quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O FIM DA FARSA.

A farsa chegou ao fim. O tribunal de exceção encerrou seus trabalhos. Consumado está o golpe de estado. Não se esqueçam, porém, os traidores: o impeachment de Dilma Rousseff, longe de solucionar, agravará a crise brasileira.

A presidenta da República do Brasil foi oficialmente afastada e o Congresso Nacional - onde todos os representantes chegam pelo voto popular - numa crise de esquizofrenia política, considerou esbulho a vontade de 54 milhões de brasileiros.

É sim esquizofrênico, um processo onde a ré Dilma Rousseff, contra quem não se provou crime de responsabilidade, é julgada por uma quadrilha cujo chefe, Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, chantageou o governo para salvar a própria pele, após uma explosão de denúncias contra ele.

Dilma não cedeu, por isso sofreu impeachment. Se tivesse cedido e se unido aos mensageiros do atraso entraria para a história como entrarão agora seus algozes.

Seus filhos e netos deles se envergonharão, será difícil caminhar nas ruas porque cidadãos honestos vão escrachá-los ou até cuspir neles.

Que chances tinha Dilma de encontrar justiça num tribunal onde senadores envolvidos na trama do golpe são juízes? Nenhuma, porque este foi um jogo de cartas marcadas. Deputados e senadores pisaram na Constituição e incluíram em seus currículos o título de traidores do Brasil.

O que está por traz de tudo isso é a disputa política entre a luta do PT pelo fim das desigualdades sociais no país e as forças do atraso, de defesa dos interesses das elites. Batalha histórica não só aqui, mas em todo o mundo.

O golpe contra Dilma é também o recado do machismo, do patriarcado, do colonialismo. Em pleno século XXI, eles continuam dizendo: mulher não pode.

Dilma nunca coube no esboço de presidente desenhado pela elite conservadora deste país, que prega o ditado de recatadas e do lar para as ricas e domésticas escravizadas para as pobres.

Página infeliz de nossa história... como diz a música... sobre um outro golpe – aquele militar que prendia, torturava, matava e escondia os cadáveres – este, se repete com uma cara nova: seus aliados são a imprensa, o parlamento e setores do Judiciário.

Suas armas são a omissão, a mentira, o engôdo, os vazamentos seletivos de dados de processos na Justiça, a publicação de gravações telefônicas legais e ilegais, com ou sem permissão da justiça.

Testemunha da última cena do teatro de horrores, na plateia, o autor da canção, Chico Buarque divide lado a lado com o ex-presidente Lula e o ex ministro de Dilma, e ex-governador da Bahia, Jacques Wagner, o cenho franzido e, provavelmente, tristeza na alma.

Aqui os algozes de Dilma não colocaram as mãos nos rostos como na sua juventude, mas a certa altura reclamaram de estarem sendo filmados e fotografados pelos celulares da plateia.

Com certeza prefeririam ficar invisíveis neste momento em que enfrentam uma mulher sexagenária que discursou por 40 minutos e durante horas a fio, cerca de 14 horas, no primeiro dia, derrubou de forma clara e precisa cada uma das falsas acusações ou provocações baratas por parte de senadores intrujões, potoqueiros, engabeladores de seus eleitores e da Nação.

Do lado de fora, sob um sol escaldante desde a manhã da segunda feira, na chegada de Dilma ao Senado, uma multidão resistia, cantando ou gritando palavras de ordem em apoio a ela e ao que representa: a defesa à democracia e à continuidade dos avanços sociais, políticos e econômicos no Brasil.

Dentro do plenário do Senado, Dilma encarou os senadores que a atacavam com a mesma altivez que enfrentou o tribunal militar na época da ditadura.

Quem esperava encontrar uma mulher fragilizada, a ponto de se suicidar, renunciar, ou fugir para o Uruguai, se surpreendeu com uma Dilma altiva e segura.

Dilma não agia como ré, não demonstrava cansaço, desânimo ou impaciência. Em muitos casos suas respostas fizeram suas excelências parecerem decrépitos e confusos.

Surpreendeu a muitos demonstrando didatismo extremo ao responder, sem exceção, a todas as perguntas e comentários, com leis, datas e cifras, derrubando um a um os argumentos contra ela, com firmeza e segurança.
É claro, os golpistas declaravam à imprensa mais tarde que Dilma se repetia, que decorou as respostas, que não convenceu ninguém. Mentira.

Eles sim, faziam as mesmas perguntas, misturavam as estações, jogavam para a plateia um discurso de acusações que nem parte parte do processo fazia. Em muitos casos me perguntei: onde está a assessoria destes senhores que lhes permite se transformar em mico para a Nação?

Em dois dias de julgamento muitas declarações me marcaram pela beleza das palavras, pela lucidez do raciocínio e pela compreensão histórica desse momento, muitas dessas por parte de mulheres senadoras.

O olhar feminino consciente no Senado da República acusou o governo golpista, sem mulheres, de ter tirado do poder a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da República no Brasil, pelo voto direto e democrático.

Houve manifestações, no entanto, que chocaram a mim e certamente ao Brasil pela hipocrisia, pela reincidência de argumentos falsos, pela prepotência em sugerir a retirada de parlamentares que falavam do golpe no plenário, ou pela perfídia das lágrimas de crocodilos vertidas por acusadores, quando a ré se mantinha serena e focada.

Aquela advogada de acusação, até pouco tempo ilustre desconhecida, vaiada em sala de aula por seus próprios alunos e paga pelo PSDB para montar o processo, caiu mais uma vez no ridículo.

Tentou no Senado, criar outro factóide e renovar seus 3 minutos de fama conseguidos na sessão de abertura do impeachment na Câmara, quando gritava em nome de Deus e rodopiava descontroladamente com uma bandeira do Brasil.

Infelizmente, este julgamento foi um jogo de cartas marcadas, com resultado definido antes de começar. Ali não se buscava a verdade, convencer ou ser convencido. O que estava sendo considerado eram os cargos a serem ocupados, as melancias, como disse um senador, que não teve um voto sequer em Brasília, o senhor Hélio José.

O mais grave é que 61 senadores que votaram a favor do impeachment de Dilma se transformaram num colégio eleitoral para substituir 110 milhões de eleitores colocando na presidência da República um impostor, sem legitimidade para ocupar o cargo.

No Brasil não se vota em vice. Os brasileiros votaram em Dilma e em seu programa de governo, que com certeza não será aquele aplicado por Michel Temer.

Claro que não. Temer é cúmplice de Cunha e come no mesmo prato de Romero Jucá, o senador que se licenciou após o vazamento de gravação onde confessa que uma mudança no governo federal resultaria em um pacto para estancar a sangria representada pela operação Lava Jato, onde todos eles deveriam ser investigados.

Deveriam ser, mas com o golpe tudo ocorre conforme o planejado. O ministro do STF, Gilmar Mendes critica desmandos da Lava Jato., criando clima para "estancar a sangria". O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot suspende delações que envolvem políticos envolvidos no golpe, após provocação da Revista Veja. Alguma surpresa? Não.

As máscaras caíram todas. A hora é de seguir adiante. Com coragem e determinação, principal lição deixada por Dilma. O próximo passo deve ser a mobilização da sociedade em torno da luta por eleições diretas em todos os níveis, assim como a realização de uma ampla reforma política.

Quem resolve problema de crise é o povo. Se não querem entender isso pelo bem, entenderão pelo mal. Os cidadãos que nos últimos dias vem se manifestando em todo o país não abandonarão a bandeira de luta de renúncia deste presidente corrupto e sua camarilha.

Faço minhas, assim como milhares de brasileiros o farão, as palavras da presidente Dilma Rousseff em seu discurso no Senado: Não esperem de mim o silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje com a retórica jurídica, pretendem acabar com o estado de direito... Não luto por vaidade ou apego ao poder. Luto pela democracia, a verdade e a justiça.


Chico Vigilante








Chico Vigilante

terça-feira, 30 de agosto de 2016

VIDA BOA É A DE PADRE

Em figuras de linguagem as comparações e metáforas são constantes. São recitadas em todas as formas de discursos, dos mais eruditos aos de linguagem de senso comum. Na maioria das vezes têm notáveis benefícios na compreensão dos diálogos. Tais códigos linguísticos quando bem articulados esclarecem ideias e sentidos.

Ao recorrer a essa linguagem geralmente as pessoas se reportam à analogia do ser. O imensurável valor do ser humano tem significação na comunidade. Embora a vida humana transcenda a comunidade, a pessoa está inserida em um contexto histórico, representativo de valores. Isto é, faz parte de uma determinada cultura que está sujeita à comunidade, com suas próprias características e limitações. Sendo esta a única condição para viver a vida humana, observa-se que a atual sociedade tende à secularização. Além disto, a secularização propõe outras normativas para viver a vida humana. Em outras palavras, os conteúdos de fé com suas orientações religiosas e morais são substituídos e deixam de ser imprescindíveis e normativos.

Contudo, mesmo na pretensão da sociedade respirar o livre ar da liberdade de escolhas, não consegue livrar-se e excluir os símbolos sagrados de seus jogos linguísticos. Tem-se ouvido seguidamente expressões como: “comi como um padre”; “vida boa é a dos padres”; “os padres têm vida boa”; “feliz é o padre, que não tem esposa, sogra, filhos e família”; “na próxima vida quero ser padre”; “meu sonho era ser padre”; “eu queria muito ter a vida de padre”. Sem dúvida todos já ouviram muitíssimas vezes essas expressões. De certa maneira é possível perceber uma honestidade e diferenciar as brincadeiras nas comparações. Porém, tais pronunciamentos entendem haver diferentes caminhos e elementos constitutivos de felicidade humana.

Então, é real que a humanidade carece de realizar-se plenamente em suas escolhas. As pessoas, na condição de livres, se realizam ou não com suas escolhas. A escolha pelo sacerdócio é decisão de quem deseja fazê-la livremente. E quem a escolhe para sua vida compreende ser necessário bom discernimento para proporcionar-lhe felicidade. Pois o caminho de felicidade do sacerdócio é viver a palavra de Jesus de Nazaré que ocupa o lugar central em todas as suas relações humanas. A felicidade do sacerdote está associada precisamente à capacidade de doação a Cristo. Ademais, ser lembrado em qualquer conversa é sempre uma promoção vocacional. Então, continuem divulgando que a vida do padre é boa. Como deveras é. Assim, quem sabe despertem muitos jovens para abraçarem a vida sacerdotal. Desse modo, as comparações são frutíferas para ambos os lados. Se for correta a leitura, será vindoura a opção pela vida sacerdotal.


segunda-feira, 29 de agosto de 2016

UMA GOVERNANTA DIGNA, JULGADA POR UM BANDO DE CORRUPTOS

Usando o estilo medieval do tempo de Sâo Francisco dos Fioretti reconto o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff: Em de que se narra que uma governanta digna e inocente foi condenada por um bando de corruptos da mente e das finanças.

