terça-feira, 31 de março de 2015

CRISE DE CARÁTER É AMEAÇA AO FUTURO DO PAÍS

Uma pesquisa realizada pela ICTS revela uma preocupação com o futuro do Brasil. O estudo aponta que "sete em cada dez jovens tendem a aceitar suborno em forma de presente. Além disso, a maioria dos profissionais de até 24 anos hesita em denunciar corrupção". Leia abaixo o artigo sobre o assunto:

A manchete do R7 neste domingo, em matéria assinada pela colega Joyce Carla (ver íntegra no link), baseada em pesquisa da ICTS Protiviti, empresa de consultoria e serviços, é a meu ver a mais grave ameaça para o futuro do país, já assolado por tantos casos de corrupção e de sonegação de impostos, os grandes ralos do dinheiro público.

Acima de todas as outras, estamos vivendo uma profunda crise de caráter, de valores e de princípios. É inevitável associar esta preocupante pesquisa sobre o perfil ético dos jovens profissionais das corporações brasileiras com as denúncias divulgadas esta semana sobre a quadrilha que agia no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o Carf, em que algumas das maiores empresas brasileiras criaram uma espécie de parceria público-privada para lesar o Tesouro Nacional em bilhões de reais, deixando no chinelo o que foi apurado até agora pela Operação Lava-Jato.

Os recursos das empresas contra autuações da Receita Federal eram julgados por servidores da Fazenda junto com representantes do sindicalismo patronal. "Nenhum outro país digno de menção tem um sistema semelhante", constata Elio Gaspari em seu artigo dominical na Folha.

Os números são assustadores, segundo os dados revelados pelo jornalista. "No Carf tramitam 105 mil processos com R$ 520 bilhões em autuações contestadas. A PF já achou 70 processos com desfechos suspeitos. Nove extinguiram cobranças que iam a R$ 6 bilhões. Se procurarem direito acharão cinco cobranças que valiam R$ 10 bilhões e viraram pó".

Entre as grandes empresas investigadas citadas em reportagem do Estadão, estão os bancos Bradesco (R$ 2,7 bilhões), Santander (R$ 3,3 bilhões), Safra (R$ 767 milhões), BankBoston (R$ 106 milhões) e Pactual, e mais Ford, Mitsubishi, BR Foods, Camargo Correa, Light e Petrobras. Segundo o jornal, o grupo RBS, afiliado da Rede Globo, está sendo investigado pelo pagamento de R$ 15 milhões para que sumisse do mapa um débito de R$ 150 milhões. São tantos milhões e bilhões desaparecidos nesta selva da terra de ninguém que a gente corre o risco de se perder.

A Operação Zelotes, deflagrada na quinta-feira, investiga os crimes de advocacia administrativa, tráfico de influência, corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Um estudo feito por procuradores da Fazenda Nacional, que já comentei aqui, estima que, em 2015, a sonegação de impostos deve bater na casa dos R$ 500 bilhões. Se todos pagassem o que devem, em lugar de contratar bons advogados e pagar propinas, o governo federal certamente nem precisaria brigar tanto pelo seu pacote fiscal, que se destina mais a cortar gastos do que em aumentar a arrecadação.

Com estes exemplos vindos do andar de cima, não espanta a conclusão a que chegou Maurício Reggio, sócio-diretor do ICTS. "As pessoas estão acostumadas a pensar a corrupção como algo de fora, dos políticos, das autoridades. Não percebem as próprias atitudes. Com isso, têm um padrão para fora e não para si próprios". Dos 8.712 profissionais de 121 empresas pesquisadas, 82% admitiram aceitar atos antiéticos e 68% hesitam em denunciar casos de corrupção dos quais tomam conhecimento. Talvez muitos deles possam ser encontrados nas ruas e nas redes sociais nas manifestações contra a corrupção.
É esta desenfreada hipocrisia nacional que está minando os alicerces da nossa jovem democracia e colocando em risco o nosso futuro como Nação civilizada.





Publicado inicialmente por Ricardo Kotscho

segunda-feira, 30 de março de 2015

NADA COMO UM DIA DEPOIS DO OUTRO.


Principalmente para um moralista de plantão.

Como é representar uma empresa suspeita de corrupção, que supostamente paga propina para se livrar de débitos tributários? Qual é a sensação de saber que parte do salário que vocês recebem no final do mês é pago, supostamente, graças à corrupção – essa mesma que, insistentemente, tem assolado nossa política -? Como é saber que a expansão empresarial do Grupo RBS supostamente é patrocinada pela corrupção, pela sonegação de tributos que fazem falta para a educação, para a saúde, para as estradas? Como será, a partir de agora, produzir uma matéria, ou escrever um artigo, sobre o “caos na saúde”, se supostamente vocês contribuíram para ele?

A empresa que vocês representam ainda não foi condenada? Bem, mas o que isso importa? Quando vocês, jornalistas do Grupo RBS, se preocuparam com a verdade e com apurações quando escândalos desse tipo envolveram políticos, não é mesmo?

Como é ser vidraça?

E agora, sob a luz dessa acusação, como será falar, em seus programas de rádio, em suas colunas de jornal impresso, sobre propinas pagas por empresários para políticos e diretores da Petrobras? Como será descer do “pedestal ético” do Grupo RBS, do qual se olhou para todos,
indistintamente, durante um bom tempo? Do alto do qual políticos, juízes, promotores, funcionários públicos, agentes políticos, profissionais liberais e cidadãos comuns foram julgados impiedosamente?

Com que moral um representante do Grupo RBS falará sobre isso?

Aliás, com que moral um representante do Grupo falará, a partir dessa denúncia, sobre qualquer coisa que envolva o conceito de corrupção?

Vocês citarão os nomes dos executivos da RBS que supostamente pagaram propinas para funcionários públicos corruptos? E os nomes dos lobistas que supostamente intermediaram essa negociação, vocês dirão? Estão ansiosos por essa lista como estiveram pela famosa “lista de Janot”?

E os editoriais do Grupo RBS, pródigos em acusações, em apontar para a falência moral da política? Como é estar na mesma vala de suspeição, no mesmo nível moral dos políticos e empresários por vocês publicamete execrados?

Por um bom tempo vocês enganaram muitas pessoas. Há aqueles, porém, que jamais engoliram a incompetência, o falseamento da verdade, a ignorância, a má-fé e o exercício diário de crenças irrefletidas praticados por vocês, sabujos do Grupo RBS. Hoje é um dia de alma lavada. Hoje o que resta da dignidade do jornalismo está em festa, pois a face que não presta do jornalismo brasileiro começou a ser desmascarada. Hoje as pessoas que vocês enganaram por um bom tempo também sabem que vocês escrevem a soldo de gente supostamente tão desqualificada moralmente quanto o que há de mais rasteiro na política brasileira. É nessa lama que vocês, colaboradores, parecem indiretamente chafurdar diariamente, sem qualquer espécie de distinção ética, pois pelo menos parte do salário de vocês parece ser pago com o mesmo tipo de dinheiro sujo que movimentou o famoso “Mensalão” e outros tantos escândalos semelhantes. Dinheiro sonegado é dinheiro sujo, além de fazer falta para quem mais precisa do Estado.

Como será saber que seu empregador, caso as denúncias sejam verdadeiras e a culpa do Grupo RBS reste provada, é corresponsável pela pobreza, pela miséria, pela histórica falta de Estado para os mais necessitados? Com que moral vocês irão criticar programas públicos de assistência social, uma vez que há tal assistência também porque há corruptos?

Não há nenhuma diferença moral entre a corrupção supostamente praticada pelos seus patrões e a patrocinada por “mensaleiros” e operadores do esquema da Petrobras, o dito “petrolão”.

Aliás, como será batizada a propina supostamente paga pelos executivos do Grupo RBS a fim de livrar a empresa de débitos tributários?

Caso vocês ainda não tenham se dado conta, estamos falando de, supostamente, 19 bilhões de reais. De advocacia administrativa, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro. E, supostamente, nesse mesmo barco estão “queridinhos” do

Grupo RBS, como o Grupo Gerdau – e não poucas vezes um conhecido integrante do referido Grupo nos deu lições baratas sobre ética nas páginas de opinião de veículos do Grupo RBS. E tudo isso, frise-se, dito pela Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público Federal e a Corregedoria do Ministério da Fazenda.

Que razões temos, portanto, para acreditar que tais denúncias são mais “fracas” do que aquelas que culminaram na condenação dos ditos “mensaleiros”?

E agora, como vocês irão dormir sabendo que todo o discurso moral – discurso assumido por cada um de vocês, diga-se de passagem – do Grupo que vocês representam pode nunca ter valido um tostão furado?

Vocês pedirão demissão? Pedirão desculpas públicas por representarem possíveis corruptos – e venderem seus discursos – por tanto tempo? Não é essa a atitude que vocês, colaboradores e porta-vozes da moralidade do Grupo RBS, costumam exigir de políticos?



Tenham o mínimo de dignidade. A mesma que vocês não pensam duas vezes em exigir quando se trata de desqualificar a política.




Texto publicado no site 247.por Marcelo Duarte4.

domingo, 29 de março de 2015

OLHAR O TODO, MAS NÃO ESQUECER AS PARTES.

