quinta-feira, 31 de outubro de 2019

GLOBO X BOLSSONARO.


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Eu vi, ninguém me contou.

Desta vez, não era fake news, nem vídeo postado pelo 02.

Era o próprio, falando numa live assustadora, direto de Riad, já alta madrugada na Arábia Saudita.

Às 10 da noite daqui, 
fui direto ao Face do capitão para ver com meus próprios olhos.

Algo muito grave tinha acabado de acontecer, capaz de abalar os alicerces da República.

No final do Jornal Nacional de terça-feira, entrou uma reportagem envolvendo o nome do presidente Jair Bolsonaro no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Olhos injetados, fora de si, aos berros, o capitão partiu com os dois pés para cima da Globo e do governador fluminense Wilson Witzel, acusando-os de uma conspiração contra sua família para derrubá-lo do governo.

Cabelo liso caindo na testa, só faltou o bigodinho para aquele homem descontrolado, tomado de fúria, ser confundido com o homólogo alemão, que arrastou o mundo para a guerra nos anos 30 do século passado.

Foram 23 minutos ininterruptos de puro terror, com um palavreado de beira do cais.

Custei a dormir nessa noite.

Fiquei me perguntando como o Brasil pode ter levado esse capitão à Presidência da República, assim como até hoje os alemães se perguntam como podem ter produzido um carrasco como Adolf Hitler, o fundador do nazismo.

Voltaram-me à lembrança as histórias da infância ouvidas de meus pais e da minha vó materna.

Até hoje, não assisto a filmes nem séries desta época, mas agora sou obrigado a conviver diariamente com a ameaça de ver a mesma desgraça acontecer em meu país.

Ninguém sabe como essa história vai terminar, se ao final quem vai vencer é a Globo ou o Bolsonaro, mas uma coisa é certa: o Brasil nunca mais será o mesmo depois desta tragédia que está completando nove meses e destruindo o país.

Parece que o bolsonarismo de raiz veio para ficar, pelo menos em parte do eleitorado fanatizado, como podemos constatar nas redes sociais e nas cartas de leitores nos jornais.

Inspirado no nazismo _ “Deutschland Über Alles” _ este “Brasil acima de tudo” é uma contrafação grotesca, uma cópia inverosímel, mas igualmente ameaçadora.

Oficiais subalternos, com uma trajetória militar medíocre, Jair e Adolf resolveram se vingar do mundo, com a diferença de que por aqui não temos nenhum inimigo externo à vista.

Os inimigos somos nós mesmos, os democratas que ainda resistem a essa insânia galopante, em meio a leões e hienas, exilados em seu próprio país.

Se alguém ainda tiver alguma dúvida, assista ao vídeo que está no Face do capitão.



R.Kotsho

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

PARA PENSAR: TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE.


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Estudos contidos no livro “Tributação e desigualdade” (Rio, Letramentos, Casa do Direito e FGV Direito, 2017) demonstram que, no Brasil, a alíquota do imposto direto cresce na medida em que o rendimento aumenta. Mas isso somente para quem ganha, por ano, de R$ 24,4 mil a R$ 325 mil. Nesses casos, o imposto é de 12%.

Quem ganha mais de R$ 325 mil por ano é beneficiado por aberrações de nosso sistema tributário. A alíquota entra em ritmo de queda, e cai de 12% para 7% para quem ganha anualmente mais de R$ 1,3 milhão.

Por quê? Porque a maior parte dos rendimentos dos mais ricos provém de lucros e dividendos isentos para pessoas físicas!

O resultado é a brutal distorção: a parcela 0,05% da população brasileira (100 mil pessoas) paga, proporcionalmente à sua renda, menos imposto que 5,8 milhões de pessoas que ganham mais de R$ 81,4 mil por ano.

A solução, diz o estudo, não reside apenas em criar alíquotas mais altas para quem ganha mais, o chamado imposto progressivo. É preciso mudar todo o sistema tributário brasileiro.

A maior parte da renda dos 100 mil mais ricos não deriva do trabalho, como acontece com o comum dos mortais, sujeitos à alíquota progressiva. Dois terços dos mais ricos são isentos!

Nosso sistema tributário figura entre os 15 mais injustos do mundo, porque concentra renda no topo da pirâmide social em vez de distribuí-la. Hoje, a carga tributária responde por 33% do PIB.

A Receita Federal cobra muito das empresas, mas quase nada das pessoas físicas e da renda patrimonial dos ricos. Como os empresários exercem poder sobre o governo, obtêm com frequência isenções tributárias e perdões de dívidas.

Criar alíquotas para lucros e dividendos pode resultar na redução de nosso sistema produtivo. O dinheiro migrará da produção para aplicações financeiras.

Já os impostos indiretos, embutidos no consumo de bens e serviços, pesam mais no bolso dos mais pobres. Os 10% mais ricos da população abocanham 47% da renda nacional e respondem por 43,7% da arrecadação. Os 10% mais pobres ficam com apenas 0,7% da renda nacional e respondem por 1,6% da arrecadação.

A tributação indireta sacrifica mais os pobres porque eles não conseguem poupar, enquanto os ricos investem o excedente de seus ganhos no mercado financeiro. Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), 53% das famílias brasileiras não conseguem fazer poupança. Apenas 10% das famílias poupam com regularidade. Em média 20% de sua renda anual.

Nos países mais desenvolvidos, que pertencem à OCDE, os mais ricos são tributados de modo mais justo. Os impostos indiretos, embutidos em bens e serviços, respondem, em média, por 34% da arrecadação. No Brasil a mordida do Leão responde por 53%!

