terça-feira, 31 de março de 2020

GRATIDÃO.


6 de janeiro, Dia da Gratidão | Personare

A vida de todo dia traz muitas dificuldades. Em certos momentos, a pressão é tão grande que se transforma em angústia. E, no entanto, estamos vivendo um mistério extraordinário.  "Bendito seja Deus que nos tirou das trevas para a sua luz admirável".

Apesar de todos os problemas, no fundo de nós mesmos deveria existir um sentimento de gratidão. Porque fomos chamados à vida, e recebemos esse patrimônio incrível que é a natureza humana. Tão incrível, que aprouve ao próprio Deus revestir-se da nossa humanidade, viver como um de nós, sofrer como sofremos, e também sentir as nossas alegrias.Essa atitude básica de gratidão é o tema de uma das cartas do monge Barsanúfio, que viveu no século VI nas imediações de Gaza, Palestina:

"De acordo com suas palavras , devemos conservar sempre uma atitude de gratidão:

"Em tudo, demos graças a Deus". "Demos graças, inclusive, pelas tribulações, sofrimentos, angústias, doenças, porque também é ele quem diz: "Através de muitas tribulações entraremos no Reino de Deus". E lá, seremos livres de todo mal.

"Não tenha dúvidas, nunca desanime. Lembre-se do ensinamento de Paulo: "Embora a nossa natureza exterior se gaste continuamente, a nossa natureza interior se renova a cada dia". Aceitando o sofrimento, seremos capazes de partilhar da cruz de Cristo.

"Enquanto o navio estiver em mar alto, está exposto ao perigo e à mercê dos ventos. Mas quando ele chega ao porto, já não há nada que ameace sua segurança, sua tranquilidade, sua paz.

"O mesmo acontece conosco. Durante esta vida, somos sujeitos ao sofrimento e atacados pelas tempestades espirituais. Mas quando chegarmos ao término dessa viagem, não teremos mais nada a temer".

segunda-feira, 30 de março de 2020

O AUTORITÁRIO DECRETA. A AUTORIDADE GOVERNA.

Amo o que faço, mas meu chefe é autoritário. Saiba o que fazer


O presidente sem partido acabou com a epidemia por decreto! Essa é a diferença entre autoridade e autoritarismo.

O Brasil está atônito!

O presidente sem partido falou à nação, em 24/03/2020, e cancelou tudo que havia sido dito até então, sobre o combate ao corona vírus.

E, agora, o que é para fazer? Sair ou ficar em casa?

Graças a Deus tenho mais de 60 anos, no meu caso, estou autorizado a ficar em casa!

O presidente sem partido acabou com a epidemia por decreto!

Essa é a diferença entre autoridade e autoritarismo.

O autoritário decreta, só a autoridade governa.

O presidente acaba, de estabelecer disputa aberta com os governadores… vamos ver quem manda, afinal.

Certamente, ao lado do presidente estão os empresários, porta-vozes da sua classe, para quem a morte de alguns milhares é mero dano colateral. A prioridade é a economia, isto é, o lucro.

Ao lado do presidente, também, está um pastor famoso.

É a diferença entre o Apascentador e o Lobo. O Lobo aplaude o autoritário.

Bem, se governadores e prefeitos continuarem a proibir as abertura de escolas, ou continuarem a proibir a circulação de ônibus, ou continuarem a limitar os demais meios de transporte público… O que o presidente fará?

Pois é, você, trabalhador que votou no “mito”, vc não acreditava em luta de classes, pois, agora você verá, é assim: Se a escolha é entre você viver ou o seu patrão ter o lucro garantido… Fique certo, a sua morte não importa, você é dano colateral!

Pois é, você, irmão e irmã, que foi convencido que o presidente sem partido era o ungido de Deus, que seu pastor sabe o que Deus quer, saiba, o seu pastor apoiou o candidato que acabou de facilitar a sua exposição ao vírus, e, aí sim, sabe Deus o que pode acontecer com você e com os seus!

Você deveria começar a pensar se o seu pastor não tem todo um jeitão de Lobo!

Antes, nós estávamos numa pandemia, agora, estamos num pandemônio!

Antes, as informações estavam um tanto desencontradas, agora, estamos sem governo!

O presidente sem partido acaba de abrir a caixa de Pandora, que, segundo a mitologia grega, uma vez aberta, liberaria todas as desgraças do mundo.

O poder não convive com o vácuo, a temporada de confronto dos poderes está aberta, salve-se quem puder, a sorte está lançada!

Citando a Bíblia: “O justo se informa da causa dos pobres, mas o ímpio nem sequer toma conhecimento. Pv 29.7

Estão reconstruindo a Senzala… Temos de tomar a Casa Grande!

PAZ, SOBERANIA E GRANA.

Cunhagem - Origem, desenvolvimento e modernização


Cunhar e emitir moeda, assim como lançar e cobrar impostos e taxas são faculdades essenciais de um poder soberano há milênios. Tão mais legítimas quanto mais democrático for este poder.

Bem mais recentemente, na segunda metade do século passado, descobriu-se que renunciar a uma parte desta soberania para a construção de uma moeda comum poderia ser um elemento crucial na consolidação do processo de paz no velho continente europeu - que se digladiou em guerras fratricidas ao longo de muitos e muitos séculos.

Estes rudimentos de economia política, que não podem ser rotulados de neoliberais nem de desenvolvimentistas, parecem totalmente ausentes da cabeça de alguns responsáveis por políticas públicas.


No momento histórico em que as três instâncias de governo começam a se unir, com o apoio do setor privado e da sociedade civil e um amplo respaldo da opinião pública, para promover o que, não à toa, chamamos de "pacificação" - e que passa pelo restabelecimento do estado democrático de direito em território antes dominado pelo poder paralelo - eis que surge alguém com a brilhante ideia de criar uma moeda específica para estas comunidades.

Parece piada, mas não é: em algumas cidades, uma moeda destas começou a circular na semana passada - e já estão fazendo planos para criar outras, para mais cidades. Pior ainda parece a justificativa: evitar que a renda local escape da comunidade - quando o sentido todo do que está em jogo deveria ser o de promover a integração das comunidades, inclusive econômica.