Um casal de agricultores, em tempo de calamidade em sua lavoura por causa da seca de janeiro, decidiu sair e visitar pela primeira vez a praia. Carregando consigo o cenário da aridez de sua terra, a tristeza da falta de água em suas fontes, foi se aproximando do litoral. Sem deixar as preocupações de sua casa, o casal ia imaginando o encontro com o mar pela primeira vez. A novidade que esperavam ia diminuindo a angústia da seca de sua terra.
Finalmente, ainda de longe o casal avistou um horizonte diferente e sem limites. Para quem sempre viveu entre horizontes limitados pelas montanhas, um cenário assim só podia propiciar uma sensação curiosa e deslumbrante. A proximidade do mar, o dinamismo das ondas e o barulho deste movimento levou o casal a silenciar por alguns instantes, como quem não tivesse mais nada a dizer, a não ser curtir o choque da surpresa.
Deixando o carro na praia, eles foram se aproximando das águas, em silêncio, deixando-se tocas pelas ondas que chegavam à margem. O marido exclamou: “Lá em casa falta água e aqui está sobrando! Nossas fontes estão secando e aqui o mar transborda”. A esposa também se animou a falar: “Lá em casa, nesta seca, até uma gota de água é importante, mas aqui há tanta água que nenhuma gota é importante!” O marido olhou para a esposa e disse: “Você sabe que o mar também é feito de gotas!” E ali a conversa levou o casal a um longo diálogo contemplativo.
Uma gota de água no oceano parece assunto de quem não tem o que falar, mas o realismo dessa verdade nos chama atenção para aquilo que, na rotina da vida, não se costuma valorizar. Geralmente nos envolvemos, olhamos e nos movemos no todo e esquecemos a importância das partes. Em nossos dias, onde queremos ver tudo pronto às pressas, onde a ânsia de novidade atropela tudo, precisamos reaprender a dar valor às gotas de água do oceano.
Em tempo de seca, até uma gota de água pode garantir a esperança de uma chuva fecunda. Quando se apagam as luzes, a chama de uma pequena vela pode nos salvar de um acidente. Quando nos pomos a caminho, cada passo nos ajuda a chegar. Quando programamos um dia, cada segundo garantirá o minuto, cada minuto vai compondo uma hora e cada hora vai tecendo esse dia. Ao construirmos um edifício, cada tijolo vai compondo o projeto a ser habitado.
Se o todo de todas as coisas proclama a importância das partes, assim também um projeto de vida chama a valorizar e iluminar a dignidade e a grandeza dos atos e dos fatos, das decisões e realizações que vamos fazendo acontecer no dia a dia da vida. Aqui vale a sabedoria de Madre Tereza de Calcutá, que costumava dizer: “Não nos é comum fazer grandes coisas, mas todos os dias podemos fazer as pequenas coisas com grande amor”.
Certamente seremos bem mais felizes e viveremos com mais alegria se conseguirmos contemplar o mar a partir de cada gota que o compõe. Nosso viver vai engrandecendo o seu todo na medida da grandeza que dermos às pequenas coisas que vão tecendo o nosso dia a dia.

sábado, 28 de março de 2015

NUNCA DEIXE PARA AMANHÃ O QUE PODE FAZER HOJE.

A encosta, coberta por parreirais, era considerada um pequeno paraíso. As uvas e os vinhos eram de primeira qualidade e o fluxo de turistas crescia. Um dos destaques era um colecionador de vinhos finíssimos. Um dia, o bispo da diocese visitou a localidade e o pároco fez questão de mostrar a adega. O dono pensou oferecer um brinde ao bispo. Ele possuía um barril com o mais precioso vinho. Mas logo veio a tentação e ele decidiu guardar o vinho para outra oportunidade. Pouco tempo depois foi
o governador quem visitou a localidade.
O dono dos renomados vinhos pensou: é hoje que vou abrir o famoso barril. Porém, novamente, veio a tentação: o governador é acompanhado por muita gente e meu
vinho será esbanjado. Acabou oferecendo um vinho de menor qualidade.
Passaram-se alguns anos e uma grande festa marcou o casamento do seu filho único. Agora sim, pensou ele, é a vez do famoso vinho. Foi até a adega, cheio de alegria, mas na hora decidiu deixar o vinho para uma melhor ocasião, uma data especial. Algum tempo depois, o homem sofreu uma parada cardíaca e morreu. O barril de vinho ficou para a geração seguinte. É até possível que tenha virado vinagre.
Deixar para amanhã é perigosa tentação. Uma senhora comprou uma roupa muito bonita e nunca a usou, esperando sempre por uma ocasião especial. Esta ocasião nunca aconteceu e ela foi sepultada com aquela roupa.
Todos temos sonhos, projetos, boas intenções. O que falta, por vezes, é colocar a mão na obra. Vamos adiando para mais tarde, para amanhã, para o mês que vem, para o próximo ano, para depois da formatura, para quando nos aposentarmos. E o tempo vai passando e um dia podemos chegar à conclusão que agora é tarde.
Se um projeto é importante não podemos deixá-lo para mais tarde, mas precisamos começar hoje. Se deixamos para mais tarde é porque o consideramos sem importância. A cada dia decidimos se queremos mudar ou continuar como somos. A cada dia precisamos decidir se nosso projeto vai começar hoje ou amanhã. As boas intenções, quando não concretizadas, tornam-se más intenções.
Deixar para mais tarde é fuga. Chegar à conclusão que agora é tarde demais, é desculpa. Seria muito melhor admitir que algo é bom, mas não temos vontade para alcançá-lo ou achar que o preço solicitado é muito alto e não estamos dispostos a pagá-lo. O tempo de Deus é hoje. São Paulo lembra: “É hora de despertar do sono, a noite vai alta e o dia se aproxima” . O tempo é um presente que Deus nos dá e o que não ocupamos hoje não ficará para amanhã. Se houver amanhã.
Não espere por ocasiões especiais.
Hoje é a ocasião especial. Ela jamais se repetirá. E porque jamais se repetirá
merece o melhor vinho.

sexta-feira, 27 de março de 2015

A MASCARA TUCANA CAIU.

Basta de cinismo e hipocrisia. A questão da corrupção, que no Brasil vem desde o Império, deve ser tratada com seriedade. Nos últimos12 anos, cada vez que surge uma denúncia de corrupção, a direita vem como paladina da moralidade insistir em seu discurso de que o PT é o partido mais ladrão e mais corrupto do país.

Na verdade, se tem alguém que tem autoridade para falar de combate à corrupção neste país, somos exatamente nós da esquerda brasileira. Falo isso de cátedra porque conheço profundamente como funcionam as instituições no Brasil. A raiz da corrupção está no sistema eleitoral brasileiro.

É impressionante ver a direita tentar provar que só as doações para o PT são criminosas. O dinheiro que saiu do mesmo buraco, do mesmo caixa, da mesma empresa é crime quando doado para o PT mas não é crime quando vai para o PSDB; não é crime quando é para o Democratas; não é crime o do PP; o do PMDB também não; do Solidariedade não.

A máscara tucana agora caiu de vez para o grande público. O doleiro Alberto Youssef entregou Aécio Neves e o vídeo da gravação está na internet pra quem quiser ver. Aécio Neves recebia de US100 a US 120 mil por mês num esquema que durou quase todo o governo FHC, por meio da empresa Bauruense, que prestava serviços para a estatal Furnas.

Youssef informou que o deputado José Janene, PP/PR, lhe disse mais de uma vez que "dividia" com Aécio uma diretoria de Furnas,
e que o dinheiro da corrupção era entregue em duas frentes, uma para Janene, outra para a irmã de Aécio.

O importante desta denúncia contra Aécio é que agora o cerco esta se fechando. Estes dados passados agora por Youssef confirmam outras denúncias constantes de outro inquérito do Ministério Público sobre corrupção envolvendo Furnas e a empresa Bauruense.

As constantes negativas de Aécio sobre o escândalo de Furnas agora não colam mais. Sua desculpa mais rotineira sempre foi a de que a Lista de Furnas é fraude política, invenção do PT.

Um laudo de exame documentoscópico (mecânico e grafotécnico ) 1097/2006 do Instituto Nacional de Criminalística do Departamento de Policia Federal concluiu que a lista é autêntica e não houve nenhum tipo de montagem, fraude ou manipulação no documento.

Em janeiro de 2012, Andrea Bayão, procuradora federal do MP-RJ, ofereceu denúncia contra operadores do esquema de Furnas, no governo FHC. E quem estava citado lá? Obviamente não por acaso, a Bauruense e a Thoshiba, mencionadas também agora por Youssef, junto com o nome de Andrea Neves, no esquema de propinas para beneficiamento a Aécio Neves e outros políticos.

Segundo o site caixadoistucanodefurnas.blogspot.com.br, feito para esclarecer o caso caixa dois de Furnas, os candidatos do PSDB teriam ficado com mais de dois terços (68,3%) dos R$ 39,9 milhões que teriam sido distribuídos a 156 políticos.

De acordo com a lista publicada pelo site e seus anexos, inclusive os confidenciais, a divisão do dinheiro não foi feita de forma equânime, mas sim repassada em maior quantidade para os candidatos José Serra ( p/Presidente da República) que recebeu R$ 7 milhões; José Alckmin (para o Governo de São Paulo) que recebeu R$9,5 milhões; e Aécio Neves (para o Senado) que recebeu R$5,5 milhões. A lista completa dos nomes de deputados, senadores e empresas envolvidas e quantias recebidas está no site para quem quiser ver.

As denúncias contra o PSDB não param por ai. Um vídeo foi divulgado na quinta-feira (19/03) onde o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores da Operação Lava a Jato, aparece dizendo que em 2010 o falecido ex-senador e presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, pediu pessoalmente R$ 10 milhões para abafar uma CPI que tinha como alvo a Petrobras. O dinheiro foi entregue e Costa declara: serviço realizado. E a CPI não foi feita"."

