDA APOS A MORTE?



Volto a um assunto incômodo, mas inevitável: a morte. Estar diante dela, volta e meia, é tarefa com a qual me defronto. Por esses dias, mesmo, no velório de um jovem de 28 anos, me vi frente a essa aparente contradição: a morte me faz pensar sobre o sentido da vida...

Repito o que já disse antes; não há, nessa abordagem, nenhuma amarga obsessão, nenhum traço mórbido, depressivo ou fatalista. Apenas fico admirado, quando me vejo diante de um corpo esvaziado de tudo que um dia nele pulsou, do quão pouco sabemos sobre esse nosso denominador comum; viver e morrer.

Somos limitados, inseguros e, nessas horas, nosso único refúgio (ou fuga) contra o desespero da perda definitiva e sem remédio, é essa crença que nos acompanha desde que nos reconhecemos humanos: a vida, de alguma forma, continua...

Cada Religião tenta descrever a seu modo, como será esse depois e são muitas as possibilidades apresentadas. Mas, ainda assim, há quem se interrogue; existirá, mesmo, vida depois da morte?

Como crianças amedrontadas, diante da morte, desse passo para o desconhecido, choramos. O curioso é que, quando nascemos, choramos também. O medo se apossou do nosso coração que não sabia que o parto era um começo, e não o fim daqueles pobres nove meses que, até então, imaginávamos ser a vida. Aquele espaço apertado do útero, veja só, pensávamos que era o “nosso“ espaço. Afinal, era o que conhecíamos até então.

Foi pensando nisso que li e adaptei um texto enviado por um amigo. Uma reflexão singela, mas cheia de sabedoria que pode ajudar a você, assim como ajudou a mim.

Dois bebês conversam no ventre da mãe:

- Você acredita em vida após o parto?

- Claro que sim! Quer dizer, acho... ou melhor, espero que sim. Tem que haver algo após o parto.

- Que nada, vida é aqui, não tem nenhum depois...

- Pode até ser, mas talvez estejamos aqui apenas nos preparando para o que virá mais tarde.

- Bobagem, que tipo de vida seria essa?

- Eu não sei, mas gostaria que houvesse mais luz do que aqui. Tão escuro. Quem sabe, poder andar com nossas próprias pernas, comer com nossas bocas, ter outros sentidos para perceber realidades que não podemos entender agora.

- Acorda, inocente, comer com a boca, onde já se viu? A única coisa real é esse cordão que nos alimenta e dá tudo o mais de que precisamos. E olha como ele é curto! Esse negócio de vida depois do parto é coisa de gente que acredita em milagre. Pra mim, nasceu, acabou!

- É, tem gente que não acredita em milagre. Eu já acho que tudo é um milagre. A começar de nós dois, aqui...

- Pois eu só acredito nisso aqui! O resto é fantasia.

- Pode ser, mas acho que há alguma coisa lá fora e, talvez, seja mesmo muito diferente do que vivemos aqui. Quem sabe a gente nem vá mais precisar desse cordão, ter mais espaço, até uma paisagem pra contemplar? Aqui é tão escuro...

- Se houvesse realmente vida após o parto, então, por que ninguém jamais voltou de lá pra contar?

- Bem, eu não sei, mas creio que vamos encontrar Mamãe e ela vai explicar tudinho enquanto cuida de nós.

- Mamãe? Você realmente acredita em Mamãe? Isto é ridículo. Se existe Mamãe, então, onde ela está agora?

- Eu não a vejo, mas sinto-a ao nosso redor. É como se estivéssemos cercados por ela. Somos nós, mas somos dela. É nela que vivemos. Tenho a sensação de que, sem ela, esse nosso mundinho nem poderia existir. É um mistério, eu sei, mas é o que sinto em meu coração...

- Pois eu só acredito no que posso ver, comprovar. E se não posso vê-la, então, é lógico que ela não existe.

- É verdade que a gente aqui vê muito pouco, quase nada... mas dá pra sentir...

- Como...?

- Às vezes, quando estamos em silêncio, se você se concentrar e realmente se dispor a ouvir, poderá sentir a presença dela. Outro dia, mesmo, em meio ao meu silêncio, percebi sua voz dizendo: “antes que você nasça, antes mesmo que você fosse gerado em mim, por mim, eu já te conhecia e te amava”.

Acho que o segredo está no aprender a ouvir o silêncio...

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

PARA QUAL PASSADO BOLSONARO QUER VOLTAR?