O que os moradores das comunidades de todo o Brasil precisam é de Reais, moeda que conquistamos a ferro e fogo (e que temos que defender a todo custo, nestes tempos em que a inflação volta a dar sinais vitais preocupantes). Para tanto, mais do que de idéias maluquinhas, se fazem necessárias estratégias sérias de desenvolvimento nacional.

domingo, 29 de março de 2020

UMA PÁSCOA DIFERENTE


As Dez pragas Do Egito!! | Cristãos Amino Amino

O que mudou nesta noite

Quando o anjo da morte se abateu sobre o Egito, os hebreus receberam a ordem de se refugiar nas suas casas, pois quem saísse morreria, e quem ficasse no seu lar partiria no dia seguinte em direção à liberdade.

Na Pascoa  festejamos o início de uma travessia em direção à liberdade. Liberdade sempre relativa, fugidia, impossível de definir, mas que redescobrimos cada vez que nos enfrentamos com situações de opressão.

Não vivemos em tempos bíblicos, e nossa travessia depois da epidemia será outra. Não haverá desígnio divino nem a liderança de Moisés para nos guiar; e não será uma lembrança de povos em confronto, mas a do conjunto da humanidade enfrentando um inimigo comum. E não será somente a travessia do povo judeu, deverá ser a travessia da humanidade.

O “milagre do coronavírus” é que, pela primeira vez na história humana em geral, cada morte, de qualquer pessoa, em qualquer lugar no mundo, nos coloca diante de um espelho no qual vemos nossos rostos e de seres queridos. Não importa onde, religião raça ou posição social, todos nos sentimos parte da mesma comunidade humanidade e a mesma batalha, em cuja frente não estão exércitos, e sim médicos, enfermeiros e cientistas. Este ano a Páscoa é diferente de todas as outras páscoas.

A segunda guerra mundial levou à declaração dos direitos humanos. Podemos lamentar que a humanidade precise de grandes tragédias para avançar. Assim foi e assim será. Para que a atual tragédia não tenha sido em vão, cada um deverá se perguntar o que aprendeu nos tempos do coronavírus.

Todos nós queremos voltar à nossa vida normal. Alguns, esperemos que não muitos, como o Faraó do Egito, não aceitaram que sua omnipotência seja questionada. Outros, cada um à sua maneira, usará a oportunidade para mudar sua conduta, na sua vida pessoal e coletiva.

Cada um terá sua lista de mudanças a fazer. Só posso propor a minha, certamente limitada, que deverá ser enriquecida nas mais diversas formas por cada um, na vida pessoal e na ação coletiva.

Vivemos numa sociedade que não nos permite distinguir entre o essencial e o secundário. Hoje descobrimos que poucas coisas são essências para viver, e que nossa principal preocupação é com o bem-estar básico de nossos seres queridos, e que ele depende do bem-estar do conjunto da sociedade nacional e da humanidade.

Que, como aprenderam nossos antepassados, o humor é fundamental para manter nossa normalidade. A capacidade de rir de nós mesmos e da situação em que nos encontramos é a melhor defesa para manter distância de nossos medos, e não cair na depressão e na histeria. Só os fanáticos, que se alimentam de ódio, não suportam que as pessoas possam olhar para a vida com um pouco de ironia e um sorriso.

O estado é imprescindível para proteger seus cidadãos. Sem estado não há sociedade. Certamente devemos melhorar cada vez mais a qualidade de nossas instituições democrática, mas a ilusão individualista que se orienta pelo princípio de cada um por si e o mercado por todos não só ofende tudo o que as religiões e o humanismo iluminista nos ensinaram, como empurrar a sociedade para o abismo.

Fica claro que fora da ciência existem crenças espirituais que devem ser respeitadas, mas em temas mundanos a alternativa à ciência é o charlatanismo. Não que cientistas não possam errar. Eles erram, inclusive porque o erro é parte constitutiva da pesquisa cientifica. Não que devamos tomar a palavra de cada cientista como sendo verdadeira, inclusive porque na ciência não há dogmas, e a divergência é o coração da vida acadêmica. Mas é com base nela e a partir dela que podemos tomar decisões.

Neste momento difícil quase ninguém procura informação fora dos meios de comunicação confiáveis. A indústria de fake news, que dissemina desinformação e ódio no momento está moribunda. Em situações de risco real evitamos ouvir mentiras que têm por objetivo alimentar preconceitos, ou ler mensagens de ódio, porque sentimos que estamos todos juntos no mesmo barco, e devemos ser solidários e amorosos. Mas as fake news, assim que puderem, voltarão a atacar. Porque a agenda política de quem as produz se sustenta na demonização das elites cientificas e culturais e dos meios de informação, no desrespeito ao debate informado de ideias e à diversidade de opiniões. Tomara que deixemos de divulgar mensagens do mal.

Se estes tempos difíceis, com seu rasto de angustia e dor, nos ajudarem a refletir e a mudar na direção de sermos melhores, como indivíduos e sociedade, poderemos celebrar, no lugar de procurar esquecer, que fomos parte de uma experiência única, que produziu muito sofrimento, mas que também permitiu sermos parte de uma nova travessia, de todos os seres humanos, que terá início no dia que possamos sair de nossas casas.

Porque aprendemos da experiência em tempos de epidemia, devemos agradecer:

Muito obrigado querido Deus...

Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.

sábado, 28 de março de 2020

A VERDADE É UM SÓ.

A "verdade de duas faces" de Fraga e o dogmatismo na política ...


A Verdade é uma só, e atravessa todas as épocas. Mas cada época tem a sua maneira própria de expressar essa verdade. Este é o desafio de qualquer pessoa que, hoje, deseje passar aos outros uma mensagem de fé e esperança. Estamos numa época muito desconfiada, por conta de decepções e amarguras. Isso aumenta a importância do "como dizer as coisas".