Quando se fala de financiamento público para campanha qual é o discurso da direita ? Não, tem que haver financiamento privado porque o dinheiro público tem que ficar para saúde, educação e segurança. Mas de onde sai o financiamento privado ? exatamente das empresas que prestam serviço para o Estado brasileiro. Termina saindo mais caro porque ai não ocorre fiscalização nenhuma.

Na década de 90, o escândalo que ficou conhecido como Anões do Orçamento, mostrou que na ocasião eram usadas exatamente as mesma práticas da atualidade. Emendas apresentadas por deputados, em conluio com empreiteiras, prefeituras e governos de estados que neste processo desviava uma parte para parlamentares.

Naquela época cassaram 15 deputados federais. No entanto, se fosse pra fazer a limpa necessária deveríamos ter cassado 100, mas o Congresso não teve estrutura para tomar uma medida desta monta.

Muitos deputados tiraram licença médica e não apareceram na Câmara por semanas com medo de que seus nomes viessem a público como envolvidos no desvio de cerca de R$ 800 milhões.

Houve até casos de injustiça como a cassação de Ibsen Pinheiro -apresentado para a sociedade como bandido e depois provou-se o contrário - mas a maioria dos verdadeiros bandidos ficou livre.

Já naquela época se falava de um deputado criador de cavalos de Pernambuco, que estava no meio dos Anões do Orçamento e não foi cassado, assumindo mais tarde a presidência do PSDB. Hoje sabemos que é Sergio Guerra.

O Congresso não teve a coragem de fazer as reformas que precisava ter feito pra extirpar este câncer que corroi os organismos da sociedade brasileira. Se tivesse feito isso, talvez não estivesse acontecendo o que vemos hoje.
Depois veio o escândalo da pasta Cor de Rosa, de compras de votos, e ninguém fez nada. Me lembro que eu, com a ajuda da imprensa, consegui derrubar o candidato a vice presidente da República de FHC, Guilherme Palmeira, ao denunciar a existência do esquema de compra de emendas parlamentares - que me foi relatado por seu motorista e sua secretária- pagas por empreiteiros em dólares por meio de uma casa de câmbio situada no Gilberto Salomão, Lago Sul.

Aconselho a todos que antes de ficar repetindo que o PT é o partido mais corrupto do Brasil leia e se atualize sobre os maiores escândalos de corrupção do país, envolvendo o PSDB e o DEM: a Privataria Tucana (R$100 bilhões); do Banestado (R$ 42 bilhões); Vampiros da Saúde (R$2,4 bilhões; Banco Marka R$1,8 bilhão; TRT de São Paulo (923 milhões); Navalha da Carne (R$610 milhões) ; Trensalão Tucano (R$ 570 milhões); Sudan (214 milhões); Máfia dos Sanguessugas (R$140 milhões).

Espero que as pessoas passem a entender isso e comecem a defender o fim do financiamento privado e lutem pelo financiamento público das campanhas eleitorais.

Esse é um grande momento que temos para passar esse país a limpo. Com as medidas enviadas por Dilma ao Congresso, principalmente o pacote anticorrupção, quero conclamar a sociedade brasileira para que efetivamente se manifeste nas ruas para vê-las aprovadas no Congresso Nacional.

DEVEMOS RECONSTRUIR O BRASIL E DEIXAR NO PASSADO ESTE PAÍS ONDE SÓ FICAM NA CADEIA POBRES, PROSTITUTAS, NEGROS E PETISTAS. LADRÃO DO SOLIDARIEDADE, DO PSDB, DO PSB, DO DEMOCRATAS E DE OUTROS PARTIDOS SÃO BONS LADRÕES, LADRÃO RUIM É DO PT.


Publicado originalmente por Chico Vigilante

quarta-feira, 25 de março de 2015

PONHA-SE NO LUGAR DA DILMA; O QUE VOCÊ FARIA?

ddd Ponha se no lugar de Dilma: O que você faria?

O título acima é inspirado no livro Ah, se eu fosse presidente _ O Brasil ideal na opinião de grandes brasileiros famosos e anônimos, organizado pelo jornalista Sidney Rezende, que acaba de ser lançado pela Alta Books Editora.

Ponha-se no lugar de Dilma: o que você, caro leitor, faria se fosse presidente?

É impressionante como agora todo mundo sabe o que a presidente Dilma Rousseff deve fazer para sair da encalacrada em que se meteu, da mesma forma como se comentava o que Felipão deveria fazer com a seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Em lugar do "Fora Felipão", entrou o "Fora Dilma".

O nível das conversas é mais ou menos o mesmo. Nunca os brasileiros falaram tanto de política, a todo momento, em todo lugar, nem mesmo no auge do segundo turno da campanha presidencial do ano passado.

"Eu não quero saber de política, eu não gosto disso", cansei de ouvir até outro dia, quando o assunto surgia numa roda. Pois neste momento está acontecendo exatamente o contrário. Isto tem um lado bom, o interesse em discutir os destinos do país, e revela, ao mesmo tempo, um assustador desconhecimento sobre como funcionam nossas instituições.

Chuta-se para todo lado e qualquer boato ouvido no rádio, espalhado nos táxis ou lido nas redes sociais vira verdade absoluta. Tem gente que se gaba de não pagar mais impostos, "para não entregar meu suado dinheiro aos vagabundos do bolsa família", sem se dar conta de que está confessando um crime. Pelas leis em vigor, afinal, quem sonega pode ir para a cadeia
Este ano, os procuradores da Fazenda Nacional calculam que a sonegação de impostos baterá nos R$ 500 bilhões _ ou seja, pelo menos dez vezes mais do que o governo pretende economizar com o pacote fiscal. E todas as corrupções somadas não chegam nem perto desta sangria incontrolável do Tesouro Nacional, mas ninguém quer falar disso, não dá manchete.

Outros não fazem a menor distinção entre as diferentes responsabilidades constitucionais dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, atribuindo todos os nossos males, genericamente, ao "governo do PT", e colocando a culpa em Dilma Rousseff, que, diga-se a bem da verdade, contribuiu bastante para que chegássemos a esta situação.

Discussões histéricas e estéreis se multiplicam em todos os ambientes sociais, misturando ignorância e má-fé, como se o Brasil fosse acabar amanhã. Neste clima, confesso, estou pela primeira vez na vida preocupado com o futuro _ da minha família e do país.

Cada um tem sua solução mágica para resolver todas as crises de uma vez, do impeachment da presidente à prisão de todos os políticos, da renúncia à volta dos militares ou a novas eleições, de um grande diálogo nacional ao encolhimento do ministério, do fechamento dos partidos à convocação do papa Francisco para dar um jeito no Brasil.

Além de economistas e técnicos de futebol, viramos agora todos estrategistas políticos, embora a maioria nem saiba do que se trata.

Virou o Samba do Indignado Doido.

Já que dar palpite não custa nada, eu mesmo pensei no que faria se fosse eleito presidente da República (Deus me livre!), atendendo ao pedido do Sidney Rezende para contribuir com o livro citado na abertura deste texto. Escrevi antes das eleições de outubro:

"Antes mesmo de tomar posse, chamaria os lideres de todos os partidos e representantes da sociedade civil para discutir um projeto de reforma política ampla, geral e irrestrita que seria enviado ao Congresso Nacional no primeiro dia do meu mandato. O ideal seria discutir os pontos centrais deste projeto durante a própria campanha eleitoral, o que nenhum candidato fez até agora. Sem isso, qualquer outra proposta de mudança no país seria inútil, mera demagogia, inviável. Com o atual sistema político-partidário-eleitoral, o Brasil é um país ingovernável, seja quem for eleito presidente da República"


Publicado anteriormente por Ricardo kotsho

terça-feira, 24 de março de 2015

OPINIÃO PÚBLICA E IMPRENSA SÃO OS TRIBUNAIS DE HOJE.

Os brasileiros que preservam a memória dos tempos da ditadura sabem da importância do habeas-corpus como instrumento legal contra a tortura. Até dezembro de 1968, o tratamento dispensado a trabalhadores e estudantes que eram aprisionados pelo aparato repressivo podia incluir cenas de brutalidade e pancadaria feia mas tinha um limite.

Com um habeas-corpus, era possível retirar da cadeia pessoas que pudessem estar sofrendo um "constrangimento ilegal a sua liberdade" ou ainda um "dano irreparável a liberdade de locomoção." Chamado de HC pelos íntimos, é um documento tão eficaz e precioso na defesa da liberdade individual que no início de todo curso de Direito os estudantes aprendem que é possível escrever um pedido de habeas-corpus num guardanapo de papel.

Como a ditadura batia primeiro para perguntar depois, a violência era real mas durava pouco — como você pode confirmar ouvindo testemunho de prisioneiros da época, como se vê pelo documentário "Em Busca de Iara Yavelberg".

Com o AI-5, baixado em dezembro de 1968, a situação se modificou. O habeas-corpus foi suspenso, medida que, na prática, permitiu a liberação da tortura, que se tornou uma forma permanente de interrogatório, realizada com métodos científicos — muitos importados da Escola de Guerra do Exército Frances — por anos a fio. Então veja só.

