sábado, 29 de junho de 2019

SÓ 39 QUILOS.


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Os grandes jornais até agora não chamaram o traficante de traficante, alguém sabe por que?

vamos dar nome pras coisas?

Um traficante brasileiro foi preso em Sevilla, na Espanha, com 39 quilos de cocaína.

Até aí nada demais.

O diabo é que o cabra é militar, e transportava toda essa farinhada em um avião também militar.

E, desgraçadamente, a aeronave fazia parte da comitiva do presidente desta república federativa, que é um militar de pijamas.

E, veja você, a tal comitiva que acompanha o presidente na tour internacional, está sob a proteção e vigilância de um militarzão, o general Heleno, convertido em ministro do gabinete de segurança institucional.

Heleno é aquele sujeito que esmurrou a mesa pedindo prisão perpétua para o preso político Lula da Silva.

Perguntado por uma jornalista se não farejara nada de anormal na bagagem pesada do sargento traficante, o general se saiu com essa: “como iria saber, não tenho bola de cristal”.

Ora, ora, ora.

E foi com bola de cristal que os agentes espanhóis conseguiram flagrar o colega de Heleno?

Ou usaram a elementar checagem de bagagem?

Heleno não tem lá um cão com um bom faro pra dar uma cafungada nas bagagens da rapazeada?

Cada um entra nessa aeronave levando o que quiser? não há sequer um réles rastreador com infravermelho pra ver se não transportam coisas intransportáveis?

39 quilos de pó?

O mais interessante não é o tamanho da bagagem que o sargento traficante levava, mas a que ele traria.

Porque esses 39 quilos de pó seriam convertidos em milhões de euros, o que aumentaria significativamente a bagagem do sujeito.

E entra-se com uma mochila nessa aeronave e volta-se com malas e tudo bem?

Que zona é essa?

E querem fazer crer que toda essa vista grossa não é conivência, ou melhor, cumplicidade?

Querem me fazer crer que o sargento traficante agia sozinho?

Que era uma mula?

Mulas levam cocaína no estômago, amarradas ao corpo, introduzidas no ânus... pequenas quantidades.

O que se flagrou aí foi um descarado esquema de tráfico internacional de drogas envolvendo militares!

Ainda bem que o sujeito foi preso nas estranjas, lá a cobra vai fumar. Por aqui, como sabemos, aviões e helicópteros da traficância, pertencentes a gente bem relacionada, nunca dá em nada.

E pensar que o negro Rafael Braga foi exposto de forma vexosa, chamado disso e daquilo, e amarga uma cana dura por levar consigo menos de um grama de maconha é de lascar!

E outra, essas explicações cheiram muito mal e tem cara de quem quer empurrar o pó para debaixo do tapete.

Pode ser fim de carreira para este sargento traficante, mas tudo indica que enquanto não derem uma bola de cristal para o general a coisa vai continuar correndo solta.


Pense nisso!




Lelê Teles

sexta-feira, 28 de junho de 2019

MACHISMO


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O machismo está entranhado na estrutura cerebral dos homens. O cultural se enraizou como estrutural. Nós, homens, temos muita dificuldade de olhar o mundo pela ótica das mulheres. Muitos de nós se julgam no direito de impor a elas as suas gracinhas, taras e exigências.

As palavras não são inocentes. Patrimônio, pai que cuida dos bens. Matrimônio, mãe que cuida da prole.

Ver a realidade pela ótica do outro é excelente exercício educativo e terapêutico. Um encarcerado na Penitenciária de Presidente Venceslau (SP), organizou um grupo de teatro com os presos comuns. Nos ensaios, pedia a cada um deles para descrever o crime cometido, em geral latrocínio. Em seguida, encenavam a narrativa. O assassino desempenhava o próprio papel. Logo, era invertido os papéis. O assassino representava a vítima ou o policial. Isso provocava um curto-circuito na cabeça deles.

Em 1968, Jane Elliott, professora de pequena cidade de Iowa (EUA), no dia seguinte ao assassinato de Martin Luther King demonstrou como seus alunos eram preconceituosos, embora não o admitissem. Declarou serem os melhores da classe os que tinham olhos claros. Proibiu os outros de usar o bebedouro, brincar no pátio, e pediu que usassem coleiras para, de longe, serem identificados pelos de olhos claros.

O neurocientista David Eagleman entrevistou recentemente dois daqueles alunos, agora adultos. Ambos de olhos azuis. Um deles admitiu: “Fui mau com meus amigos. Eu era o nazista perfeito. Procurava maneiras de ser cruel com meus amigos que, minutos ou horas antes, eram muito próximos a mim.”

No dia seguinte, a professora inverteu o jogo. Os de olhos claros se sentiram muito mal nas mãos dos demais. “As crianças aprenderam que as verdades do mundo não são fixas e, além disso, não são necessariamente verdades. O exercício deu às crianças o poder de enxergar além das distorções de programas políticos e formar suas próprias opiniões.”