Não estou me referindo a uma nova matéria teórica, a uma espécie de Curso Superior de Comunicação. Pessoas que têm uma vivência religiosa autêntica já possuem o essencial para essa comunicação efetiva.Mas alguns exemplos concretos sempre são úteis.

Um deles é o de Henri Nouwen, hoje em dia um dos autores espirituais mais conhecidos e apreciados. Nouwen nasceu na Holanda, onde foi ordenado sacerdote em 1957. Escreveu muitos livros, deu aulas em universidades famosas; mas acabou abandonando a vida acadêmica para trabalhar numa comunidade de deficientes - experiência que ele sempre descreveu como tendo sido definitiva para o seu amadurecimento espiritual. Morreu em 1996.

No trecho seguinte, extraído de "O sofrimento que cura", ele tenta descrever alguns aspectos do que seria um "ministro" nos dias de hoje - alguém que está disposto a transmitir aos outros uma palavra de vida. "Um ministro não é um médico, cujo objetivo primário é eliminar a dor. Ao contrário, ele aprofunda a dor até o ponto em que ela possa ser partilhada. Quando alguém vai a um ministro com a sua solidão, só pode esperar que sua solidão seja entendida e sentida, de tal modo que ele não precise mais fugir dela, mas possa aceitá-la como expressão da nossa condição humana. Quando uma mulher sofre a perda de um filho, o ministro não é chamado para confortá-la com o argumento de que ela ainda tem dois filhos lindos em casa; ele é desafiado a ajudá-la a compreender que a morte de seu filho revela sua própria condição mortal, a mesma condição humana da qual ele e outros participam com ela.

A principal tarefa do ministro talvez seja a de impedir que as pessoas sofram pelas razões erradas. Muitas pessoas sofrem devido a falsas suposições que orientam suas vidas. Uma dessas suposições é a de que não deveria existir medo ou solidão, nem confusão ou dúvida. Mas esses sofrimentos só podem ser repartidos de modo criativo quando entendidos como ferimentos que integram a nossa condição humana.

Por isso, o ministério é um serviço de muita confrontação. Ele não permite que as pessoas vivam com ilusões de imortalidade e integridade. Ele continua a lembrar aos outros que eles são mortais e frágeis, mas também que a libertação começa com o reconhecimento dessa condição.

Uma dor partilhada não é mais paralisante, e sim mobilizante, já que entendida como um caminho para a libertação. Quando tomamos consciência de que não precisamos fugir de nossas dores, mas que podemos mobilizá-las numa procura comum pela vida, essas mesmas dores são transformadas de expressões de desespero em sinais de esperança".

O REMÉDIO: É CUIDAR DELE

O que faz um cuidador de idosos? - Iniciação Profissional - Cursos ...

A interpelação, "Cuida dele, o remédio", vem da sábia e magistral indicação do coração de Jesus, na parábola do Bom Samaritano, para responder, de modo assertivo e completo, à pergunta que deve ecoar no coração de cada pessoa: quem é o seu próximo? Respondê-la adequadamente é o passo fundamental para que a sociedade brasileira consiga colocar a vida em primeiro lugar. Ainda que sejam reconhecidos sinais de esperança em atitudes cidadãs, em projetos e programas envolvendo instituições e instâncias, diferentes cenários trazem exigências e urgências muito grandes e complexas. Pedem novas posturas e atitudes capazes de gerar transformações urgentes - nenhum cidadão pode se conformar, contentando-se com mediocridades.

Há muito que fazer. Basta pensar que a desigualdade é um distintivo inaceitável da sociedade brasileira, consequência de dinâmicas autodestrutivas que atacam o meio ambiente, a exemplo do desarvoro e descontrole da mineração predatória. Faltam mais compreensão e recursos humanísticos aos grandes líderes para que possam pensar adequadamente e contribuir para o fortalecimento, para a qualificação das instituições democráticas, ao invés de enfraquecê-las com ataques figadais. Sem lucidez, estão em risco patrimônios humanos, religiosos e culturais, necessários para que a sociedade avance e não se feche em estreitezas. Diferentes estatísticas mostram que a sociedade brasileira precisa mudar. Comprovam a necessidade urgente de um caminho espiritual renovador, diferente daquele que é partidário e estreitado pelo fundamentalismo de um cristianismo torto.

O caminho espiritual renovador é percorrido por uma opção que nasce da capacidade de cuidar dele, do próximo, da Casa Comum e, sobretudo, dos mais pobres e dos indefesos. Assim, a Campanha da Fraternidade neste ano, no horizonte interpelante do tempo Quaresmal - convite à conversão e às mudanças de rumos, em favor da vida – interpela cada pessoa a acolher o chamado: “Cuida dele!”. Trata-se de eficaz remédio para corrigir descompassos. A adoção das dinâmicas simples e ao mesmo tempo abrangentes dessa indicação evangélica contribuirá para que a sociedade supere violências e extermínios, indiferenças e ganâncias, impulsionando os diálogos, os entendimentos cidadãos e a democracia, urgências deste tempo.

Cuidar do próximo é espiritualidade com força para qualificar a cidadania, no horizonte da compreensão de que a vida é dom e compromisso. Urge-se uma envergadura humana e espiritual em cada pessoa, para que o cuidado com o semelhante inspire ações, tarefas e atuação em todos os âmbitos. Projeta-se, nesse horizonte de interpelação, a figura admirável de Santa Dulce dos Pobres, mulher fisicamente frágil, gigante na envergadura moral, espiritual e humana, com força para criar e perpetuar serviços transformadores, por ser fiel discípula de Jesus, por acolher, amorosamente, a mística do remédio que está no convite-convocação, ao olhar o meio ambiente, a comunidade de fé, a própria família, os pobres, o próximo: “Cuida dele!”.

sexta-feira, 27 de março de 2020

COM A FORÇA DA FÉ.