A Receita Federal alega que é mais fácil arrecadar os impostos indiretos. Ora, com as novas tecnologias é possível tributar menos o consumo e mais a renda e o patrimônio. Falta é vontade política.

Um estado como São Paulo concede, com frequência, desoneração do ICMS sem prejudicar a arrecadação, o que não podem fazer os estados mais pobres.

Ao comparar a tributação de duas famílias que ganham dois salários mínimos por mês, uma em São Paulo e outra no Pará, constatou-se que a do Pará paga o dobro de impostos sobre alimentos do que a família de São Paulo.

O governo brasileiro não obedece aos princípios de capacidade contributiva, seletividade e progressividade dos impostos, previstos na Constituição de 1988. Segundo o princípio da seletividade, os governos teriam a obrigação de aplicar alíquotas menores a produtos essenciais, como cesta básica. A energia elétrica, um produto essencial, tem tributação alta.

As distorções de nosso sistema tributário afetam a Previdência. A participação dos contribuintes que ganham acima de dez salários mínimos por mês na arrecadação do INSS caiu de 31,5% em 1988 para 2,7% em 2015!

Não falta dinheiro para desenvolver o Brasil. Faltam governo, justiça social e iniciativa privada mais voltada à coletividade.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O QUE OS BRASILEIROS PENSAM


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Em meados deste ano, o Banco Mundial divulgou relatório com o subtítulo "Quando os sonhos encontram a realidade". Ali admite que os anos 2003 a 2014 foram de bonança para a América Latina. Período em que o continente era majoritariamente governado por partidos progressistas, cujas economias se fortaleceram favorecidas pelas exportações de commodities e programas sociais adotados.

O número de pessoas que viviam com menos de US$ 5,5 por dia (R$ 21 ou menos de R$ 630 ao mês) caiu 45,6% em todo o continente. No Brasil, 39,6 milhões de pessoas saíram da pobreza no período, graças ao aumento de empregos e a programas sociais, como o Bolsa Família.

O relatório, contudo, menciona que, entre 2014 e 2017, a pobreza no Brasil voltou a crescer três pontos percentuais, ou seja, em apenas três anos 7,4 milhões de pessoas retornaram à pobreza na época em que o governo abraçou um rumo mais neoliberal.

A partir de então, a situação social de nosso país só se agravou e atingiu a alarmante cifra de 13 milhões de desempregados. Para sair da crise, o Banco Mundial recomenda tudo que os nossos governos não têm feito nos últimos três anos: diversificar a economia; modernizar a indústria; investir em inovação; aprimorar o sistema educacional; e reduzir a dependência do país aos ciclos de commodities. E aconselha que, em momentos de crise, sejam adotadas medidas como o seguro-desemprego.

Também em meados deste ano, a Oxfam Brasil, em parceria com o DataFolha, divulgou o resultado de intrigante pesquisa de opinião pública, feita em fevereiro: 86% dos brasileiros consideram que o progresso do país depende de políticas de redução da desigualdade entre ricos e pobres, questão até agora ignorada pelo governo Bolsonaro. Ou seja, o Estado precisa, sim, interferir na questão social. No entanto, 57% não acreditam que a desigualdade será reduzida nos próximos cinco anos, embora 77% sejam favoráveis ao aumento de impostos dos mais ricos para financiar políticas sociais.

Há décadas estão parados no Congresso projetos para taxar as grandes fortunas, como proposto pelo artigo 153 da nossa Constituição. Os mais ricos gozam de mais isenções de impostos e, proporcionalmente, pagam menos que os mais pobres. Em 2018, as isenções atingiram a cifra de R$ 908 bilhões. A Oxfam registra que, ano passado, cinco brasileiros possuíam uma fortuna igual à soma da renda de 105 milhões de brasileiros, metade da população do país. São eles: Jorge Paulo Lemann, Joseph Safra, Marcel Hermann Telles, Carlos Alberto Sicupira e Eduardo Saverin.

O que é preciso para ter uma vida melhor? Dois em cada 3 brasileiros responderam: "fé religiosa", "estudo" e "acesso à saúde". É curioso assinalar que a renda não foi apontada como prioridade. Apenas 8% citaram "ganhar mais dinheiro".

Em relação às mulheres, 64% concordam que elas têm renda menor do que os homens, enquanto 52% acreditam que os negros ganham menos do que os brancos por serem negros. A convicção de que o preconceito continua arraigado em nossa cultura é muito forte, pois 72% estão convencidos de que a cor da pele influi na contratação pelas empresas, e 81% de que os negros sofrem mais abordagens policiais do que os brancos.

Embora a realidade, infelizmente, não desminta os dados acima, é louvável constatar que 86% dos brasileiros discordam da opinião de que mulheres não devem trabalhar fora, e sim se dedicar aos cuidados dos filhos e da casa.

O brasileiro, contudo, é otimista. Embora 65% se localizem nas categorias "classe média baixa" ou "pobre", 70% acreditam que dentro de cinco anos estarão entre a "classe média" ou a "classe média alta". Dentre os que têm renda mensal individual de até 1 salário mínimo, 68% acreditam que estarão entre as classes médias até 2024.

Os que admitem que nos últimos cinco anos foram rebaixados de classe social são 17%. As causas são perda de renda da família (43%); desemprego (39%); educação insuficiente (20%) e por habitarem em locais inapropriados (12%). Para 74% um jovem cujo endereço fica na periferia tem menos chance de obter um emprego.