Um homem que diz gracinhas a uma estranha está convencido de sua superioridade e impunidade. O sr. Joel, ao soltar um gracejo pornográfico a uma estranha, levou uma chave de braço da lutadora de Muay Thai, que o soltou após ouvir o pedido de desculpas.

Racistas, homofóbicos, preconceituosos e machistas entram em parafuso quando são eles as vítimas de discriminação, exclusão e humilhação. Colocar-se no lugar do outro é a melhor pedagogia para entender o sofrimento alheio e suscitar compaixão e solidariedade.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

O TEMPO IMPLACÁVEL, NÃO PARA.


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Tenho uma compulsão incontrolável pela contagem do tempo. Eu olho para um sujeito e, pá! Lá estou eu conjeturando sobre quantos anos de vida ele ainda tem pela frente. Sei lá, acho que estou me tornando um velho meio maluco, fazendo da contagem do tempo dos outros o escudo para me proteger dos anos que também avançam sobre mim implacavelmente. Mas isso é um problema para o meu futuro psicólogo, que eu encontrarei num buscador quando achar inevitável.

Atualmente, meu TOC tem seguido na direção dos membros do Supremo Tribunal Federal, um antro de velhinhos perfeitos para o exercício fúnebre da minha imaginação. Afinal, quanto tempo de vida resta para a ministra Carmem Lúcia? 10, 15 anos no máximo, diz meu capetinha mental, que oscila entre dois e cinco anos para mais ou para menos, em relação aos demais togados daquela Corte.

A conexão que faço entre o presente, e o tempo de vida que resta aos meus “personagens mentais”, não são desprovidos de uma razão lógica. Todos eles estão ligados a um eixo comum, sustentado em três pilares de questionamento que são: Essas pessoas acham que não vão morrer? Elas vão se arrepender do que fizeram (ou deixaram de fazer), quando estiverem no leito de morte? Se acreditarem na existência de um ser superior, o que dirão em sua defesa quando prestarem contas a Ele?

Antes de voltar aos ministros do STF, quero confessar que já submeti os principais líderes evangélicos a estes questionamentos, e as respostas que encontrei não foram nada abonadoras. De todos, Edir Macedo é o que está mais perto da cova. E não tem milagre algum na sua igreja que mude essa trajetória. Não tem fogueira santa, nem reunião dos 318, nem lencinho ungido que mude seu destino. Vai para a catacumba ou será cremado, sem direito a fazer milagre depois da morte, porque santo é coisa da Igreja Católica. Lá em cima – ou embaixo – ele que se explique com quem o espera.

Mas, voltando aos meus devaneios mais recentes, pergunto: afinal, esses ministros do STF, todos caminhando para o outro lado da vida, temem mais a um general de pijamas ou a Deus? Como levarão para o outro lado da vida o peso de manterem um perseguido político, reconhecidamente condenado por um juiz político a serviço de interesses alheios à magistratura? Como podem tirar férias com a consciência tranquila, sabendo que um homem, da grandeza do ex-presidente, é mantido numa masmorra? Adiar a liberdade de um preso político por um mês, tendo em mãos todos os elementos para anular sua condenação, é a inversão do benefício da dúvida em favor do verdugo.

Nem eu mesmo sei se estarei aqui em 2030. Muitos de vocês, com certeza não estarão. Isso se chama ciclo da vida, e de certo modo tivemos muita sorte de chegar naturalmente até o final. O presidente Lula sabe bem do que estou falando. Muitas vidas se perdem precocemente pela fome, pela miséria, pela violência que ferve nesse caldeirão da pobreza. Se tiver sorte e boa saúde, o ex-presidente também terá mais uns dez anos de vida, se muito. Mas, de todos os meus investigados, Lula é o único que conseguiu, até agora, responder a todos os questionamentos. Por saber que a vida na Terra é finita, aproveitou sua passagem para cuidar do seu povo. Quando se aproximar seu último suspiro, terá o semblante sereno pela sensação do dever cumprido. E, quando chegar do outro lado da vida, Deus vai oferecer uma pinguinha a ele, e dirá: “você merece”!

segunda-feira, 24 de junho de 2019

ENCONTRAR UMA NOVA FRESTA DE LUZ.


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Podemos ficar em silêncio juntos se não dá para falar, interagir, trocar. Fiquemos até serenar nossos corações, amenizar nossos pensamentos, resgatar sentimentos, deixar verdades claras, amortecer as dores que sentimos, refazer nossa alma...

Até sarar a amargura que estamos mergulhados. Até recuperarmo-nos das nossas profundezas. Até reconstruirmos nosso ser dilacerado. Até entrar em contato com o significado do que permanece oculto.

Que o silêncio não nos pese, que ele seja um organizador para o nosso ser cansado serenar a essência. Que seja um silêncio de encontro, de verdade, de compaixão.

Que o silêncio promova descobertas autenticas, genuínas, essências que se mostram, amores que se acolhem,consciências que despertam, verdades que se constroem, entendimento que se confirmam.

Que após vivermos um tempo de silêncio possamos resgatar alegria, jovialidade, entendimento, embasados na segurança, serenidade, autenticidade e coerência.