Era uma vez uma nação grande por sua extensão e por seu povo alegre embora injustiçado. Em sua maioria sofria na miséria, nas grandes periferias das cidades e no interior profundo. Por séculos era governado por uma pequena elite do dinheiro que nunca se interessou pelo destino do povo pobre. No dizer de um historiador mulato, ele foi socialmente “capado e recapado, sangrado e ressangrado”.

Mas lentamente esses pobres foram se organizando em movimentos de todo tipo, acumulando poder social e alimentando um sonho de outro Brasil. Conseguiram transformar o poder social num poder político. Ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores. Um de seus membros, sobrevivente da grande tribulação e torneiro mecânico, chegou a ser presidente. Apesar das pressões e concessões que sofreu dos endinheirados nacionais e transnacionais, conseguiu abrir uma significativa brecha no sistema de dominação permitindo-lhe fazer políticas socias humanizadoras. Uma Argentina inteira saíu da miséria e da fome. Milhares conseguiram sua casinha, com luz e energia. Negros e pobres tiveram acesso, antes impossível, ao ensino técnico e superior. Mais que tudo, porém, sentiram resgatada sua dignidade sempre negada. Viram-se parte da sociedade. Até podiam, em prestações, comprar um carrinho e tomar até o avião para visitar parentes distantes. Isso irritou a classe media, pois via seus espaços ocupados. Daí nasceu a discriminação e o ódio contra eles.

Ocorreu que, naqueles tempos, ao todo 13 anos de governo Lula-Dilma o Brasil ganhou respeitabilidade mundial. Mas a crise da economia e das financias, por ser sistêmica, nos atingiu, provocando dificuldades econômicas e desemprego que obrigou o governo a tomar medidas severas. A corrupção endêmica no país densificou-se na Petrobrás, envolvendo altos estratos do PT mas também dos principais partidos. Um juiz parcial, com traços de justiceiro, focou, praticamente, apenas o PT.

Especialmente a mídia empressarial conservadora conseguiu criar o esteriótipo do PT como sinônimo de corrupção. O que não é verdade, pois confunde a pequena parcela com o todo correto. Mas a corrupção condenável serviu de pretexto às elites endinheiras e seus aliados históricos, para tramar um golpe parlamentar, pois mediante as eleições jamais trinfariam. Temendo que esse curso voltado aos mais pobres se consolidasse, decidiram liquidá-lo. O método usado antes, com Vargas e Jango, foi agora retomado com o mesmo pretexto “de combater a corrupção”, na verdade, para ocultar a própria corrupção. Os golpistas usaram o Parlamento no qual 60% estão sob acusações criminais e desrespeitaram os 54 milhões de votos que elegeram Dilma Rousseff.

Importa deixar claro que atrás desse golpe parlamentar se aninham os interesses mesquinhos e anti-sociais dos donos do poder, mancomunados com a imprensa que distorce os fatos e sempre se fez sócia de todos os golpes, juntamente com os partidos conservadores, com parte do Ministério Público e da Polícia Militar (que substitui os tanques) e uma parcela da Corte Suprema que, indignamente, não guarda imparcialidade. O golpe não é só contra a governanta, mas contra a democracia com viés participativo e social.

Intenta-se voltar ao neoliberalismo mais descarado, atribuindo quase tudo ao mercado que é sempre competitivo e nada cooperativo (por isso conflitivo e anti-social). Para isso decidiu-se demolir as políticas sociais, privatizar a saúde e educação e o petróleo e atacar as conquistas sociais dos trabalhadores.

Contra a Presidenta não se identificou nenhum crime. De erros administrativos toleráveis, também feitos pelos governos anteriores, derivou-se a irresponsabilidade governamental contra a qual aplicou-se um impeachment. Por um pequeno acidente de bicicleta, se condena a Presidenta à morte, castigo totalmente desproporcional. Dos 81 senadores que vão julgá-la mais de 40 são réus ou investigados por outros crimes. Obrigam-na a sentar-se no banco dos réus, onde seus algozes deveriam estar. Entre eles se encontram 5 ex-ministros.

A corrupção não é só monetária. A pior é a corrupção das mentes e dos corações, cheios de ódio. Os senadores pro impeachment têm a mente corrompida, pois sabem que estão justificiando uma inocente. Mas a cegueira e os interesses corporativos prevalecem sobre os interesses de todo um povo.

Aqui vale a dura sentença do Apóstolo Paulo:”eles aprisionam a verdade na injustiça. É o que atrái a ira de Deus” Os golpistas levarão na testa, pela vida afora, o sinal de Caim que assaninou seu irmão Abel. Eles assassinaram a democracia. Sua memória será maldita pelo crime que cometeram. E a ira divina pesará sobre eles.

domingo, 28 de agosto de 2016

A HISTÓRIA NÃO OS PERDOARÁ.

A presidenta Dilma está sendo condenada mediante um tribunal de exceção por um Congresso Nacional no qual 60% dos membros enfrentam acusações criminais. O Senado que a julga não possui nenhuma moral pois mais da metade dele, 49 senadores, estão sob acusação por distintos crimes. Contra Dilma não se conseguiu provar nenhum crime. Por isso inventam-se outras razões como pelo “conjunto da obra”, coisa que contradiz a matéria do processo vindo da Câmara: alguns atos governamentais somente do ano 2015.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo bem resumiu a tônica geral deste processo perverso:”Trata-se de uma reação conservadora, retrógrada que se exprime em tentativas autoritárias de impedir o avanço da sociedade. Somos uma sociedade profundamente antidemocrática, preconceituosa e mais que isso, culturalmente deformada. Estamos assistindo hoje uma degeneração do que já é degenerado. Aqui não prosperaram os ideais de democracia e o Estado de Direito. Tudo é feito com truculência, com arbitrariedade, mesmo aquilo que pretensamente é feito em nome da lei”(em Carta Maior 27/06/2016).

Uma outra crítica contundente nos vem do sociólogo, ex-presidente do IPEA, que escreveu um instigante livro: A tolice da inteligência brasileira (Leya 2015): “O golpe foi contra a democracia como princípio de organização da vida social. Esse foi um golpe comandado pela ínfima elite do dinheiro que nos domina sem ruptura importante desde nosso passado escravocrata. Desde então o Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia”(Quem deu o golpe e contra quem, em FSP,04/2016).

O que estamos assistindo é a retomada deste segundo projeto, socialmente perverso e negador de nossa soberania. Basta observar a truculência do ministro das relações exteriores que de diplomata não possui nada. É um agente das privatizações e do alinhamento do Brasil à lógica do neoliberalismo dos países centrais, rompendo com nossos aliados vizinhos, do Mercosul e traindo os ideais de uma diplomacia “ativa e altiva”em diálogo com todos os povos e tendências ideológicas.

Há muitas formas de corrupção. Comecemos pela palavra corrupção. Santo Agostinho explica a etimologia: corrupção é ter um coração (cor) rompido (ruptus) e pervertido. O filósofo Kant fazia a mesma constatação:“somos um lenho tão torto que dele não se podem tirar tábuas retas”. Em outras palavras: há a força do Negativo em nós que nos incita ao desvio. A corrupção é uma das mais fortes.

Antes de tudo, o capitalismo aqui e no mundo é corrupto em sua lógica, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impõe a dominação do capital sobre o trabalho, criando riqueza com a exploração do trabalhador e com a devastação da natureza. Gera desigualdades sociais que, eticamente, são injustiças, o que origina permanentes conflitos de classe. Por isso, o capitalismo é por natureza antidemocrático, pois a democracia supõe uma igualdade básica dos cidadãos e direitos garantidos, aqui violados pela cultura capitalista.

Pensando no Brasil podemos dizer que a maior corrupção de nossa história é o fato de as oligarquias haverem mantido grande parte da população, durante quase 500 anos, na marginalidade e terem empreendido um processo de acumulação de riqueza dos mais altos do mundo, a ponto de 0,05% da população(71 mil pessoas) controlarem grande parte da renda nacional.

Temos exemplos escandalosos de corrupção, denunciados ultimamente pelo “Petrolão”, pelo Zelotes e pelo Panamá Papers. Mas não nos enganemos. Há coisa pior. O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, em seu “Sonegrômetro” denunciaram que em 2015 somente em cinco meses houve uma sonegação de 200 bilhões de reais (Antônio Lassance, em Carta Maior 02/05/2015). Isso é muito mais do que o “Petrolão” em apenas 5 meses. Atrás desse dados, se escondem os grandes corruptores e corruptos que procuram sempre se esconder.

Bem dizia Roberto Pompeu de Toledo em 1994 na Revista Veja: “Hoje sabemos que a corrupção faz parte de nosso sistema de poder tanto quanto o arroz e o feijão de nossas refeições”.

A condenação da Presidenta Dilma se inscreve nesta lógica da corrupção que tomou conta de grande parte da casta politica. O que se faz contra ela é uma injustiça sem tamano perpretada pelos senadores: condenar uma inocente e uma governante honesta.

A história não os perdoará. Carregam em suas biografias o estigma de golpistas, merecedores de uma soberana repulsa dos que buscam caminhos transparentes e éticos para o nosso país

sábado, 27 de agosto de 2016

O SENADO É UM HOSPÍCIO DIZ RENAN CALHEIROS

Ali ninguém rasga dinheiro, mas Renan Calheiros não deixa de ter razão ao comparar o Senado a um hospício nestes primeiros dias de julgamento do impeachment.

Hospício político, circo mambembe, teatro do absurdo, cinema barato, seja lá o que for, lembra tudo menos um tribunal de juri que está decidindo os destinos da República, sob o comando do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.

Entre outras peculariedades, vamos dizer assim, o Brasil deve ser um dos poucos lugares do mundo onde ainda sobrevive a "Guerra Fria", que dividiu o mundo entre a direita conservadora e a esquerda socialista até a queda do Muro de Berlim, em 1989.

Aqui se criou um Fla-Flu ideológico cada vez mais radical, intolerante e insano, desde as ultimas eleições presidenciais, embora um lado já não tenha muito o que conservar nem o outro a dividir.

No grande palco que se abre para a televisão, destacam-se duas figuras caricatas que simbolizam esta guerra fora de época: Ronaldo Caiado, do DEM, líder do bloco pró-Temer, e Lindbergh Farias, do PT, chefe da tropa de choque pró-Dilma.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

OS SENTIDOS DE DEUS.

