domingo, 24 de julho de 2022

É PRECISO RESISTIR.

 

No começo da semana, o presidente Bolsonaro reuniu embaixadores de diversos países e voltou a atacar ─ sem provas ─ o sistema eleitoral brasileiro. O ex-presidente Lula, além do Supremos Tribunal Federal (STF) e do ministro da Corte Alexandre de Moraes, também estiveram na mira do capitão reformado. Nas redes sociais, o show de horrores virou piada pela apresentação desprezível e pelas mentiras proferidas contra as urnas eletrônicas, já esclarecidas por diversas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Porém, mais que palavras ao vento e propagação de fake news, o evento merece atenção pelo o que contem nas entrelinhas. Ali, mesmo sem ser literal, Bolsonaro admitiu que poderá perder as eleições para Lula, que segue no topo de todas as pesquisas como favorito dos brasileiros para ocupar a Presidência. Só que, inconformado, ele deixou claro ─ como já vinha dando indícios ─ que não aceitará a derrota pacificamente.

Em 2021, em conversa com apoiadores no cercadinho ─ único local onde ainda é visto como mito ─, ele disse: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não teremos eleições". Quando mencionou eleições limpas, Bolsonaro estava se referindo ao voto impresso, que foi extinto há quase 30 anos e que, durantes as eleições, registrou altos índices de fraudes. Ele até tentou levar o debate ao Congresso Nacional, mas a PEC que determinava a volta do modelo foi rejeitada na Câmara dos Deputados.

Ao reunir embaixadores de países ao redor do mundo para atacar novamente o processo eleitoral e utilizar a estrutura da máquina pública para transmitir o evento, Bolsonaro anuncia o golpe. Golpe esse que pode não ter força política, mas que pode colocar em risco a democracia do país. Um dia após a reunião, a embaixada dos Estados Unidos deu um recado para tais ambições golpistas. Em nota, a representação norte-americana afirmou que “as eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo”.

Delegados e peritos da Polícia Federal também se manifestaram sobre o caso. Em nota, assinada pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais e Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, os policiais reiteraram total confiança no sistema eleitoral brasileiro e cobraram respeito à legislação.

É preciso resistir! Uma resistência que derrube qualquer ameaça de calar o povo brasileiro. Ataques à democracia não podem ser tolerados. São inaceitáveis! Por isso, novamente, conclamamos aos trabalhadores e trabalhadoras que se unam em defesa da nossa Pátria Mãe Gentil.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

O JOGO É DO GANDULA


“Não existe gol feio, feio é não fazer gol”, Dadá Maravilha

Bolsonaro não está à espera de aplausos e nem convidou dezenas de embaixadores com esse propósito; não sejamos ingênuos.

Bolsonaro quer sangue.

É por isso que o Necrarca cada dia estica mais a corda.

O sujeito sabe que vai perder nas urnas, percebe que está perdendo nas ruas e na ágora digital.

Ele também sabe que se tentar capitolizar a derrota - principalmente se essa for acachapante e em primeiro turno -, poderá dar com os burros n’água; o mundo o condenará, o lance do Trump deixou um trauma e o golpe na Bolívia levou Jeanine à cadeia.

Bolsonaro também sabe que fora das quatro linhas quem joga é o gandula.

Ele vai ter que partir pro ataque, porque está perdendo e o tempo está se esgotando.

Então, ele precisa sacar uma firula dentro do campo.

É por isso que ele anda ciscando na pequena área, forçando um contato, ele quer a falta.

Bolsonaro está à espera de uma bola parada.

Se Alexandre de Moraes der um carrinho por trás, ele coloca a bola debaixo do braço e pode sonhar com um lance mágico e único.

A facada foi uma bola parada.

Bolsonaro tenta desmoralizar o sistema eleitoral, e os ministros, para colocá-los sob suspeita; ele se diz perseguido por aqueles que querem a volta do Lula.

Enquanto espera a falta, Bolsonaro provoca o adversário, dando cotoveladas.

É preciso sagacidade.

Porque se o juiz resolver expulsá-lo com um cartão vermelho, cassando a sua candidatura, por exemplo, pode fazer com que a torcida acredite que o juiz meteu a mão de gato; aí vai ter invasão de campo e a partida é canelada; vira várzea.

Fazer a falta é fazer o jogo dele.

O melhor é esperar o jogo terminar, erguer os braços e apitar o fim da partida.

Como diria o grande filósofo Quincas Borba, fundador do humanitismo, “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor as batas”.  

Palavra da salvação.

domingo, 3 de julho de 2022

DANIEL SILVEIRA É A CONDECORAÇÃO DA IRRACIONALIDADE , DA ESTUPIDEZ, DA IGNORÂNCIA E DA VIOLÊNCIA.


Como diz Ricardo Neggo Tom: 
Uma medalha que costuma ser destinada aos mais reconhecidos intelectuais.