Se hoje vivemos num país onde famílias choram seus desaparecidos e generais fogem de suas responsabilidades, homens e mulheres traumatizados não conseguem ter paz, pode-se dizer que a história de cada uma dessas pessoas poderia ter sido muito diferente se garantias democráticas como o habeas-corpus não tivessem sido suspensas. O regime de força estava instalado e talvez não houvesse meios de reverter essa situação de uma hora para outra. Mas teríamos um número menor de vítimas da tortura. A dor do passado seria menor. A vergonha também. Bastaria ter o habeas corpus.

No Brasil de 2015, o habeas corpus não foi legalmente suspenso mas entrou em desuso na Operação Lava Jato, processo onde se resolve — longe da decisão do eleitor — uma fatia importante de nosso futuro. Dezenas de empresários e executivos foram conduzidos a prisão, em novembro de 2014, onde ficam trancafiados enquanto não se dispõem a abrir a boca para colaborar com as investigações. Não têm culpa formada nem respondem a uma acusação precisa. Mas seguem presos. Apenas um pedido de Habeas Corpus, do diretor Renato Duque, foi aceito — por interferência do ministro Teori Zavaski, do STF. Mas já foi revogada. Em entrevista ao Espaço Público, o jornalista e escritor Bernardo Kucinski estimou em 80 o número de Habeas Corpus pedidos e rejeitados.


Por Paulo Moreira Leite - 247

segunda-feira, 23 de março de 2015

BEBA, DIRIJA, MATE E FIQUE LIVRE.

Nas últimas semanas, a mídia registrou inúmeros casos de acidentes de trânsito com mortes, provocadas por motoristas embriagados. Foram presos e, graças à fiança, em seguida soltos.
Detalhe: sem que suas carteiras de motoristas tenham sido apreendidas. Alguns, aliás, nem possuíam habilitação para dirigir.
O Brasil é o país da impunidade. As leis são feitas apenas para os pobres – que não têm dinheiro para pagar advogados e fianças. Da classe média para cima, nenhum assassino do volante se encontra preso. Nem condenado em última instância. São 57 mortes por dia, no Brasil, associadas ao alcoolismo. Vale, pois, a pergunta: quem é a próxima vítima?
O Brasil é também o país do paradoxo. Há intensa campanha contra o tabagismo. A publicidade de cigarros desapareceu da mídia. As embalagens de tabaco trazem fotos horripilantes dos efeitos deletérios do produto. Ora, o alcoolismo mata mais que o tabagismo. É o terceiro fator de morte no mundo, precedido pelo câncer e doenças cardíacas. Por que não se proíbe publicidade de bebidas?
Apenas na cidade de São Paulo, em 2010 ocorreram 1.357 mortes no trânsito e 7.007 atropelamentos. O número de motoristas embriagados, parados em blitzes da PM, subiu 38% de janeiro a setembro deste ano, comparado a todo o ano de 2010. Entre jovens de 13 a 19 anos envolvidos em acidentes de trânsito, 45% ingeriram bebida alcoólica.
Os dados são alarmantes: 68,7% dos brasileiros ingerem álcool. Nos hospitais psiquiátricos, 90% das internações são de dependentes de álcool. Os motoristas bêbados são responsáveis por 65% dos acidentes de trânsito. E o Ministério da Saúde gasta, por ano, via SUS, mais de R$ 1 bilhão em tratamentos e internações causados por álcool.
Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas e Psicotrópicos, vinculado à Faculdade Paulista de Medicina, entre estudantes do primeiro e segundo graus da rede estadual de São Paulo, 70,4% se iniciam na bebida entre 10 e 12 anos. Nos EUA o índice, para a mesma faixa etária, é de 50,2%.
Volta a pergunta que não quer calar, e o governo, o Conar e as agências de publicidade não querem responder: por que não se aplicam as leis de proibição do tabagismo ao álcool?
A resposta existe, o que não existe é a coragem de fechar a torneira do mar de dinheiro que as empresas de bebidas alcoólicas despejam na publicidade. E o mais grave: associa-se álcool a celebridades, como jogadores de futebol e cantores, que fascinam os mais jovens e atraem legião de fãs.
Uma grande emissora de TV anuncia uma série de programas antitabagistas. Quando veremos algo semelhante em relação ao consumo de álcool?
Nunca tive notícia de acidentes de trânsito causados pelo vício de fumar, agressão doméstica decorrente da aspiração da fumaça de tabaco, internação psiquiátrica por dependência de cigarro. Todos nós, porém, conhecemos casos relacionados ao alcoolismo. E haja publicidade de cerveja no horário nobre! Para os jovens, a cerveja é a porta de entrada no consumo de bebidas etílicas.
O cigarro prejudica quem fuma e quem está próximo ao fumante.
O álcool, misturado com volante, gera acidentes que envolvem passageiros do veículo causador do acidente, passageiros dos veículos atingidos por ele e pedestres, além de danos à via pública.
Álcool em excesso transtorna os reflexos. Associado ao volante, é perigo na certa. Mas não se preocupe. Você está no Brasil. Confia que jamais terá o azar de ser parado por uma blitz da lei seca. Se acontecer, oferecerá uma grana aos fiscais, na esperança de que sejam corruptos. Caso não sejam, se recusará a pôr a boca no bafômetro. Se for detido, convocará a família e o advogado, pagará fiança e logo estará na rua. Com a carteira de habilitação no bolso. Pronto para se dependurar no volante e repetir a façanha.
Viva o Brasil e a impunidade!
E azar das vítimas por viverem
num país como o nosso!

sexta-feira, 20 de março de 2015

APOSSAR-NOS DO QUE NUNCA SERÁ NOSSO.

Se você ainda não conhece as ideias de Jesus nem do rabino Hillel procure conhecer. São duas fontes judaico-cristãs ricas de altruísmo. Jesus nasceu judeu. Nós cremos que ele é o Filho de Deus, mas isto não o torna menos judeu. Independente do que o leitor creia, há muito que aprender sobre ambos.
Da ascese de Jesus já conhecemos algumas sentenças: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” . Então disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” .
Citado no livro “Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo”, de Jacques Atalli, o rabino Hillel aborda quatro tipos de posse que expressam quatro comportamentos. 1-Meu-meu/teu-teu; 2-meu-teu/teu-meu; 3-meu-meu/teu-meu; 4-meu-teu/ teu-teu. 1-O que é meu é meu e o que é teu é teu. 2-O que é meu é teu e o que é teu é meu. 3-O que é meu é meu e o que é teu é meu. 4-O que é meu é teu e o que é teu é teu.
Somente o último conceito expressa sabedoria, porque somente ele contém a entrega de si, que vai além da barganha ou do exclusivismo. Somente a última postura reflete alteridade plena. Trata-se de ascese no mais alto grau. Poucas pessoas saberiam vivê-la.
Platão, na sua obra Politeia (A República), também acentua que a cidadania consiste em alguém saber a diferença entre o “meu” e o “não meu”. Quem não sabe o limite, extrapola e toma posse. Mas toma posse do que passa e isto soa como tomar posse de um rio. Teria que tomar posse outra vez e outra vez e outra vez, porque a cada minuto o rio não é mais a mesma água da qual ele se apossou. A água da qual ele tomou posse já passou! Apossar-nos do efêmero é apossar-nos do que nunca será nosso…

quinta-feira, 19 de março de 2015

O BOTECO

Em razão do meu “ciganismo intelectual”, falando em muitos lugares e ambientes sobre um sem número de temas que vão da espiritualidade à responsabilidade socioambiental e até sobre a possibilidade do fim de nossa espécie, os organizadores, por deferência, costumam me convidar para um bom restaurante da cidade. Lógico, guardo a boa tradição  e celebro os pratos com comentários laudatórios. Mas me sobra sempre pequeno amargor na boca, impedindo que o comer seja uma celebração. Lembro que a maioria das pessoas amigas não pode desfrutar destas comidas e, especialmente, os milhões e milhões de famintos do mundo. Parece-me que lhes estou roubando a comida da boca. Como celebrar a generosidade dos amigos e da Mãe Terra, se, nas palavras de Gandhi, “a fome é um insulto e a forma de violência mais assassina que existe?”
É neste contexto que me vem à mente como consolo os botecos. Gosto de frequentá-los, pois aí posso comer sem má consciência. Eles se encontram em todo mundo, também nas comunidades pobres. Aí se vive uma real democracia: o boteco ou o pé sujo (o boteco de pessoas com menos poder aquisitivo) acolhe todo mundo. Pode-se encontrar lá tomando seu chope um professor universitário ao lado de um peão da construção civil, um ator de teatro na mesa com um malandro, até com um bêbado tomando seu traguinho. É só chegar, ir sentando e logo gritar: “Me traga um chope estupidamente gelado”.
O boteco é mais que seu visual, com azulejos de cores fortes, com o santo protetor na parede, geralmente um Santo Antônio com o Menino Jesus, o símbolo do time de estimação e as propagandas coloridas de bebidas. O boteco é um estado de espírito, o lugar do encontro com os amigos e os vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos comentários da novela preferida, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos contra os corruptos. Todos logo se enturmam num espírito comunitário em estado nascente. Aqui ninguém é rico ou pobre. É simplesmente gente que se expressa como gente, usando a gíria popular. Há muito humor, piadas e bravatas. Às vezes se improvisa até uma cantoria que alguém acompanha ao violão.
Ninguém repara nas condições gerais do balcão, das mesinhas, do chão ou do banheiro. O importante é que o copo esteja bem lavado e sem gordura, senão estraga o colarinho cremoso do chope que deve ter uns três dedos.
Os nomes dos botecos são os mais diversos, dependendo da região do país. Pode ser a Adega da Velha, o Boteco do Seo Gomes, o Bar do Giba, o Pavão Azul, a Confraria do Bode Cheiroso, a Casa Cheia... Belo Horizonte é a cidade que mais botecos possui, realizando até, a cada ano, um concurso da melhor comida de boteco.
Os pratos também são variados, a partir de receitas caseiras e regionais: a carne de sol do Nordeste, a carne de porco e o tutu de Minas. Os nomes são ingeniosos: “mexidoido chapado”, “porconóbis de sabugosa”, “costela de Adão” (costelinha de porco com mandioca), “torresminho de barriga”. Há um prato que aprecio sobremaneira, oferecido no Mercado Central de Belo Horizonte e que foi premiado num dos concursos: “bife de fígado acebolado com jiló”. Se depender de mim, este prato deverá constar no menu do banquete do Reino dos céus que o Pai celeste vai oferecer aos bem-aventurados.
Se bem repararmos, o boteco desempenha uma função cidadã: dá aos frequentadores, especialmente aos mais assíduos, o sentimento de pertença à cidade ou ao bairro. Não havendo outros lugares de entretenimento e lazer, permite que as pessoas se encontrem, esqueçam seu status social e vivam uma igualdade, geralmente, negada no cotidiano.
Para mim o boteco é uma metáfora da comensalidade sonhada por Jesus, lugar onde todos podem sentar à mesa, celebrar o convívio fraterno e fazer do comer uma comunhão. É o lugar onde posso comer sem má consciência.