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O dom de viver é compromisso diário que inclui muitos desafios e, certamente por isso, diz-se que viver é uma arte. Mas não se trata de arte confeccionada isoladamente. Depende da participação de todos, a partir da inigualável contribuição da solidariedade, único remédio que tem força para mudar tristes cenários, a exemplo dos que são desenhados pelas pandemias que assolam o mundo ao longo de toda a história. Há muitas pandemias: da violência crescente, da fome e da miséria, da indiferença que compromete a justiça e a paz. Há também a pandemia da ganância que cega o coração e leva à predatória busca pelo lucro, com a exploração desmedida do meio ambiente, em diferentes lugares do Brasil, a exemplo de uma mineração irresponsável. A partir de triste realidade, muitas pandemias se perpetuam: os ouvidos de muitos são surdos para os clamores dos pobres e o grito dos profetas.

Atualmente, desafiando a sociedade mundial, a pandemia do Coronavírus, o COVID-19 caminha para o seu auge. Impacto que abala a frágil estrutura da economia global, comprovando que tiros e moedas não vencem a guerra viral. A pandemia do Coronavírus bate à porta de todos e configura um tempo de exílio, lembrado o desafio existencial vivido pelo Povo de Deus, em etapas diferentes de sua história. Todos agora confinados têm oportunidade austera de repensar caminhos, alimentar-se pela espiritualidade, enquanto colaboram para superar a pandemia. O exílio é oportunidade para renovar a esperança e nos fortalecer. Tempo de aprendizagens e novas conquistas, jamais de medo e pânico.

Deus tudo conduz. É o Senhor da história. É o Vencedor. A fé inabalável alimenta a esperança e consolida a caridade. A convocação é para se viver fecunda espiritualidade, balizando ações de prevenção, gestos de solidariedade, obediência às indicações e determinações das autoridades em saúde pública para, em breve, abrir novo ciclo, no Brasil e no mundo. Além do Coronavírus, a humanidade inteira está contaminada e adoecida por modelos econômicos, políticos e até religiosos que a enfraquecem. A constatação não é um apanágio de pessimismo, mas uma convocação a levantar a bandeira da esperança, investindo na competência humanística para encontrar novos modelos de sociedade que possam emoldurar a vida com grande alegria.

Com a força da fé, inabalável porque assentada em Deus, o único que tudo pode, por uma cidadania corresponsável e solidária, impulsionados pelas ciências, responsavelmente conduzidos por sérios líderes mundiais, reverentes a cada pessoa, todos contribuam para que novo ciclo seja aberto, coerente com as expectativas da humanidade. Iluminada pela Luz da esperança, a sociedade brasileira passe por este exílio, deixando-se conduzir pela força transformadora do amor, convencida de que é imprescindível exercer a solidariedade.

Prevaleçam os compromissos com a austeridade e com a cooperação e ninguém fuja do exílio – é preciso permanecer mais no próprio lar. Na luta contra essa e tantas outras pandemias, seja inspiração o horizonte da fraternidade e da vida, dom e compromisso. Unido, orante, austero e solidário, o povo brasileiro vencerá e encontrará a paz. Triunfará, pela benção de Deus, o dom da vida. Cresça, agora, na interioridade de cada brasileiro, um coração samaritano, aquele que, diante da dor e do sofrimento do outro, é capaz de ver, sentir compaixão e cuidar.

quinta-feira, 26 de março de 2020

O MOMENTO É DE GRANDES OPORTUNIDADES.


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Você inevitavelmente encontrará adversidades na vida, seja no nível pessoal ou - como estamos experimentando agora - no nível coletivo. Se você não se aprofundou o suficiente, se não encontrou nada além da mente pensante conceitual, então a adversidade, qualquer que seja (neste caso, sabemos o que é), irá devastá-lo. E mesmo se você não adoecer ou contrair o vírus, o medo o consumirá, como está consumindo milhões de humanos atualmente.

Se você soubesse quem/aquilo que você é, saberia que não há nada a temer. Somente se você não conhece o seu ser, o medo surge. Torne-se consciente do seu ser, não o eu conceitual, não a sua história pessoal, mas tome consciência de si mesmo como presença consciente. Pensar não o ajuda. Pensar é um obstáculo. Portanto, vá mais fundo do que o pensamento e fique completamente desperto e presente, sem atividade mental.

Esse é o começo da realização de sua essência eterna. É uma dimensão mais profunda da consciência, mais do que aquela com a qual você normalmente se identifica. Encontre essa base inabalável que está profundamente dentro de você, dentro de todos. A adversidade é uma oportunidade maravilhosa, porque força você a ir mais fundo. A vida se torna quase insuportável quando você vive apenas na superfície das percepções sensoriais e na sua mente conceitual, e então você ouve as notícias e lê todo tipo de coisa, e todos estão num estado de medo - devido a uma casa construída na areia.

E este é um convite para despertar para quem você é, porque se não o fizer, sofrerá desnecessariamente. Milhões estão num estado de ansiedade. Mas use isso como uma chance de despertar. É uma oportunidade de chegar a essa realização de que você é muito mais profundo do que conhecia antes. Você deve prestar mais atenção à sua própria consciência do que aos noticiários ou a seja lá o que for que você ouça e assista.

Use este tempo precioso, faz parte do despertar da humanidade. Os seres humanos não despertam na sua zona de conforto, eles despertam quando são retirados de sua zona de conforto, quando não aguentam mais o sofrimento ou a infelicidade.

Sinta a vitalidade, tome consciência daquela presença que é inseparável de quem você é. Essa é uma realização incrível! Há mais sobre você do que a pessoa! Essa presença é mais profunda que a pessoa. Você precisa da adversidade para encontrá-la ou aprofundar a realização.

Há um ditado que diz: 'Quando o ego chora pelo que perdeu, o espírito se alegra com o que encontrou.' O que parece ruim e muito negativo na superfície, como um obstáculo ao bem-estar da humanidade do ponto de vista convencional, tem uma função essencial. Portanto, este é um momento de grandes oportunidades. Use-o. Não o desperdice. Não se perca na mente. Não se perca no medo. Esteja enraizado nesta rocha que é a sua identidade essencial.

quarta-feira, 25 de março de 2020

HAVERÁ UM DIA...