Nunca me senti em casa e em boa companhia com filósofos e teólogos que desprezam o corpo. Sempre alimentei desconforto com os que pregaram outro mundo, só captado pela razão pura e pela elevação da consciência em meditação transcendental. O excesso de razão, não raramente, pareceu-me um dualismo esquizofrênico. Espiritualidade desencarnada, etérea, sem corpo, sem sensibilidade, sem tato, perfume, gosto, sonoridade e visão, frequentemente me pareceram o caminho mais longo para chegar ao ponto, a Deus. Deus é corpo.

Não dá para acreditar num “Deus que não dance”, dizia Nietzsche. Não dá para acreditar num Deus como um grande cérebro. Deus como “causa do mundo”, Deus como “design do mundo”, Deus como “inteligência ordenadora do mundo”, Deus como “Logos”... que imagens pobres essas de um deus sem corpo...Imagens que colocam Deus como “outro” do corpo, da terra, da natureza e do mundo sensível não mobilizam mais. Adeus ao Deus das verdades incorpóreas que se opõe e nega a natureza corpórea dos seres verdadeiramente reais. Viva o corpo de Deus, o nosso corpo!

Se bem interpreto, essa é a tese de fundo do livro “A mística do instante” do poeta e teólogo espanhol José Tolentino Mendonça. Li essa obra e a força do seu argumento me mobilizou a escrever uma série de artigos para dar conta de uma ideia simples: A espiritualidade dos sentidos é que dá sentido à existência. E viver segundo o espírito dos sentidos, quando bem interpretados, nos faz humanos, sensíveis, atentos, conectados, em contato, com sabor, com gosto pelo viver. Cada um dos cinco sentidos capta e experiencia uma faceta do real. O real todo inteiro, na sua integralidade e universalidade, é uma face iluminada da presença real de Deus em nós, no outro e no conjunto da criação.

Aprendemos a desconfiar dos sentidos. Aprendemos a duvidar dos sentidos. Aprendemos a menosprezar os sentidos. Os sentidos são as antenas avançadas do corpo e o corpo é o grande reprimido da tradição Platônica, Agostiniana e Cartesiana, isto é, do mundo antigo, medieval e moderno. É preciso insistir no mais fundamental da nossa fé: a ressurreição dos corpos. Não somos filhos e discípulos de Platão, nem de Descartes, somos discípulos de Jesus, o corpo de Deus, ou o Deus feito corpo. Será necessária uma reeducação dos sentidos, para não mais vê-los com ar de desconfiança e de desprezo, mas como aliados para uma espiritualidade integradora

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

MAIS UMA VEZ O AMOR.

Há milhares de anos a humanidade proclama que o amor é a mais poderosa força do mundo. Isto na teoria. Na prática, continuamos apostando no ódio, convencidos que ele é mais dinâmico que o próprio amor. Os historiadores garantem que já aconteceram mais de três mil conflitos, de diferentes proporções, desde que a humanidade saiu das cavernas e construiu um tacape para acabar com o inimigo. A partir daí foi aperfeiçoando seus instrumentos para matar. Imaginou a flecha, descobriu a pólvora, fabricou a absurda bomba atômica e desembocou para a guerra cirúrgica.

O Papa Francisco advertiu ao mundo que estamos em guerra, uma guerra fragmentada, mas nem por isso menos mortífera. Ela não tem hora ou local para atacar e o pretenso inimigo não tem nome. Acima das pessoas coloca-se uma causa por mais duvidosa que seja. Nações ou grupos continuam acreditando na velha máxima, que jamais deu certo: se queres a paz, prepara a guerra. E com isso motivou-se o infernal ciclo da violência. Já Mahatma Gandhi advertia que a lei do olho pelo olho, dente por dente nos deixaria todos desdentados e cegos.

O que fizemos do amor? O deixamos para a literatura romântica ou para alguns poemas adocicados. Mas no horizonte da humanidade surgem pessoas, por muitos consideradas politicamente incorretas, que acreditam no amor. É por isso, como numa espécie de mea-culpa, que lembramos Francisco de Assis, Gandhi, Luther King, Teresa de Calcutá... São muitos que os admiram, poucos que os seguem. Agora, a humanidade olha com admiração para o Papa Francisco, o profeta, o peregrino do amor e da paz.

Ao instituir o Ano Santo da Misericórdia, o Papa aponta para o remédio necessário para uma humanidade doente, envenenada pelo ódio. A misericórdia, irmã gêmea do perdão, é uma antiga receita que brota do Evangelho. O último olhar de Jesus na cruz foi um gesto de misericórdia para com os que o crucificaram: Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem.

Hoje, a guerra é feita por mil motivos, inclusive em nome da fé. De uma maneira ou outra existem também o interesse econômico e a ganância de grupos ou de nações. E o fim de uma guerra não traz a paz. Pelo contrário, traz as sementes de um novo conflito.

No final da Grande Guerra, num cemitério com milhares de cruzes, sem nome, assinalando soldados mortos de ambos os lados, foi colocada a figura de Jesus, rosto entristecido, com esta frase: “E eu, que tanto lhes havia pedido, que se amassem uns aos outros...”.

A paz do mundo não está em nossas mãos, mas começa em nosso coração. É preciso crer na aparente fraqueza do amor
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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

MAGNÓLIAS.

A sensação de que o tempo aumentou sua velocidade parece ser coletiva. Muitos verbalizam não perceber o tempo passar. A velocidade definitivamente tomou conta da humanidade. Evidente que o tempo permanece inalterado. A cadência dos passos é uma escolha pessoal, uma opção que faz toda a diferença e proporciona qualidade à vida. Ainda bem que as lembranças não dependem do dado cronológico. Há registros que já somam muitas décadas, mas dão a impressão de instantes. Os melhores acontecimentos independem do tempo, são sempre atuais.

Foi essa a sensação que tive ao chegar próximo ao robusto pé de magnólia: parece que tudo aconteceu há pouco tempo. No entanto, as sementes foram trazidas pelos primeiros freis franceses, há 120 anos. O caule não pode ser abraçado, a altura é admirável, as flores exalam muito mais do que perfume. Um olhar contemplativo remete à velha França, de onde vieram os primeiros frades capuchinhos. Não se limitaram à evangelização. Preocuparam-se até com as sementes de uma frondosa árvore, que não produz frutos, mas que floresce de forma espetacular, com uma fragrância ímpar.

São mais magnólias no mesmo terreno e em outros recantos conventuais. Já adquiriram o status de símbolo. Falam por si próprias, remetem à história. Fazem parte do patrimônio natural. Quando os humanos experimentam o significado da vida cultivam gestos admiráveis. Transportar sementes de um lugar para outro, preparar o solo, regar as plantinhas: é muito mais do que um trabalho, é a expressão de uma missão. A interdependência com o todo da criação é expressão máxima de fraternidade. A harmonia entre todos os seres é um sonho sempre atual.

O ser humano anda um tanto esquecido de sua importante tarefa de lançar sementes. Ser semeador é missão intrínseca, condição que garante abundantes colheitas. A escassez remete à indiferença. Se ninguém está semeando, como colher? Além de magnólias, outras espécies poderiam ser perpetuadas. Poucos estão lançando ‘sementes’ de paz, de solidariedade, amor ao próximo, perdão. O perfume da magnólia recorda quão grandioso foi o gesto de lançar a semente. Quanto maior o número de pessoas lançando outras sementes, mais intenso será o perfume da vida. A história da magnólia tem muito a ensinar e a inspirar. Que haja atentos aprendizes.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

SAPATOS DA FRATERNIDADE

Jovens de todas as partes do mundo foram chegando, aos poucos. Encontro agendado há tempo. Esforços infinitos para dar conta desse deslocamento. A Jornada Mundial da Juventude, na Polônia, foi mais do que uma reunião internacional de jovens. Trata-se de um marco reflexivo, tendo como contexto a velocidade das mudanças, a fragilidade dos valores humanos, a urgência da justiça. Todas as faixas etárias têm suas preocupações. Porém, os jovens vivem uma tensão um tanto acentuada. Os meios alcançam a sofisticação, o coração, porém, parece distante de um ideal de vida.

O jovem mais aguardado, no cenário polonês, foi o Papa Francisco. O entusiasmo de suas palavras contagiou o mundo. Sua eloquência deixa no esquecimento sua idade. Viveu, naqueles dias, como jovem em meio aos jovens. Numa de suas falas, foi enfático e terno: ‘você precisa decidir trocar o sofá por um par de sapatos, que ajude a caminhar por estradas nunca imaginadas. Viemos ao mundo para fazer a diferença. Deus espera algo de você. Ele quer suas mãos para continuar a construir o mundo de hoje. Ter a coragem de ensinar que é mais fácil construir pontes do que erguer muros. A nossa resposta para este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade’.

A tentação da acomodação atinge a todos. Um mundo novo só será possível através da determinação: construir pontes para garantir a fraternidade. Sair do sofá e calçar os sapatos, abandonar o fatalismo, redimensionar a esperança, avançar na direção da ética, abraçar a espiritualidade. Francisco fala ao coração de todos. Suas palavras impelem à ação. Seu amor resgata sonhos, idealiza um mundo novo. Ele mesmo calça diariamente os sapatos para deixar pegadas de entusiasmo. O Papa tem clareza da missão: ‘viemos ao mundo para fazer a diferença’.

O Papa é um jovem que não fica no sofá. É um peregrino que gosta de companhia. A humanidade inteira encontra espaço em seu bondoso coração. Através de seus gestos, as dúvidas quanto ao modo de caminhar e por onde andar deixam de existir. Construtor de pontes, Francisco é uma referência mundial. Impossível não se emocionar diante de suas palavras. Sua simplicidade consegue eliminar a distância entre o céu e a terra. Os jovens voltaram da Polônia com uma decisão: abandonar o sofá da acomodação e calçar os sapatos da fraternidade.

domingo, 21 de agosto de 2016

COMO VAMOS ENFRENTAR O RADICALISMO

Atualmente em todo mundo, se verifica um aumento crescente do conservadorismo e de fenômenos fundamentalistas que se expressam pela homofobia, xenofobia, anti-feminismo, racismo e toda sorte de discriminações.

O fundamentalista está convencido de que a sua verdade é a única e que todos os demais ou são desviantes ou fora da verdade. Isso é recorrente nos programas televisivos das várias igrejas pentecostais, incluindo setores da Igreja Católica. Mas também no pensamento único de setores politicos. Pensam que só a verdade tem direito, a deles. O erro deve ser combatido. Eis a origem dos conflitos religosos e politicos. O fascimo começa com esse modo fechado de ver as coisas.