quarta-feira, 18 de março de 2015

AMANDO ATÉ O INIMIGO.

A data de 25 de novembro de 1944, nos anais da guerra, será lembrada por um nome e uma atitude. Pilotos japoneses (kamikazes) iniciaram ataques suicidas contra navios de guerra dos Estados Unidos. Os porta-aviões Essex e Independence foram os primeiros navios atingidos.
Pilotos, decididos a morrer, lançavam seus pequenos aviões, verdadeiros torpedos humanos, contra os navios. No final da guerra foram contabilizados 2.525 pilotos japoneses mortos em ataques suicidas. No lado norte-americano, as perdas somaram 4.900 soldados mortos, 34 barcos afundados e 368 danificados. A palavra kamikaze significa o Vento de Deus e recorda uma tempestade que, em 1281, salvou o país do ataque de Kublai Khan, o grande conquistador mongol.
O modelo japonês inspirou o ataque às torres gêmeas de Nova York a 11 de setembro de 2001. O mesmo esquema é usado pelos homens-bomba do mundo islâmico. Homens e mulheres, na idade madura ou na adolescência, carregam uma bomba colada ao corpo e a detonam no meio de grupos. Isto faz parte da Guerra Santa dos muçulmanos. Quem morre nesse tipo de ação, diz o Corão, vai diretamente ao paraíso de Alá. Os mortos, sem nome, desconhecidos, que estão no lugar errado, no momento errado, na lógica do terror, vão para o inferno.
Na história da humanidade, muitas vezes aparece o nome de Deus como patrocinador de guerras. Até o Antigo Testamento colabora: “A bandeira de Javé em mãos! Javé está em guerra contra Amalec de geração em geração” . Na história da Igreja são recordadas as Cruzadas – Deus o quer! – embora existissem outros interesses envolvidos.
O ódio, as guerras, as perseguições continuam hoje. Com um agravante: tudo isso é atribuído a um Deus que é comum às denominações cristãs. Em nome de Deus se odeia, se exclui e se faz a guerra; em nome de Deus se amaldiçoa e se inventam mentiras e calúnias.
Não podemos legitimar tudo, dizendo que Deus é um só. E nessa lógica, todas as religiões, todas as práticas, todas as atitudes morais parecem justificadas. Deus é um só, mas as imagens que fazemos de Deus são muitas. Com ironia, Voltaire dizia: assim como Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, o homem vinga-se criando um deus à própria imagem e semelhança. Certas “teologias” que se dizem de Deus, só podem partir do demônio. Uma religião que odeia e mata só pode ser demoníaca.
Jesus de Nazaré é a nossa referência. Jamais pregou a guerra, o ódio, nem mesmo contra os dominadores romanos. Ele acolheu a todos, inclusive pecadores públicos, prostitutas e toda categoria de excluídos. Nunca excluiu ninguém. Pediu que perdoássemos “setenta vezes sete vezes” . Mas nem isso é suficiente. Só é discípulo de Jesus aquele que se propõe a seguir a Lei do Amor de maneira absoluta, amando até o inimigo.

segunda-feira, 16 de março de 2015

SEREI AGORA,. OS MEUS SONHOS DE AMANHÃ.

Não há como tirar de nossa existência o título: “somos mortais!” Se de um lado a morte nos atemoriza, de outro lado nos coloca diante de uma verdade inerente à nossa condição humana. Nós não suportaríamos uma vida indefinida, pois é o caráter finito e passageiro que confere importância e sabor às coisas deste mundo e desta história. Se pudéssemos dispor de um tempo indefinido, o conceito de cada momento passaria a ser encarado com indiferença. Não teríamos argumento para dar-lhe o verdadeiro valor. A vida assim se transformaria num tédio insuportável.
Nós vivemos sempre diante de um espaço de tempo limitado. É isso que dá a nossas opções um caráter de urgência e de agilidade. Jamais teriam essa dinâmica, se não vivêssemos diante de um horizonte finito. Nossa consciência está sempre atenta a tornar nossa liberdade responsável pelos nossos pensamentos, afetos e opções. Deus não nos chamou à vida para sermos aventureiros, mas responsáveis pelo destino que vamos decidindo.
Uma comparação muito simples pode nos ajudar a entender isso. Pensando numa partida de futebol, damo-nos conta de que o limite do tempo é o elemento que confere toda a relevância que determina o ardor da luta na conquista da vitória. Dentro do espaço de tempo que os atletas dispõem, investem todos os recursos e capacidades para conquistar o troféu.
A experiência do atletismo também era simbólica para o apóstolo Paulo: “Nas corridas de um estádio, todos correm, mas bem sabeis que um só recebe o prêmio. Correi, pois, de tal maneira que o consigais. Todos os atletas impõem a si mesmos privações; e o fazem para alcançarem uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível” 

 A vida humana é um instante no fluir do tempo, mas esse instante é de absoluta importância para nós. São as nossas decisões de cada dia que vão tecendo e preparando a definitiva decisão. O que marca a nossa condição humana é a vigilância de quem se sente sempre diante do horizonte da morte. É ela que confere um caráter de transcendência e irrepetibilidade às nossas ações. Mesmo fazendo as mesmas atividades diárias, nada repetimos. Cada ato é novo e cada dia é novo e único.
Pensando no limite do agora somos também chamados a pensar no que vem depois. O depois será tão melhor quanto mais o agora for assumido e vivido com criatividade, dinamismo e amor. De agora em agora, vamos passando para o depois e a partir do agora e do depois edificamos um viver que se projeta para a plenitude na eternidade. O merecido e verdadeiro título de “imortal” não parece ser aquele que a cultura consagra. Imortal é quem procura edificar com amor uma existência doada à causa da vida.
Creio ser justo pensarmos no limite de nosso agora, não para lhe dar pouco valor, mas para entendê-lo e acolhê-lo como dom precioso, único e irrepetível e como responsabilidade de nossa liberdade. Serei agora os meus sonhos de amanhã e serei amanhã o que plantei agora.

domingo, 15 de março de 2015

UMA TRISTE VERDADE

Logo após o segundo turno de 2014, mais precisamente em 28 de outubro, numa coletiva do presidente do PT, Rui Falcão, da qual participou o deputado estadual Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, em que ele foi questionado sobre os porquês do fracasso eleitoral do partido em São Paulo, a vitória acachapante de Geraldo Alckmin no estado e a dificuldade do partido até mesmo nas periferias da grande São Paulo que historicamente são seus redutos.

Edinho elencou alguns fatores, como a falta da abordagem de temas regionais pela imprensa, a manipulação de informações relativas à agenda nacional que ocupa as manchetes diuturnamente, com denúncias de corrupção contra o PT, a legislação eleitoral (falta de reforma política) e a crise econômica. Mas me chamou a atenção um outro fator mencionado por ele na ocasião.

Ele citou o ótimo livro Os sentidos do lulismo, de André Singer, do qual se depreende um fato sociológico preocupante: constata-se que a população beneficiada pelos programas sociais e pela política dos governos do PT ascendeu socialmente nos últimos 12 anos – com todas as benesses que o mercado de consumo proporciona – sem que trouxesse (ou levasse) consigo os valores da solidariedade, ou a preocupação social com um país mais justo.

Em outras palavras, os milhões que sob Lula e Dilma conseguiram comprar carros, geladeiras, televisores, mais carros, computadores, celulares e outras dádivas do mercado de consumo, ascenderam socialmente, mas não incorporaram as premissas ideológicas que nortearam a opção do Partido dos Trabalhadores pelos pobres. Ainda que esta opção socialista-reformista (e não revolucionária, como muitos ingênuos exigiam e exigem) tenha beneficiado milhões de pessoas, esses milhões de pessoas chegaram a um patamar social apenas materialmente mais alto, já que continuaram deseducadas cultural e politicamente.