Que junto a isso tudo que se mostra, possamos nos resgatar, enquanto seres parceiros e como indivíduos que almejam uma nova fresta de luz encontrar.

domingo, 23 de junho de 2019

SEGUINDO A PASSOS FIRMES.


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Naquele exato momento soube que tinha algo a mais por fazer, querer e principalmente sentir... Sim, estava desempenhando o meu melhor, enquanto ser que tem suas responsabilidades para construir um mundo mais humano. No entanto, até o momento realizara tudo como tarefa, função. Tinha claro agora o que precisava concretizar e que o estava fazendo do meu jeito, com os recursos que tinha, diferentemente de muitos que observava e percebia que não sabiam para que lado deviam ir. A passos firmes seguia.

Naquele despertar de consciência estava o meu realizar para um mundo melhor. Uma coisa ficava evidente agora: precisava continuar executando o que me propunha e acreditava que era o mesmo que Deus esperava de mim, mas com uma diferença: com mais alegria, com mais amor e com um apaixonamento que necessitava ser despertado e solidificado internamente.

Essa transformação refletiria como uma bênção de luz em mim e no outro.

Nesse empreender, percebia que a vida carecia ter eco dentro de mim, a alegria achar morada e eu renascer de uma nova maneira a cada instante. E assim me lançava...

sábado, 22 de junho de 2019

CONTRADIÇÕES.


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Muitas contradições chegam até nosso ser e são absorvidas como verdades, até que estejamos prontos para colocá-las num outro lugar na nossa vida.

É necessário filtrar o que vem até os nossos ouvidos e reflete em nossos sentimentos.

As pessoas falam dentro da compreensão delas; do que absorveram do mundo. O que o outro pensa não é necessariamente o que eu fiz, ou o que sou. Ele entende de acordo com os registros que estão nele, com a maneira como construiu seu entendimento.

O sofrimento me faz repensar, enquanto não compreender, permaneço no mesmo lugar, remoendo críticas e contradições.

Precisamos achar um lugar para elas na nossa vida, seja do lado de dentro ou de fora da porta do nosso ser.

Não sou responsável pela condução do pensamento do outro sobre mim. Se sei que fiz o meu melhor, a respeito das minhas questões, não preciso me importar com os ditos errados ou maus ditos sobre mim. Isso pesa somente no outro, pois escolho não carregar esse peso.

Vejo o mal resolvido de ontem sendo levado para o hoje... e do hoje para o amanhã, e assim por diante, enquanto eu não cuidar principalmente de mim.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

SER HUMANO É A MAIOR AVENTURA.

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1. Um dos romances monumentais de Machado de Assis é dedicado ao verme que primeiro corroeu o seu cadáver. Ele dedica ao verme, não às traças, que roem as palavras nas folhas de papel.

2. Meu tio conhecia o feitiço das palavras. Para melhor infundir respeito entre os subordinados, antes de uma grave advertência citava a passagem de um livro, sem esquecer de mencionar a página. Isso levava as pessoas a acreditarem que ele era muito culto e aumentava a sua credibilidade. E especialmente o seu poder de sujeição.

3. Quase todo jornalista ao entrevistar personalidades pergunta qual é o livro que estão lendo. Em um país onde a leitura é uma ação quase heróica, indicar o título na cabeceira reafirma a excepcionalidade do entrevistado. Todos deveriam saber disso para não passar vergonha ao vivo. Mas nem sempre a fama garante a esperteza do meu tio.

4. Quando uma personalidade faz citações sem ser perguntado e dá vexame de interpretação em público, podemos chegar a duas conclusões: ou acha que os interlocutores são ainda mais burros, ou não sabe o tamanho da própria burrice. Mas sempre tem alguém que sabe, e que irá desmoralizá-lo, também publicamente.

5. Os vermes não têm cultura: então, por que Machado de Assis dedica o romance a um exemplar da espécie?

6. A resposta está na frase final do livro: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria".

7. Aparentemente niilista, a frase ressalta o valor das palavras, única herança capaz de sobreviver à destruição da carne, à ausência de herdeiros e à nossa miséria cultural.

8. Machado de Assis era um otimista irônico: sabia que vivemos de memória, escreveu à espera de um leitor, não de uma traça.

9. Cuidado com pessoas que atacam os livros e com as que esquecem os últimos livros que leram. Cuidado com os que interpretam à revelia do texto.

10. Não nascemos para ser vermes, traças ou leitores desmemoriados. Ser humano é a maior aventura da espécie intelectualmente mais desenvolvida do planeta, mas para isso é preciso usar este instrumento complexo e fantástico: a linguagem, que serve para comunicar, criar cultura e, quem sabe, não ser enganado por espertos e charlatães.
Dito isso, concluo lembrando que os vermes não poupam ninguém, as traças são insetos perigosos e a leitura oferece inúmeras oportunidades para escapar de uma vida à mercê de manipuladores e ignorantes prepotentes, orgulhosos do seu não saber.

terça-feira, 18 de junho de 2019

UMA PERGUNTA QUE CADA UM DEVE FAZER: QUEM SOU EU?