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Como é? Como vai ser? Até quando? Perguntas e mais perguntas, e nem bem uma é respondida surgem outras e outras, em detalhes que precisam ser vistos, revistos e solucionados. Uma angústia imensurável, difícil de aplacar. Precisamos sobreviver – essa é a questão central – acima de metas, planos, governos, e esse, aqui no Brasil, nos leva a ainda mais e mais dúvidas sobre o desenrolar desse momento; e não vai perder por esperar. Já começamos a fazer barulho.

Cada um fechado em si como pode, poucos nas ruas, e todos esses em estranhos visuais e movimentos – nunca vi tantos esfregarem suas mãos em movimentos nervosos como os que fazemos nos virando com álcool em gel em cada lugar, cada coisa que tocamos, e desesperados tentamos nos livrar do maldito. Olhares ansiosos. Com máscaras, como se elas fossem escudos (e não são, se usadas de forma aleatória); alguns com luvas. Praticamente nos benzemos, nos damos passes, em busca de assepsia. O vírus invisível pode estar sendo carregado em todos, porque nem todos o desenvolvem. Crianças podem levar aos mais velhos. Os mais velhos entre si. Todos para todos, sem exceção. Os jovens ainda arrogantes talvez ainda duvidem que podem transmiti-lo como o vento. Não há testes que isentem enquanto isso não acabar.

A tecla idoso não para de ser batida, e quem tem mais de 60 anos apresentado literalmente como alvo de uma flecha que queremos que erre muito. Quando se passa dessa idade, talvez não tivéssemos ainda consciência, essa exata noção, que a cada dia nos tornamos mais frágeis. E se essa pandemia veio para calibrar a população mundial estamos na fila principal – junto com nosso conhecimento, maturidade, história, e o que não valerá nada diante da atual conjuntura. Alguns, já solitários, ficarão mais isolados. Outros, tidos como estorvos, para eles haverá torcida para que se adiantem na tal fila.

Não nos damos as mãos, não nos abraçamos, ficamos sem beijos, um é bom, vários, dois, três, quatro, dependendo se é carioca, paulista, três para casar. Agora só nos tocamos com a ponta dos cotovelos ou dos pés, numa dancinha inimaginável. Ou nos deleitamos em conversas virtuais. Todos viramos caras quadradas, enquadradas no visor.

Mas haverá um dia – o dia depois – e creio que é bom pensar nisso, projetar. Dá esperança para ultrapassar essa agonia, essa fase espinhosa, quase impossível de descrever.

As festas que faremos nas ruas, a alegria que será – e tudo o mais será melhor, mais importante, pelo menos por um tempo tudo terá mais valor, prazer – podermos nos libertar e andar livres, em nossas atividades normais. Vamos cantar, dançar, nos abraçar?

A humanidade toma um baque que já nos faz pensar o que sairá dessa experiência, como conseguiremos lidar com tantas incertezas e sobreviver à crise que se descortina mostrando suas garras para uma sociedade enfraquecida em tantos sentidos e por tantas outras formas.

Chegará o dia depois. Ele deverá chegar, embora agora não tenhamos a menor noção de quando será.

Será anunciado? Haverá uma data em que todos, no planeta inteiro, comemoraremos, que passará a ser universal?

Quero estar vivo para viver esse dia. E que você também esteja para que possamos nos dar as mãos.
 Se cuida.

LUCRO X VIDA.


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Nos últimos dias, quatro empresários gravaram vídeos para alertar a sociedade sobre as consequências econômicas das políticas que foram adotadas no Brasil e no mundo para conter a propagação da epidemia do coronavírus. Foram eles Luciano Hang, da Havan, Junior Durski, do Madero, Alexandre Guerra, do Giraffas, e o publicitário Roberto Justus. Todos eles, imagino, foram eleitores de Jair Bolsonaro e entusiastas das políticas liberais de Paulo Guedes.

Os quatro, no entanto, erraram brutalmente na sua comunicação com a sociedade. De uma forma ou de outra, todos tentaram convencer os trabalhadores de que eles devem voltar a trabalhar – ou pelo menos pressionar os líderes políticos para que possam voltar – porque as consequências da depressão econômica que o Brasil viverá podem ser ainda mais graves do que os danos causados pelo coronavírus. Por mais que seja necessário considerar tais pontos de vista, apostar nesse caminho é burrice.

Comecemos por Luciano Hang, da Havan. De todos, foi o que teve a argumentação mais tosca. Disse que poderia fechar todas as lojas, demitir os empregados, pagar seus credores e, ainda assim, sobraria algum dinheiro para ir para a praia. Sua fala foi a personificação do egoísmo, como se dissesse que, no fim das contas, ele ainda teria um pequeno lugar ao sol.

Junior Durski, do Madero, também não foi capaz de construir uma argumentação sólida. Basicamente, disse que a economia não pode parar porque 5 ou 7 mil pessoas podem morrer no Brasil. Sua fala, fria e cruel, apontou apenas o medo de perder a riqueza que construiu nos últimos anos. Talvez porque esteja alavancado e tenha assumido dívidas para financiar a expansão de sua marca. Durski pensou apenas em si – e não no conjunto da sociedade.

Alexandre Guerra, do Giraffas, disse coisas mais consistentes. Embora tenha errado, ao ironizar quem estaria curtindo seu 'home-office', ele comparou a sua situação à de vários empresários. Será que um comerciante consegue manter seu negócio se ficar sem receita por 30, 60 ou 90 dias, tendo que arcar com todos os custos? É evidente que não. Muitos fechariam suas portas – e já estão fechando.

Roberto Justus, por sua vez, tentou construir uma argumentação mais elaborada. Depois que sua conversa privada com o apresentador Marcos Mion vazou, ele publicou um vídeo no Instagram em que revestiu sua tese de uma preocupação humanitária. Disse que está preocupado com vidas – e que, do ponto de vista estatístico, morrerão mais pessoas por fome do que por vírus, o que talvez seja verdade.

