terça-feira, 30 de junho de 2020

HOMENAGEM AO DEUS CAPITAL


7 dicas para gerenciar o capital de giro da sua empresa

Em abril, o Banco Mundial previa que a retração da economia brasileira em 2020 seria de 5% do PIB. Agora, em junho, a avaliação é de 8 a 10%. E o governo esperava um crescimento de 2%...

Como a pandemia afeta principalmente trabalhadores autônomos e informais que, para sobreviver, não podem ficar confinados em casa, a previsão é que o número de brasileiros na pobreza subirá, neste ano, de 41,8 milhões (2019) para 48,8 milhões de pessoas, o que equivale a 23% da população.

São considerados pobres todos que sobrevivem com renda diária inferior a R$ 27,5 ou mensal inferior a R$ 825. Serão mais 7 milhões de brasileiros neste ano. O auxílio emergencial veio aliviar um pouco o drama social. Mas até quando?

Pesquisa da empresa Plano CDE, que analisa situação de vida e consumo nas classes C, D e E, indica que, entre março e abril deste ano, dos 58 milhões de brasileiros das classes D e E (renda mensal de até R$ 500), 51 milhões tiveram suas rendas reduzidas à metade ou mais. E dos 100 milhões da classe C (renda mensal de R$ 500 a 2.000), 29% sofreram igual perda.

Das famílias brasileiras, 70% que têm renda mensal inferior a R$ 3.135 dependem de ciclos econômicos favoráveis para se alimentar e pagar as contas. Com a Covid-19, tudo indica que, neste ano, essas famílias ficarão excessivamente endividadas. Em abril, o aumento de dívidas na classe C foi de 36% e nas classes D e E, de 47%.

Entre 2009 e 2019, o número de favelas cresceu 107,7%, informa o IBGE. Hoje, elas somam 13.151 em 734 municípios, e ali vivem 5,1 milhões de pessoas. Com a queda de 10% do PIB este ano, devido à pandemia, essa situação tende a piorar, a menos que se aprove um programa de renda mínima a cada família favelizada.

O Brasil tem, hoje, 28,5 milhões de pessoas desempregadas! Dado divulgado pelo IBGE em 16 de junho. Desse total, 17,7 milhões disseram não poder procurar emprego devido às restrições impostas pela pandemia.

A América Latina e o Caribe (ALC) abrigam 8,5% da população mundial. Entre 2000 e 2020 a fome foi reduzida quase pela metade nos 33 países da região. De 73 milhões de famintos passou-se a 38 milhões, segundo a FAO. Isso ocorreu graças aos governos progressistas que implementaram políticas sociais, programas de alimentação escolar e apoio à agricultura familiar.

Porém, iniciou-se o retrocesso a partir de 2015 – mesmo ano de lançamento da “Agenda 2030” da ONU, cujo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável é “fome zero”. O número de pessoas vivendo em insegurança alimentar na América Latina e Caribe chegou a 43 milhões em 2018. Para 2020, a Cepal prevê aumento de 16 milhões de pessoas na extrema pobreza. Realidade que é retratada pelo código das Bandeiras Brancas adotado agora em vários países, entre os quais Peru, Honduras, Guatemala e El Salvador: a família desprovida de qualquer alimento coloca à frente da casa um pano branco em sinal de que necessita urgente de socorro alimentar.

Não faltam alimentos no Continente. Falta justiça. Hoje, 84 milhões de crianças na América Latina e Caribe dependem da escola para ter acesso à boa alimentação, das quais 10 milhões só ingerem uma refeição minimamente nutricional ao receber a merenda escolar. Agora o vírus as exclui da escola e as aproxima da fome.

A Cepal e a OIT calculam que a Covid-19 resultará em mais 300 milhões de pobres na ALC, dos quais 83 milhões em extrema pobreza. O PIB do Continente deve decrescer 5%. Isso devido à paralisação dos mercados internos, diminuição do fluxo de cadeias globais, queda nos preços das matérias-primas e interrupção do trabalho informal de migrantes. A crise elevará a taxa de desemprego a 11,5%, o que significa 12 milhões de novos desocupados. Atualmente são 25 milhões. No fim deste ano serão 37 milhões na região.

Hoje, dos 292 milhões de trabalhadores na América Latina e Caribe, 158 milhões operam na informalidade. Entre jovens de 15 a 24 anos, o índice chega a 62,4%. A pandemia provocou a perda de 80% da renda dos trabalhadores informais. No mundo, de 60%.

Os governos latino-americanos e caribenhos destinam apenas 0,7% do PIB às populações mais vulneráveis. Deveria ser, no mínimo, 3,4%, para assegurar a sobrevivência de 214 milhões de pessoas que ingressarão na pobreza até o final deste ano. Os países mais afetados serão Brasil, Argentina, México, Equador e Nicarágua.

Esse grande lockdown colocou, em todo o mundo, 2,7 bilhões de pessoas no desemprego ou na informalidade, informa a OIT. Em nível global, o Banco Mundial calcula que a crise da Covid-19 pode incluir 70 milhões de pessoas entre as 632 milhões que sobrevivem, hoje, na pobreza extrema, ou seja, com renda diária inferior a R$9,50 ou, mensal, inferior a R$ 285. O PIB planetário sofrerá redução de 5,2% em 2020. Será a pior recessão em oito décadas.