São dados preocupantes e que retratam bem a nossa realidade. Resta nos convencermos, como no Chile de que governo é como feijão, só funciona na panela de pressão.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

UM VOTO CONTRA O BRASIL MAIS IGUAL


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Sei que vou escrever um clichê ao dizer acho que devo estar em um universo paralelo, mas não consigo encontrar outra maneira de voltar ao tema do julgamento da segunda instância.

O Brasil tem uma Constituição e nela está escrito com todas as letras que "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". Não existe margem a interpretação, está claro e óbvio o que isto significa, então o que é que este pessoal do STF está julgando?

Mais do mesmo: Artigo 283 do Código de Processo Penal, "Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva."

Qualquer pessoa leiga em direito, como eu, que saiba ler em português e tenha estudado em algum momento de sua vida, interpretação de texto, poderia compreender o que está escrito e se interpelada a explicar diria simplesmente que não se pode prender ninguém até que tenha sido julgado o último recurso.

Ninguém está pedindo ao STF a opinião dos ministros. Não está em julgamento se as leis estão certas, se elas se aplicam de acordo com a classe social do sujeito, ou se são justas. Não questionamos eles quantas pessoas serão libertadas, ou se elas servem para combater a corrupção. Tampouco a minha opinião sobre a lei, ou a sua, interessa.

Volto ao clichê. Só posso estar em um universo paralelo onde juízes do STF não estudaram interpretação de texto, não sabem ler em português, ou são a raposa tomando conta do galinheiro. Nossa Constituição está nas mãos de juristas que se acham acima dela.

O Brasil está muito doente. Ninguém poderia estar acima da lei, todos deveriam ser iguais perante ela, mas está claro que existem os mais iguais e os menos iguais. Dependendo do que desejam os ministros, e quais são os interesses envolvidos, a lei pode ser descaradamente distorcida, ou o que é pior, totalmente desprezada.

Por mais que procurem esconder, é no presidente Lula que estão pensando. É ele que está sendo julgado quando votam a favor da prisão em segunda instância. Sua sombra está presente em cada argumento que usam para amparar seu voto anticonstitucional. Tudo o mais é confeitaria.

O brasileiro também está doente. Um país com mais de 12 milhões de desempregados e com 30 milhões vivendo na informalidade, não consegue reunir mais do que alguns milhares para protestos contra este governo de lunáticos. Com suas vidas sem a menor perspectiva de melhora ficam em suas casas aguardando por um milagre.

Nos países vizinhos o povo enfrentando o aparato bélico de segurança do estado nas ruas, desafiando toque de recolher, colocando suas vidas em risco para dar um basta a política neoliberal, e o brasileiro incapaz de mostrar sua indignação. Nem o fim de seus direitos, de sua aposentadoria, de seu futuro, nada parece capaz de acordar o gigante adormecido.

Com tudo que estamos assistindo o Brasil aumentou o número de ricos. O capital não desapareceu, ele apenas mudou de mãos. Saiu do bolso dos mais necessitados e foi para o bolso dos mais ricos. Simples assim.

Então, quando estão de fato julgando o Presidente Lula, entenda que está em julgamento o que ele representa, um país mais justo para todos. Um país onde foi dada uma chance para você crescer na vida, ter condições de estudar, trabalhar e se aposentar com dignidade. Um país mais justo socialmente. Cada voto a favor da prisão em segunda instância, em desacordo com a lei, é um voto contra um Brasil mais igual.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

NOSSAS RESPONSABILIDADES NEGLIGENCIADAS.

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Nós, que vivemos os tempos empolgantes do final dos anos 1960 e da década de 1970, muitas vezes nos perguntamos o que acontece com as novas gerações. Queríamos mudar o mundo, respirávamos utopia, apostávamos todas as fichas na luta por um mundo melhor. E ficamos perplexos por não ver essa mobilização acontecendo com nossos filhos e netos, que nos parecem por vezes refém de uma passividade imediatista que só deseja sorver o presente e cujo horizonte mais e mais se encurta.

A sexta-feira da greve global pelo clima mudou esse nosso olhar e transformou igualmente a percepção de nossa geração sobre o imenso desafio que temos pela frente. As crianças e os jovens nos disseram o que os mobiliza, o que os apaixona, o que os faz perder noites de sono e ir às ruas cheios de esperança. Trata-se do futuro do Planeta, da Mãe Terra, do habitat nosso e de todos, da Casa Comum.

A liderança foi da ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos. Desde seus 15 anos Greta faz greve às sextas-feiras diante do Parlamento de seu país em favor do clima e contra a indiferença dos governos à ameaça que paira sobre o planeta. A greve foi convocada e a resposta surpreendeu: mais de 130 países aderiram, milhares de pessoas foram às ruas exigir medidas concretas contra a destruição do planeta.

A esmagadora maioria desses manifestantes é jovem, alguns recém-saídos da infância e entrando na adolescência. O futuro do planeta os mobiliza, e eles e elas mostram aguda consciência do perigo que correm todos os humanos e todos os seres vivos se não for detida a destruição massiva que está em curso com o aquecimento global, as emissões de combustíveis, o desmatamento descontrolado e outras ocorrências que se multiplicam. Todos esses preocupantes sinais são impulsionados por um sistema que só visa lucro a qualquer preço e padece de crônica miopia por tudo que se situe além do imediatismo e do curto prazo.

Entre os pensadores que refletem sobre o tema e dão as pautas a esse movimento está o Papa Francisco, que com sua encíclica publicada em 2015, Laudato Si, faz uma aguda análise da situação da ecologia em nível mundial. Mas além disso adverte que aquilo que afeta o planeta, toca sobretudo nos mais vulneráveis de seus habitantes: os pobres, os oprimidos de toda sorte que são as primeiras vítimas da destruição da casa comum.