No entanto, nenhum desses quatros empresários terá a menor chance de conquistar o apoio da sociedade enquanto não demonstrar cabalmente o desejo de fazer sacrifícios em tempos de guerra. Não adianta dizer que dá para vender tudo e depois ir tomar sol na praia, como fez o dono da Havan. A crise econômica que se avizinha é tão devastadora que os quatro empresários só têm uma saída: cobrar de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que ajudaram a colocar no poder, uma saída emergencial para os trabalhadores, até para que continue a existir mercado para suas empresas.

Ninguém sabe ao certo quanto custará o resgate da economia brasileira. Dez por cento do PIB? Quinze? Vinte? Será assim no Brasil e no mundo. Se os empresários quiserem ser ouvidos e respeitados neste momento dramático da nossa história, eles devem assumir, pela ordem, os seguintes compromissos: (1) manter o emprego de todos os seus funcionários, (2) aceitar que toda ajuda do estado seja fiscalizada para que possa garantir os salários dos trabalhadores e a manutenção das atividades (lucros ficam em segundo plano) e (3) defender a tributação de lucros e dividendos, assim como de grandes fortunas, quando chegar a hora de pagar a conta por esse socorro emergencial.

Nada será como antes depois do coronavírus. O modelo de sociedade ancorado na vaidade, no individualismo e no egoísmo não é mais sustentável. Ou esses empresários se adaptam a isso e ajudam a construir uma nova sociedade mais igualitária – oposta à de Guedes e Bolsonaro – ou serão devorados pelos coringas do século 21.

terça-feira, 24 de março de 2020

TÁ APENAS COMEÇANDO...

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Lendo o salmo 112(113), me vejo diante das seguintes palavras:

“O Senhor levantou da poeira o indigente, e do lixo retirou o miserável para fazê-lo assentar-se ao lado dos nobres do seu povo”.

De imediato, lembrei-me da história de um menino que, em 1952, aos sete anos, saiu com sua mãe e os muitos irmãos de Garanhuns, no sertão de Pernambuco, enfrentou treze dias de viagem num pau-de-arara até chegar a São Paulo, fugindo da miséria, da fome e de um futuro que prometia ainda mais miséria e fome.

Na cidade grande, as perspectivas também não eram muito promissoras para aquele migrante nordestino que, como tantos, poderia sonhar, na melhor das hipóteses, em passar a vida assentando tijolos numa obra ou ajustando parafusos numa fábrica.

O menino foi um pouco mais longe...

Numa trajetória de vida surpreendente e absolutamente improvável, se fez operário, líder sindical e político e tornou-se o 35° presidente eleito da República Federativa do Brasil.

Mas... os nobres não conseguiram suportar a petulância atrevida desse menino que, além de ascender à Casa Grande, sonhou trazer com ele os outros moradores da senzala.

E a intolerância não reside apenas aqui...

Quando, em agosto de 2008, Barak Obama foi escolhido para concorrer, como candidato dos democratas, à presidência dos EUA, um assessor do então presidente Bush perguntou quem era ele e teve como resposta: “é aquele preto de Harvard”.

Um preto de Harvard, um peão de Garanhuns...

Meus companheiros de luta sonham com um Lula livre. Ele nunca será. Assim como Obama não será capaz de se livrar da cor da sua pele e será, aos olhos de muitos, quando muito, ‘um preto de alma branca’...

O racismo, a intolerância, o ódio racial e social são o caldo de cultura em que eu e os brancos do sul maravilha como eu, fomos criados. O racismo, e outros preconceitos muitos, estão entranhados em mim, em nós, como um DNA maligno e inevitável, absorvido no leite materno, vivido, das carteiras da educação infantil às salas da Universidade.

Nas empresas onde trabalhei o lugar dos negros era na faxina e nos serviços gerais...

Lula é humano. Obama também. Assim como o preto de Harvard terá que lidar com os fantasmas dos mortos durante a sua gestão, nas guerras declaradas e anônimas que seu país costuma semear pelo mundo, Lula também não vai se livrar do seu fantasma; o erro político fatal que cometeu ao imaginar que poderia conviver com os “nobres”, os senhores da Casa Grande.

Pensou que poderia sentar-se à mesa com eles, como fazia em seus tempos de sindicato dos metalúrgicos, e negociar políticas públicas que beneficiassem o país da maioria dos peões e pretos que somos e que, de repente, começaram a frequentar faculdades e aeroportos, não mais como faxineiros e serviçais, mas como alunos, e passageiros.

Ódios ancestrais não são passageiros...

A Casa Grande tem seus sortilégios. Pegou Lula pela vaidade e Obama contribuiu para isso quando declarou: “esse é o cara”!

O cara se elegeu, foi reeleito, elegeu e reelegeu sua sucessora. O peão foi longe demais. Nem o preto de Harvard tinha conseguido tal proeza. Foi sucedido por um inacreditável Donald Trump!

A Casa Grande tinha seus trunfos, truques e cunhas, aprendidos desde a armada de Cabral.

Para derrubar uma presidente eleita ou prender e tirar do jogo eleitoral um candidato que começava a disputa com quase 40% de preferência dos eleitores, a Casa Grande não precisa de provas, só denúncias, e alguém em cima do Moro, digo, muro, de olho num ministério aqui e numa vaga no STF acolá.

Ah, Lula, vaidade das vaidades, tudo é vaidade...

Conhecemos bem o caminho das seduções e mimos. Poderíamos até nos perguntar; o que é a reforma de um sítio do amigo dos amigos e um apto. no Guarujá, perto das histórias que correm a malas soltas?

Pois foi o suficiente para colá-lo na cadeia e, assim, abrir caminho para que se entronizasse um asno chucro, mentiroso contumaz, incompetente, marginal, violento, racista, misógino, homofóbico, ignorante e DESONESTO na Presidência.

Esse é o quadro, senhores e senhoras eleitores do asno.

Vá lá, admitamos que o Lula é ladrão, que todos os petistas são ladrões, que todo mundo que tem pensamento socialista é ladrão. Em nome disso você se sentiu justificado para eleger o asno que ora está no poder?

Alguém que montou uma quadrilha com seus filhotes para abocanhar dinheiro do salário de assessores reais (como o Queiroz) ou fantasmas, como os milicianos foragidos?