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Quem sou eu? A velha pergunta que está na origem da religião, da filosofia, da psicologia, da antropologia, da história e, podemos dizer, de todas as ciências humanas, continua sendo posta. Todo ser, desde o momento em que se constitui como humano, se pergunta pela própria identidade. E, junto com esta pergunta inicial, surgem as outras questões básicas às quais a humanidade tenta responder desde os seus primórdios e que continuarão a ser o aguilhão do pensar até o fim dos tempos: quem sou, de onde vim e para onde vou? Em outras palavras, qual o sentido da minha existência?

Em meio às múltiplas e sempre inconclusas tentativas de resposta à questão tão crucial, dois caminhos se delineiam. O primeiro, presente em tradições egípcias e na filosofia grega, tornou-se famoso através da expressão escrita na entrada do Templo de Delphos: “Conhece-te a ti mesmo”. No sentido original e também no uso que, segundo Platão, Sócrates dela faz, a frase era um chamado à humildade. Algo assim como “não te aches mais do que aquilo que tu és”. Mas a frase tinha outro significado: não te preocupes com a opinião dos outros. Olha para dentro de ti mesmo e, no teu eu, encontrarás a tua verdadeira identidade.

É com este sentido que a afirmação foi retomada no início da modernidade. René Descartes, o pai da Filosofia Moderna Ocidental, através do aforismo “cogito, ergo sum” (penso, logo existo), estabeleceu que a única certeza que temos é a que nasce do nosso próprio pensamento. E que todas as outras coisas existem na medida em que podem ser pensadas pela minha subjetividade. Inclusive Deus. Sua existência só é real porque passível de ser pensada pelo humano.

A segunda tradição que tenta dar uma resposta à questão da identidade dos humanos, nasce da tradição judaico-cristã. Na tradição bíblica comum às duas tradições, o ser humano é aquilo que é na medida em que é dito por Deus. No relato da criação, é a voz de Deus que cria o ser humano e lhe dá nome constituindo-lhe uma identidade. E essa constituição da identidade continua no relacionamento que os humanos estabelecem com as outras criaturas e com as pessoas com quem são chamados a conviver. Diferentemente do pensamento cartesiano, a verdade não nasce de dentro de si mesmo, mas emerge da palavra do outro. É Deus, outro humano ou as outras criaturas que dizem a verdade sobre mim.

Esse modo de pensar era tão comum na cultura judaica que, segundo o Evangelho de Lucas, Jesus não tem nenhum receio em perguntar aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?” Diante das evasivas respostas relatadas pelos discípulos – “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou” – Jesus quer saber quem ele é para os discípulos e pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?” A resposta dada pelos discípulos é por nós conhecida: “Tu és o Ungido de Deus”.

A partir da resposta, Jesus tem sua identidade estabelecida. Mas a história não termina aí. Jesus explicita aos discípulos o que significa ser “ungido de Deus” em meio a um mundo de dor e opressão: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia.” E se essa é a identidade do Mestre, os discípulos têm, a partir dela, a sua identidade também definida. “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.”

Voltando à nossa questão da identidade, percebemos que, ao dizer a identidade dos outros, também estamos dizendo e construindo a nossa. Ou seja, nossa identidade é sempre relacional. Em outra palavra, eu sou eu e minhas relações. Se quero saber quem sou, preciso olhar para quem são as pessoas com as quais me relaciono e a qualidade das relações que com elas estabeleço.

Quando levada a sério, esta constatação nos recoloca, como no sentido original da expressão grega “conhece-te a ti mesmo”, numa postura de humildade. Nós não somos nada sem os outros! E, desde a experiência religiosa cristã, nós não somos nada sem o grande outro que é Deus. Por isso Paulo diante do orgulho dos judeus e gregos que, cada um a seu modo, se achavam o máximo de cultura e civilização, ele diz: para os que são batizados, “o que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo.” Diante de Deus, todos, na diversidade cultural, social ou de gênero, têm a mesma dignidade, pois todos encontramos a nossa identidade em Deus que nos criou e nos aceita tal qual somos.

Nós só nos conhecemos na medida em que somos conhecidos e nos deixamos re-conhecer pelos outros na constante dança dos encontros e relações.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

MORO PREVARICOU E VAI PAGAR CARO POR ISSO.

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A nova reportagem do site The Intercept Brasil prova que Sergio Moro ordenou, ou, vá lá, sugeriu aos procuradores da Lava Jato, a produção de uma nota oficial que contestasse a defesa do ex-presidente Lula no processo do tal triplex do Guarujá. Essa nota oficial foi feita e "pautou" a imprensa na época. É aí que mora o perigo para o atual ministro da Justiça.

Na entrevista publicada hoje pelo Estadão, Moro diz que considera "absolutamente normal" conversas entre procuradores e juizes. As novas informações do The Intercept, contudo, mostram que não eram apenas "conversas". Sergio Moro era, de fato, "uma espécie de coordenador informal da acusação no processo do triplex", usando a expressão do próprio The Intercept Brasil.