Ver o irascível, estúpido e violento parlamentar ser agraciado com ela, é uma afronta e
mbora eu entenda o conceito de intelectualidade como algo amplo e irrestrito, não se reservando apenas aqueles que possuam formação acadêmica e outros títulos provenientes dela. Promover questionamentos ao que foi estabelecido, e, a partir de suas ideias e percepções conseguir provocar reflexões que estimulem a produção de novos conhecimentos, pensamentos, valores e saberes, ao meu ver, é intelectualidade. Porém, como diriam os já de saco cheio de tanta distopia social e intelectual que tenta nos fazer submergir aos esgotos da ignorância, tudo tem limite. É o caso de se conceder a medalha da Ordem do Mérito do Livro, honraria que já foi entregue a personalidades como o poeta Carlos Drummond de Andrade e o sociólogo e escritor Gilberto Freyre, por exemplo, ao deputado federal Daniel Silveira, famoso por ter destruído uma placa em homenagem a ex-vereadora Marielle Franco e por ter recebido a graça presidencial de Bolsonaro, após ter sido condenado à prisão. Uma prisão mais do que justa, diga-se de passagem.
A condecoração de Silveira me lembra a história do Imperador Romano Calígula, que nomeou o seu cavalo Incitatus (Impetuoso) como Senador do seu império. Claro que Incitatus, ao contrário do deputado bolsonarista, fazia mais jus ao regalo por ser um exímio cavalo de corrida e não oferecer nenhum risco à sociedade da sua época. Eu não sei se Daniel Silveira chega a ser um cavalo de estimação de Bolsonaro, mas a relação do equino, digo, do deputado, com o atual governo me parece muito estreita e familiar. Como disse anteriormente, o prêmio que é oferecido pela Biblioteca Nacional do Brasil, é o mais importante da casa que foi construída ainda no Império. Uma medalha que costuma ser destinada aos mais importantes e reconhecidos intelectuais, escritores e acadêmicos brasileiros. Ver o irascível, estúpido e violento parlamentar ser agraciado com ela, é uma afronta, mais uma, que a atual gestão do país cospe na nossa cara.

Constam como contribuição intelectual de Daniel Silveira para a literatura brasileira, obras como: venda ilegal de anabolizantes, 80 dias de prisão e mais de 70 punições disciplinares em 4 anos de Policia Militar, inúmeras licenças médicas que impediram a sua expulsão da corporação, estar sob investigação no inquérito das Fake News, participação nos atos pró-ditadura e defesa da tortura e do AI-5, condenação a 8 anos de prisão por ataques ao STF e, mais recentemente, ter sido o relator de um projeto do governo que amplia as situações de excludente de ilicitude e legítima defesa, para beneficiar agentes de segurança e militares das forças armadas. Um currículo que, sem sombra de dúvidas, faz do cavalo de Calígula um grande pensador. Silveira é a personificação do extremismo e da inteligência bolsonarista. Um monte de músculos ambulante que produz raciocínio enquanto evacua os anabolizantes que consome. Sua condecoração evidencia não só o aparelhamento do estado sob Bolsonaro, como também o aparelhamento cognitivo entre os membros da espécie bolsonarista.

É óbvio, que Silveira tem em seu poder algum podre que possa comprometer ainda mais o império do Calígula de Rio das Pedras. Sua energia pessoal é densa, negativa e tóxica. Nem precisa ser médium sensitivo para captar a sua ligação com o mundo das trevas e com os seres sem luz que lá habitam. O sujeito tem cara, corpo, mente e cheiro de morte. Logo, a identificação com Bolsonaro é instantânea. Duas almas podres se reconhecendo pela energia que ambas emanam. Ele receberá a medalha da Ordem do Mérito do Livro, por ter ajudado a escrever uma das páginas mais horríveis e nefastas da nossa história, que é o bolsonarismo. Um movimento que trouxe à superfície da nossa sociedade, bichos escrotos saídos dos esgotos do ódio, da violência e da maldade. Dito cristão e defensor da família, se leu algum livro na vida, deve ter sido o evangelho segundo Ustra. Sua condecoração na Biblioteca Nacional do Brasil, é a concessão de um excludente de inteligência para ocupar um espaço destinado a produtores de pensamentos, conhecimentos e saberes.

Termino o texto com duas frases de Carlos Drummond de Andrade, um dos que tiveram a memória violentada com a homenagem à Daniel Silveira, e que definem bem o momento social e cultural que vivemos com Jair Bolsonaro no poder. A primeira é quando o poeta nos alerta de que “a liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras.”, e a segunda, quando diz que “precisamos educar o Brasil.” Como diria um trecho do samba da Estação Primeira de Mangueira no enredo em sua homenagem e que ficou imortalizado na voz do saudoso intérprete Jamelão: “Carlos Drummond de Andrade, suas obras são palavras de um reino de verdade.“ Quem tem ouvidos, ouça!

sexta-feira, 1 de julho de 2022

UM HABITO NOSSO: EU QUERO MAIS

Podem até praticar o puro cristianismo, ou o puro comunismo, mas parecem casos isolados.