Cada cidadão desses milhões de pessoas não está pensando na possível evolução de seu vizinho como membro de uma comunidade, de um bairro, uma cidade, um estado ou um país. Não. Está pensando em ter um carro mais bonito e mais novo do que seu vizinho, um celular capaz de aguentar mais aplicativos, não mais um tênis de 100 reais, mas um de 300. Não pensam no seu quarteirão, no seu bairro, na sua cidade. Pensam em si mesmos, exatamente como a elite branca.

Os valores que carregaram consigo em sua ascensão foram os do individualismo disseminado nas novelas, nos programas de televisão canalhas, BBBs, a cultura fornecida pelas emissoras graças à concessão pública e às verbas publicitárias oficiais que pagam esse lixo.

Não quero dizer que apenas a televisão e sua ideologia, com suas denúncias e sua práxis inspirada em Goebbels, devam ser as causas do que está acontecendo. Mas o golpismo encontra terreno fértil para proliferar nesse deserto ideológico habitado por uma população ávida por consumo, mas que já não se satisfaz apenas com ele e não tem consciência do que lhe falta. É triste.

Mais ainda, numa conjuntura em que a opção pelo mercado interno já não funciona: o preço das commodities em queda não pode mais financiar a opção pelo consumo que foi a mola do sucesso econômico do governo Lula, e além disso a economia está se desindustrializando.

De resto, é essa população aparvalhada pelo consumismo cada vez mais difícil, sem valores sociais, sem solidariedade, o que realmente mais assusta no Brasil de 2015, mais ainda do que o Brasil que emerge sob as badaladas golpistas dos diferenciados que fazem panelaços de seus apartamentos em Higienópolis (que nome mais apropriado para um bairro!) e no Leblon.

Ouvi hoje de um pequeno empresário, dono de um “lava-rápido”, ou, ironicamente, um “lava-jato” (sic), um amigo de bairro, reclamações intermináveis sobre o país, “que nunca esteve tão difícil”, “nunca houve tanta roubalheira”, “assassinos de crianças ficam dez anos presos e são soltos”, “acho que sua amiga (ironia do meu “amigo”, referindo-se a Dilma Rousseff) não termina o mandato não”. Além de individualista, os homens e mulheres que compõem o povo têm ideias confusas e não têm memória.

Evidente que os governos petistas têm responsabilidade sobre esse aparente beco sem saída, esse estado de coisas. A aposta no consumo desenfreado (que alimenta a vaidade, mas não o espírito), um certo “dar de ombros” à necessidade de se educar a população mais pobre enquanto esta ascendia socialmente graças aos programas sociais, a falta de estratégias de comunicação eficientes, tudo isso agora está pesando enormemente na conta.

Resta esperar para ver até que ponto essa “revolta” financiada pela elite inescrupulosa e historicamente golpista deste país vai contaminar as camadas da população que têm votado no PT nos últimos 12 anos e, consequentemente, a nação. 


PUBÇICADO ANTERIORMENTE NO 247

sexta-feira, 13 de março de 2015

QUEM DISSE QUE SUA VIDA ESTPA DECIDIDA?

Dotado de uma inteligência acima da média e uma vontade enérgica, ele tinha tudo para vencer na vida. Mas os fatos estavam contra ele. Aos 31 anos, viu seu pequeno estabelecimento comercial ir à falência. No ano seguinte tentou a política como deputado, mas foi derrotado. Tentou de novo o comércio, mas mais uma vez quebrou. No ano seguinte aconteceu uma tragédia familiar, com a morte da esposa. A perda motivou um colapso nervoso. Por alguns anos a apatia apoderou-se dele, mas aos 46 anos disputou a eleição para a prefeitura de sua cidade. Para variar, perdeu. Nos dez anos seguintes disputou, e perdeu, quatro eleições, sendo a última para Senador. Aos 60 anos - em 1861 - foi eleito presidente dos Estados Unidos. Seu nome Abraham Lincoln.
Hoje ninguém comenta seus fracassos. Lincoln é lembrado como um dos maiores estadistas da história norte-americana e mundial, evitou a divisão do país em dois Estados - Guerra da Secessão - e comandou a libertação dos escravos.
A vida não é aquela que sonhamos, mas aquela que acontece de verdade. Ela tem luzes e sombras, sucessos e fracassos, alegrias e tristezas. A vida não é feita de sonhos, mas daquilo que fazemos quando nossos sonhos não dão certo. E por isso, ela deve ser vista no seu conjunto. Ninguém vai comer algumas colheradas de fermento, nem engolir dois tabletes de manteiga, duas xícaras de farinha e 30 gramas de sal.
Mas é com estes ingredientes que se faz um bolo. Milhares de peças não servem para nada, a não ser quando formam um conjunto harmonioso que chamamos relógio. Assim é a vida. Um momento pouco significa, vale o conjunto dos momentos, vale a direção que assumimos. Vale o que vem depois.
Desanimado, sem motivações para viver, em virtude da morte de um filho, um empresário isolou-se do mundo. Um dia, um amigo levou-o para o ponto mais alto da cidade e comentou com ele: ali vivem dezenas de milhares de pessoas, todas elas têm alegrias, tristezas, problemas e desafios. Você não é a única pessoa que enfrenta um momento difícil. Olhe para frente, deixe que as lágrimas sequem, deixe que o sorriso volte, retome as rédeas de sua vida. Você tem muito ainda a fazer, tem muitas razões para viver.
Todos conhecemos a utilidade do espelho retrovisor. Precisamos dele, de vez em quando. Mas o bom motorista olha, sobretudo, para frente. O passado é sempre uma referência útil, mas não a única. Um sacerdote morreu de repente, aos 81 anos. Em seu bolso estava uma frase escrita do próprio punho: a melhor parte da vida é aquela que está pela frente. Essa é a lógica . O passado não é mais nosso, o futuro está nas mãos de Deus; nosso, inteiramente nosso, é o presente. E o tempo é um dom, um presente, de Deus. Hoje é o primeiro dia do resto da vida. Hoje é a possibilidade de recomeçar, a partir do ponto onde estamos, seja qual for. Que o diga Abraham Lincoln.

quinta-feira, 12 de março de 2015

ESTÃO DE MARCAÇÃO CERRADA.

Lennon disse numa música, e Dilma poderia repetir: “Do jeito que as coisas estão, vão acabar me crucificando.”

Está na moda crucificar Dilma.

A direita bate nela. A esquerda bate nela. E é curioso: poucos meses atrás, ela foi reeleita com 54 milhões de votos.

Em meio a uma campanha sanguinolenta da mídia, ela se reelegeu. Os eleitores entenderam que ela merecia um novo mandato.

Na educação, excluídos chegaram em número inédito às universidades. Na saúde, o programa Mais Médicos levou assistência a dezenas, centenas de milhares de brasileiros que jamais viram um consultório.

Na economia, o Brasil manteve-se firme, com índices baixíssimos de desemprego, enquanto uma crise furiosa abalava potências como Estados Unidos e Alemanha.

Na área social, milhões de brasileiros saíram da miséria graças a programas de assistência.

Como tudo pode ter mudado tão rápido?

É difícil entender à luz da racionalidade. No discurso de ontem, por exemplo, que vem sendo atacado por todo mundo, de Caiado a Luciana Genro: o que ela disse de errado?

Serra escreveu que, com a fala, Dilma convocou as pessoas para o protesto de 15 de março.

Mas o que justifica essa visão de Serra?

Dilma, no pronunciamento, situou a crise do Brasil como algo que se insere num universo em turbulência.

A imprensa disse que ela “culpou” a crise internacional, mas isto é uma falácia. Dilma colocou o Brasil no mundo, simplesmente.

Numa economia globalizada, quem prospera quando há uma crise generalizada?

Ninguém. A China vai crescer metade do que vinha crescendo nos últimos anos. A Rússia vai decrescer 5%, sem que ninguém atribua a Putin o retrocesso e fique batendo em panelas.

Qual o ponto aí, então?

A rigor, Dilma jogou mais luzes, no assunto, do que a imprensa porque esta, ou por inépcia ou por desonestidade, parece desconsiderar que as coisas estejam complicadas em toda parte.

Em relação ao ajuste, Dilma fez uma analogia que o DCM, meses atrás, já fizera.

Quando você está gastando acima de suas possibilidades, uma hora você tem que se ajustar nas despesas.

Acontece numa família, acontece numa empresa, acontece num país.

Agora: é importante notar que cada ajuste é diferente do outro. Na Abril, onde participei de vários ajustes como diretor de revistas e de unidades de negócios.

Eu evitei sempre cortar no conteúdo e nas pessoas. Campanhas de marketing podiam ser postergadas. Pesquisas caras podiam ficar para adiante, quando as coisas melhorassem.

Isso quer dizer o seguinte: você tem como administrar ajustes.

Ah, mas o Levy é um ortodoxo. E daí? Levy, sob Aécio, cortaria determinadas coisas. Programas sociais, provavelmente.

Sob Dilma, ele tem que se adequar às prioridades dela. Dilma reafirmou, no discurso, seu compromisso com os menos favorecidos.

Até aqui, não há dado nenhum que sustente a ideia de que esteja sacrificando quem menos pode.

Ela atentaria contra sua própria história e contra o futuro de seu partido. Como o PT poderia pensar em ganhar em 2018 se os eleitores que fizeram a diferença agora se sentissem enganados por Dilma?

O que existe, aparentemente, é uma imensa neurastenia, pela esquerda, e uma monstruosa mobilização golpista, pela direita.

No meio disso tudo, está Dilma.

O jogo nem começou, e já a tratam, absurdamente, como uma derrotada.

Mesmo os que, cinicamente, falam na corrupção. Quando se combateu a corrupção como agora?