Não vai ter como Bolsonaro segurar Moro muito tempo. Afinal, trata-se de um descumpridor da Constituição no cargo de ministro da Justiça. Experiente e sabedor do apoio que a mídia corporativa brasileira dá a Sergio Moro, o jornalista americano Glenn Greenwald aplica doses homeopáticas que desgastam Moro praticamente todo dia.

O ex-juiz não sofreria esse desgaste diário se tivesse agido de fato como juiz, como manda a lei. Mas aí Lula não seria condenado. Tampouco Jair Bolsonaro seria o presidente da República... Moro prevaricou e vai pagar caro por isso. Que assim seja.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

RESPEITO É BOM E EU GOSTO.



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Uma das chagas mais sofridas no mundo e também entre nós é seguramente a falta de respeito.

O respeito exige, em primeiro lugar, reconhecer o outro como outro, diferente de nós. Respeitá-lo significa dizer que ele tem direito de existir e de ser aceito assim como é. Essa atitude não convive com a intolerância que expressa a rejeição do outro e de seu modo de ser.

Assim um homoafetivo ou alguém de outra condição sexual como os da LGBT não devem ser discriminados, mas respeitados, primeiramente, por serem pessoas humanas, portadoras de algo sagrado e intocável: uma dignidade intrínseca a todo ser com inteligência, sentimento e amorosidade; em seguida, garantir-lhe o direito de ser como é e de viver sua condição sexual, racial ou religiosa.

Em segundo lugar, o reconhecimento do outro, implica ver nele um valor em si mesmo, pois ao existir comparece como único e irrepetível no universo e expressa algo do Ser, daquela Fonte Originária de energia e de virtualidades ilimitadas de onde todos procedem (a Energia de Fundo do Universo, a melhor metáfora do que Deus significa). Cada um carrega um pouco do mistério do mundo, do qual é parte. Por isso entre eu e o outro se estabelece um limite que não pode ser transgredido: a sacralidade de cada ser humano, no fundo, de cada ser, pois tudo o que existe e vive, merece existir e viver.

O budismo que não se apresenta como uma fé mas como uma sabedoria, ensina respeitar a cada ser, especialmente aquele que sofre (a compaixão). A sabedoria cotidiana expressa no Feng Shui integra e respeita todos os elementos, os ventos, as águas, os solos, os vários espaços. Semelhantemente o hinduísmo prega o respeito como a não-violência ativa (ahimsa) que encontrou em Gandhi seu arquétipo referencial.

O cristianismo conhece a figura de São Francisco de Assis que respeitava cada ser, desde a minhoca do caminho, a abelha perdida no inverno em busca de alimento, a plantinha silvestre que o Papa Francisco em sua encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum”citando São Francisco, manda respeitar porque, a seu modo, também louvam a Deus.

Temos assistido a cenas de grande falta de respeito por parte de alunos contra professoras e professores, usando de violência física além da simbólica com nomes que sequer podemos escrever. Muitos se perguntam: que mães tiveram aqueles alunos? A pergunta correta é outra: que pais tiveram eles? Cabe ao pai a missão, por vezes onerosa, de ensinar o respeito, impor limites e repassar valores pessoais e sociais sem os quais uma sociedade deixa de ser civilizada. Atualmente, com o eclipse da figura do pai, surgem setores de uma sem pai e por isso sem o sentido dos limites e do respeito. A consequência é o recurso fácil à violência até letal para resolver desavenças pessoais, como,não raro, se tem visto.

Armar à população como pretende o atual Presidente além de ser irresponsável, só favorece a falta perigosa de respeito e o aumento da ruptura de todos os limites.

Por fim, um das maiores expressões de falta de respeito é para com a Mãe Terra, com seus ecossitemas super-explorados, com o espantoso desflorestamento da Amazônia e com a excessiva utilização de agrotóxicos que envenenam solos, águas e ares. Essa falta de respeito ecológico nos poderá surpreender com graves consequências para a vida, a biodiversidade e o nosso futuro como civilização e como espécie.Uma das chagas mais sofridas no mundo e também entre nós é seguramente a falta de respeito.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

LULA LIVRE JÁ!



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Para quem está caindo como uma bomba, os vazamentos feitos pelo The Intercept, sobre as conversas pouco republicanas entre o Juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato? Quem poderia não estar percebendo, desde o início, que a prioridade da operação não era o combate à corrupção, mas sim, o combate ao PT e a inviabilização da candidatura de Lula à presidência?

Para aqueles que não conseguem enxergar parcialidade nas ações do ministro Sérgio Moro, enquanto Juiz da Lava Jato, e do procurador Deltan Dallagnol, podemos inverter a situação para tentar-lhes melhor elucidar as ideias. Imaginem que o Juiz responsável por dar a sentença a Lula, estivesse orientando os seus advogados sobre como agir, sobre quem indicar como testemunha ou dando qualquer outro conselho que favorecesse a sua absolvição? Não diriam que Lula havia comprado o judiciário?