Texto do jornalista RICARDO KOTSCHO
Em seus delírios autoritários, Jair Bolsonaro já prometeu fazer o Brasil voltar a viver no paraíso de 40, 50 anos atrás, “quando não havia violência nem corrupção”.
Eram os tempos da ditadura militar a que o capitão serviu, antes de ser afastado do Exército, tempos tão violentos e corruptos como hoje, só que a imprensa na época não podia noticiar porque era censurada.
Com a vitória na eleição já praticamente garantida, Bolsonaro deixou bem claro no domingo, em seu apoteótico discurso ao vivo pelo celular, na avenida Paulista, que não é candidato a presidente, da República, mas a ditador.
Quer simplesmente prender ou banir do país seus adversários políticos, disse-o com todas as palavras, em seu linguajar tosco e beligerante.
Resta apenas saber qual é o seu modelo de ditador: Emílio Médici ou Adolfo Hitler.
Pois basta rever filmes antigos da Alemanha, mostrando a escalada de Hitler ao poder nos anos 30 do século passado, e comparar com o discurso do capitão no domingo, para encontrar a resposta mais correta.
Perto dele, o general Médici, o mais cruel dos ditadores brasileiros, pode agora parecer um estadista de perfil moderado.
O general jamais falou nada parecido com as ameaças feitas pelo capitão, muito menos antes de tomar posse, em substituição a uma junta militar, no impedimento do marechal Costa e Silva.
Com a grande imprensa mundial muito mais assustada e preocupada do que a nossa, diante da ameaça iminente que o capitão reformado representa para a democracia brasileira, o nazismo alemão voltou a ser tratado como um assunto do presente, renascendo nos trópicos.
De Reading, no Reino Unido, o engenheiro Otto Silveira enviou mensagem à coluna Painel do Leitor, na Folha, que resume bem o que o mundo pensa de nós:
“Acompanho do exterior com apreensão o desfecho das eleições deste ano, com a nítida impressão de que estamos à beira de um abismo e da barbárie, e não nos damos conta, cegos pelo clima de ódio e radicalismo que se instaurou. Espero que não estejamos prestes a reviver a história da Alemanha”.
Minha mãe alemã não está mais entre nós para relembrar as histórias que me contava quando criança sobre os horrores da guerra, em meio à perseguição dos nazistas contra a nossa família.
Podem dizer que estou muito apavorado, mas sei do que estou falando ao tratar deste assunto, no momento em que o Brasil caminha para eleger um ex-militar celerado, despreparado e inconsequente, no melhor estilo do Führer alemão, que jogou o mundo na guerra e se tornou o maior criminoso do século 20.
Comparem os discursos do Jair e do Adolfo, tem tudo no Google.
Podemos voltar não apenas 40, 50 anos no tempo, como anunciou o capitão, mas bem mais para trás, quando o nazifascismo começou a se instalar na Europa.
A Alemanha estava arruinada e desgovernada após a Primeira Guerra Mundial, em busca de um salvador da pátria, mais ou menos como nós estamos hoje, nos estertores do moribundo governo Temer, entronizado após o Golpe de 2016.
Não quero que meus netos passem pelo mesmo sofrimento atroz que seus avós enfrentaram antes de virem para o Brasil em busca de paz e trabalho.
Domingo mesmo escrevi uma carta pra eles, que publiquei aqui no blog, fazendo um apelo para que fiquem no Brasil e não me deixem sozinho na terra adotada pelos meus pais.
Mas, depois de ouvir o discurso de Bolsonaro (ver post anterior), me dei conta de que posso estar sendo egoísta, porque quero ficar aqui, e colocando em risco o futuro deles.
Se acham que estou exagerando, leiam apenas estes trechos do discurso do ensandecido candidato, que está prestes a vencer a eleição:
“Nós somos a maioria. Nós somos o Brasil de verdade”.
“A faxina agora será muito mais ampla, essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.
“Petralhada, vocês não terão mais vez na nossa pátria (…) Será uma limpeza nunca vista na história do Brasil”.
“Ou vocês se enquadram e se submetem às leis ou vão fazer companhia ao cachaceiro lá em Curitiba”.
“Nós ganharemos essa guerra”.
Adolfo Hitler também dizia isso, pouco antes de se suicidar num bunker em Berlim.
No asfalto da elegante avenida Paulista, a platéia amestrada urrava de satisfação e prazer, só esperando uma ordem do chefe para avançar sobre os adversários.
O que poderá acontecer no Brasil na noite de domingo se eles vencerem?
Temos agora poucas horas agora para cair na realidade e impedir esta tragédia anunciada.
Em suas ameaças, o bolsonarismo em marcha acenava com o perigo do Brasil se transformar numa Venezuela, mas agora a ameaça é real de virar coisa muito pior.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

PORQUE A PAZ É TÃO DIFÍCIL?

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Nesses dias, em todo o mundo, ocorrem diversas iniciativas de encontros e diálogos internacionais que visam a paz no mundo ou em determinada região.

A maior dificuldade para todos é como construir a paz sem o mínimo de justiça e em um mundo no qual a desigualdade social e as injustiças estruturais se agravam a cada dia. Nesses dias, como sempre ocorre, cada ano em janeiro, esteve reunido em Davos na Suiça, o Fórum Econômico Mundial que reuniu dessa vez mais de três mil pessoas da elite do mundo. Uma das primeiras declarações do Fórum foi o reconhecimento de que as desigualdades sociais aumentaram em todos os continentes. Conforme a declaração dos coordenadores do fórum, em uma humanidade que conta com mais de sete bilhões de pessoas, apenas oito pessoas (multimilionárias) possuem uma riqueza equivalente a 3, 6 bilhões de seres humanos. O que esse fórum dos mais ricos não deixa claro é que isso é resultado direto de uma organização econômica que tem a finalidade de tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

Tudo isso ocorre no momento em que, nos Estados Unidos, o novo presidente assume o governo com a promessa de começar a sua gestão cancelando a reforma do sistema de saúde que previa beneficiar os mais pobres e reforçando as fronteiras do país contra os migrantes.

Recentemente, circulou na internet um comentário jornalístico no qual alguém afirmava que o povo brasileiro tinha sido o primeiro que tinha ido às ruas para pedir sua própria ruína. E isso lhe foi imediatamente concedido com o governo que está aí. Alguém poderia continuar que o povo dos Estados Unidos seguiu o mesmo exemplo e aí está o resultado. No entanto, mais do que simplesmente afirmar isso, se trata de perguntar porque, no atual sistema do mundo, a maioria das pessoas vota como a barata que se refugia debaixo do chinelo que vai esmagá-la. Sem dúvida, a propaganda e a guerra insistente e contínua dos grandes meios de comunicação têm um papel importante, embora não único. A decepção com as alternativas ditas de esquerda também cumpre, infelizmente, o seu papel de desagregação e de um inconformismo que parece explodir no "já que é assim, quanto pior, melhor".

Para quem tem fé na vida e busca uma espiritualidade humana, seja em alguma religião, seja fora de qualquer tradição religiosa, é imperativo o compromisso com a solidariedade que nos confirma na esperança de novas formas de organizar o mundo e na missão que temos com relação a isso.

Se na sociedade mundial, acontecem tantos colóquios de paz, é importante que também nos nossos grupos de base, tenhamos a coragem de nos desafiar. Precisamos exigir de nós mesmos capacidade de diálogo e de superação não violenta dos conflitos. E darmos ao mundo um testemunho de que começamos a ensaiar relações mais horizontais e comunitárias. Embora, nesse momento, o mundo esteja mais desigual e injusto e que a sociedade dominante pareça achar isso normal e até positivo (para ela), é verdade também que os movimentos sociais e os grupos de base se rearticulam e se organizam para enfrentar esses novos desafios. Neles todos, um refrão será comum a todos: "Um novo mundo é necessário. Juntos, podemos torná-lo possível".

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

SÓ PARA LEMBRAR: O PÃO NOSSO DE CADA DIA.