Alguém que tem como herói um assassino torturador, covarde e brutal?

Alguém que em um ano de mandato já foi várias vezes aos states lamber o saco do Trump?

Alguém que mostra absoluta ignorância e desprezo por ideias, arte, cultura, ecologia?

Ele que, quando era deputado federal, foi assaltado por dois criminosos que acabaram levando sua motocicleta e a pistola Glock calibre 380 que carregava debaixo da jaqueta, e tem, agora, como única proposta, distribuir armas para “os cidadãos de bem”, como os que fuzilaram um músico e um catador, no Rio de Janeiro?

Quem tem olhos, veja!

O que vemos é o que temos, o que sempre tivemos, aquilo que um barbudo chamado Marx, lá no sec. XIX chamava de mais-valia (vulgo, PIB): a riqueza criada pelo trabalhador que não beneficia o trabalhador, mas se concentra nas mãos dos proprietários da Casa Grande.

Só que...

O asno vai ter que se virar para sufocar a reação, que está apenas começando, dos “idiotas úteis, militantes, massa de manobra que não sabe a fórmula da água e nem o resultado de 7X8”...

Água mole em asno duro. Estamos fazendo a conta. Já, já chegamos ao X da questão...

Tá apenas começando...

segunda-feira, 23 de março de 2020

UMA HISTÓRIA DE ÍNDIO MUITO ÚTIL PARA NÓS..

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Em tempos em risco de nossa liberdade, é importante pensarmos em sua importância. Nascemos completos mas imperfeitos. Não possuímos nenhum órgão especializado, como a maioria dos animais. Para sobreviver, temos que trabalhar e intervir na natureza. Os mitos esclarecem esta situação.

Os indígenas guaicuru, do Mato Grosso do Sul, perguntaram-se o porquê da imperfeição e do alto significado da liberdade. Demoraram longo tempo para chegar a uma resposta. A explicação veio pelo seguinte mito, portador de verdade.

O Grande Espírito criou todos os seres. Colocou grande cuidado na criação dos humanos. Cada grupo recebeu uma habilidade especial para sobreviver sem maiores dificuldades. A alguns deu a arte de cultivar a mandioca e o algodão. Assim podiam se alimentar e se vestir. A outros deu a habilidade de fazer canoas leves e o timbó. Desta forma podiam se locomover rapidamente e pescar.

Assim fez com todo os grupos humanos na medida em que se distribuíam pelo mundo. Mas com os Guaicuru não aconteceu assim. Quando quiseram sair para as vastas terras, o Grande Espírito não lhe conferiu nenhuma habilidade. Esperaram, suplicando, por muito tempo e nada lhes foi comunicado. Mesmo assim resolveram partir. Sentiram logo muita dificuldade em sobreviver. Resolveram procurar intermediários do Grande Espírito para receber também uma habilidade.

Primeiro, dirigiram-se ao vento, sempre soprando e rápido: “Tio vento, tu que sopras pelas campinas, sacodes as matas e passas por cima das montanhas, venha-nos socorrer”. Mas o vento que sacudiu as folhas, sequer ouviu o pedido dos guaicuru. Em seguida, se voltaram para o relâmpago que estremece toda a terra. “Tio relâmpago, você que é parecido com o Grande Espírito, ajude-nos”. Mas o relâmpago passou tão rápido que sequer escutou o pedido deles.

Assim os guaicuru suplicaram às árvores mais altas, aos cumes das montanhas, às águas correntes dos rios, sempre suplicando:”Meus irmãos, intercedam por nós junto ao Grande Espírito para não morrermos de fome,” Mas nada acontecia.

Meio desesperados vagavam por várias paragens. Até que pararam debaixo do ninho de um gavião-real.

Este ouvindo seus lamentos resolveu intervir e disse:”Vocês, guaicuru, estão todos errados e são uns grandes bobos”. “Como assim? responderam juntos. “O Grande Espírito se esqueceu de nós. Você que é feliz, recebeu o dom de um olhar penetrante e perceber um ratinho no boca da toca e caçá-lo”.

“Vocês não entenderam nada da lição do Grande Espírito”retrucou o gavião-real. “A habilidade que ele lhes deu está acima de todas as outras. Ele vos deu a liberdade. Com ela vocês podem fazer o que desejarem fazer.”

Os guaicuru ficaram perplexos e cheios de curiosidade. Pediram ao gavião-real que lhes explicasse melhor esta curiosa habilidade. Ele, cheio de garbo, lhes falou: “Vocês podem caçar, pescar, construir malocas, fazer belas flechas, pintar os corpos, os potes, viajar para outros lugares e até decidirem o que vocês querem de bom para vocês e para a própria natureza”.

Os guaicuru se encheram de alegria e diziam uns aos outros:“que bobos nós fomos, pois nunca discutimos juntos a vantagem de sermos imperfeitos. O Grande Espírito nunca se esqueceu de nós. Deu-nos a melhor habilidade, de não estarmos presos a nada, mas de podermos inventar coisas novas, sabendo das vantagens de nossa imperfeição.

O cacique guaicuru perguntou ao gavião-real: “Posso experimentar a liberdade?” “Pode”. O cacique tomou uma flecha e derrubou do alto de uma jaqueira uma grande fruta de jaca. E todos se deliciaram.

Desde aquele momento, os guaicuru, exerceram a liberdade. Tornaram-se grandes cavaleiros e nunca puderam ser submetidos por nenhum outro povo. A liberdade lhes inspiravam novas formas de se defender e garantir a melhor habilidade dada pelo Grande Espírito.

Os mitos nos inspiram grandes lições, especialmente nos dias atuais quando forças poderosas, nacionais e internacionais, nos querem submeter, limitar e até tirar nossa liberdade. Devemos ser como os guaicuru: saber defender o maior dom que temos, a liberdade. Devemos resistir, nos indignar e nos rebelar. Só assim fazemos o nosso próprio caminho como nação soberana e altiva. E jamais aceitaremos que nos imponham o medo nem que nos roubem a liberdade.

domingo, 22 de março de 2020

GARANTA SUA CONDIÇÃO DE SER HUMANO.