Se já afirmam, sem provas concretas, que ele é dono de um triplex que não é dele, e o condenaram por esse motivo, imagine tendo provas substanciais e irrefutáveis, de que ele estava sendo beneficiado por uma parceria entre o Juiz e a sua defesa? Pior do que isso, é a coragem do procurador power point, de gravar um vídeo dizendo que é normal essa troca de informações entre procuradores e juízes. Tem que fazer muito jejum para atingir esse nível de dissimulação e convencimento.

As mensagens vazadas são muito mais do que batom na cueca. É vestígio de sêmen no corpo jurídico que foi colocado acima do bem e do mal, por quem tinha interesse direto na ilegibilidade de Lula, na demonização da esquerda e na eleição de um fantoche que lhes serviriam como boi de piranha, para que logo depois que seus interesses estivessem protegidos e garantidos, fosse descartado como um grande erro de avaliação ou de juízo de valor. O que já está acontecendo.

Bolsonaro não foi eleito pela vontade do povo brasileiro. Até porque, em todas as pesquisas onde Lula esteve presente, ele perdia feio para o ex-presidente. Foi eleito pelas circunstâncias criadas contra Lula, para que ele fosse visto como uma alternativa nova e independente, que iria destruir tudo que o PT fez em 13 anos de governo. Principalmente, os acertos. Aquele conjunto de coisas que beneficiou os mais pobres, que favoreceu a inclusão social, que colocou o filho da doméstica na universidade e que, ainda de forma tímida, deu um pouco mais de dignidade aos historicamente excluídos e menos favorecidos.

Foram esses acertos que provocaram a ira do pato amarelo, a revolta dos paneleiros e legitimou a união espúria entre parte do judiciário e algumas eminências pardas que agem nos bastidores do poder. Deve ser muito duro para aqueles que acreditam em super heróis do judiciário, constatarem que foram feitos de idiotas. Ainda assim, é melhor um idiota arrependido e de volta a realidade, do que um idiota que insiste em defender o indefensável. A discussão não pode girar apenas em torno do caso Lula. A justiça deve ser imparcial para todos.

O antipetismo do Juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato, também pode ser comparado ao racismo de um Juiz que vai julgar um preto, a homofobia de um juiz que vai julgar um homossexual, à misoginia de juiz que vai julgar uma mulher ou ao preconceito de classe de um juiz que vai julgar um pobre. Será que as suas convicções e gostos pessoais permitirão que eles sejam justos e imparciais? Em se tratando de uma sociedade racista, homofóbica, machista e que odeia pobre, como a nossa, seus erros de avaliação, ou, simplesmente, a pura má fé no julgamento, lhes servirão como excludente de ilicitude.

Tentando manter o gado sob controle, boa parte da mídia golpista está se desdobrando para preservar a imagem de bom moço de Sérgio Moro e o perfil anti corrupção dos procuradores da Lava Jato. Melhor parar, porque já está ficando feio. Já era! Perderam, Playboys! Aceita que dói menos. A casa caiu! Desmoronou. Mais fatos virão à tona. Outra mensagens comprometedoras irão vazar. A coisa foi tão amadora, que até o Neymar achou ridícula as mensagens que os homens da lei trocaram pelo Telegram. Aos bolsominions, aviso que a última frase foi uma piada.

No mais, acho que o juiz super herói e o procurador jejuador não deveriam mais estar no exercício de suas atuais funções, Lula já pode ser solto, as eleições anuladas, a reforma da previdência engavetada, o dono da Havan internado num hospício, Alexandre Frota voltar para o porn tube e Bolsonaro continuar a fazer o que sempre fez na política. Nada. Mas bem longe da presidência.

Lula Livre, já!

terça-feira, 11 de junho de 2019

O DIÁLOGO E A CRÍTICA

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Quando começaram  os primeiros comícios que insultavam a política e que seriam o elemento principal do atual governo, um amigo me convidou para participar e eu respondi: desculpe, mas não acredito na política do palavrão. Não era uma certeza, mas a forte intuição de que palavras ofensivas destruíam o essencial da política: a crítica e o diálogo.

Passado algum tempo, os partidos do ódio triunfaram aqui e em várias partes do mundo. As expectativas foram capitalizadas pela raiva, a frustração foi instrumentalizada eleitoralmente. Mais do que isso, o ódio asfixiou a crítica, desferiu um golpe certeiro na capacidade de diálogo e abalou a nossa humanidade.

A nossa relação com os outros é sempre mediada pela comunicação, caracterizada por duas dimensões, uma racional e outra emocional. Essas esferas se sobrepõem e estão em constante contato: a arte de dialogar é também a arte de dosar a nossa racionalidade e a nossa emotividade. Não somos robôs, guiados apenas pela lógica fria das ações programadas, e não somos animais irracionais, à mercê das nossas reações instintivas. Precisamos de uma e de outra coisa: da crítica ponderada, que leva à compreensão e ao diálogo construtivo, e da emoção que permite entender a realidade com sensibilidade. Deixar-se levar pelo ódio nos condena à irracionalidade, ao medo, ao terror, à repulsa; anula a crítica, a política, o debate, o diálogo, o humano.