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Para nós, seres humanos, comer não é ato meramente biológico. É obra de arte. Não avançamos nos alimentos como fazem os urubus ao encontrar carniça. Ou os cães ao rasgar com os dentes a carne presa ao osso.

Para nós, humanos, comer é um ritual. Uma festa. Comemos com a boca, os olhos, o odor, a pele. O apetite acorda ao escutarmos os chiados da fritura, o borbulhar da sopa ou ao sentir o perfume do suflê.
É grave desfeita não homenagear quem, com tanto esmero, prepara alimentos. É blasfêmia comer sozinho, de olho na TV ou na internet, sem sequer desfrutar o sabor de cada bocado ingerido. É pecado suscitar, à mesa, emoções negativas. É empobrecer a nossa humanidade aplacar a fome com um alimento indefinível, cujos ingredientes são de procedência duvidosa, como é o caso de certos sanduíches recheados de carne inidentificável.

Culinária é arte milenar, e nos identifica como seres culturais. Os demais animais a ignoram. A condição humana irrompeu no dia em que do cru obtivemos o cozido.

Comer é ato holístico. É a natureza que nos entra pela boca, com toda a sua rica e múltipla capacidade de nos nutrir a existência.

É em nós que, de modo exemplar, a natureza se recicla. Somos a sua usina de reciclagem. Ela nos oferece, através de verduras, legumes, cereais, carnes e frutas, os nutrientes essenciais para que a nossa vida se mantenha.

Cada célula, cada molécula do nosso ser se alimenta do que ingerimos. Toda a nossa constituição biológica, incluído o cérebro, é um complexo e harmonioso sistema digestivo.

Comer é um beijo na boca da natureza. Verduras, frutas, cereais e carnes, tudo nos é ofertado pela natureza. Comer é se relacionar com a fauna, a flora, a atmosfera, a água.

Comer é liturgia. Estendemos a toalha; dispomos os talheres, pratos e copos; sentamos à mesa; comungamos os alimentos com parentes e amigos. Isso sacia a alma e o corpo.

Comer é ato cultural que nos exige memória, raciocínio e inteligência. Conhecimento do que nos é oferecido no cardápio ou no prato. Todo cardápio tem identidade – mineiro, baiano, gaúcho ou paraense; italiano, francês, chinês ou japonês.

Cada ingrediente tem a sua história. Alguns são mais próximos de nós, latino-americanos. Tiveram origem em nosso continente, como o milho, a batata, a mandioca e o tomate. Outros vieram do Oriente, como o azeite, o café e a canela.

Comer exige memória. Não enquanto guardiã do conhecimento, e sim evocação da identidade familiar, étnica, provinciana e nacional. Como reage um mineiro radicado na Austrália ao se deparar com feijão tropeiro ou canjiquinha com costelinha de porco? E o gaúcho, ao ingressar em uma churrascaria de Nova York?

No prato à nossa frente há muito mais do que a combinação de certos ingredientes. Há a lembrança da avó, da mãe, da antiga cozinheira da família, do tio que gostava de pilotar um fogão. Há recordações da infância e dos tempos de antanho.

Por que segregar certos alimentos? São eles que nos fazem mal ou somos nós que não sabemos prepará-los adequadamente? Que culpa tem o feijão se quebramos os dentes ao insistir em comê-lo cru?

Há que respeitar a consistência de cada alimento, sua textura, seu ponto de maturação, seu potencial em multiplicar-se em inúmeras iguarias, como a uva que nos dá a fruta, o suco, a passa e o vinho.

Não basta saber apenas o que convém comer. Para a boa saúde do corpo e da alma, urge também saber onde, como e com quem. Nada pior do que comer na bancada de um bar com o rosto de frente para a parede. Ou ao lado de um depósito de lixo. Dá engulho dividir a mesa com quem exala pessimismo ou suscita discussões ofensivas. E compromete a boa saúde mastigar demasiadamente rápido, sem utilizar os dentes para triturar os alimentos, sentir-lhes o sabor e saciar o potencial das papilas gustativas.

O pão simboliza todos os alimentos. E Jesus, ao proclamar “eu sou o pão da vida”, nos fez entender que todo alimento é hóstia consagrada, da qual nos é assegurado o dom maior de Deus – a vida. Portanto, não há pecado ou crime mais hediondo do que desperdiçar alimentos ou condenar multidões à fome.

domingo, 21 de outubro de 2018

O CORDEL DO CAIXA 2


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Como diz o Nêggo Tom:
Meu amigo!

Onde estiver se assente

Pois esse cabra que não mente

Vai agora prosear

Ocê se lembra,

De um tal homem bendito

Invocado feito mito

Que a pátria ia salvar?

Pois tu não sabe

O tal do cabra é trapaceiro

E num trambique eleitoreiro

Fez o povo se alarmar

Ocê sabe, né?

Hoje é tudo no zap zap

E na fração de um traque

Tudo começa a espalhar

O tal Jair

Esse é o nome do embusteiro

Enganou o mundo inteiro

Noticiando enganação

Chegou a dizer

Que existia um Kit Gay

Inventou que era lei

Pras "criança" obedecer

Disse também

Via mensagem de texto

Que o Haddad quer o incesto

No seio das famílias de bem.

Não satisfeito

Quis mangar de Manuela

Começou a espalhar sobre ela

Um monte de fake news também.

Que mentiroso!

E tu acredita que o seboso

Num ato desavergonhoso

Fez o ódio atiçar?

Lá do palanque

Num rompante meio ianque

Simulou que tinha um tanque

Pros "petista" fuzilar

Até criança

Que é a semente da nossa esperança

Ele encheu de intemperança

Ensinando a odiar

Pegou no colo

E quis a mão da inocente

Pra num gesto inconsequente

Ensiná-la a atirar.

Cê acredita

Que ele gosta da ditadura

É a favor da tortura

E o povo quer armar?

Falando nisso

De armação ele entende

Pros "empresário" ele se vende

Para os "pobre" ele poder comprar

Foram eles

Os "patrão" lá das "elite"

Que bancaram esse despiste

Pra fazer ele ganhar

Mas, deu ruim!