Como vamos enfrentar esse tipo de radicalismo? Além de muitas outras formas, creio que uma delas consiste no resgate do conceito bom do relativismo, palavra que muitos nem querem ouvir. Mas nele há muita verdade.

Ele deve ser pensado em duas direções: Em primeiro lugar, o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma relacionados. Na esteira da física quântica, insiste a encíclica do Papa Francisco “sobre como cuidar da Casa Comum”:“tudo está intimamente relacionad; todas as criaturas existem na dependência uma das outras”(n.137;86). Por esta inter-relação todos são portadores da mesma humanidade. Somos uma espécie entre tantas, uma família.

Em segundo lugar, importa compreender que cada um é diferente e possui um valor em si mesmo. Mas está sempre em relação com outros e seus modos de ser. Dai ser importante relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir

Quer dizer, nosso modo de ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil, até chegarmos aos moradores das comunidades da periferia e aos moradores de sofisticados Alphavilles, onde moram as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para as diferenças de cultura, de língua, de religião, de ética e de lazer.

Devemos alargar a compreensão do humano para além de nossa concretização. Vivemos na fase da geo-sociedade, socidade mundial, una, múltipla e diferente.

Todas estas manifestações humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas são um valor e uma verdade relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, inter-relacionados, sendo que nenhum deles, tomado em si, é absoluto.

Então não há verdade absoluta? Vale o “everything goes” de alguns pós-modernos? Traduzindo: “vale tudo”? Não há o vale tudo. Tudo vale na medida em que mantem relação com os outros, respeitando-os em sua diferença e não prejudicando-os.

Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela, nem uma religião, nem uma filosofia, nem um partido politico,nem uma ciência. Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer para uma compreensão mais plena da verdade, na medida em que se relacionam.

Bem dizia o poeta espanhol António Machado: “Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no diálogo e na recíproca relacionalidade, então mais e mais desaparece a minha verdade para dar lugar à nossa Verdade, comungada por todos.

A ilusão do Ocidente, dos USA e da Europa, é de imaginarem que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo de ver e de viver. As demais janelas apenas mostram paisagens distorcidas.

Pensando assim, se condenam a um fundamentalismo visceral que os fez, outrora, organizar massacres ao impor a sua religião na América Latina e na Áfica e, hoje, fazendo guerras com grande mortandade de civis, para impor a democracia no Iraque, no Afeganistão, na Síria e em todo o Norte da África. Aqui se dá também o fundamentalismo, de tipo occidental.

Devemos fazer o bom uso do relativismo, inspirados, por exemplo, na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas e as várias cozinhas: a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana e outras.

Ninguém pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa, por exemplo, a mineira ou a francesa, e as outras não. Todas são gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte culinária.

Por que com a verdade deveria ser diferente? A base do fundamentalismo é essa arrogância que de que o seu modo de ser, sua ideia, a sua religião e a sua forma de governo é a melhor e a única válida no mundo.

sábado, 20 de agosto de 2016

O SÍMBOLO: UM PATRIMÔNIO COLETIVO.

Apesar de seu significado, de suas consequências e de sua brutalidade política, a tentativa de destruição eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva, em curso, não é a ameaça mais grave que paira sobre o futuro imediato das forças populares, mesmo porque a vida política não se reduz ao processo eleitoral e porque não existem, nesse âmbito, derrotas definitivas, nem absolutas. Basta ouvir a história.

O movimento reacionário que nos governa hoje pensando em um projeto de poder de muitos anos –à margem dos mecanismos da democracia representativa e da soberania popular – volta suas poderosas baterias (políticas, midiáticas, policiais, judiciais) apenas incidentalmente, ou taticamente, para a figura do ex-presidente e eventual candidato à Presidência, pois seu alvo verdadeiro, de vida e morte, é o símbolo Lula, com toda a sua profunda carga emocional.

Simbologia que não se reproduz senão a espaços largos de anos e em condições objetivas e subjetivas que raramente se repetem.

O símbolo Lula é um produto social; como construção coletiva, não pertence a si mesmo. É instrumento do imaginário: é, hoje, a leitura que dele fazem seus contemporâneos. A imagem de Lula caminha para além dos limites de país, simbolizando para o mundo afirmação das possibilidades dos trabalhadores.

O processo social não conhece a autogênese. Lula, tanto quanto o partido que fundou, o Partido dos Trabalhadores (PT), são (independentemente um e outro de seus muitos erros) o fruto da acumulação das lutas sociais, são o resultado das tantas batalhas em defesa da democracia, dos conflitos sociais e de classe, são a condensação de mais de um século de conquistas sindicais reunindo, numa só herança, desde os anarquistas do início do século passado até o varguismo que a socialdemocracia de direita, da UDN de Carlos Lacerda ao tucanato de Fernando Henrique Cardoso, intenta destruir.

Ambos, Lula e o PT, são um só fruto dos avanços políticos mais consequentes do fim da ditadura militar, direitos consagrados pela Constituição de 1988 que ainda ambos, Lula e o PT, equivocadamente, se recusaram a assinar.

O ‘risco Lula’ não se reduz ao seu notório potencial eleitoral a ameaçar os sonhos continuístas do assalto neoliberal, até porque outras alternativas haverão de ser construídas; o perigo, a ameaça, residem principalmente – e nisso está sua maior gravidade – no que o líder popular representa e simboliza para as grandes massas como exemplo de afirmação histórica da classe trabalhadora.

A destruição política de Lula, ainda que necessária para o projeto de regressão ao passado, é perseguida pelos algozes de hoje (muitos deles aliados de ontem) como instrumento de destruição da expectativa, prelibada, de os trabalhadores conquistarem o poder e o exercerem diretamente, isto é, sem a clássica e corriqueira delegação a um representante da classe dominante.

No caso concreto, duas imagens precisam ser derruídas: a do operário transformado em político vitorioso e a do Lula presidente, isto é, de um governante de raro sucesso. Esta é a tarefa urgente, mas não é tudo – pois o projeto da classe dominante é quebrar as veleidades auto-afirmativas da classe trabalhadora. Trocando em miúdos, os trabalhadores precisam conhecer o seu lugar. Este é o recado que nos mandam.

Certa feita, ainda presidente da República, Lula se auto-qualificou pela negativa, isto é, como ‘não de esquerda’. Ignorava ele que personagem histórico não ocupa, necessariamente, o papel que se escolhe, mas aquele que, consoante suas circunstâncias e as contingências históricas, lhe é dado desempenhar num determinado momento.

Assim, independentemente de sua vontade e da vontade de seus adversários de classe, Lula, hoje, não apenas atua no campo da esquerda como é, a um tempo, o mais importante líder desse segmento político e o mais importante líder popular em atuação. E é isto o que conta para a crônica de sua condenação.

Muitas vezes, na política, e estamos em face de um caso concreto, o personagem histórico se aparta de sua trajetória pessoal, linear, e passa a viver uma nova vida no imaginário popular: ele é ou passa a ser o que simboliza perante as massas. Tiradentes é o ‘protomártir da Independência’, a princesa Isabel ficou nos manuais da história do Brasil como ‘a redentora’, Deodoro como ‘o proclamador da República’.

Getúlio Vargas superou o papel de chefe da revolução de 30 ou de ditador para ser recepcionado pela história como o pai da legislação trabalhista, o pai dos pobres e herói nacionalista. Assim foi chorado pelas massas órfãs, ensandecidas, desarvoradas com o choque de seu suicídio. Os símbolos são a argamassa da política.

Voltando: o que Lula representa hoje, além de uma razoável expectativa de poder? No plano simbólico ele nos diz, ditando lição subversiva, que o homem do povo pode chegar à presidência da República sem precisar atravessar a margem do rio onde só se banham os donos do poder; subvertendo a ‘ordem natural das coisas’, ele nos diz que o povo pode pretender escrever sua própria história.

Isto é intolerável em sociedade que, desde sua origem – da oligarquia rural aos rentistas do capitalismo moderno –, se organizou segundo a disjuntiva casa-grande e senzala, células incomunicantes, cujos personagens têm, ‘por natural’, papéis definidos e próprios que não se podem confundir: de um lado os mandantes, de outro, os mandados, de um lado os senhores de direitos, de outro os portadores de deveres e obrigações. De um lado o capital, de outro o trabalho, seu servidor. A díade imutável de nossa monótona história.

Pela primeira vez na República um trabalhador, operário de macacão e mãos sujas de graxa, se fez líder trabalhista e presidente. Não se trata mais de um quadro da classe dominante operando a mediação entre capital e trabalho, como Getúlio, como Jango conduzindo as massas e dialogando em seu nome com a classe dominante, como um dos seus. Com Lula as massas se expressam, pela vez primeira, sem a intermediação do populismo. E isso não é pouco.

Pela primeira vez os trabalhadores, majoritariamente, se identificam com um partido criado e liderado por um dos seus. Não são mais pingentes de partidos da estrutura clássica que generosamente abrem espaços para a manifestação dos quadros da classe média, que neles podem atuar defendendo os interesses dos dominados: nem é mais o PTB, nem são mais os Arraes ou os Brizolas que falam pelos trabalhadores.

Nem são mais os comunistas do capitão Prestes, ou os intelectuais de esquerda que traíram sua origem de classe para se aliar aos trabalhadores, às grandes massas dos excluídos, aos deserdados da terra, para lembrar Frantz Fanon.

E isso não é pouco.

Enfim, a reação autoritária pretende ensinar à classe trabalhadora que seu papel é subalterno ao do capital e que ela tem de se conformar em ser caudatária da classe dominante.

Resta-nos aceitar passivamente a depredação, ou resistir com toda a veemência – e não apenas, claro está, em nome da integridade física e moral do indivíduo Lula; menos ainda para livrá-lo (e seu partido) do julgamento da história a que todas as lideranças políticas devem, ao fim e ao cabo, estar submetidas. Mas para preservar um patrimônio que nos ajudará a atravessar a noite da restauração conservadora, brutal, impiedosa, despida de todo escrúpulo, e já iniciada.

O símbolo é um patrimônio coletivo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A MÃO CALEJADA.

Trabalhar é uma grande dádiva na vida das pessoas. Sem trabalho a vida humana perderia completamente seu sentido. Seria impossível buscar razões para viver sem a experiência do trabalho. Ele dá sentido e razões à vida, algo que a ociosidade não oferece. As mãos grossas e calejadas estão cheias de significado, conteúdos, valores imensuráveis. Elas demonstram o passar de anos de trabalho penoso, valor que precisa ser admirado pelas novas gerações diante da facilidade da automatização dos serviços.