Quando me recusei a participar da campanha do insulto, não imaginava que hoje estaria aqui a escrever sobre a capacidade dialética que perdemos. De fato, alguns pensavam que a minha rejeição fosse uma reação moralista, pudica. Não é nada disso: o palavrão tem função na nossa existência, mas não é aquela de impulsionar a política.
O palavrão serve para evitar a agressão física. Um insulto costuma ser um soco metafórico. Às vezes vai além da metáfora usada para evitar o conflito aberto e para criar barreiras de defesa. O palavrão pode ser uma injúria que destrói a dignidade do outro, quando deliberadamente apela para a esfera instintiva, para o âmbito violento do nosso ser, abdicando da discussão argumentativa.

Uma forma para saber se o palavrão está sendo mal empregado é perguntar-se: uso insultos para me defender de uma facada ou para evitar um comentário que não me agrada? Se insulto para evitar um debate, estou embarcando na política do ódio.
Muita gente já percebeu isso, controla o impulso irado, mas cai em outro equívoco: o de reprimir a crítica para evitar qualquer confronto. É outra forma de enfraquecer a nossa já abalada humanidade. É necessário retomar sem medo o debate, a crítica, os instrumentos que acionam os mecanismos da transformação, não da simples degradação.

Berrar não resolve, calar não resolve, silenciar não adianta. A crítica já fez sua viagem de ida ao abismo do ódio nos últimos anos. Está na hora de fazer o caminho de volta para a crítica sadia, que estimule a nossa transformação, não a nossa destruição.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

WATERGATE E MOROGATE

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1972. Estados Unidos.

Watergate vem à tona em uma das mais significativas reportagens investigativas já feitas, pois o escândalo político leva à renúncia do presidente dos Estados Unidos. O caso começa com a prisão de cinco homens, pegos instalando equipamentos de espionagem e fotografando documentos na sede do partido democrata, localizada no edifício Watergate (daí o nome pelo qual ficou conhecido). Os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, investigam o caso e começam a receber informações sobre ligações com a Casa Branca. Descobrem que o nome de um dos homens presos consta na folha de pagamento do comitê de reeleição do presidente Nixon, do partido republicano. Os repórteres revelam, em uma série de matérias, que Nixon utilizou dinheiro não declarado para espionar os adversários e beneficiar-se na campanha pela reeleição. A investigação identifica em fitas gravadas que o presidente sabia das operações ilegais. Com as provas levantadas contra o partido republicano, Richard Nixon renuncia. O vice, Gerald Ford, assina anistia ao ex-presidente, garantindo que ele não precise assumir responsabilidades legais sobre o caso.

2019. Brasil

Vazam conversas entre o juiz Sérgio Moro, responsável pela condenação de Lula, e promotores, que comprovam total falta de isenção daquele que devia julgar, e não interferir nas investigações. Mais: os diálogos deixam claro que as ações da lava-jato são coordenadas de modo a determinar o resultado das eleições de 2018. O que as norteia não é o desejo de justiça, mas sim de conquista do poder. O juiz, após as eleições, assume como “superministro” do governo eleito de forma mais que irregular, com uso de robôs enviando fake news através das redes sociais, notadamente pelo whatsapp, que mostra o conteúdo das mensagens apenas aos usuários alvo.

Se o facebook se configura como um grande banheiro público, com pichações nas paredes que podem ser lidas por qualquer um, o whatsapp é o banheiro de casa, ou no máximo do clube (os grupos), em que os absurdos escritos nas paredes se preservam por mais tempo como supostas verdades, pois não sofrem a crítica do contraditório. Não há diálogo, apenas gritos de ódio. Mas,nos dois casos, o cheiro de esgoto é o mesmo.

A grande mídia, por outro lado, também impede o diálogo. Trata com naturalidade o fato de um dos candidatos a Presidente não comparecer a nenhum debate do segundo turno (mas sim a entrevistas solo), evitando também o debate entre ideias e a comparação necessária entre programas de governo. Também silencia a respeito, ou relativiza os diversos depoimentos em apoio à tortura, incentivo à violência, apologia ao racismo e ao estupro da parte de um dos candidatos, dando a impressão que há uma “disputa entre iguais”.

A manipulação midiática se configura como o mais grave estelionato eleitoral, pois a imprensa recebe, no regime democrático, a incumbência de fiscalizar os poderes legalmente instituídos; o executivo, o legislativo e o judiciário. Para isso, deve zelar ao máximo pela ética. A imprensa tem o dever de buscar aproximar-se o máximo possível da verdade (que, na perspectiva filosófica, é impossível de ser apreendida), e a função social de se colocar contra a intolerância. Deveria contribuir, ainda, para preservar a paz e o respeito por todos os indivíduos, pelos diversos grupos que compõem o tecido social. Sem isso, não há como existir uma nação, ou preservar o lema “ORDEM E PROGRESSO”, de nossa bandeira.