Ele comia feijão com arroz

Mas, lá dentro do caixa dois

Ele escondia o caviar.

Não prestou!

A jornalista descobriu

E pode ter salvado o Brasil

De uma baita confusão

Já imaginou

Um homem que é meio fascista

E ainda por cima, é um grande golpista

Governando essa nação?

Ah, não!

Deus nos livre e guarde!

Eu prefiro o seu Haddad

Ele sim, é cidadão.

Sujeito distinto

Equilibrado, mais humano

Não é igual aquele tirano

Que ainda finge que é cristão

Agora sim

É esperar pra ver

O que a Dona Rosa vai fazer

Ou se vai deixar pra depois

A coisa é séria

Não foi aquele Juiz bastião

Quem um dia disse que a corrupção

Não é pior do que o caixa dois?

Ô dedo podre, sô!

Esse povo é muito néscio.

Depois de votar no Aécio

Por outro cão se enrabichou

Credo em cruz!

Eu li num site de manhã

Que até a Ku Klux Klan

Com ele se identificou.

Eu tô chocado!

O mundo inteiro tá ligado

Lá em marte já foi falado

Até o inferno se abalou

Eu quero ver

O que é que ele vai dizer

Se a justiça entender

Que ele prevaricou

Quer saber?

Eu acho muito é bem feito

É bom pra esse sujeito

Parar de se gabar

Não é possível

Que essa gente não enxergue

Que esse homem é um jegue

De no cabresto amarrar

Vou-me já!

Já lhe contei a história

Agora eu vou pra glória

Do aconchego do meu lar

Lá eu descanso.

Deixo tudo pra depois

Mas, esse tal de caixa dois

Vai dar muito o que falar.

E eu presto conta

Do soldado ao Coronel

No caixa dois do meu cordel

Só tem verdade pra mostrar
.

sábado, 20 de outubro de 2018

ELEIÇÃO & RELIGIÃO

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Passou o primeiro turno das eleições, mas não a perplexidade. Esta, ao contrário, aumentou. Por quê? Primeiro, por causa da onda avassaladora que emergiu das urnas, transformando radicalmente a configuração política do Brasil em sua quase totalidade. Em seguida, pela percepção de um novo elemento que despontou como protagonista nos resultados dessas eleições: a religião.

Os resultados desse primeiro turno trouxeram surpresa após surpresa. Vários candidatos que as pesquisas davam como favoritos em diferentes estados não apenas não ganharam sequer direito a um segundo turno, como ficaram em último lugar na votação. Partidos até então líderes no cenário político brasileiro encolheram sua presença nos governos estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado. Outros até então pequenos e com parca representação cresceram exponencialmente. E a corrida presidencial, embora confirmando as previsões das pesquisas, superou-as consideravelmente.

Enquanto tentamos nos recuperar das surpresas, outro dado novo nos atropela: o protagonismo que a religião passou a ter nas campanhas de tantos candidatos, especialmente em boa parte dos vitoriosos. O discurso sobre Deus, a compreensão da própria candidatura como vocação dada por Deus, a Bíblia utilizada como epígrafe de entrevistas transmitidas pela mídia se fazem sempre mais presentes na propaganda eleitoral e nos debates entre os candidatos.

Não se trata, porém, do discurso cristão que nos acostumamos a ouvir, característico das Igrejas históricas, católica ou protestante. A ênfase é na afirmação da supremacia gloriosa de Deus sobre tudo e todos e a conexão disto com o patriotismo exacerbado: a pátria acima de tudo. Os versículos bíblicos – às vezes não citados corretamente – são isolados de seu contexto. E apoiam as afirmações do candidato e não o contrário.

Se Deus está acima de todos, não parece estar acima daqueles que o citam a torto e a direito, em perigosa proximidade com o segundo mandamento que manda "não tomar seu Santo nome em vão". Servem tais citações como respaldo e legitimação ao que os candidatos em questão querem propor ao público como ideias a assimilar e projetos aos quais aderir. É a Bíblia a serviço do discurso eleitoral e não o contrário. É a Palavra de Deus utilizada como apoio para afirmações e declarações que andam distantes daquilo que as Escrituras apresentam como sendo o permanente diálogo de amor e vida em plenitude do Deus da Aliança e da Promessa com seu povo.

Nessas declarações encontram-se incitações à violência e promessas de armar a população e militarizar as escolas. Ouvem-se afirmações discriminatórias em relação a vários segmentos da população: merecem destaque os negros, as mulheres e os LGBT. Fala-se com desprezo dos direitos humanos e das conquistas duramente conseguidas pela humanidade e concretamente pelos brasileiros ao longo de décadas. Direitos laborais, políticos e sociais são definidos como males a extirpar.

Percebe-se, portanto, uma explicitação da fé cristã descolada dos valores que os candidatos em questão pretendem defender: a família, a moral, a segurança. Enquanto no Evangelho de Jesus Cristo o que se lê é a apologia do acolhimento ao outro, do perdão, da não violência, da inclusão de todos, os discursos políticos dessas eleições em nosso país vêm carregados de agressividade, eu diria até mesmo de morbosidade.

Essa combinação explosiva de patriotismo ultramontano e religiosidade fundamentalista infelizmente não é nova. Já foi vista em outras situações e mais ou menos recentemente na Europa do final dos anos 30, inicio dos 40. O espaço onde aconteceu foram os países cristãos. Ali também Deus foi convocado para justificar um novo regime que parecia empoderar países em crise. Os resultados são bem conhecidos. A humanidade amargou o maior genocídio de todos os tempos, pelo qual até hoje paga as consequências.

Ninguém acreditava que líderes que se diziam tementes a Deus pudessem realizar suas enlouquecidas propostas. Tiveram que pagar para ver. E viram quando já era tarde. Às vésperas do segundo turno, acompanhamos com angústia o rumo que toma nosso país. Que nos ajude a esperança, virtude indispensável que a fé no verdadeiro Deus nos ajuda a não perder.

HOJE, UMA AULA DE PORTUGUES

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Este é um artigo sobre a língua portuguesa. Não. É um artigo sobre a história. Não. É um artigo sobre a psicologia. Não. É um artigo sobre a política. Não. Este é um artigo sobre ser humano.