Ninguém nasce com as mãos grossas e calejadas. Entra-se neste mundo com as mãos frágeis, pequenas e macias. Por si só as mãos não se deformam, racham, engrossam e ficam com a pele áspera. Ainda, as mãos não se governam por si mesmas, apenas executam movimentos e ações que o cérebro comanda. As mãos grossas e calejadas pelo manuseio de pesados e rústicos instrumentos oferecem lições de vida para as novas gerações. Estas, no conforto da tecnologia e da automação dos serviços dificilmente terão as mãos tortas, machucadas, cheias de calos e rachaduras.

Mãos grossas e calejadas merecem um olhar de valorização, pois corroboram no desenvolvimento, na educação e na formação das pessoas. Em cada mão machucada pelo trabalho duro é possível ver homens e mulheres que bravamente não mediram esforços para conquistar benefícios e conforto aos outros. Submetidos à disciplina do trabalho em prol da melhor qualidade de vida da família e da descendência futura, suas mãos estão cheias de exemplos de valores, de sonhos e da utopia de uma sociedade mais ética e justa.

No aperto de uma mão grossa e calejada é possível sentir a experiência de pessoas vencedoras pelo trabalho honesto. Em nosso país, para os corruptos de colarinho branco que dilapidam os bens públicos seria sinal de justiça social e de dignidade humana não uma pena ou chip na tornozeleira, mas que fossem submetidos a longo tempo de trabalho manual. Quem sabe a experiência de calejar e de engrossar as mãos ajudaria a pensar quanto vale a honestidade, a justiça social, os bens públicos e o legado do trabalho penoso e sofrido para o sustento de uma família.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

BASTA DE INGENUIDADE

"Em protesto contra a venda da área de Carcará, no pré-sal, à estatal norueguesa Statoil, a Febrageo – Federação Brasileira dos Geólogos – promete recorrer à Justiça; a operação foi anunciada pela Petrobras com o valor de US$ 2,5 bilhões; os geólogos chamam a negociação, que pretendem reverter, de "depredação do patrimônio dos brasileiros"; "Pela experiência de geólogos e especialistas que já trabalharam com o pré-sal, a área de Carcará pode ter mais petróleo do que o anunciado", disse o presidente da Febrageo, João César de Freitas; a entidade já divulgou, esse ano, carta aberta em que chama de "retrocesso" a Lei da Partilha, defendida por Pedro Parente", presidente golpista e espúrio da companhia.

Na Câmara tramita projeto de lei enviado pelo interino golpista MisShel defendendo a venda de terras indígenas a estrangeiros e o desmatamento da Amazônia para beneficiar empresas de móveis e os grandes proprietários rurais, que não cultivam nenhum respeito pela cultura indígena nem pela nossa Amazônia. .

E assim o golpe segue no cumprimento dos objetivos de esquartejar o Brasil e a todos nós, sem deixar pedra sobre pedra.

Ao analisar as ações das raposas no Senado ao votarem pela transformação da Presidenta Dilma em ré, o jornalista Esmael Morais lascou profeticamente: "Na calada da noite, por 59 votos favoráveis e 21 contra, o Senado deu mais um passo rumo à aprovação do fim das férias, do 13º salário, aumento da idade para aposentadoria, congelamento de salários por 20 anos, privatizações de empresas públicas e troca do nome do Brasil de República Federativa do Brasil para "República Golpista das Propinas do Brasil" (aqui). Portanto, os golpistas não têm nenhum interesse em combater a corrupção e o impeachment, muito pelo contrário.

Na Câmara tramita projeto de lei enviado pelo interino golpista defendendo a venda de terras indígenas a estrangeiros e o desmatamento da Amazônia para beneficiar empresas de móveis e os grandes proprietários.

Enquanto ingênuos assistimos o golpista Temer a assaltar a República, o Brasil é carregado ao cadafalso para o enforcamento e miserailização de nosso povo, mesmo num País de fartura e de riquezas, mas com tudo roubado, restando-nos o esquartejamento pelas injustiças, pelos desempregos e pela fome, enquanto nos matamos brigando uns contras os outros, omissos e divididos colaboramos com os galos entreguistas e as raposas no seu afã de fazer a festa sobre nossos despojos.

Feliz foi o povo soviético, nada ingênuo com os acordos feitos e rompidos pelo nazismo de Hitler, no fundo. ídolo e valor inspirador dos golpistas de hoje no Brasil e no mundo.

Em 23 de agosto de 1939 foi firmado o pacto denominado Ribbentrop-Molotov, em Moscou, entre a Alemanha nazista, de Hitler, e a União Soviética, de Stalin. O tratado estabeleceu cláusulas de não agressão entre os países, a responsabilidade pela construção de soluções pacíficas entre ambas as nações, estreitamento dos laços econômicos e comerciais e ajuda mútua. Pelo pacto, os países também se comprometeram a fazer consulta mútua sobre assuntos de interesses comuns e também de que não participariam de alianças que fossem contra algum dos estados do pacto, no caso Alemanha ou URSS. Porém, no final de 1940, como é próprio do nazifascismo e da direita, Hitler quebrou o acordo e, em 22 de junho de 1941, as tropas nazistas tentaram atacar de surpresa a União Soviética. O que encontraram foi um paredão com o povo e o Exército Vermelho dispostos a defender a soberania nacional e os seus interesses. Os civis e seu povo fardado eram compostos não por ingênuos, que sempre souberam que Hitler e seu regime eram desonestos, mentirosos, manipuladores e bandidos, mas por cidadãos absolutamente comprometidos com o futuro de suas sociedade e da humanidade.

Tudo mudará no Brasil quando acordarmos da ingenuidade, dos bobismos traiçoeiros e, nas ruas, armados da razão da soberania nacional, democrática e constitucional, nos dispormos a expulsar os vendilhões golpistas, com a entrega nós mesmos como simboliza nosso hino: "mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora, a própria morte"!

Acorda povo brasileiro. Basta de ingenuidade!

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

OUVIR O BAÚ.

Atravessou o oceano, fez o longínquo percurso entre a Europa e o Brasil, acompanhou gerações. Por muitas décadas permaneceu sob o mesmo teto, contemplou a formação das novas famílias. Os antepassados foram passando e lá está o antigo baú. Havia um desejo escondido de ficar com essa valiosa peça. Está surrada pelo tempo, mas continua com uma excepcional linguagem simbólica. Vai necessitar de restauro para conservar a essência.  A alegria atingiu o ápice. Quanta gratidão aos familiares por tal designação: ser guardião do histórico baú.

Quando o avô veio da Itália, não possuía nenhum bem, além de algumas peças de roupas. Os símbolos religiosos também estavam na humilde bagagem. As incertezas deveriam ser de volume desproporcional. Impossível olhar para trás, uma vez que a única opção era ir ao encontro de outras terras. O baú guardava muito mais do que vestuário e pertences de oito membros da família. A esperança estava até nas miúdas frestas, a fé suplantava as lágrimas da saudade dos que ficaram para trás.

A histórica ‘caixa de madeira’ está prestes a empreender outra viagem. Não atravessará nenhum mar, apenas algumas ruas e avenidas. Após o merecido trato, continuará exercendo seu maravilhoso ofício: eliminar a distância entre o ontem e o hoje. O intuito é deixá-lo praticamente renovado para contar sabiamente a melhor de todas as histórias: o itinerário de uma família que, como tantas outras, veio ao Brasil, mais precisamente à Serra gaúcha. O baú tem verdadeiramente muitas histórias para contar. Independente do idioma, a linguagem atingirá a imaginação das próximas gerações.

Dispensar os devidos cuidados ao baú é conservar viva a história familiar, com seus valores sempre atuais. Não tem como não agradecer a coragem e a ousadia dos antepassados, por tamanha herança. Nenhuma história é mais significativa do que outros registros. Se evoca vida e provoca lembranças, merece distinção e conservação. Porém, não basta ter um baú. É imprescindível guardar e praticar os valores que não conhecem fronteiras e comunicá-los às próximas gerações. Mas é infinitamente maravilhoso ter a responsabilidade de resguardar esse símbolo familiar. O baú não cessa de falar e de recordar. Como faz bem ouvi-lo. 


Jaime Bottega

domingo, 14 de agosto de 2016

O PROBLEMA DA SEDE.

O Antigo Testamento confirma a sede como necessidade, mas também acentua a dramaticidade da sede. Quando Abraão expulsa Agar com seu filho Ismael, no caminho viu-se com falta de água e pensou: “Não quero ver o menino morrer”. Na angústia, Deus lhe abriu os olhos e ela viu um poço. Foi encher a vasilha com água e deu-lhe de beber. Seguiram o caminho, seguros na promessa de Deus.

No dramático processo de libertação do povo de Israel do Egito, narra-se a primeira praga da transformação da água do rio Nilo em sangue. Os peixes morriam e os egípcios não podiam beber água. Cavaram nos arredores do rio para encontrar água potável. O povo liberto também experimenta o drama da sede. Caminhando encontram água amarga. Murmuram contra Moisés dizendo: “O que vamos beber?”. Moisés age; apela para Deus em favor do povo e a água se tornou doce.

São muitas as narrativas que mostram o povo no deserto, revoltado pela dramaticidade da sede: “Dê-nos água para beber... Por que você nos tirou do Egito? Foi para nos matar de sede a nós, nossos filhos e nossos animais?”. Moisés dialoga com Deus e por sua palavra golpeia a rocha e dela jorra água abundante para seu povo.

Não é estranha no Antigo Testamento a interpretação da falta de água e da sede como castigo de Deus. Numa região onde não chove por seis meses, a falta de água transparece ainda com maior gravidade e dramaticidade. Na grande seca o profeta Elias, cujo nome significa “Javé é o meu Deus”, luta contra os cultos a Baal e outras divindades. Javé é o Deus da chuva e da fertilidade e não os ídolos. Peregrinando e ameaçado pela seca do córrego, vai a Sarepta e suplica pela água à viúva, que também se via em risco de morrer de fome e sede com seu filho. O Deus da vida garante o socorro aos pobres da terra e a certeza de novos cenários de vida.