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Organismos internacionais calculam que, atualmente, nos mais diversos continentes, quase 800 milhões de pessoas são, de alguma forma, vítimas de novas formas de escravidão. Apesar de terem assinado, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quase todos os países do mundo convivem com isso. A sociedade dominante organiza o mundo de forma que alguns dos direitos humanos básicos são sistematicamente violados.

Governos e organizações da sociedade civil fazem declarações de combate à escravidão, mas, na prática, sustentam uma organização econômica que torna a maioria das pessoas mais frágeis e expostas a situações semelhantes à escravidão. Empresários convivem com as novas tecnologias, mas, em suas fazendas de soja ou de gado, mantêm trabalhadores em regimes de trabalho forçado e condições desumanas de sobrevivência. Empresas provocam crise econômica em vários países para manter os salários astronômicos de seus dirigentes, mas se negam a garantir emprego justo a uma multidão de pais e mães de família.

Só não vê quem não quer: enquanto a humanidade não superar o Capitalismo como forma de organizar a sociedade, a porta estará sempre aberta para a barbárie que se expressa em novas formas de escravidão. Bertold Brech chegava a afirmar que “enquanto houver capitalismos, a cadela do fascismo estará no cio”. Isso pode ser comprovado no Brasil de hoje.

As Igrejas e religiões deveriam ser pioneiras na defesa dos mais empobrecidos, Infelizmente, em tantos séculos de história, as Igrejas e instituições religiosas, não somente não mudaram essa realidade, como muitas vezes, se tornaram cúmplices e até protagonistas dessa barbárie. Dois mil anos depois, a proposta do Evangelho de Jesus continua ignorada e mesmo desmoralizada. É mais triste constatar que quem mais agride o evangelho e a mensagem de Jesus não são ateus ou inimigos da fé e sim os próprios cristãos e até ministros e pastores. Muitos se identificam com a instituição religiosa e vestem a roupa do culto e usam os símbolos do poder religioso, mas não aderem à proposta ética e transformadora da fé.

Todas as religiões reconhecem: o divino só pode ser encontrado realmente no humano. O que Irineu, pastor da Igreja de Lyon ensinava aos cristãos no século 2 vale para toda pessoa de qualquer religião e de todos os tempos: “Como você poderá divinizar-se se ainda nem se tornou humano? Antes de tudo, garanta a sua condição de ser humano e, assim, poderá participar da glória divina”.

A ILUSÃO DA HIPER-CONEXÃO.


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Este chamamento não contém tanto a evocação nostálgica de um tempo perdido, onde a família era o lugar idílico para troca e comunicação. No tempo dominado pela figura patriarcal do pai patrão, com muita frequência, o espaço da palavra era sequestrado por sua voz, cujo timbre severo obtinha um silêncio assustado. Portanto, não se trata de mendigar um tempo que irreversivelmente ficou para trás e de modo algum ideal; não se trata de olhar nostalgicamente para o passado para encontrar uma solução para os problemas de nosso tempo. A família não é uma instituição ideal, como nenhuma instituição humana ó é.

Como pais, sempre tateamos no escuro, precários, em dificuldade. Ninguém, muito menos o pai disciplinador do patriarcado, possui a chave para tornar a vida juntos frutuosa. Mas nosso tempo coloca um problema adicional: existe uma tendência cada vez mais difundida - especialmente no mundo juvenil - (que eu recentemente chamei de "neo-melancólica") à fobia, ao retraimento social, ao fechamento. Nossos filhos tendem a construir nichos separados que, em vez de protegê-los da vida, os separam da vida. É um atalho que também inclui o mundo dos adultos: preferir o fechamento à abertura; a defesa da vida ao encontro com a plenitude da vida.

A ilusão da hiper-conexão é a de colocar nossas vidas em relacionamento com aquelas dos outros quando, ao contrário, muitas vezes separa do relacionamento. Mas todo relacionamento, incluindo aquele familiar, não é protegido das dificuldades, dos mal-entendidos e dos conflitos. Talvez por esse motivo, o relacionamento sem relacionamento do parceiro tecnológico seja preferido às inevitáveis asperezas do relacionamento real. O chamamento deve então ser lido de uma maneira diferente de um genérico retorno à retórica patriarcal da família. Sabemos disso por experiência própria; se existe uma beleza na família, é aquela que podemos encontrar em toda instituição humana; uma beleza que não exclui rachaduras, trincas, desconforto, feridas.

No tempo em que a palavra não é mais (justamente) sequestrada pela autoridade dos pais, no tempo em que uma nova pluralidade se configura, o mais importante é preservar o lugar da palavra como um local de uma conexão diferente daquela alimentada pelos objetos tecnológicos. Não é a palavra retórica do diálogo entre gerações - muitas vezes impossível - nem a palavra conformista-burguesa, nem a palavra pacificadora do bom senso. Habitar a vida da família impõe hoje mais do que ontem um novo equipamento: suportar a solidão em que todos nós estamos evitando cultivar a ilusão de uma harmonia que simplesmente não existe.

Mas essa desilusão, em vez de desencorajar, desmotivar, frustrar, deveria ajudar-nos a reunir como "preciosos tesouros" aqueles fragmentos de humanidade e beleza que ainda podemos encontrar ao estar juntos em família. Não pretender a felicidade dos filhos, não se colocar como exemplos de como seja correto viver, não esconder as nossas dificuldades. Em outras palavras, estar junto com o desconforto que toda situação de estar juntos comporta.

Então, lido nesta chave, o chamamento não nos exorta a cultivar a ilusão de uma família ideal, mas a não esconder a cabeça na areia diante da dificuldade de construir relacionamentos humanos não artificiosos e unilaterais, como aqueles que a tecnologia oferece. Na verdade, aqueles relacionamentos não são relacionamentos. São relacionamentos - conexões - que prometem salvar da dificuldade real de qualquer relacionamento, inclusive o da família.