Manchete: “Homem é morto com doze facadas”. Não, não era um homem, era Moa do Katendê, mestre de capoeira, referência cultural para artistas do nível de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Este artigo é sobre a língua portuguesa: eu sempre explico a função das palavras indefinidas. Elas servem para ocultar e retirar responsabilidades. Se eu digo: “todos devem avaliar com cuidado esse crime abominável”, ninguém vai assumir a responsabilidade de fazer isso. Para usar uma palavra indefinida mais comprometedora, devo dizer, no mínimo: “cada leitor deve avaliar com cuidado esse crime abominável”. Cada leitor, ou seja, você, leitor, que ainda não abandonou este artigo. Mas espere: este não é um artigo sobre a língua portuguesa. É um artigo sobre a história.

Em 1942, uma empresa na Alemanha apresentava os motivos técnicos para a adoção da solução final: “Nos vastos campos de concentração, criados por motivos bélicos no leste do Reich, nos territórios ocupados, a mortalidade é altíssima e a sepultura na terra da enorme quantidade de cadáveres não é mais possível: em primeiro lugar, por falta de espaço e de carência de pessoal; em segundo lugar, devido ao perigo de infecções nos arredores. Portanto, é indispensável eliminar as massas de cadáveres de modo rápido, seguro, higiênico, pelo menor custo, por meio da cremação”. Mas tenha um pouquinho mais de paciência, pois este não é um artigo sobre a história, é sobre a psicologia.

Em “Vida e Morte do Terceiro Reich”, Peter Fritzsche afirma: “Os estudiosos concluíram que alguns grupos sociais de importância fundamental, como os operários e os agricultores, e até mesmo uma parte das classes médias, mostraram pouco entusiasmo pelo novo regime. Mesmo reconhecendo a popularidade de Hitler, afirmaram que o partido nacional socialista, assim como as suas políticas sociais e econômicas eram desprovidas de legitimações de base. Segundo essa visão, os nazistas poderiam ser associados a predadores, e a maioria dos alemães teria sido oportunista no sentido político e fraca do ponto de vista moral, mas tendencialmente não teria sido ideologicamente cúmplice”. Os alemães simplesmente se preocupavam em obter as vantagens possíveis e salvar a própria existência. Eram os líderes que perseguiam os objetivos bélicos da guerra e da conquista. O problema é que outras pesquisas chegaram a conclusões opostas, ou seja, a maioria dos alemães compartilhava com os líderes nazistas as ideias antissemitas em termos de extermínio e o nazismo não era nada mais que a coragem de colocar em prática ideias preconcebidas. Peço paciência, porque este artigo não é sobre a psicologia, sobre as fraquezas humanas e sobre as cumplicidades. Na verdade, é sobre política.

Não foi um homem que morreu com doze facadas pelas costas. A vítima de um assassinato que pesa sobre a nossa consciência política, que foi cometido com motivações políticas e fomentado pela política do ódio, essa vítima não é um homem. É mestre Moa do Katendê, referência cultural para artistas do nível de Caetano Veloso e Gilberto Gil. A repetição é proposital. Porque este artigo é sobre a língua portuguesa. A repetição, neste caso, serve para enfatizar que cada morte tem um nome, que vítimas não são números, estatísticas e nem palavras indefinidas. Desumanizar as vítimas é uma forma que o discurso político e ideologizado encontra para esterilizar a nossa sensibilidade. Para nos acostumar, como ocorreu na Alemanha nazista, a vivermos a nossa vida cotidiana em busca das nossas pequenas vantagens pessoais, com uma boa dose de conivência com os horrores do antissemitismo, porque esse sentimento refletia ideias preconcebidas.

Este artigo é sobre a língua portuguesa, porque ideias preconcebidas são a bagagem que trazemos ao mundo para serem vasculhadas, reorganizadas e descartadas quando não servem. Ninguém viaja com a mala fechada. Tiramos fora as nossas ideias preconcebidas, como tiramos fora a camiseta. E com ela caminhamos, suamos, e, quem sabe, jogamos fora quando não nos serve mais. Quem não abre a mala é porque não viaja. E quem não viaja é porque não viveu. Morreu com suas ideias preconcebidas, cristalizadas, como uma perfeita múmia, sem saber se a camiseta valia a pena ou não ter sido usada, desgastada e lembrada no futuro. A tarefa do professor não é fazer a bagagem de ninguém: é convidar para fazer a viagem. É dar a passagem. O percurso é do viajante. Mas este artigo não é sobre isso: é sobre ser humano.

A pergunta é: como podemos ser humanos se não estamos dispostos a avaliar a nossa comunicação, o modo como ouvimos os outros, se não reconhecemos os nossos sentimentos e as nossas motivações, se não conhecemos a história, se não percebemos a dimensão política dos fatos que ocorrem no nosso mundo, se não estamos dispostos a ter relação com ninguém?

Podemos ser refratários a tudo o que acontece no nosso presente e terá repercussão no futuro. Nesse caso, podemos transformar a nossa bagagem em um simples fardo, com o seu peso amorfo, sem empatia, sem indignação, sem calor, sem reação. Podemos ser iguais a nós mesmos ao longo de todo o percurso, sem jamais questionar os nossos erros e as nossas decisões. Podemos ser os donos da verdade. Podemos estar mortos para a relação com os nossos semelhantes e nem ter percebido que não somos vítimas de doze facadas pelas costas. Somos vítimas da nossa própria indiferença. Somos o nosso próprio suicídio simbólico. Quando as nossas próprias palavras – ou a falta delas – nos aniquilam, não estamos cometendo um crime, mas estamos indo muito além de uma aula de português. Estamos matando o que de mais precioso existe para que sejamos humanos: ter a capacidade de estar em relação.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

PRA CIMA DELES PROFESSOR.

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Caro professor, vá pra porta de Bolsonaro e debata com ele na rua! Exija que o frouxo venha para rua debater. Convoque o povo, a imprensa e fique na porta do fujão exigindo que ele saia da toca onde se esconde.