Dramática é a descrição de 2Reis  “Os reis de Israel, Judá e Edom puseram-se em marcha. Depois de dar uma volta de sete dias, faltou água para o exército e os animais que os seguiam. O rei de Israel exclamou: “Ai de nós! Javé nos convocou para entregar os três reis nas mãos de Moab”. Situa-se então o profeta Eliseu como mediador do socorro de Deus neste cenário dramático e a água jorra com abundância. No Salmo 22, o inocente perseguido sente-se impotente e abandonado e até esquecido de Deus. Em linguagem simbólica, expressa seu drama: “Está seca como um caco de telha o meu paladar e minha língua cola-se ao céu da boca; tu me colocas na poeira da morte”. O profeta Isaías, no capítulo 5, iniciando seu ministério profético, proclama as seis maldições contra os poderosos de Judá e no versículo 13 diz: “É por falta de conhecimento que meu povo foi exilado; seus nobres morrem de fome e seus plebeus ardem de sede”. Em sentido metafórico, também se fala da sede de Deus e de sua Palavra: “A minha’alma tem sede de Deus”.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

UMA CARTA PARA JOSÉ 23 MILHÕES SERRA

Esta é mais uma das Cartas aos Golpistas. No futuro, elas poderão ser reunidas num livro para recapitular o golpe de 2016. O destinatário da presente carta é o chanceler José “23 milhões” Serra.

Caro Serra: imagino que você tenha passado este domingo no telefone. Não para tratar de assuntos nacionais, mas para resolver problemas pessoais.

Se conheço você, você telefonou para todos os donos de empresas jornalísticas para uma operação abafa. Você sempre fez isso na vida: procurar os barões da imprensa para garantir um noticiário amigo, fraternal, positivo.

Não foi fácil, para quem sempre foi protegido, acordar com a notícia de que Marcelo Odebrecht lhe deu 23 milhões de reais em caixa 2 nas eleições de 2010.

Quer dizer: 23 milhões em dinheiro da época. Hoje, são quase 35 milhões.

Você batizou sites independentes como “blogs sujos”. Sujo mesmo é este dinheiro, chanceler, que é apenas parte de um todo colossal.

É um dinheiro viajado. Ele percorreu rotas no exterior para não ser detectado e não pagar imposto, um expediente tão comum entre os plutocratas brasileiros e seus fâmulos, como você.

Sim, você é um fâmulo da plutocracia, a exemplo de seus companheiros de partido Aécio, FHC e Alckmin.

E é também a pior espécie de corrupto. O demagogo, o cínico, o hipócrita, aquele que à luz do sol brada contra a corrupção e na escuridão faz horrores.

Penso em seu caso e lembro o de Feliciano, o pastor. O moralista inflamado que pregou castração química para estupradores está no centro de um escândalo de tentativa de estupro. O mesmo homem tão intolerante em relação à vida sexual alheia escreveu, segundo um print gravado pela acusadora, que a “carne é fraca”.

Sim, a carne é fraca, chanceler. Nos faz desejar não apenas corpos, como aparentemente foi o caso do pastor, mas também cargos acima de nosso talento e de nossas possibilidades.

É seu caso.

Há muitos anos você trava um duelo de vontades com os brasileiros em torno da presidência da República. Você acha que nasceu para ser presidente não se sabe com base em que: votos não. Você não tem votos para tanta ambição, e nem competência. Você não foi capaz de conter sequer os pernilongos quando prefeito de São Paulo.

Em sua louca cavalgada presidencial, você chegou até a simular ter sido vítima de um atentado. Foi o infame Atentado da Bolinha de Papel. Nem a Globo, que contratou um especialista para confirmar a mentira, conseguiu evitar que o episódio passasse para a história como uma das maiores trapaças de uma campanha presidencial.

E agora, para culminar uma carreira sórdida, você é um dos baluartes do golpe.

Volto à expressão que você usou para designar os sites independentes. Não apenas um golpista — mas um golpista sujo.

Sinceramente.

Paulo Nogueira.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

AMIGOS, QUANTOS VOCÊ TEM?

Diz um célebre pensamento baseado na Bíblia, no Livro do Eclesiático, capítulo 6, versículo 14: “quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro”. É justamente por saber o quando custa um tesouro que se entende quão bem representa o valor da amizade. Outro pensamento diz: “amizade não tem preço”. A amizade tem valor imensurável. No atual contexto em que as relações humanas são superficiais é prudente cultivar boas amizades. O espaço ideal para isto é a comunidade.

O termo amizade tem muito sentidos. Do latim o termo deriva de amicus, que quer dizer amigo, e também de amore, amar. Do grego refere-se à relação afetiva, mais no sentido romântico, sexual. Em sentido amplo o termo diz respeito à relação humana que envolve o mútuo afeto, lealdade, conhecimento, altruísmo, uma relação de confidente. Isto é, uma relação em que se deposita confiança. Amizade supõe credibilidade entre pessoas, harmonia, transparência no que se faz e no que se diz. Então, amizade leva a crer na coerência da relação humana.

Para dar-se conta do que representa uma verdadeira amizade, outro sábio pensamento adverte: “diga-me com andas e te direi quem és”. Ainda que não se saiba precisamente a origem e o autor dessa frase, o pensamento tornou-se imperecível. Sem exagero, imortal, imutável. Em todo caso, o pensamento representa um problema sério para a formação das pessoas. Certamente dos tempos mais remotos aos nossos dias, pais, pedagogos e mestres continuam a indicar precisamente os problemas para constituir boas amizades. Facilmente se pode entender a dificuldade de afastar filhos, jovens e mesmo adultos das más companhias e influências. Amizades têm enorme poder para construir e para desconstruir uma vida.

Na sociedade atual, voltada aos valores passageiros e de critérios subjetivos, há dificuldade em estabelecer amizades. Isto é real e resume-se no pensamento: “ame seus pais, sua vida e seus amigos. Seus pais, porque são únicos. Sua vida, porque é curta demais. Seus amigos, porque são raros”. Essas afirmações não são feitas a partir da metafísica grega do ser, mas do acontecer, do real, da relação humana cotidiana.

Um bom espaço para estabelecer amizades é a comunidade. Para os cristãos a comunidade é a base da vida. Jesus Cristo elegeu a comunidade como espaço sagrado das pessoas vivenciarem as melhores sensações da vida: ter a certeza de que se pode confiar em alguém, confiar no próximo. Em contrapartida ao individualismo e isolamento, todo ser humano deveria centrar empenho na comunidade. Sem dúvida a história humana, a vida de um povo, de uma sociedade, de cada indivíduo, acontece e se explica pelas relações comunitárias. A história de cada pessoa alcança o ápice e o mais alto ensinamento na comunidade. Para saber se alguém é um bom amigo veja o que ele faz em comunidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

ALGUMAS CERTEZAS

Morador num bairro da cidade paulista de Campinas, Breno Ruiz de Paula viu sua pequena empresa fechar as portas. As dívidas trabalhistas, com os bancos e fornecedores eram impagáveis. Não tinha como enfrentá-las e nem mesmo poderia garantir o sustento da própria família. Depois de algumas semanas de desânimo e depressão, a sorte sorriu para ele: foi um dos dois ganhadores da Mega-Sena. Calculou que a quinta parte do prêmio pagaria as dívidas. Sobraria muita coisa para recomeçar. Depois de uma noite de sonhos, acordou cedo para ir à Lotérica. No caminho foi atropelado e morreu.

Como nas novelas e romances, a vida está cheia de lances inesperados. O amanhã nem sempre é como nós imaginamos. Ele pode mudar para melhor ou pior. O escritor Fernando Sabino falava de três certezas: “A certeza de que estamos sempre começando, a certeza que nos resta muita coisa a fazer e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar”.

A vida transcorre sempre no presente. Ontem é uma saudade imutável, amanhã apenas uma possibilidade. Nosso tempo é hoje. Hoje é o tempo que estamos começando. São Francisco de Assis, no leito de morte, pediu aos frades: “Comecemos hoje, porque até agora pouco fizemos”.

Temos muitas coisas a fazer. Nem todas as searas foram plantadas, nem todos os poemas foram escritos, nem todos os gestos de bondade foram feitos. E não precisam ser gestos heroicos. A grandeza se constrói no cotidiano. A fidelidade de cada dia também mostra heroísmo.

É inteligente viver intensamente, mesmo porque não sabemos quantos anos, dias ou meses ainda teremos pela frente. O tempo é um dom, um presente de Deus. Vivê-lo intensamente é agradecer ao Pai. São Paulo, depois de uma vida intensa, afirmou: “Combati o bom combate, guardei a fé, resta-me agora a recompensa” (2Tm 4,7).

Vive-se uma única vez. Tudo o que eu deixar de fazer se perderá para sempre. Cada gota de amor que for espalhada ficará para sempre. Viver intensamente é dar sentido à existência. O mundo necessita ficar mais belo porque marquei meu caminho com pequenas flores de amor, beleza e fé. Podem não ser notadas, mas existem.

Iluminando as certezas de Fernando Sabino, outro escritor - Rubem Alves - esclarece: “Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira”.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

BRASIL: EUFORIA E FOÇA

Como o tempo oscilante do inverno, alternando frio e calor na mesma semana, nesta nossa terra ciclotímica e vagotônica, vamos da fossa à euforia de um dia para outro, balançando ao sabor dos ventos.

Na belíssima e comovente festa de abertura da Olimpíada do Rio, sexta-feira, no Maracanã, demonstramos nossa capacidade de superação diante das dificuldades, oferecendo um raro espetáculo de talento, criatividade, beleza e emoção, que o mundo todo aplaudiu. Por algumas horas, recuperamos a auto-estima perdida e o orgulho de sermos brasileiros. No dia seguinte, vibramos com a vitória das meninas do futebol, na goleada por 5 a 1 contra a Suécia.

E amanhecemos no maior baixo astral nesta segunda-feira, depois de mais um vexame da nossa seleção de futebol masculino, que em dois jogos ainda não conseguiu marcar nenhum gol. No quadro de medalhas, estamos no 20º lugar, atrás do Cazaquistão (ganhamos até agora apenas uma de prata, no tiro).

Entre vitórias e derrotas na Olimpíada, narradores se esgoelam na televisão tentando manter o clima de festa da abertura, que aos poucos vai se desfazendo, na dura realidade das competições esportivas, mas não é só dentro das arenas que o Brasil balança. No mundo da vida real, continuamos acompanhando perplexos as novelas do impeachment de Dilma, da cassação do Cunha e das delações da Lava Jato, que entram e saem do noticiário como assombrações, e prometem novos capítulos emocionantes para esta semana.

Nunca foi tão lembrada a definição de Nelson Rodrigues sobre nosso complexo de vira-lata, na convivência neurótica com a mania de grandeza de um eterno país do futuro, que ameaça, mas nunca chega lá.

Não sei se vocês repararam na expressão dos jogadores de Brasil e Iraque no momento em que eram executados os respectivos hinos nacionais. Os iraquianos lembravam guerreiros com a faca na boca, com a cara de mau de quem está pronto para matar ou morrer, enquanto nossos atletas pareciam assustados sobreviventes de um acidente ferroviário, contrariados por estar ali tendo que cumprir mais um compromisso na Olimpíada.