Além de denunciar o mal que faz a destruição do planeta aos pobres da sociedade, a Encíclica apresenta a Terra como um desses pobres e vulneráveis, vítima de um progresso desordenado e desenfreado. Já no início do documento, Francisco afirma que "entre os pobres mais abandonados e maltratados, está nossa oprimida e devastada terra, que geme e sofre dores de parto". Destacando a luminosa figura de Francisco de Assis, cujo cântico das criaturas dá o título à encíclica – Laudato sì – o Papa relembra que ele era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e em uma maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Alguém que mostra até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça com os pobres, o compromisso com a sociedade e a paz interior.

A visão dos milhares de jovens e adolescentes manifestando e pedindo pelo planeta tinha a forma de uma grande liturgia. Ali está a utopia de sua geração, sua paixão, aquilo pelo qual estão dispostos a tudo. De seus corpos e bocas saía a expressão da verdade que denuncia a hipocrisia e a irresponsabilidade dos poderes destruidores da terra e da vida.

A multicolorida manifestação evoca uma frase do Evangelho de Mateus: "Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos suscitaste louvor'". A indignação dos meninos é louvor ao Senhor da vida, cujo Espírito sopra e anima tudo que existe. E que deseja ver sua criação desabrochada e bela, jorrando vida em plenitude àqueles que a habitam.

A jovem Greta passeou sua liderança indignada pelas ruas de Nova York e na sede das Nações Unidas fez um dramático apelo a todos nós. Legamos à sua geração um mundo dizimado por duas guerras mundiais e estamos a ponto de destruir para sempre o planeta onde ela e seus filhos habitarão.

É triste que essas crianças e jovens devam interromper sua infância e juventude, prejudicar sua escolaridade, para lembrar-nos de nossas responsabilidades negligenciadas. Mas ao mesmo tempo é fonte de muita esperança que o façam com tanta paixão e tanto compromisso.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

DEUS OU O DIABO.


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Sempre desconfiei dessa ciência influenciada pelo marxismo. Se a Terra fosse redonda e girasse em torno do próprio eixo, no mínimo deveríamos sentir tonturas. Esse preconceito contra o geocentrismo de Ptolomeu decorre dos malévolos conceitos paulofreirianos assumidos por Copérnico e Galileu. Eles adotaram o princípio marxista de que o lugar social determina o lugar epistêmico, e ao retirar os pés da Terra para fixá-los no Sol, inventaram a teoria do heliocentrismo. Ora, basta erguer os olhos ao céu e constatar que o Sol gira em torno da Terra, caso contrário não haveria dia e noite.

Não há nada de anacronismo quando acuso Copérnico e Galileu de influência marxista. Nosso chanceler, Ernesto Araújo, já demonstrou que as teorias de Marx, tão perniciosas, precedem o próprio Marx, pois, segundo ele, o "marxismo cultural globalista" teve como marco inicial a Revolução Francesa.

Outro absurdo pretensamente científico, que espero seja corrigido pela Escola sem Partidos, é a teoria de que nós, seres humanos, descendemos dos símios. Somos descendentes diretos de Adão e Eva! Está na Bíblia! Decorremos da Criação divina, e não desses macacos que se dependuram com o rabo nos galhos, enquanto descascam bananas com as mãos.

Sim, sei que Adão e Eva tiveram dois filhos homens, Caim e Abel. O fato de estarmos aqui se explica porque ao menos um deles transou com a mãe. Contudo, na época o incesto ainda não era pecado. No máximo, um mal necessário, como hoje a liberação de armas de fogo para a defesa da vida.

O marxismo é como essas partículas de poeira que flutuam no ar e são vistas apenas quando forte incidência de raio solar atravessa à nossa frente. Toda a nossa cultura, em especial a história e a arte, está contaminada pelo marxismo. Afirmar que Moisés libertou os escravos do Egito é pura ideologia. Não havia escravos às margens do Nilo, havia servos. E o grande feito de Moisés não foi libertar escravos, e sim abrir caminho para os hebreus, em terra seca, entre as águas do Mar Vermelho (que, de fato, era ocre, mas a influência comunista...).

Não existe Estado laico. Há que se definir, ou é de Deus ou é do diabo. É pura ideologia colocar a ciência acima da fé e afirmar que o Estado é laico em uma nação cristã.

Já que o superministério da Economia já sabe como reduzir o desemprego, e os problemas de saúde podem encontrar cura na igreja da esquina, faz bem o governo em liberar, como primeiro grande gesto da nova gestão, a posse de armas! O Estado precisa conter gastos e a segurança pública é onerosa. Melhor que cada cidadão se defenda como pode!

E se uma criança acessar a arma do pai?, indagam mães preocupadas. Ora, esclarece o ministro, arma é menos perigosa que liquidificador. No entanto, não se cogita descartar esse eletrodoméstico. O que faltou ao ministro explicar é que, como o nome do aparelho alerta, liquidificador, além de triturar tenras mãozinhas, é uma arma indelével, fica a dor...

Ora, chegou a hora de dar um basta nessas ideologias nefastas que confundem a cabeça do povo. O politicamente correto é científica e teologicamente incorreto.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

HÁ PERSEVERANÇA ONDE HÁ ESPERANÇA.

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Viktor Frankl (1905-1997), psiquiatra austríaco fundador da logoterapia, tinha por hábito indagar após ouvir o desabafo de seus pacientes: "Por que você não se mata?" Sim, se a vida é tão sofrida e os problemas parecem insolúveis, por que insistir em continuar vivendo?