Pegue a besta fera do fascismo pelo chifre e mostre ao país que não passa de um falsário, mentiroso de quinta categoria. Valentão? Fortão? Valente é o povo brasileiro que acorda às 5h da manhã para ganhar um salário mínimo no fim do mês. Fortões foram Herzog, Rubens Paiva e Helenira, que enfrentou quase sozinha três mil homens no Araguaia. Pegue a energia dos que estão com sua vice e vá pra cima do facínora!

Qual a sua agenda? A dele! Onde ele for você vai. Encurrale o medroso. Faça ele correr de você como um gatinho amedrontado. Faça ele passar vergonha em rede nacional.

Não aceite o papel que desenharam para você. O de derrotado comportado legitimador da vitória do fascismo. Estamos há 10 dias de uma data que pode marcar um retrocesso civilizacional. Nocauteie o energúmeno. Faça-o beijar a lona.

Incendeie o exército de lutadores do povo. Encarne Zumbi, Conselheiro, Osvadão, Negro Cosme, Maria Quitéria e tantos outros heróis brasileiros.

É preciso que o povo sinta que o professor é o Guerreiro que lhe defende de fato. Saia da Usp, passe na Vai Vai, pegue um bumbo e faça a reação ouvir sua batida a cada segundo.

Mire o queixo da besta fera. Ele está com a mão na faixa? Corte a mão dele. Ele debocha da vontade popular ao sentar na cadeira antes da hora? Faça ele cair sentado no chão!

O teatro está montado para uma vitória por pontos legitimadora do atraso. Ponha fogo no tablado. São apenas poucos dias. Pra cima deles Professor!

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

ABRINDO O MEU VOTO.


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Muita gente tem me perguntado, e até cobrado, em quem vou votar nas próximas eleições. Em geral, respondo falando de critérios, sem citar nomes. Duas são as referências que destaco: não voto em quem se candidata à reeleição por mais de dois mandatos. Só voto em quem tem, em sua história, compromissos concretos com a Educação.

Alguém me questionou sobre o quesito honestidade. Respondi que isso não é critério, é obrigação. Aliás, quando um candidato se apresenta fazendo da honestidade plataforma eleitoral já fico desconfiado.

Mas algumas pessoas insistem, querendo saber em quem vou votar afinal de contas.

Hoje, faltando poucos dias para a eleição, confesso que não tenho muitas dúvidas. E, na dúvida, hora de usar o princípio do discernimento. Assim aponto para os candidatos a minha lente macro e também a grande angular e "rezo" sobre eles.

Esse é o meu primeiro olhar. Mas o discernimento, mais que o discurso dos marqueteiros, me convida a um outro olhar que esconde/revela, talvez, o mais importante e decisivo na hora de escolher em quem votar. Quem ou o quê está por trás ou dentro dos candidatos?

Afinal, como diz o Millor, "livre pensar é só pensar...".

Cada um tem o nanico que merece...
Vê-los é enxergar para além deles, tudo o que representam, tudo o que tentam camuflar graças à cosmética mágica dos marqueteiros de plantão.

A quem insiste comigo, revelo: meu voto será utópico. Aliás, há uma propaganda do TSE que compara a urna eletrônica a uma máquina do tempo, através da qual podemos alterar o futuro. Achei bacana a metáfora. Vou além. A urna eletrônica é uma máquina de fabricar utopias. Mas na versão cristã de utopia. Na literatura, utopia é sonho impossível. Na visão cristã é rumo; é pra lá que eu vou.

Vem comigo?

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ILUSÕES...


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Ilusões, frutos de sonhos, de certezas incertas, de devaneios... Cada ser humano guarda sua cota de ilusões dentro de si. Uma ilusão diferente da outra toma espaço; uma pessoa diferente da outra conserva as suas. As utopias deixam brechas entreabertas se não forem conduzidas nesse fluir de vida e de consciência...

Quantas ilusões deixei pelo caminho! Umas joguei fora, outras esqueci à margem da vida, como quem deixa o casaco vermelho na praça e sabe que jamais vai achá-lo. Outras, ainda, carreguei até que fosse possível, na tentativa de não me desfazer delas, tentando sustentá-las até que fosse admissível.

Transformei uma boa quantidade delas, e isso me fez alimentar muitos sonhos e construir tantos outros que nem sabia que poderiam existir, mas que pouco a pouco se fortificaram em mim.

Esperei muitos desejos se realizarem num passe de mágica, o que fez crescer as desilusões que ficaram retidas em mim até que eu pudesse transformá-las.

Quintana, o amigo poeta, em “Das ilusões”, diz: “Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o. Com ele ia subindo a ladeira da vida. E, no entanto, após cada ilusão perdida... Que extraordinária sensação de alívio!”. As palavras do poeta me fazem perceber que cada um conserva sua parcela de ilusões num saco, num pote mágico ou truncada dentro de si; entretanto só quem tem o poder de transformá-la ou deixar-se transformar por ela é quem a carrega.

Minhas ilusões, dores e amores seguem em constante transformação... Ah! Vida vivida, reinventada em constante transformação...



Ah! Ilusões...

terça-feira, 16 de outubro de 2018

TEM POLÍTICA EM TUDO

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Estamos em ano eleitoral dia 28 de outubro, elegeremos o Presidente da República Ainda que se torça o nariz para a política, convém lembrar que em tudo há política. Nem tudo é política, mas a política está em tudo. Por exemplo, um casal em lua de mel não é necessariamente uma questão política. Mas a qualidade do hotel onde se hospedam tem a ver com política.
Qualquer pessoa, pode não ter a menor ideia de que a qualidade do café da manhã que ela toma tem a ver com política. Mas tem.

A política é uma faca de “dois legumes”, como se diz por ai. Serve para oprimir ou libertar. É como religião, que também serve para oprimir ou libertar. Foi um erro de certa tradição marxista achar que toda religião é alienação, até que, de repente, se descobriu que religião também é fator de libertação. Não sou eu quem diz, mas Friedrich Engels, (companheiro do Karl Marx na elaboração de O capital), no pequeno livro que o mundo socialista pouco divulgou, chamado Cristianismo primitivo.

Fidel Castro presenteou o papa Francisco, em setembro de 2015, quando este visitou Cuba, com o livro Fidel e a religião, no qual um chefe de Estado de um país comunista fala positivamente de religião.