Antes, a direita, malandramente, dava foco total em corrupção quando um governo popular se instalava no poder.

Escândalos reais e sobretudo imaginários tomavam o noticiário para sabotar administrações inimigas. Foi assim com Getúlio, Jango, Lula e Dilma.

Depois, como que por milagre, a corrupção desaparecia da imprensa. Pesquise a corrupção no regime militar noticiada pela Globo.

Agora, com a lista de Janot, você tem na rede acusados não apenas de um partido, o que é um avanço espetacular.

Porque significa o fim da hipocrisia, um passo essencial para coibir corruptos e demagogos que sempre se tiveram na conta de inalcançáveis.

Onde, então, as razões de tanto desagrado com Dilma?

Minha suspeita é que a cobertura matadora que a imprensa dá a Dilma tenha, paradoxalmente, intoxicado a esquerda que abomina essa imprensa. Espremida entre os dois lados, Dilma, como Lennon na canção, tem que lutar para não ser crucificada


Publicada anteriormente pelo DCM.

quarta-feira, 11 de março de 2015

A MANIFESTAÇÃO DO TEÓLOGO LEONARDO BOFF.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual na segunda-feira (9), o teólogo disse que, no entanto, o atual nível de acirramento no cenário político não preocupa porque, para ele, comparado a outros contextos históricos, a "democracia amadureceu". Ele diz acreditar, ainda, na emergência de uma "nova consciência política".

Boff também considera que o cenário brasileiro é bastante diferente da Grécia, Espanha e Portugal, onde são registrados centenas de suicídios, por conta do fechamento de pequenas empresas e do desemprego, e até mesmo de países centrais, como os Estados Unidos, que veem a desigualdade social avançar.

"A situação não é igual a 64, nem igual a 54", compara. "Agora, nós temos uma rede imensa de movimentos sociais organizados. A democracia ainda não é totalmente plena porque há muita injustiça e falta de representatividade, mas o outro lado não tem condições de dar um golpe."

Para Boff, não interessa ao militares uma nova empreitada golpista. Restaria ao campo conservador a "judicialização da política", e acrescenta: "Tem que passar pelo parlamento e os movimentos sociais, seguramente, vão encher as ruas e vão querer manter esse governo que foi legitimamente eleito. Eles têm força de dobrar o Parlamento, dissuadir os golpistas e botá-los para correr."

Sobre o 'panelaço' ocorrido no domingo, durante o discurso da presidenta Dilma Rousseff para o Dia Internacional da Mulher, Boff afirma que o protesto é "totalmente desmoralizado", pois "é feito por aqueles que têm as panelas cheias e são contra um governo que faz políticas para encher as panelas vazias do povo pobre".

O teólogo afirma que a manifestação expressa "indignação e ódio contra os pobres" e são símbolo da "falta de solidariedade"; e que o "panelaço veio exatamente dos mais ricos, daqueles que são mais beneficiados pelo sistema e que não toleram que haja uma diminuição da desigualdade e que gostariam que o povo ficasse lá embaixo".

Sobre o ato programado pela CUT e movimentos sociais para sexta-feira (13), Leonardo Boff diz que a importância é reafirmar os valores democráticos e a defesa da soberania do país: "Aqueles que perderam, as minorias que foram vencidas, cujo projeto neo liberal foi rejeitado pelo povo, até hoje, não aceitam a derrota. Eles que tenham a elegância e o respeito de aceitar o jogo democrático".

O teólogo frisa, mais uma vez, não temer o golpe. "É o golpe virtual, que eles fazem pelas redes sociais e pela mídia, inventando e fantasiando, projetando cenários dramáticos, que são projeções daqueles que estão frustrados e não aceitam a derrota do projeto que era antipovo."

terça-feira, 10 de março de 2015

FUTEBOL... UM ASSUNTO QUE NUNCA ESCREVI.

Sou um analfubola. Ou seja, nada entendo de futebol. Todas as vezes que me perguntam para qual time torço, fico tão constrangido como mineiro que não gosta de queijo. Não é verdade. Sou colorado e com muito orgulho. Mas de futebol, só isso: Sou do Internacional.
Hoje, me dou ao luxo de assistir, pela TV, às decisões de campeonato. Escolho para quem torcer. E não perco Copa do Mundo. Jogo do Brasil é missa obrigatória.
Eu disse missa? Sim, sem exagero. Porque, no Brasil, futebol é religião. E jogo, liturgia. O torcedor tem fé no seu time. Ainda que o time seja o lanterninha, o torcedor acredita piamente que dias melhores virão. Por isso, honra a camisa, vai ao estádio, mistura-se à multidão, grita, xinga, aplaude, chora de tristeza ou alegria, qual devoto que deposita todas as suas esperanças no santo de sua invocação.
O futebol nasceu na Inglaterra e virou arte no Brasil. Na verdade, virou balé. Aqui, tão importante quanto o gol são os dribles. Eles comprovam que nossos craques têm samba no pé e senso matemático na intuição. Observe a precisão de um passe de bola! No gramado, imenso palco ao ar livre, se desenha uma bela e estranha coreografia. Faça a experiência: desligue o som da TV e contemple os movimentos dos jogadores quando trombam. É uma sinfonia de corpos alados.
O Brasil conta com 200 milhões de técnicos de futebol. Todos dão palpite. E ninguém se envergonha de fazê-lo, como se cada um de nós tivesse, nessa matéria, autoridade intrínseca. Pode-se discordar da opinião alheia. Ninguém, no entanto, ousa ridicularizá-la.
Pena que a violência esteja contaminando as torcidas. Outrora, elas anabolizavam, com sua vibração, o desempenho dos jogadores. Agora, disputam no grito a prevalência sobre as torcidas adversárias. E se perdem no jogo, insistem em ganhar no braço. A continuar assim, em breve o campo será ocupado, não pelo time, e sim, como uma grande arena, pelas torcidas. Voltaremos ao tempo dos gladiadores, agora em versão coletiva.
Quando ouço a estridência de vuvuzelas, como um enxame de abelhas a nos picar os tímpanos, penso que os torcedores já não prestam atenção ao jogo. Querem transferir o espetáculo do gramado para as arquibancadas. O ruído da torcida passa a ser mais importante que o desempenho dos jogadores.
Nossa autoestima como nação se apoia, sobretudo, na bola. Não ganhamos nenhum prêmio Nobel; nosso único santo, frei Galvão, ainda é pouco conhecido; e nossa maior invenção - o avião - é questionada pelos usamericanos. Porém, somos o único país do mundo pentacampeão de futebol. Se a história dos países europeus do século XX se delimita por duas guerras mundiais, a nossa é demarcada pelas Copas. E nossos heróis mais populares eram ou são exímios jogadores de futebol. A ponto de o mais completo, Pelé, merecer o titulo de rei.
A Copa é um acontecimento tão importante para o Brasil que, no dia do jogo da nossa seleção, se faz feriado. Se vencemos, a nação entra em euforia. Se perdemos, somos tomados por uma triste estupefação. Como se todos se perguntassem: como é possível o melhor não ter vencido?
Gilberto Freyre bem percebeu que na arte futebolística brasileira mesclam-se Dionísio e Apolo: a emoção e a dança dos dribles são dionisíacos; a força da disputa e a razão das técnicas, apolíneos.
Criança, eu escutava futebol no rádio. Quanta emoção! Completava-se a imaginação com a descrição do narrador. Hoje, não há locutores na transmissão televisiva, apenas comentaristas. São lerdos, narram o óbvio e, palpiteiros, com frequência esquecem o que se passa no campo e ficam a tecer considerações sobre o jogo com seus assistentes.
“Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma”, poetou Carlos Drummond de Andrade. Com toda razão.

domingo, 8 de março de 2015

NOSSO DESTINO: VIVER NESTE MAR DE VIDA.

A vida é um rio. A água jorra da terra e principia sua caminhada sem saber seu rumo certo. Na medida que avança, outras fontes vêm aumentar-lhe o volume de água. E o rio vai crescendo, vai correndo, até chegar ao seu destino, o mar. Em sua caminhada, o rio pode encontrar barreiras, pedras, que trancam o seu curso, o impedem de avançar. Os homens, muitas vezes, para aproveitar a força dessas águas fazem barreiras e as conduzem para a turbina, que acionada produz luz e força para as cidades e vilas.
Os rios não param. E porque não param, as águas continuam vivas e puras. Podem trancar o seu curso, mas eles sempre encontrarão um lugar para escapar. E se não puderem superar a barreira e continuar a viagem, a morte se aproxima desse rio. As águas paradas apodrecem e jamais conhecerão a beleza do mar.
Há pessoas que são rios enormes, cheias de vida. Nada pode impedir sua corrida. Se outras pessoas tentam impedir sua força, sua caminhada, seus empreendimentos, seu amor à vida, elas não reparam e continuam seu curso. Há pessoas que são rios pequenos e de muito pouca força. Uma crítica, uma calúnia, uma falta de atenção fazem essas pessoas mudarem de rumo. São rios pequenos que, por qualquer motivo, mudam de curso.
Há pessoas que são águas paradas. Porque encontraram várias barreiras em sua vida, não mais sentem coragem de lutar e entregam os pontos. Param suas atividades, não tentam novas realizações, se acomodam numa vidinha sem graça e aos poucos vão apodrecendo no desânimo, como as águas paradas.
A vida, dentro de nós, é uma força que nos impele para frente. É uma força enorme que não pode parar. Quanto mais vivemos, mais vida se soma à nossa vida, como águas de um rio que aumentam à medida que vão avançando.
Não é verdade que a mocidade é a manifestação maior de nossa vida e que, depois, vai diminuindo na medida que os anos passam. Ela diminui se perde sua força. Como um rio, pode aumentar suas águas na medida que se aproxima do mar. Assim a pessoa deve aumentar sua vida, dentro de si, na medida que avança em idade. Se isso não acontecer é porque a vida se estagnou como as águas que cansaram de correr.
Não podemos dizer a uma pessoa idosa que tenha menos vitalidade que uma pessoa nova. O corpo pode estar mais gasto, mais fraco. Mas a vontade de viver, o gosto de viver, a paixão pela vida, que não acaba, deve aumentar dentro dela.
Somente assim poderá desembocar no mar da vida, que é Deus. Deus é vida. E nosso destino é viver para sempre neste mar de vida.

sexta-feira, 6 de março de 2015

QUE TAL, GANHAR NA MEGA SENA?