Havia sempre um "gancho", uma razão que impedia a pessoa de dar fim à existência: "Não me mato por causa de minha filha"; "Porque tenho fé"; "Porque quero acabar de pagar as prestações do imóvel de minha família" etc.

O que diferia Frankl de Freud é que este considerava a frustração sexual causa de muitas angústias, enquanto o primeiro apontava como causa a vontade intencional, ou seja, a falta de sentido para a existência.

Quantos jovens demonstram, hoje em dia, angústia diante da vida? Fazem terapia, vivem sob medicação, movem-se de uma atividade a outra sem que nenhuma delas os satisfaça. Alguns se refugiam no álcool ou nas drogas, como se a vida fosse um peso insuportável que exige muleta como ponto de apoio. Outros, como os assassinos, transformam o ressentimento em violência letal, sacrificando vidas alheias e as próprias.

Não lembro de ter visto tanto desalento juvenil na década de 1960. Talvez porque a geração dos "anos dourados" fosse viciada em... utopia! Não queriam mudar apenas o corte de cabelo e os ditames da moda. Queriam mudar o Brasil e o mundo.

Então, o adjetivo novo definia o otimismo reinante – a bossa nova, o cinema novo, os Novos Baianos etc. Consumir ideias e cultura era mais importante do que adquirir um carro novo.

O neoliberalismo, em doses cavalares de hedonismo e consumismo, consegue agora narcotizar boa parcela da juventude entre 15 e 30 anos. Parcela que ancora seus sonhos em torno de quatro supostos valores: riqueza, beleza, fama e poder. Nem todos querem tudo. As preferências recaem no sonho de ficar rico e preservar uma aparência física sedutora de quem descobriu o elixir da eterna juventude.

Há, contudo, enorme contingente de jovens que, apesar das dificuldades que enfrentam (falta de renda, emprego, estudos qualificados) sentem-se felizes por abraçarem um projeto de vida. Encontraram um sentido pelo qual a vida vale a pena.

Há aqueles cujo sentido é meramente de caráter pessoal, como se tornar um bom profissional ou constituir uma família. Muitos, porém, têm um sentido altruísta, fazem de suas vidas um serviço para que outros tenham vida. É dessa seara que brotaram pessoas como Betinho, Chico Mendes, Marielle Franco, Gandhi, Mandela e Luther King.

Entre os jovens que se engajam em projetos sociais há aqueles que, dotados de ideologia elitista, se empenham em aprimorar os mecanismos institucionais que visam a reprimir e combater os efeitos nocivos da desigualdade social (menores infratores, criminalidade etc), sem jamais se perguntarem pelas causas de tais males.

E há aqueles que, sensibilizados pelos efeitos, se mobilizam para atacar as causas. Estes são tidos como inimigos pelo neoliberalismo. Daí a Escola Sem Partido, a militarização da educação, os ataques a todos aqueles que ousam denunciar que o rei está nu.

O fato é que só há perseverança onde há esperança. E mais temem a morte aqueles que menos souberam dar valor à vida.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

QUEM VAMOS CHAMAR, QUAL SERÁ A CURA?


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No plano internacional, o Uruguai aprovou de lei que autoriza o plantio e a venda de maconha pelo Estado, legalizando e estatizando a produção e distribuição da droga.

Segundo as autoridades uruguaias, a medida é mais uma tentativa de reduzir a corrupção e a violência, numa batalha que, pela via do enfrentamento com os traficantes, o Estado já perdeu. Como vemos, o assunto é mais que polêmico. Países de primeiríssimo mundo, como a Suíça que tem um dos mais altos índices mundiais de consumo per capita de drogas, já implementaram programas de redução de danos nos mesmos moldes, com resultados discutíveis. Ficou famoso o "needle park" (parque das agulhas), uma praça bem no centro de Zurique, onde viciados e usuários podiam se picar livremente. Mas a situação começou a fugir do controle, aumentou o índice de criminalidade na região e as cenas deprimentes de jovens caídos pelos cantos da praça, os recorrentes casos de overdose, tudo começou a se tornar agressivo demais aos olhos daqueles que eram contra o uso de entorpecentes.

Experimentou-se, então, a criação de salas para injeção supervisionada de heroína, onde cerca de 3 mil usuários problemáticos dessa droga passaram a recebê-la gratuitamente. O governo baseava-se na avaliação de que, quem abusava da heroína, ao recebê-la legalmente, não precisaria recorrer a crimes como roubo e furtos, nem seria mais um "cliente" dos traficantes de drogas.
Segundo algumas fontes, num primeiro momento, o número de novos usuários caiu e cerca de 30% dos dependentes chegaram a deixar a droga. Por outro lado, aqueles em estado avançado já não tinham consciência para administrar em si mesmos qualquer medida de redução de danos.

Poderíamos avançar ainda mais na análise de outros dados e experiências, mas temo que o problema continuaria sem uma solução clara e definitiva. Em relação às drogas, sabemos bem onde erramos, mas não conseguimos ainda definir como e onde podemos acertar. Talvez porque não haja, mesmo, uma única resposta ou solução.