Entre vários exemplos de que tudo tem a ver com a política, um dos mais curiosos é este: dezembro lembra o número 10; novembro, 9; outubro, 8; e setembro, 7. E quantos meses tem o ano? Doze!
Eis a política: o ano tinha dez meses. O imperador Júlio César chamou os astrônomos do reino e disse: “Inventem um mês em minha homenagem.” Eles deram um jeito e enfiaram no calendário o mês de julho. Morto, Júlio César foi sucedido pelo imperador Augusto, que também chamou os astrônomos do reino e disse: “Se o Júlio tem um mês com seu nome, também mereço.”

Ordens imperiais são ordens imperiais, e ninguém quer ter a cabeça degolada. Então, criaram o mês de agosto. Porém, morrendo de medo apresentaram ao imperador um problema cronológico. Existe uma alternância de dias em cada mês. Janeiro tem 31, depois 30, 31, 30, e julho e agosto são os únicos dois meses do ano com 31 dias seguidos.

Como foi possível tal artimanha? Por ordens imperiais. “Se virem,” disse Augusto. E os astrônomos se viraram: tiraram um dia de fevereiro.

Podemos não saber que a política está em tudo, mas está. Porque o ser humano não inventou - e acredito que nem inventará - outra maneira de organizar a sua convivência social a não ser através da política.

Hoje em dia, muitas pessoas, sobretudo jovens, têm nojo de política, porque acompanham noticiários que falam de corrupção, roubalheira, descaramento, nepotismo, fisiologismo etc. Sempre lembro a eles: quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é que tenhamos bastante nojo, para eles ficarem à vontade com a rapadura nas mãos!

Lembrem-se disso! Quando você ou os seus amigos disserem: não quero saber de política, não vou mais votar, vou anular o voto, estarão fazendo o jogo dos maus políticos. Quem se omite dá um cheque em branco para a política que predomina no país.

Portanto, não existe neutralidade política. Existe a falsa ideia de neutralidade. Mas, de alguma maneira, cada pessoa interfere na política do país, para o bem ou para o mal.

Afinal, nenhum desses senhores e senhoras que ocupam o Congresso Nacional, em Brasília, entrou pela janela. Todos entraram através do voto dos eleitores. Então, a questão também é analisarmos por que os eleitores votam mal. Por causa da política. Porque vivemos em um mundo onde a política é controlada por uma minoria. E o Brasil não é exceção. Mas isso é outra história e tem nome: reforma política.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

OBRIGADO PROFESSOR.


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Graças ao seu trabalho, professor, descobriu-se que os pobres têm uma pedagogia própria. Eles não produzem discursos abstratos, mas plásticos, ricos em metáforas. Não moldam conceitos; contam fatos. Foi o senhor que nos fez entender que ninguém é mais culto do que outro por ter frequentado a universidade ou apreciar as pinturas de Van Gogh e a música de Bach. O que existe são culturas paralelas, distintas, e socialmente complementares. O que sei eu dos circuitos eletrônicos deste computador no qual escrevo? O que sabia Einstein sobre o preparo de um bom feijão tropeiro? No entanto, a cozinheira pode passar a vida sem nenhuma noção das leis da relatividade. Mas Einstein jamais pôde prescindir dos conhecimentos culinários de quem lhe preparava a comida.

O pobre sabe, mas nem sempre sabe que sabe. E quando aprende é capaz de expressões como esta que ouvi da boca de um senhor, alfabetizado aos 60 anos: "Agora sei quanta coisa não sei". O senhor, professor, fez com que o pobre conquistasse vez e voz, soubesse que sabe, e que seu saber é tão intelectual quanto o daqueles que, doutorados em filosofia ou matemática, ignoram como assentar a laje de uma casa, tecer um cesto de vime ou semear o trigo na época certa.

O senhor fez os pobres conquistarem auto-estima.  Eles aprenderam que "Ivo viu a uva" e que a uva que Ivo viu e não comprou é cara porque o país não dispõe de política agrícola adequada e nem permite que todos tenham acesso à alimentação básica. E só o pobre sabe o que significa passar fome. Por isso, professor, foi preciso que um pobre chegasse ao governo para priorizar o combate à fome e adotar como critério de êxito administrativo o acesso de toda a população a três refeições diárias.

O Professor nos ensinou que ninguém ensina a ninguém, mas ajuda o outro a aprender. Graças ao seu fórceps pedagógico, extraiu a pedagogia do oprimido e sistematizou-a em suas obras. Pois o arrancou da percepção da vida como mero fenômeno biológico para a percepção da vida como processo biográfico. Os pobres fazem história. Foi a sua pedagogia de conscientização (na verdade, a dos pobres que, repito, o senhor sistematizou) que possibilitou a organização e a mobilização dos excluídos. Deu consistência dinâmica às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), aos movimentos populares, às oposições sindicais, aos sindicatos combativos, às ONGs, aos partidos progressistas.

Ao longo das últimas décadas, seus "alunos" foram emergindo da esfera da ingenuidade para a esfera da crítica; da passividade à militância; da dor à esperança; da resignação à utopia. Convencidos pelo senhor de que são igualmente capazes, eles foram progressivamente ocupando espaços na vida política brasileira.


Por este novo Brasil, muito obrigado professor.  parabéns Professores pelo vosso dia.l

domingo, 14 de outubro de 2018

UM PESO NAS NOSSAS COSTAS; RAZÃO OU PAIXÃO

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Quando alguém nos diz “siga o coração”, não está dizendo outra coisa senão: siga as paixões e não a razão. Quando alguém nos diz “pense bem”, outra coisa não está dizendo senão, siga a razão, pondere, não siga os sentimentos, os interesses imediatos e as paixões. Cabeça e coração, razão e sensibilidade são as duas energias que conduzem a locomotiva das aventuras humanas. O senso comum percebe isso de uma forma imediata e intuitiva. A filosofia ocidental, por sua vez, sintetizou conceitualmente a condição humano, naquilo que a mitologia grega já tinha identificado em dois deuses que diretamente lidam com a essência antropológica: Apolo e Dionísio.