O mundo inteiro comenta as irregularidades acontecidas no âmbito político e jurídico no Brasil. Enquanto isso, aguardamos os desdobramentos das denúncias reveladas por Glenn Greeenwald, no site “The Intercept”. Esperamos que o STF consiga superar as hesitações e vacilos e tome as rédeas de uma nação destroçada pela relativização de valores morais, distorcidos e manipulados para servir a um grupo que representa uma elite canalha, vira-lata e arrogante. Os cidadãos brasileiros exigem que todos os envolvidos sejam punidos, e sejam tomadas as devidas providências para libertar o Brasil das amarras da ignorância e da injustiça.

No mais, aquilo que todos nós já sabemos, para o resgate da democracia, Lula livre é Brasil livre.




Publicado anteriormente por: Valéria Dallegrave

sábado, 8 de junho de 2019

É PRECISO TER CORAGEM

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É preciso ter coragem para se embrenhar em novas jornadas, novos desafios. Muitas vezes, a ingenuidade ou a paixão nos faz embarcar em dificuldades que nos tiram o ar, seja de emoção, seja por não enxergarmos, num primeiro momento, o quanto podemos sofrer. Entramos nessas trajetórias por amor, por ingenuidade, por acreditar que tudo pode dar certo.

Se precisamos ter coragem para entrar, é necessário de mais coragem ainda para sairmos delas e do compromisso emocional que adotamos conosco ou com o outro. Precisamos ter coragem para encarar alguns desafios que nos confrontam. Precisamos de coragem e de amor para nos lançarmos neles. Esse adentrar é construído na intimidade do encontro consigo e com o outro, com a tarefa, com o novo.

Se entramos num impulso, ou num encantamento, sair desses estágios, por sua vez, é fruto de compreensão, decepção e muita dor; é perceber que não é mais ali o nosso lugar. É enxergar o outro, mas muito mais a si próprio e a dor embalada.

Muitas vezes, nos constituímos e existimos a partir do olhar alheio que se reflete em nós. Nesse sentido, quando compreendemos, seguimos rumo a uma maneira de nos enxergarmos. Chega um momento em que o nosso olhar não é mais dirigido pelo outro, mas principalmente ele vai em nossa própria direção.

Avaliar o momento e os aprendizados daquela etapa nos torna mais coerentes com nossas escolhas. E, sim, as portas estão abertas para entrar e sair dos desafios que se sobrepõem ao nosso viver.

É preciso ter coragem...

sexta-feira, 7 de junho de 2019

CRIANÇAS FAZENDO SEXO

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Na pesquisa da Unesco sobre a sexualidade da juventude brasileira há aspectos positivos, como o repúdio à promiscuidade e busca de conhecimento sobre o tema. Os jovens brasileiros tendem a iniciar a vida sexual mais cedo (entre 11 e 14 anos) e consideram desimportante a virgindade. Mas nem sempre se protegem contra as DST (doenças sexualmente transmissíveis) e a Aids, e tendem a discriminar os homossexuais.

Pesquisa no Ceará indica aumento da gravidez precoce e diminuição dos casos de aborto. As meninas, com certeza induzidas por exemplos televisivos, preferem assumir a "produção independente", ainda que haja riscos de abandono da escola, ingresso na prostituição e mais criança na rua. Na pesquisa da Unesco, 14,7% das entrevistadas admitiram ter engravidado pela primeira vez entre 10 e 14 anos.

Os jovens se queixam de ter poucas fontes de conhecimento sobre a sexualidade. Só nas últimas décadas as escolas começaram a introduzir o tema em salas de aulas, assim mesmo com ênfase na higiene corporal, tendo em vista as DST.

O melhor seria a TV, com o seu poder de irradiação, entrar em detalhes a respeito deste assunto. Mas nem sempre interessa tratar sexo e afeto às claras. O tabu reforça o mistério, que excita a imaginação, alimenta o voyeurismo, atrai milhares de telespectadores à exibição de produtos que imprimem à sexualidade o sabor libidinoso da pornografia. E dá-lhe delegacias de mulheres e, paralelamente, a proliferação de assédios, estupros, feminicídios, e o preconceito aos homossexuais.

Certo dia li uma notícia,de  uma menina de 13 anos, bastante machucada. Havia sido espancada pela mãe, inconformada por vê-la grávida. E ficou revoltada quando a menina declarou não saber quem é o pai. Havia participado da dança do "trenzinho" em baile funk: rapazes sentados, a braguilha aberta, as garotas sem calcinha pulando de colo em colo...

O que me chocou não foi tanto o ritual orgíaco. Mas a carência, o vazio, a busca desenfreada de afeto reduzida àquela espécie de "roleta russa". Não se trata de imoralidade, e sim de amoralidade, como entre os répteis. Pela vergonha de assumir valores, cultivar o espírito e fazer projetos. Nos escombros da modernidade, tudo é aqui-e-agora. E quando o desemprego, o baixo nível da educação, a violência, a desagregação familiar, nos fecham as cortinas do horizonte da felicidade, o jeito é apelar para o prazer imediato, epidérmico, já que a vida parece se reduzir a um jogo de sobrevivência e a morte pode estar nos espreitando na próxima esquina.