O simpático e espirituoso locutor de rádio enfatiza coloquial "Eu quero é mais", sempre após os seus comentários futebolísticos. Pode-se imaginar antes do bordão criado pelo locutor também um corriqueiro "Isto aqui é muito bom" tal qual se grita eufórico enquanto embarcado num módulo móvel de parque de diversões.

O gene egoísta humano tão estudado por evolucionistas. Mas nem só humano. Pais e mães experientes dizem que ao dar um presente ao filho sem o devido merecimento, inevitável, o garoto sempre quererá outro agrado adicional.

Se você descobrir com prazer que pode se dar ao luxo de tomar um cálice de vinho por dia sem alteração e com benefícios, provavelmente quererá passar aos dois cálices diários. O pacote de salgadinhos no supermercado exibe nítido "Com gostinho de quero mais" ao lado da imagem colorida de um garoto serelepe e saudável. Recheado de gordura trans apetitosa, apelo visual, mais do que se justifica a forte atração das crianças ao produto.
Não só os humanos. Cobaias de laboratório também facilmente engatilham um mecanismo de adicção ao prazer. Se fornecido açúcar uma vez ao dia, rápido se comportarão ansiosas por uma terceira dose diária após fornecida a segunda dose diária de açúcar. Tudo e todos parecem querer sempre mais e mais em vista de um recente sucesso obtido. Um antinirvana. Pobres ratos, não alcançarão o Nirvana, tanto quanto nós eles também têm um incessante e incontrolável desejo latente.

Dizem o cristianismo, ou o comunismo, serem utópicos. Uma finalidade de vida a ser alcançada, porém infinita, uma busca em estrada sem fim. Algumas pessoas até podem praticar o puro cristianismo, ou o puro comunismo, mas parecem casos isolados, a maioria tenderá ao egoísmo, a não repartição, a não solidariedade, não comunhão de bens, distribuição desigualitária, pois haverá sempre mais e mais desejo potencial.

Aí adentra-se na profundidade e na complexidade, o coerente e sábio pensamento oriental de que a fonte de todo sofrimento é o desejo. Atingir o Nirvana seria o cessar de todo o sofrimento, devido ao cessar de todos os tipos de desejos.

Você ama queijos, se comer passa mal que só, vê na internet e resolve importar cápsulas de lactase, promete-se no anúncio o ajuste da digestão, enzima isolada comprada em dólares estadunidenses. Há anos não sentia mais o sabor macio dos queijos em bocadas e mastigadas fartas e enfáticas, o aroma, o prazer de degustar nacos generosos e consistentes, suaves e suculentos. Pílulas de lactase enormes, caras e mágicas.

Você percebe que a última peripécia sexual não solitária foi bastante frutífera, então partirá de uma frequência de uma vez por semana a quantas transas forem possíveis ao longo dos sete dias. Disponível ao mercado mundial um comprimido mágico, pela primeira vez o experimentou.

Segunda-feira, duas vezes à noite, terça, quarta. Na outra segunda-feira foi trabalhar aos cacos, dormiu mal, quase nem pregou o olho. A madrugada foi agitada, de hormônios intensos exalando e inundando o ambiente do quarto de dormir. Foi pura vivacidade, ímpeto, mas um desempenho que exigiria em troca um necessário e mínimo repouso de bom par de horas.

Uma segunda-feira de trabalho em escritório que se arrastou melosa, sofrida, perda de concentração, pesos nas pálpebras, muito bocejo intermitente, um comportamento a chamar a atenção da chefia e da sua gerência. Foi repreendido, você um funcionário subalterno de olheiras fundas. Todos supuseram uma ressaca alcoólica irresponsável e bastante condenável.

Brasileiros e brasileiras sempre quererão mais. Hoje em dia em especial, após tanto sofrimento, pandemia, brigas em família, estresse, sobrecarga de trabalho para conseguir sobreviver, ter de mastigar pescoço de frango em vez de carne, ter de aturar tanta besteira e discussão política, conversas raivosas no transporte público, na rua, na tevê.

Todos e todas muito esperam do próximo governo, mesmo quem apoia o presidente neofascista imagina que em segundo mandato o negócio decola, sem a pandemia, sem a guerra ou o que mais estiver estorvando hipoteticamente o projeto ultraliberal e entreguista presidencial.

Todos e todas muito esperam de um novo governo Lula. Muitos bem se recordam dos idos de 2007, 2008, por lá, se recordam de pleno emprego e farto consumo. Eletricista, balconista, mecânico, encanador, ajudante-geral. Não faltava trabalho, às vezes até estes tinham de dispensar chamado no celular frente a tanta demanda por serviços.

A expectativa será imensa, mais do que natural considerando nosso caráter humano falível e simplista, de lógica básica, em que por óbvio o que vale é o mais imediato, a satisfação com o menor esforço despendido possível. A imensa maioria provavelmente incorporará tal comportamento social basilar, o mais querer.

Que venha, que venha o que nos satisfaz. Negar o desejo e o prazer é para bem poucos, estes e estas alcançarão a graça do Nirvana segundo a crença oriental. Você, nós, não.