Daqui a duas semanas, a distração da Rio-2016 acaba, e vamos ter que nos defrontar com a dura decisão da disputa entre uma presidente afastada e um presidente interino, sem que nenhum dos dois inspire confiança e mostre capacidade para comandar o País em meio à tempestade. Tanto faz o número de medalhas que vamos conquistar. Voamos rumo ao desconhecido num mambembe 14 Bis perdido no espaço.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

AO SENADOR BUARQUE

Prezado senador Buarque, quem faz política com ressentimentos, mágoas e vingança rasteja pelas bordas morais e se perde por falta de capacidade de juízo e de ser exemplo para o povo. Seria esse o seu caso?

Olhando daqui tem-se a impressão de que o senhor persegue o caminho decadente em direção à moradia dos refugos da história. Desde que saiu do PT, partido esse com muitos problemas e erros cometidos, o senhor marcou sua trilha com oportunismos ao desejar se candidatar a presidente da República pelo PDT. Depois saiu deste e ingressou no PPS com o mesmo objetivo.

O senhor vende a ideia de que partido e política como arte do bem público é o que menos lhe interessa. O debate construtivo de projetos coletivos não o inspiram. Pelo contrário, o senhor quer ser o todo poderoso programa que qualquer partido tem que adotar. E o seu programa é o senhor mesmo e o seu plano de uma nota só.

Então a sua neutralidade, base de suas dúvidas, era totalmente falsa. O senhor nunca teve dúvidas. Sua posição nunca foi neutra. O senhor tem lado, senador Buarque.

O seu lado é o do golpe e da morte à democracia. O senhor segue a marcha dos coronéis fichas sujas, empanturrados de propinas e investigados pela polícia. O seu chefe é o clandestino interino e golpista MisShel Temer, no fundo sob o comando do corrupto Eduardo Cunha.

Com sua decisão de votar no impeachment o senhor se despede definitivamente do povo e da democracia, num grandioso gesto suicida e hipócrita.

O seu caminho será ao lado de Temer, de Cunha e de todos os outros golpistas de 1954, forçando o suicídio de Getúlio, dos que derrubaram Jango em 1964 e agora com os vendilhões do Brasil. No fundo do abismo o senhor será esquecido e seu discurso sobre educação o acompanhará nas sombras do esquecimento.

sábado, 6 de agosto de 2016

AINDA TA TEMPO DE IMPEDIR O GOLPE.

O ataque às políticas e estruturas de proteção social do Estado já são sentidos pelo povo brasileiro. As reais intenções dos golpistas começaram a aparecer com a reforma ministerial, acabando com o conjunto de ministérios e secretarias especiais responsáveis pela ação social e pelo fortalecimento da cidadania. Na sequência, mudança de rumo nos ministérios da Educação e da Saúde foram os mais gritantes, iniciando imediatamente uma agenda de destruição das políticas implementadas nos últimos anos. São exemplo disso o desmonte do Fies, Prouni, PNE, SUS e Mais Médicos, substituídos por propostas como Escola Sem Partido, investimentos na saúde e no ensino privado em detrimento da saúde e da educação pública.

Os dados revelam que o aumento do desemprego tem provocado diminuição da renda e aumento da pobreza, ampliando a desigualdade social no Brasil. Num país onde aproximadamente 60% das famílias já vivem com menos de três salários mínimos, a redução de direitos trabalhistas, o desmonte do arcabouço de proteção social, a redução do investimento em políticas públicas, como propõem os interinos do golpe, combinados com o aprofundamento da crise econômica, jogarão o trabalhador brasileiro e o país em um enorme fosso social.

O golpe contra a democracia é, acima de tudo, contra a classe trabalhadora e a nação. Somente por meio de um golpe envolvendo o Congresso, o Judiciário e a grande mídia seria possível tomar o governo e colocar em andamento um projeto de tamanho prejuízo para a população. Esse assalto não seria possível dentro do regime democrático.

A retomada do crescimento deve se dar a partir de projeto de desenvolvimento assentado sobre a valorização do trabalho e o fortalecimento do Estado. Não podemos aceitar a aplicação das velhas fórmulas neoliberais baseadas no ajuste fiscal, que, em resumo, onera a classe trabalhadora e favorece a concentração de renda no país.

O ajuste das contas do governo deve partir de mudanças nos rumos da política econômica, começando pela redução da taxa básica de juros, que transfere mais da metade da riqueza produzida para os cofres particulares do mercado financeiro.

É preciso também discutir com seriedade a questão fiscal e tributária, não da forma que vem sendo feita com propostas de arremedo na previdência social, a ampliação dos percentuais da DRU, entre outras. É preciso rever a estrutura do sistema tributário brasileiro, que onera o trabalhador e é leniente com o grande capital. A tributação deve ser estruturada de forma progressiva, garantindo maior justiça na arrecadação de tal forma que os percentuais de contribuição sejam equivalentes, ou seja, quem ganha mais paga mais. Além disso, a fiscalização deve ser mais rigorosa combatendo a sonegação e os desvios.

A definição das estratégias e o controle dos investimentos em infraestrutura devem estar nas mãos do Estado, para impedir que o interesse público seja subjugado pelo interesse privado. É fundamental que se ampliem, modernizem e fortaleçam as estruturas em todo o país para aumentar a capacidade produtiva e agregar valor à produção nacional em consonância com uma estratégia de desenvolvimento nacional. Soma-se a isso o investimento em ciência e tecnologia, com fortalecimento do ensino superior e dos programas de pesquisa.

Um país que tem a diversidade de recursos naturais e uma população jovem como o Brasil tem todas as condições de gerar riqueza e distribuí-la de maneira justa, consolidando um grande desenvolvimento econômico e social com redução das desigualdades. Para tanto, defender a soberania e o patrimônio nacional, explorar os recursos naturais de maneira responsável e sustentável, avançar na regulamentação de direitos sociais e trabalhista ampliando a cidadania, fortalecer as estruturas democráticas por meio de uma reforma política que crie mecanismos de combate à corrupção e ampliação dos espaços de participação são medidas imprescindíveis para que o Brasil seja o país do futuro que sempre prometeu ser.

Por isso há apenas um caminho para o campo democrático no Brasil, especialmente os movimentos sociais e sindical. Ir às ruas, ampliar a mobilização e fazer o confronto com os golpistas. Ainda dá tempo de barrar o golpe e impedir os retrocessos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

LER É SINONIMO DE MELHOR VIVER

Frases que fazem a diferença na vida de todos: “Ler nunca é demais”. “É lendo que se aprende”. “A leitura é a arte da aprendizagem”. “É lendo que se recolhe sabedoria”. “A leitura engrandece a alma”. Lembramos de muitos pensamentos sobre a importância da leitura aos quais se teve acesso desde a infância até a maturidade. Nobres motivações nos levaram a descobrir outro mundo por detrás das letras. Na sociedade atual são imprescindíveis livros e professores. Valorizar os dois é garantir outro mundo possível para todos os cidadãos.

Com orientação de alguém capacitado e dedicação, com o tempo aprendemos a ler e escrever. Aprendemos a juntar as letras para formar palavras, compor frases, organizá-las em parágrafos, seguir uma lógica de argumentos. A leitura torna-se uma atividade sistemática na vida. Já habituados a essa atividade cotidiana, ao imaginar-se sem ela tudo parece faltar. Ela harmoniza espírito, mente, coração. Com ela o leitor faz sua vida ganhar humanidade e sacralidade. A leitura é, portanto, muito mais que um hábito sistemático ou periódico. Ler é um ato de vida. Em razão de sua importância, é uma fonte inesgotável de sabedoria, de aprendizagem, de novas descobertas. É prazer que preenche espírito, alma, tempo. Ainda que seja descanso e cansaço ao mesmo tempo é um itinerário sem chegada. Possui a capacidade de aportar o leitor a novos caminhos.

Cientes de que ler transforma indivíduos e, por extensão, a sociedade, é necessário que governantes da esfera municipal, estadual e nacional contemplem a educação como prioridade em seus planos políticos. Porém, destinar o maior orçamento para a educação não significa que seja prioritária em seus projetos de governo. É de convir que na esfera da educação há muitos servidores, estruturas com necessidade de manutenção, contingente de educadores a ser ampliado e atualizado. Servidores, professores e pedagogos com baixos salários e alta carga horária que impossibilita a pesquisa e acesso a livros, seminários, fóruns de debate e de qualificação profissional não podem ser motivados para sua relevante função social de, entre outras coisas, despertar para a leitura. Em contrapartida, é política a ser repudiada a concessão de aumento a categorias que ganham altos salários e recebem muitos benefícios como auxílio-moradia, transporte, viagens, férias, diárias, etc.

Em nosso país a verdadeira mudança se chama educação. Com crianças, jovens e adultos tendo livros nas mãos e professores valorizados com bons salários e tempo razoável para pesquisa, produção e leitura. Com a execução de planos de governo direcionados a tais objetivos pode ser entregue aos educadores a função social do ensino e ter confiança de alcançar outro mundo possível, pois ler é sinônimo de melhor viver.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A MORTE ESQUECEU DE MIM



Na Índia um sapateiro reformado alega ter nascido em Janeiro de 1835, dá para acreditar? Mahashta Mûrasi não só o ser humano mais velho do mundo, mas também o homem que mais anos viveu de sempre na História, de acordo com o Guiness World Records.As autoridades indianas avançaram que o homem nasceu numa casa em Bangalore no dia 6 de Janeiro de 1835. A partir de 1903 Mahashta Mûrasi passou a viver em Varanasi.

Trabalhou nessa cidade até 1957, altura em que se reformou, aos 122 anos de idade.

“Estou vivo há tanto tempo que os meus bisnetos já morreram há anos”, explicou Mahashta Mûrasi. “De algum modo, a Morte esqueceu-se de mim. E agora já não tenho esperança. Ao olhar para as estatísticas, ninguém morre com mais de 150 anos, muito menos com mais de 170. Neste ponto acho que sou imortal ou algo assim”, disse Mahashta Mûrasi à imprensa internacional.

Segundo o site WorldNewsDailyReport.com, todos os documentos de identificação do homem confirmam a sua versão, mas até ao momento, nenhum exame médico confirmou a veracidade da sua alegação. O último profissional de saúde que Mahashta Mûrasi visitou morreu em 1971, de modo que são escassas as informações sobre o seu historial médico

DAI DE BEBER A QUEM TEM SEDE

Simone Weil dizia: “Eu reconheço quem é de Deus não quando me fala a respeito de Deus, mas pelo modo como fala e atua nas coisas deste mundo”. Assim como a fome, a sede é um clamor que revela a urgência de uma necessidade indispensável à manutenção e ao desenvolvimento da vida. Aqui falamos da sede, pensando na vida querida por Deus. Se o mundo animal, especialmente o ser humano, reage e chega ao desespero na dramática experiência da fome, toda a criação anseia, geme e sofre pela necessidade de água.