Dito isso, gostaria de acrescentar apenas mais uma reflexão. Em meados dos anos 1970, o Brasil passava por uma ampla reforma no Sistema de Ensino implementada pelos militares, então no poder. É bom lembrar que o país tinha, à época, 100 milhões de habitantes a menos do que tem hoje. Dentre várias medidas decretadas, uma foi a obrigatoriedade da inclusão do ensino profissionalizante no que hoje é o Ensino Médio. A ideia era boa. Num país que, aos poucos, ia mudando do campo para a cidade, era preciso qualificar mão de obra que contribuísse na construção do "Brasil Grande" dos generais.
Segundo os teóricos do modelo, o aluno, ao terminar o Ensino Médio, teria, além do ensino acadêmico tradicional, formação técnica que lhe permitisse enfrentar o mercado de trabalho e garantir sua subsistência, entrasse ou não na Universidade, naquela época, um sonho para poucos.
Essa era a teoria. Já a prática...


Vou falar da realidade que vi e vivi. Grandes colégios particulares correram a cumprir as exigências legais e montaram modernos e avançados laboratórios, aparelhados para oferecer cursos técnicos de primeiro nível a seus alunos.
Só que... aluno do Colégio X não queria ser técnico de análises queria se médico.Aluno do Y  não queria ser técnico em edificações, queria ser engenheiro.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, nas escolas da periferia onde estava o público ansioso e carente por esse tipo de formação, não havia verbas, estrutura, nem pessoal habilitado. Sem laboratórios, sem professores capacitados, sem material, os cursos eram oferecidos para inglês ver e general aplaudir, dizendo: ninguém segura esse país! Tudo isso me faz pensar que continua grande a distância entre as ideias brilhantes das cabeças iluminadas confortavelmente instaladas nos gabinetes do poder e a realidade do país. Tivemos exemplo recente disso, quando as ruas ferviam com as manifestações e protestos enquanto nossas "autoridades constituídas" discutiam projeto de 'cura gay' e passeavam em jatinhos da FAB com a família.

Oferecer uma seringa descartável e uma garrafa de água destilada a quem não tem consciência sequer de si mesmo, não vai reduzir dano algum. Queria que a solução fosse fácil assim, mas não é.

Qualquer proposta de mudança no quadro teria que passar, primeiro, por uma discussão ampla, geral e irrestrita sobre o modelo de sociedade que estamos produzindo, essa verdadeira fábrica de candidatos à dependência química e psicológica, de drogas farmacológicas ou não, lícitas ou ilícitas, sociais ou clandestinas. Do punk da periferia à patricinha de shopping, da pedra de crack ao capítulo da novela, a droga corre solta. O que fazer?

A mistura de incentivo alucinado ao consumo com carência e miséria, as imagens televisivas e as vitrines sedutoras exibindo, despudoradas, as maravilhas do mundo capitalista, quando confrontadas com desemprego, subemprego, educação precária, cultura imbecilizante, oportunidades e salários mínimos, tudo isso pode gerar um resultado explosivo.

Um "grande filósofo contemporâneo", Silvester Stallone, o Rambo, criou outro personagem na mesma linha, o Cobra, um policial cuja missão e prazer era exterminar bandidos. Diante deles, dizia: "você é a doença, eu sou a cura". E despejava chumbo no meliante para alegria da plateia ensandecida.

A doença das drogas está aí, à vista de todos. A quem vamos chamar, qual será a cura?

domingo, 20 de outubro de 2019

DESCANSAR...


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Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta. Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.

Entramos no tempo em que o  mundo  é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim. Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado.

Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos? Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos.

Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria. Em tempos de hoje, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar. Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ANSIEDADE: UM DOS MAIS TERRÍVEIS SENTIMENTOS.


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"Eu digo a vocês: não andem ansiosos pela vida... Não fiquem inquietos e perturbados por causa do dia de amanhã, pois o amanhã trará consigo seus próprios problemas e necessidades; o dia de hoje já é pesado o suficiente para que se antecipe as preocupações do amanhã." Jesus (Mt 6:25,34)

Todos nós vivemos a vida em três tempos: passado, presente e futuro. Por isso, em certo sentido, o nosso ser é formado pelo nosso eu-passado(quem eu fui), eu-presente(quem eu sou) e eu-futuro(quem eu idealizo que serei). Apesar de viver no presente somos constantemente influenciados pelas sombras do passado e excitados pelas fantasias e preocupações do futuro. Daí nascem as raízes mais profundas da nossa infelicidade: a nossa incapacidade de ser e viver no presente sem precisar recorrer ao passado e ao futuro. Mas também, nasce dessa incapacidade de nos manter no presente, a nossa ansiedade.

A ansiedade, um dos mais terríveis sentimentos a assolar o coração humano, acontece quando o nosso eu-futuro cresce tanto ao ponto de anular o nosso eu-presente. Sendo assim, tudo quanto ainda não aconteceu ocupa toda minha atenção e canaliza toda minha energia. O meu interior é totalmente habitado por ocupações prévias, pré-ocupações, desencadeando uma adrenalina e uma tensão emocional capaz de roubar a paz, sonhos e a serenidade. A ansiedade mata o presente, faz adormecer o hoje, anestesia o agora e em troca, dá vida ao futuro, acorda o amanhã e centraliza-se no depois.

A ansiedade provoca em nossa vida uma reação emocional em cadeia muito perigosa! A ansiedade gera a necessidade de controlar. O controle gera um forte acúmulo de atividades. O ativismo gera uma tendência à manipulação. A manipulação conduz a tentar dar um jeito para que tudo saia do meu jeito. O resultado final, os elos últimos desta corrente, serão a frustração, o cansaço e o vazio!

