quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A SUPERAÇÃO DO EGOÍSMO E DO INDIVIDUALISMO.



A Quaresma é tempo de penitência e conversão. No Brasil, ela inclui a cada ano uma Campanha que nos incentiva a crescer no amor ao próximo, mandamento essencial para o cristão. “Fraternidade e Amizade Social” é o tema da CF 2024; e o lema é “Vós sois todos irmãos e irmãs”.

O que é amizade social? O Papa Francisco responde: É o amor presente nas relações sociais; é o amor como base da relação entre as pessoas e os povos.

É a vida em comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros, superando as inimizades. A amizade social é um valor precioso, é um dom de Deus aos seres humanos.

A CF 2024 é um forte convite a um profundo exame de consciência e a uma sincera conversão, ao nos fazer refletir sobre o quanto podemos e devemos melhorar em nossa vida pessoal e comunitária.

Olhando para dentro de nós e ao nosso redor ficamos espantados ao constatar o quanto a divisão e a indiferença estão nos afetando. Nosso País é extremamente desigual, com “ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres”. Nossa sociedade padece de uma brutal divisão, erguendo muros de separação entre as pessoas, e muitas vezes considerando o diferente como um inimigo que é preciso eliminar.

Todos os dias, vemos crescer a violência e o crime que colocam em perigo comunidades inteiras. Quanta gente está sofrendo com divisões dentro da própria família por causa de escolhas políticas! É lastimável ver como as pessoas têm difundido ódio e intolerância, espalhando preconceitos e falsidades nas redes sociais.

E ainda tem aqueles que sugerem como solução o porte de armas, “como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos”, como disse o Papa Francisco.

Felizmente, vemos também em nossa sociedade frequentes manifestações de amor solidário, sobretudo em emergências naturais ou em grandes tragédias. Sempre aparecem voluntários que logo se mobilizam, oferecendo bens e serviços necessários para o socorro às vítimas.

São muitos os passos que devemos dar, nos níveis pessoal, comunitário e social, para criarmos espaços de encontro verdadeiro, onde se vive a empatia e a compaixão. Que tal, por exemplo, cultivar, por meio da oração, uma espiritualidade de comunhão, uma mística do encontro, da ternura, da misericórdia, aprendendo do Mestre como ser mais acolhedores e compreensivos ao lidar com as pessoas?

O cristão procura reagir como o bom samaritano: vê, sente compaixão e cuida. Tudo isso levará Você a uma mudança de vida, a uma superação do egoísmo e do individualismo, e a uma vida de amor fraterno e de engajamento comunitário.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

SÓ DEUS PODE NOS SALVAR.

Há ninguém passa pela cabeça que a situação mundial seja boa. O que assistimos pela mídia digital/social são cenas de guerra, crianças inocentes sendo assassinadas pela fúria dos ataques contra o Hamas, sacrificando ilegitimamente todo um povo de palestinos da Faixa de Gaza, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia que dura já três anos e outros 18 lugares de violência e crimes de guerra na África e alhures.

Segundo a famosa ONG Oxfam, em 2024, se considerarmos a fortuna pessoal dos 36 indivíduos mais ricos do mundo,  ela equivale  à renda de mais da metade da humanidade, concretamente, dos 4,7 bilhões de pessoas. No Brasil os 3.390 mais ricos (0.0016%) detêm 16% de toda a riqueza do país, mais do que 182 milhões de brasileiros (85% da população).

 A mesma fonte nos afirma que a cada cinco segundos, uma criança com menos de dez anos morre de fome ou de suas consequências  mais imediatas. Quem não se comove, em sua humanidade mínima, com tais cenas dramáticas, verdadeiras tragédias humanas? Parece que tocamos nos limites do final dos tempos. São cenas que poderiam estar no livro do Apocalipse.

Para entender a crise atual, devemos retroceder ao século XVII/XVIII com o advento do paradigma da modernidade os pais fundadores, Francis Bacon e especialmente René Descartes e outros romperam com uma larga tradição da humanidade. Esta entendia a natureza, a Terra e o próprio cosmos como algo vivo  e carregado de propósito.

. A Terra e a natureza só tem algum sentido na medida em que se ordenam ao ser humano que as trata ao seu bel-prazer. Essa concepção materialista do mundo não humano abriu espaço para todo tipo de uso e abuso e da própria  investigação científica, sem qualquer preocupação ética das consequências que daí se poderiam derivar.

Face à voracidade do sistema mundial de exploração/devastação da natureza, a Terra viva reagiu de várias formas: com eventos extremos, com a liberação de vírus, alguns misteriosos, o vírus X, dez vezes mais letais que o Coronavírus, cobrindo toda o planeta. Tornou obsoletos os limites entre as nações e afetou perigosamente a  inteira humanidade.

Ultimamente a mudança climática parece ter alcançado um ponto irreversível. A Terra mudou devido às práticas irresponsáveis (antropoceno) dos que detém as decisões políticas, controlam o curso mundial dos capitais e das finanças e persistem na devastação da natureza. Seria injusto atribuir simplesmente essa mudança climática à atividade das grandes maiorias empobrecidas que, comparadas com as citadas, pouco contribuem. Estamos mundialmente assistindo os efeitos deletérios dessas mudanças: os eventos extremos. A ciência e a técnica não poderão mais reverter esta mutação, apenas advertir da chegada dos eventos ameaçadores (enchentes, vendavais, tsunamis, estiagens prolongadas e aterradoras nevascas) e minorar seus efeitos danosos.

Agora podemos responder: por que chegamos aonde chegamos? Porque já há três séculos, os países dominantes,  situados no Norte Global, decidiram habitar desta forma perigosa e devastadora a única Casa Comum que temos. Impuseram a todo mundo seu modo de viver, de produzir, de concorrer e de consumir. Não somos vistos como cidadãos mas com clientes e consumidores.

Agora chegamos ao momento em que, devido ao acúmulo de crises planetárias e à nossa capacidade de nos autodestruir com armas atômicas atingimos um ponto em que o retorno se torna praticamente impossível. A seguir o caminho inaugurado há séculos, estamos a caminho de nossa própria sepultura.

Concordo com o velho Martin Heidegger: “Só um Deus nos poderá salvar”.