Evidentemente quem mais reage e busca, de modo consciente e inteligente, por saciar a sede, é o ser humano. Os animais, com seu instinto também reagem e buscam resolver sua sede na procura de água. O reino vegetal, porém, por ser imóvel, mais dependente e frágil, diante de sua sede vai se prostrando e se entregando até morrer. Água não é apenas vida para a pessoa, mas necessidade vital para o mundo.

Hoje esta obra de misericórdia corporal: “Dar de beber a quem tem sede”, remete também à ecologia global, onde o sagrado dom da água clama por cuidado, preservação e garantia para a vida do planeta Terra. A água sempre foi, é e será o bem social e ecológico mais precioso.

Água para o nosso corpo – Todos os organismos vivos supõem a substância água para a garantia da vida. Em alguns organismos, porém, deverá ser garantida em maior quantidade, como é o caso do corpo humano. Observamos que a água não é depositada em nosso corpo, mas necessita sempre ser reposta todos os dias e por várias vezes. 60% do peso do corpo de um adulto e 80% do corpo de uma criança é garantido pela água. Ela é o principal componente de nossas células. Dentre as tantas células que mais necessitam de água estão aquelas de nossos músculos e de nossas vísceras.

Praticamente todas as reações de nosso corpo dependem da água. Por fazer parte da composição do plasma sanguíneo, a água é fundamental para veicular o oxigênio, nutrientes e sais minerais. Além disso, a água é responsável para eliminar do organismo substâncias tóxicas, ou em excesso dissolvidas.

Destacamos o benefício da água para o nosso corpo também como reguladora da temperatura. Quando o calor é exagerado, inicia-se a liberação do suor. Quando nossas emoções são incontroláveis pela normalidade, chegam as lágrimas para nos aliviar. Água é também proteção mecânica ao sistema nervoso. Os fluidos das articulações também possuem água e protegem o atrito dos ossos. Bendito é o líquido amniótico que protege o feto em gestação, protegendo-o contra os impactos durante o desenvolvimento da vida.

“Dar de beber a quem tem sede” é favorecer para que a vida, esse mistério precioso e frágil, complexo e necessitado, consiga garantir a sobrevivência e seu desenvolvimento normal. Não é sem razão que o Cristo, em sua sabedoria nos diz: “Quem dá a vocês um copo de água em meu nome, por vocês serem de Cristo, eu lhes garanto: não perderá a sua recompensa” (Mc 9, 41).

terça-feira, 2 de agosto de 2016

UM ESTRANHO EM NOSSA CASA

Alguns anos depois que eu nasci, meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade. Meu pai ficou encantado com esta personagem e a convidou a viver com nossa família. Todos estávamos de acordo. Fui crescendo e nunca perguntei sobre o lugar desta estranha em nossa família. Meus pais me ensinaram o que era certo e o que era errado, mas a estranha nem sempre concordava com eles. Ela tinha resposta para tudo o que quiséssemos saber em política, futebol, religião, história e compras. Além disso, era muito divertida.

Ela falava sem parar. Minha mãe, por vezes, ficava chateada e até se retirava da sala. Talvez fosse rezar. O pai não admitia que disséssemos palavrões ou consumíssemos cigarro ou álcool. A estranha permitia tudo isso. Os pais protestavam, mas eram voto vencido. Mesmo assim, ela não foi convida a retirar-se. Aos poucos aumentou sua influência, legislando sobre o certo e o errado, explicando que algumas coisas todo o mundo fazia ou ninguém mais fazia. E recusava maiores explicações: é isso aí e pronto.

Passaram-se mais de 50 anos e ela nunca mais foi embora. Nem mesmo saberíamos viver sem ela. Com uma autoridade cada vez maior, ela não aceita o diálogo: só ela fala, só ela sabe. Seu nome: Televisão. Agora ela tem um esposo que atende pelo nome de Computador e um filho que se chama Celular.

Na realidade, a televisão tem muitos pais. Já pelos anos de 1840 começou-se a estudar a possibilidade da transmissão de imagens à distância. Aos poucos o problema foi sendo resolvido. No ano de 1923, o russo Wladimir Zworykin desenvolveu o tubo de imagem, chamado iconoscópio. Ele é comumente considerado o inventor da TV. As primeiras imagens projetadas datam de 1925 e sua maioridade aconteceu nas Olimpíadas de Berlim em 1936. No Brasil, a primeira transmissão de TV aconteceu a 18 de setembro de 1950. Ninguém tem números confiáveis sobre o número de aparelhos no mundo. No Brasil ela está presente em 96% das residências. Ela é suplantada pelo fogão, presente em 97% das casas.

Saudada como uma universidade doméstica e uma janela para o mundo, ela pode também ser considerada uma caixa de alienação. A estranha – hoje – é a babá, a professora, a conselheira de todos. Ela oferece a todos o mais novo Tratado de Moral. Não faz muito, uma criança de quatro anos matou, com um revólver, uma irmãzinha de seis. Ela não se sentiu culpada, pois viu isto na televisão.

Certamente a estranha não vai ser posta para fora de casa. Mas é importante - é necessário - que os pais não a deixem falar sozinha. Expliquem aos filhos que existem fontes mais verdadeiras da Verdade e - quem sabe – leiam aos filhos a parábola do Joio e do Trigo. O Google informa onde encontrar o texto: Mateus, 13,24.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A PUTA DA VEZ.

Após mais uma edição da já tradicional “Street Party” coxinha, a favor do golpe e contra a corrupção, chego à conclusão que em qualquer festa Rave de jovens do ensino médio se encontra pessoas mais equilibradas, mais polidas e menos embriagadas. Os manifestantes da chamada “República de Curitiba” foram os vencedores do Oscar de melhor circo dos horrores. Gente fina, elegante e sincera, ao desserviço da boa educação e da democracia. Um paradoxo patológico de fácil diagnóstico, mas que tenta se camuflar por detrás de lentes Gucci, bandanas Armani, abadás oficiais da CBF e um complexo de superioridade que chega a ser risível de tão megalomaníaco e desenfreado. 

A Atriz Leticia Sabatella foi a puta, digo, a vítima da vez. Não sabendo que não é permitido andar em via pública quando o grupo mais relevante da nossa sociedade se encontra no mesmo local, a Atriz sentiu na pele a sensação de estar interpretando Maria Madalena na vida real. A cena é constrangedora e nos remete a algumas atitudes que insistem em se perpetuar, mas que precisam ser extintas da nossa cultura. Entre elas o machismo, a intolerância e o preconceito. Não consigo conceber a possibilidade do bom caráter conviver harmonicamente dentro de uma mesma pessoa, com as três “qualidades” citadas anteriormente. É como abastecer com água um carro a gás e querer convencer a alguém de que ele vai andar. Só é possível em mentes conceitualmente deturpadas e socialmente mal intencionadas.

No vídeo em questão, entre dezenas de bananas de pijama empunhando a bandeira nacional, destacam-se uma senhora vestida a caráter para a ocasião e um senhor que certamente é um pai de família defensor da moral e dos bons costumes. Ambos hostilizam a Atriz com palavras, xingamentos e expressões típicos do dialeto da elite golpista. Vagabunda, comunista, vai pra Cuba, a mamata acabou e fora PT, foram algumas delas. Os mesmos clichês de sempre. Tenho a impressão que esses termos compõe uma espécie de mantra que visa afugentar os seres pensantes que obsidiam as suas ideias elitistas e segregacionistas. Mas o discurso é tão raso que eles acabam atraindo espíritos zombeteiros, que tentam lhes trazer de volta a razão e lhes mostrar o quão ridículo são os seus argumentos.

A tríade machismo-intolerância-preconceito formou um acorde, cuja nota destoante foi ver uma mulher chamando a outra de vagabunda, sem que a outra seja de fato uma, apenas por discordar de suas ideias, mostrando assim que o machismo não é exclusividade do sexo masculino. O tal cidadão de bem surge do nada, apenas para chamar a Atriz de puta e sair sorridente, com a sensação de ter cumprido o seu dever de machão idiota. Para ele deve ter sido como fazer um gol numa final de copa do mundo e eu tenho a certeza de que ele está orgulhoso do que fez. A sua esposa, a sua mãe e todas as mulheres que ali estavam combatendo ao seu lado, também devem estar orgulhosas dele. Não duvido. Para esse tipo de gente toda mulher é puta se não for de direita, todo pobre é bandido se não for seu empregado e todo político é comunista se não gove rnar para os mais ricos.

Naquele momento Leticia Sabatella, declaradamente contra o golpe, representava tudo o que a elite golpista detesta com todas as suas forças. Ela expressou a opinião contrária, mesmo sem ter dito nada. Essa parte da elite, dona da verdade e de todo o conhecimento supremo, não suporta ser contrariada. Ela lembrou os pobres e os projetos de inclusão social através dos quais muitos foram beneficiados, mesmo sem que ela pertença a classe menos favorecida da população. Ela materializou o sentimento da maioria da população que rejeita o governo intruso e sua política escravocrata que visa tornar o homem (pobre) servo do estado, impondo leis trabalhistas que retiram direitos dos trabalhadores e atribui a eles mais deveres. Ela retratou as mulheres de coragem que não se deixam intimidar pela cultura do machismo e dispensam o rótulo de sexo frágil.

A intolerância aliada a uma forte inclinação a insanidade, sempre deu o tom dessas manifestações ditas patrióticas. Uma gente que grita que a sua bandeira nunca será vermelha e não percebe que indiretamente são os responsáveis sociais por mais da metade do sangue vermelho que escorre a céu aberto na nossa selva urbana. Uma gente que exclui, elitiza, discrimina e que se julga superior a tudo e a todos que não fazem parte do seu meio. Uma gente que não se constrange em sair às ruas para protestar usando os seus acessórios de grife e repondo as energias a sombra bebendo água Perrier e cerveja artesanal. Uma gente que bate panela e sequer sabe lavar uma. Uma gente que defende as suas capitanias hereditárias com unhas e dentes e não abre mão da desigualdade e da injustiça social.

Às putas resta a esperança por saber que Cristo perdoou os pecados cometidos por Maria Madalena e a conduziu a um final feliz. Enquanto que para os golpistas fica o exemplo de Judas Iscariotes, o traidor, que morreu enforcado pela própria ganância e por sua sede de poder.

Pai! Perdoai-os! Embora eles saibam bem o que faze