Mas essa não é a proposta de Deus para as nossas vidas! Ele nos convida a viver a vida longe da ansiedade(não andem ansiosos); sugere que vivamos unicamente o dia de hoje, pois é ilusão tentar antecipar o amanhã, posto que, o único tempo possível de ser vivido é o hoje, o amanhã quando chegar será transformado no hoje (não fiquem inquietos); ainda insiste que enfrentemos os muitos problemas e preocupações de hoje, pois o amanhã trará os seus.

Seguir essa proposta de Jesus é substituir aquela reação emocional em cadeia, por uma reação espiritual: a serenidade, o reverso da ansiedade, nos leva ao equilíbrio de fazer e se ocupar somente do que é possível, este equilíbrio nos conduzirá a aceitar circunstâncias e pessoas, o que nos conduzirá deliciosa descoberta que nem tudo precisa ser do nosso jeito. O resultado final, os elos últimos desta corrente espiritual serão, a paz, o descanso e a presença viva de Jesus no nosso coração!

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

O BRASIL INFELIZMENTE É UM EXEMPLO.

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Aprende-se desde que se abre os olhos para a vida que a única certeza para os seres humanos é a morte. No fundo, isso é o que nos diferencia de todos os outros seres da criação. Todos morrem. Os seres vivos nascem, crescem e morrem. O ser humano, porém, entre todos, é o único que sabe que vai morrer. E por isso passa seu tempo e seus dias em busca de um sentido para esta vida que desejaria interminável e para sempre, mas que vai acabar, mais cedo ou mais tarde.

Por isso, a ciência pesquisa e se debruça incansavelmente sobre os vírus, germes e desordens corporais, buscando meios de cura de todas as doenças: as antigas e as novas. É grande o avanço feito, não só para a cura de enfermidades antes consideradas fatais, como também na prevenção de doenças. Os aparelhos de última geração realizam exames profundos e acurados, que detectam doenças ainda no estágio bem inicial, aumentando as probabilidades de tratamento e cura.

Infelizmente esses avanços da medicina não chegam a muitos, senão a todos os hospitais públicos brasileiros. Ou porque não dispõem de modernos e precisos aparelhos, ou porque os mesmos estão enguiçados.

Isso transforma a vida dos doentes e suas famílias em um calvário de incertezas e sofrimento por não conseguirem sequer um diagnóstico e não saberem o tratamento a ser seguido. A morte muitas vezes chega antes do que a técnica e a torna inútil.

Assim aconteceu com pessoas de minha relação em um hospital público da região. Omito os nomes por respeito a eles e a sua dor tão recente. O doente era um homem de cinquenta e alguns anos, forte e aparentemente sempre saudável. Trabalhava em oficina onde lidava muito com tinta, e o fazia sem a proteção de uma máscara.

Provavelmente a inspiração da tinta danificou seu pulmão. Um dia sentiu-se muito mal e teve que ser internado. Mas os sintomas que o fizeram chegar à internação poderiam igualmente ser cardíacos. O fato é que não se conseguia chegar ao diagnóstico e, portanto, ao tratamento. Os dois aparelhos de ressonância magnética do hospital não funcionavam. Havia requerimentos empilhados na mesa da prefeitura sem que o conserto fosse providenciado. O estado do doente piorava dia a dia, até que os médicos o sedaram e o entubaram, enquanto aguardavam o momento de poderem fazer o exame.

Ainda assim o estado dele piorou e decidiu-se que deveria ser transferido urgentemente para outro hospital. Porém, já muito fragilizado não poderia ir em ambulância comum, era necessário uma UTI móvel. Duas vieram, duas voltaram; os monitores de ambas estavam enguiçados. Sem recursos para buscar um atendimento particular, a família, os amigos e a comunidade eclesial faziam corrente de oração e perdiam horas nas filas de atendimento dos órgãos públicos.

Enquanto se buscava uma terceira ambulância que funcionasse, o paciente morreu. Sua esposa e filhos, extremamente abalados pela brutalidade e celeridade do processo, atordoados, se perguntavam sobre o que afinal tinha causado a morte dele. Não se sabia. Com os aparelhos quebrados, os médicos não conseguiram precisar um diagnóstico. Havia apenas suspeitas. Suspeita de tumor, de cardiopatia, de pneumonia. E de suspeita em suspeita, sem que nada pudesse ser comprovado, a morte se antecipou e invalidou todos os esforços e expectativas.

A impotência diante da morte que poderia talvez ter sido evitada se houvesse o acesso ao tratamento adequado nos faz voltar às perplexidades que instigaram o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, nos anos 1970. Como pode os pobres não gozarem dos direitos mais elementares, entre eles o direito à vida? Como pode uma parcela significativa da humanidade ser ignorada como se não contasse, não fosse um sujeito e um cidadão?

Infelizmente, isso é o que ocorre em várias partes do mundo, inclusive em nosso país. Tantos decênios e mesmo séculos após a revolução industrial, em plena pós-modernidade, o pobre continua a ser o insignificante, a não pessoa, aquele que não tem direito a ter direitos. E as instâncias que têm por missão atendê-lo, servi-lo, garantir sua vida, sua saúde, seu bem-estar encontram-se em total estado de carência e vulnerabilidade. Sem aparelhos, sem ambulâncias adequadas, sem instrumental cirúrgico, para que serve um hospital? Para ser um campo de concentração de agonizantes, que gemem e sofrem sem esperança de melhora?