Ganhar na Mega-Sena ou em qualquer uma das muitas loterias existentes é o sonho semanal de milhões de pessoas. Com o milionário prêmio, imaginam, serão felizes para sempre. Mas não é isso o que acontece. A maioria dos sorteados, independente das quantias, em alguns anos acaba perdendo tudo ou, pelo menos, chega à conclusão de que o sonho não se realizou. Ganharam um sonho e o sonho se mostrou decepcionante.
Jack Whitaker, um inglês, acertou na loteria e tornou-se proprietário de 325 milhões de dólares. Casou-se, separou-se, foi roubado, tentou o suicídio e acabou, quatro anos depois, sem nada. Michael Carroll, norte-americano, aos 19 anos ganhou 26 milhões de dólares. O jogo, a droga e as mulheres acabaram levando seu dinheiro. Sem nada, voltou à antiga profissão: lixeiro. Um casal canadense - Vilet e Allen Large - recebeu um pouco menos, mesmo assim a fabulosa soma de 25 milhões de dólares. Aposentados, donos de uma modesta casa, eles chegaram à conclusão que não precisavam desse dinheiro e o repartiram entre dezenas de instituições de caridade. Para si, deixaram em sua conta cerca de 200 mil dólares, para alguma eventualidade. Existem ainda dezenas de histórias parecidas. Após ganhar na loteria, um cidadão paulista não mais conseguia dormir e trocava de hotel e de cidade a cada noite.
Estudiosos tentaram encontrar a forma matemática de acertar, sem erros, na loteria. Parece que a fórmula mais inteligente foi descoberta. Uma professora fez o cálculo de quanto ela poderia dispor, semanalmente, para tentar algumas das loterias existentes. Chegou à conclusão de que vinte reais seriam de bom tamanho. Abriu uma poupança e a cada semana depositava os vinte reais. Depois de sete anos, ela tinha a quantia suficiente para adquirir um apartamento. Sem dúvida, ela – com inteligência - ganhara a loteria.
O sonho desmedido de riquezas pode trazer duas alternativas perigosas. A primeira é de não conseguir seu objetivo. A segunda é conseguir o objetivo e dar-se conta que o sonho não o fizera feliz. São Francisco de Assis, um dia, apostou e ganhou numa loteria diferente. Ele se comprometeu a jamais colocar a mão no dinheiro. Para ele, a loteria foi ser pobre, porque isso o ajudava a ser fraterno. Há também pessoas de Deus que procuram o dinheiro, não para si mesmas, mas para socorrer os necessitados. Transferem a loteria da felicidade para a outra vida.
E de alguma forma, todos já ganhamos a loteria. Recebemos a sorte grande da vida, do amor de nossos pais, da inteligência e vontade para superar as adversidades. Recebemos a grande loteria de amar e sermos amados. Por fim, recebemos a maior de todas as loterias: o dom da fé e a certeza de sermos amados por Deus.

quarta-feira, 4 de março de 2015

SACRIFICANDO O SER HUMANO.

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.
A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.
A natureza se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha, o desemprego atinge 20% no geral e 40% entre os jovens. Em Portugual, 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.
A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaçadas por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que, via mercado, submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.
Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do
sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material,
que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de
levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro,
ao suicídio, como ocorre em vários
países e também no Brasil.
As ruas de vários países europeus e árabes, os “indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia, são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: “Não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumo sacerdotes do capital globalizado e explorador.
Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

domingo, 1 de março de 2015

´PROIBIDO TER OPINIÃO.

Vivemos a era do pré e do pós conceito, porque o conceito desapareceu. Compramos o alimento pré-cozido, recebemos a notícia pré-selecionada e pré-comentada; aceitamos os dogmas do pregador e não das Igrejas e não elaboramos mais nada.
Caímos na preguiça mental, da qual falava Chesterton no livro Ortodoxia, no capítulo: “O suicídio do pensamento”. É como se alguém mastigasse e arrotasse ou defecasse a seguir, sem tempo de digerir e aproveitar o que mastigou. É a síndrome do gafanhoto.
O conceito nos ajudaria a assimilar o imediatismo da mídia e a urgentização produzida pelo marketing de tudo, inclusive da fé. Mas na era do pré-conceito não nos dão tempo de elaborar conceitos. Poucos tomam tempo para assimilar, comparar, analisar. Abdicaram de pensar. A grande maioria aceita e opina sem ter refletido.
Vivemos de pré-conceito e pós-conceito, mas o conceito foi suprimido. É proibido ter opinião elaborada, num mundo onde todos opinam sem primeiro pensar. A isto chamam de “politicamente correto”. Mas é medo de pensar e expressar o pensamento. Mesmo que discorde e pense diferente, o entrevistado diz que não tem nada contra porque seria discriminado e silenciado.
Na verdade, a proposta é “discorde apenas do que é permitido discordar”. Quanto ao resto, se for polêmico, diga que não tem nada contra, mesmo que tenha. Abdique de pensar e de opinar e sobreviva.
Comunicar deveria ser outra coisa. Jesus morreu porque ousou discordar. Se apenas orasse não teria sido morto. Mas discordou dos donos da situação. Hoje na mídia e nos governos quem elogia e concorda tem espaço. Quem discorda é afastado ou excluído.
Concordar sempre e em tudo é submissão e subserviência. Discordar sempre e em tudo é insolência. Concordar e discordar com critério é sinal de maturidade. Quantos conseguem esta franqueza?

É MUITO IMPORTANTE COMEÇAR O DIA BEM.

Um bom começo é uma garantia mais segura de continuação. Se começamos mal uma construção colocamos em risco todo o projeto. Assim pode ser o começo de um dia. Geralmente o nosso acordar acontece na contramão de quem gostaria de continuar dormindo. Isso tem sua lógica, porque o sono mais reparador se dá pela manhã. É muito difícil que alguém acorde sorrindo! Geralmente o mau humor é o clima das primeiras horas do dia. Podemos justificar que isso é natural.
É natural acordar para um novo dia mal-humorados. Porém em nada ajuda o deixar-se levar somente pelo natural. A educação da vontade ainda tem a ver com o êxito das pessoas e seus projetos. Para isso, precisamos começar admitindo que é possível educar a vontade, superando a nossa primária tendência ao impulso natural. A vida não é só feita do agora, mas também do depois. E o depois nos cobra o que fizemos no agora.
Nessa história do acordar mal-humorados soma-se um agravante, que é a convivência familiar ou social. Imaginando que eu defenda o direito a ser mal-humorado e os outros, que convivem comigo, também façam o mesmo, que clima iremos respirar? Daí a necessidade e o valor de começar bem o dia.
Mas como podemos exercitar essa atitude? Como já disse, deixar-se levar pelo impulso natural não vai resolver. Porém, é possível treinar o pensamento, acordar motivações e crer na possibilidade de qualificar o nosso começo para continuar caminhando com boas disposições.
Um exercício simples é acordar e aproximar-se do espelho. É claro que o nosso rosto não vai aparecer tão elegante! Porém, podemos ajeitar um sorriso para nós mesmos e saudar a vida que acorda, enquanto tantos foram dormir e não acordaram mais, a não ser para a vida eterna. Olhos abertos diante do próprio rosto, ouvidos atentos ao silêncio da própria existência e coração a bater para renovar a vida, tudo pode ajudar a começar bem o dia.
Saudar a manhã de um dia único que não foi ontem, nem será amanhã; acolher a graça de poder escrever mais uma página de nossa história; crer que hoje poderá ser melhor do que ontem e lançar-se para frente, é próprio de quem quer começar bem um novo dia.
Mas podemos dar um passo a mais para qualificar o nosso acordar matinal. Além dos simples e pequenos gestos humanos do sorriso diante do espelho e da saudação de uma nova manhã, podemos fazer um gesto de fé.  Escolha um. Deus não só me criou num dia, mas nos cria sempre de novo em cada momento de nosso viver. “Dele viemos, nele nos movemos e existimos”. Estamos sempre envolvidos pelo Deus da vida que acredita em nós e nos confia uma missão a ser realizada também neste novo dia.
Não acordamos para a rotina, mas para o novo. Não amanhecemos para a mesmice da vida, mas para a criatividade, mesmo que seja nas mesmas ações. Se não pudermos fazer outra coisa, podemos fazer com grande amor e novas motivações as mesmas coisas. O que dá graça ao nosso viver é a qualidade do amor como se vive e se age. Deus nos ajude a começar bem cada dia e a construir uma história feliz, apesar de nossos limites humanos.