Apolo é nosso lado razão, ponderação, moderação, ciência, medida e luz. Dionísio é nosso lado paixões, desmedida, festa, embriagues e sombra. Apolo e Dionísio, razão e sensibilidade são duas grandezas que melhor dizem o que somos. Não há humano que não seja síntese dessas duas grandezas. A síntese, contudo, pode ser feita por negação, por subordinação ou por integração.

O racionalismo nega que o coração e as paixões sejam bons guias para a condução do caminho ético, político ou religioso. O racionalismo, de Sócrates à Kant, diz que o homem só é humano se guiado pela razão e, no mínimo, se não puder negar e eliminar as paixões, deve exercer domínio e controle sobre as mesmas. Os estoicos sintetizaram a ideia racionalista dizendo que a razão é que nos faz virtuosos e as paixões, via de regra, nos arrasta para um redemoinho de perturbação da alma.

Não conheço filósofo ou movimento filosófico e teológico que diga o contrário, a saber, que as paixões devem dominar e submeter a razão aos seus propósitos. Schopenhauer, porém, e depois dele Nietzsche e Freud, disse que toda tentativa da razão, no pretenso senhorio sobre a vontade e as paixões, resulta sempre em fracassada tentativa, pois é a vontade cega que domina e submete a razão a seus propósitos. Dito de outra forma, a razão só entra como justificadora de decisões prévias e inconscientes da vontade passional. Em outras palavras ainda e de uma forma simples e direta: o coração e as paixões alugam a cabeça para que esta justifique e racionalize o que já está previamente decidido pela vontade passional.

O racionalismo é um idealismo, um postulado do que seria bom que fosse, mas raramente é. O vitalismo de Schopenhauer e Nietzsche, não idealistas, dão-se conta que a razão é um anão sentado nos ombros de um gigante chamado vontade de poder. Como está sobre os ombros pode enxergar mais longe, mas raramente consegue frear, submeter e dominar a vontade e, por isso, pode haver muita tragédia no caminho da vida. Mas o trágico é o que é e a vida parece não se imunizar do trágico, pois o trágico é o que é inevitável, apesar do querer humano. O trágico, quando bem entendido, significa que nem tudo está sob controle e, mesmo contra a razão, as coisas acontecem. O trágico é o contrário da concepção racionalista que postula que um Logos domina tudo e sempre para o melhor. O trágico, ao contrário, postula que não há como controlar as energias e pulsões que movem o mundo e, ás vezes, as coisas não acabam bem.

Como gostaríamos que acabasse a história brasileira que está por viver dias decisivos? Em que será melhor apostar, na democracia racional ou nas pulsões sob o sentimento difuso de ódio e ressentimento? O que podemos esperar do futuro imediato, fruto de nossa decisão individual? Quem conduzirá os dedos nas urnas, a paixão ou a razão?

A aposta na razão é a aposta na democracia. A aposta na paixão é a aposta no obscuro e na “razão da autoridade”, mais do que a “autoridade que vem da razão”. Os que vierem depois de nós viverão as consequências do ato que estamos prestes a protagonizar e assistir. Qual das paixões nos conduzira, o medo ou a esperança? O que nos conduzirá, o trágico ou a racionalidade com o mínimo de previsibilidade controlada? Sobre as costas dos indivíduos recai o maior dos pesos. Não será demasiado grandioso o ato que estamos prestes a empreender? Estaremos à altura das exigências do tempo, ou seremos merecedores do destino trágico que virá?

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

FOLHAS DE LOURO


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Prestar atenção aos detalhes, pode se tornar algo inerente ao jeito de ser e ao modo de viver. O cantar dos pássaros prende a minha atenção, as flores que desabrocham acabam tendo uma linguagem, a chuva que cai é melodia, em alguns momentos. Tudo parece confirmar que a maturidade garante mesmo algumas características, como o desejo de silenciar, o afastamento de ruídos estridentes, a calma para assimilar determinados fatos. Sem contar que cresce, diariamente, a necessidade de ficar um pouco recluso para abrir as portas e as janelas da criatividade. Os anos realmente acalmam a vida. É evidente que ninguém deve tornar-se um eremita, a menos que tenha vocação para viver na extrema solidão. Mas é muito importante ficar atento às demandas, que brotam das profundezas do ser. Viver na agitação tem um período, é próprio de um ciclo, cai bem para uma certa idade. Pode não ser uma regra válida para todos, mas a soma dos anos torna a vida diferenciada.

Por causa de um compromisso, há pouco tempo, estive num município não muito distante da minha cidade. Ruas bem traçadas, trânsito organizado, pessoas dispostas. Um lugar onde ainda é possível encontrar-se com o cuidado e respirar o oxigênio do dinamismo. Acompanhado de outras pessoas, percebemos que, ao longo da calçada havia um pé de louro. Todos acabaram parando para ler uma breve frase, num cartaz protegido por plástico. A inscrição dizia: ‘é louro, disponível a todos.’ Pelo cenário, muitos já tinham passado por essa rua colheram folhas, quebraram galhos e levaram para casa o tradicional tempero, que possui um aroma inconfundível. Sem nenhum esforço, me reportei à infância: a mãe sempre tinhas galhos de louro próximo do fogão à lenha. Quando nos servíamos de feijão, encontrávamos a folha de louro. Dificilmente a feijoada não continha uma ou mais folhas. A árvore de louro era podada anualmente, para garantir novas e verdejantes ramagens.

Tenho lembrado seguidamente da inscrição do cartaz, junto à planta de tempero: ‘é louro, disponível a todos!’ Somente um coração generoso sente vontade de partilhar o que é seu. Pessoas conhecidas disseram que tal senhora é detentora de uma generosidade acima da média. Num tempo de tantas distâncias, de vizinhos que nem se cumprimentam, de gestos assustadores de egoísmo, de muita agressividade entre moradores de um mesmo condomínio, aquela humilde senhora encurtou o caminho: se antecipou e deixou à vista dos passantes que as folhas e galhos de louro estavam à disposição de quem necessitasse. Guardei comigo não apenas o tempero do feijão, que minha mãe preparava de forma incrível, mas também o perfume da bondade e da criatividade distribuído em pequenos gestos. Corações humildes são capazes de muitos milagres. O amor continua inspirando, apesar de uma grande maioria ter simplesmente materializado o coração. Aquela senhora está educando as novas gerações, misturando louro com amor.