A pobreza é algo contra a vida, é morte prematura e injusta, morte física e cultural, afirmou Gustavo Gutierrez, pai da Teologia da Libertação. A suas palavras acrescenta o Pe. Peter Hans Kolvenbach, filólogo holandês, ex superior geral dos jesuítas: “A pobreza no mundo é um fracasso da criação”. Este fracasso não é espontâneo, mas fabricado. Gerado pela injustiça, carcome a criação por dentro, atrasando a vida em plenitude que Deus deseja para todos e retardando o momento quando Deus será tudo em todos e não haverá mais pranto nem tristeza. A saúde pública no Brasil infelizmente é um exemplo sombrio desse atraso.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

DIA DO MESTRE COM PROFUNDA TRISTEZA

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Não deixa de ser algo melancólico que em pleno mês de outubro, no qual se comemora o Dia do Mestre, estejamos vivendo esse clima surreal e iníquo dos enfrentamentos entre professores e polícia nas ruas. E quando a violência passa a presidir os acontecimentos, a melancolia se transforma em indignação e até mesmo em raiva.


Não sou professor mas empenho toda a minha solidariedade aos grevistas.  O que se passa na rede pública é, no mínimo, vergonhoso para falar de maneira delicada e discreta. Vejo Mariana, menina de doze anos, filha de Ana, que mora perto de minha casa, sem aula há mais de um mês. A mãe se preocupa. E realmente isso não é bom. Mas o fato de Mariana estar sem aula é apenas a ponta de um processo que se arrasta há anos, há décadas de aviltamento do salário e da carreira daqueles que deveriam ser os profissionais mais valorizados de toda a cidade, de todo o país.


Que profissão é mais importante que a de professor? O que pode ser mais fundamental em uma sociedade do que a educação, a formação das pessoas, do que aqueles que as ajudam a ingressar na cidadania, nos direitos humanos, no amplíssimo universo do saber? O que pode ser mais importante do que a produção e transmissão de conhecimentos? O que faz um país senão isso?

O professor é a chave de uma sociedade livre, democrática, politizada e autônoma. Sem educação não se pode pretender ser povo de cabeça erguida, que analisa a realidade, tira conclusões e toma decisões. Sem educação não se constrói uma nação.

Muitos homens públicos têm batido nesta tecla repetidamente. Alguns já morreram, como o grande Darcy Ribeiro. Hoje temos Cristovam Buarque que não fala nem escreve sobre outra coisa, esperando que um dia resulte. E os mais jovens: Chico Alencar, entre outros. Parece não adiantar. Tudo indica que só prosperam aqui os programas eleitoreiros, dos resultados imediatos, que não visam a transformações profundas e a longo prazo.

As crianças vão à escola e têm uma porcentagem ínfima das aulas que deveriam ter. Algumas vão por causa da merenda, pois o boletim, ao final do ano, está coalhado com a maldita sigla que indica o desleixo pela educação fundamental : SP ( Sem Professor). E um professor tem que correr cidade afora com duas ou três matrículas para trabalhar em dois ou três estabelecimentos e forçosamente prejudicar a qualidade do ensino que o aluno receberá na outra ponta.

Isso é o dia a dia triste e desanimador da educação brasileira. Mas quando a categoria vai às ruas, faz greve por melhores salários e condições de trabalho e além de não conseguir o que reivindica apanha, aí já é demais. É simplesmente indecente ver professores com o rosto ensanguentado por haver defendido um colega contra a truculência da polícia. Dá vontade de chorar ver professoras com anos de sacrificado e meritório magistério sendo contidas por policiais armados e protegidos por escudos.
Talvez muitos deles, muitas delas, tenham ensinado àqueles que hoje os atacam. Muito provavelmente, por terem estudado em escola pública, vários desses que hoje servem a um Estado injusto e violento, sentaram-se nos bancos da sala de aula onde eles e elas ensinavam. E o conhecimento que têm e que lhes permitiu fazer um concurso público, devem a seus professores, que com todas as dificuldades, devido às péssimas condições e baixos salários, transmitiram o que era possível.

É perfeitamente compreensível desejar a manutenção de ordem nas ruas e a ausência de arruaças e quebra-quebra. Mas mandar a PM reprimir os professores armada com spray de pimenta, gás lacrimogêneo e cassetete...sinceramente. Não se está lidando com criminosos, senhores. Nem com arruaceiros profissionais. Diante de vocês estão os trabalhadores da educação que reivindicam melhores condições para poder formar as futuras gerações de brasileiros.

O plano de cargos e salários elaborado pelo prefeito da cidade foi rejeitado. O SEPE, sindicato da categoria, declara que atende a apenas 7% da categoria. Foi justamente esse fato que desencadeou a ocupação da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. No sábado, dia 28 de setembro, a PM retirou à força mais de 100 professores que ocupavam o plenário, a pedido do presidente da Casa. Hoje, o plano foi posto em votação e aprovado, sem a participação dos professores.

Insatisfeitos com a ausência de participação e os resultados, os professores anunciam a manutenção da greve. Os alunos continuam sem aula. E o Rio continua com as escolas vazias e com uma educação de má qualidade. Ausência de bom senso, ausência de diálogo, ausência de justiça.

Enquanto isso, os salários dos políticos sobem, a “evolução patrimonial” de outros atinge níveis estratosféricos. Gastam-se milhões 
para  enfeitar a cidade para  eventos. E, no entanto, a educação amarga dias desanimadores e vê encurtar seus horizontes. As novas gerações não podem esperar grande coisa do futuro. Ações extrínsecas que maquiam o rosto do país são mais importantes que uma educação séria e de qualidade a eles oferecida. De luto por seus professores, o país comemora o Dia do Mestre em profunda tristeza. Oxalá os responsáveis abram os olhos e vejam para onde estão conduzindo o futuro da nação, o amanhã de suas crianças.