No mundo, pode aumentar em 250 milhões o número de pessoas em insegurança alimentar. Mais de 30 países estão ameaçados pela pandemia da fome. O “Relatório Global 2020 sobre Crises Alimentares”, da ONU, revela a existência de 318 milhões de pessoas, em 55 países, em insegurança alimentar aguda. Muitas têm o que comer, mas não a quantidade diária suficiente de calorias necessárias. Se levarmos em conta a ingestão calórica, o número sobe para 2,5 bilhões de pessoas subalimentadas. Agravadas pela Covid-19, as causas da fome perduram: conflitos armados, condições climáticas extremas (desequilíbrio ambiental), dificuldades de acesso à terra e ao emprego, e turbulências econômicas.

O reverendo britânico Thomas Malthus se enganou ao prever, em 1789, que nos séculos vindouros a produção de alimentos cresceria aritmeticamente (1-2-3-4) e a população, geometricamente (1-2-4-8). Haveria mais bocas do que pão. Ao declarar isso o mundo tinha 1 bilhão de habitantes. Hoje somos quase 8 bilhões e sobram alimentos, suficientes para saciar ao menos 12 bilhões de seres humanos! Portanto, o que falta é partilha. A fome perdura porque há muitas famílias sem terra e muitas terras em mãos de poucas famílias.

Bilhões de famílias não têm recursos para comprar comida, que deixou de ter valor de uso e passou, com o capitalismo, a ter valor de troca. Essa mercantilização do bem mais essencial à nossa sobrevivência biológica é um crime hediondo. Os agricultores já não podem levar seus produtos ao mercado e vendê-los. Devem repassar ao atravessador que revende ao sistema que os processa, transporta, empacota e distribui aos pontos de varejo.

Hoje, são os bancos, as multinacionais e os fundos de pensão que dominam o mercado de alimentos e promovem especulações por meio de derivativos de commodities. Quando ocorre uma interrupção nessa cadeia, os agricultores são obrigados a queimar ou enterrar os produtos. Um crime de lesa-humanidade praticado em homenagem ao deus Capital.

domingo, 28 de junho de 2020

É PRECISO CUIDAR DA CULTURA


cultura brasileira | Diversidade cultural brasileira, Diversidade ...

A vida é dom especial que não pode ser compreendida como um simples contar dos dias. Um frágil dom de valor inestimável. Bem diz o apóstolo Paulo: a vida é um tesouro carregado em vaso de barro. Por muito pouco, esse dom pode ser atingido em sua sacralidade, gerando prejuízos irreversíveis comumente causados pelas perigosas relativizações. Relativizar valores e princípios, de forma inadequada, significa desconsiderar muitos aspectos do cotidiano que requerem atenção especial. A vida merece ser reconhecida como um tesouro. Assim, é preciso cuidar da cultura que sustenta a vida - todo um conjunto de valores, práticas, hábitos e costumes que definem o jeito de ser da pessoa e de uma sociedade.

Muitos consideram que o sistema político é o campo determinante para que uma nação conquiste avanços. Também se fala da decisiva influência das relações econômicas e de tantos outros campos na vida de um povo. Entretanto, de modo particular, vale prestar atenção, analisar e compreender as características culturais que definem o contexto social. A cultura tem força para influenciar todas as áreas da sociedade. O tecido cultural, com sua incidência nas muitas ações que integram o cotidiano, é decisivo para alcançar avanços, ou mesmo sofrer com atrasos. Por isso, nos processos educativos, vale estudar, analisar e compreender as singularidades da cultura. Isso permite conhecer com mais profundidade a realidade, gerenciar melhor as dinâmicas da vida.

Nesse sentido, para se alcançar o desenvolvimento integral não bastam os êxitos políticos ou as conquistas da área econômica. É preciso investir na qualificação do tecido cultural, torná-lo base consistente para avanços sociais. Analisar criticamente esse tecido permite selecionar e promover tudo o que faz um povo progredir. Possibilita também eliminar ou substituir características e jeitos de ser que alimentam atrasos. Traços culturais determinam jeitos de enxergar, sentir e elaborar a autoconsciência, indispensáveis para a participação cidadã. Por isso mesmo, é sempre preocupante quando os indivíduos aprendem que as coisas, os jeitos e os lugares dos outros, sobretudo dos que são de fora, são melhores.

A consequência é o comprometimento da autoestima, as perdas do sentido de pertencimento e do reconhecimento do próprio valor como povo e cultura. Convive-se com a falta de determinação, de objetividade, de lucidez e de produtividade. Nasce, assim, uma generalizada incapacidade para promover avanços, mesmo tendo à disposição as riquezas singulares do lugar onde se habita. As condições favoráveis, até privilegiadas, do próprio território são desconsideradas por descompassos na dinâmica cultural e se desdobram na incompetência humana para agir com transparência e coragem, principalmente no tratamento de assuntos que exigem objetividade para gerar avanços.

Diante da necessidade de se buscar o desenvolvimento integral, há uma demanda óbvia em toda sociedade: investir cuidadosamente no tecido da cultura para se alcançar transformações sociais mais profundas. Isso exige que todos os cidadãos sejam reverentes à própria história e aos seus antepassados. Assumam com coragem a tarefa de criar melhores condições de vida nos dias atuais, considerando, também, o bem-estar das gerações futuras. Particularmente, investir no tecido da cultura é agir com prudência para não se equivocar diante das relativizações que vão cobrar um alto preço. Aqui, vale recordar-se do campo da arte, em discussão neste momento. Quando a arte abandona o bom gosto, faz valer os absurdos das apelações e comparações inadmissíveis. Tudo em nome de liberdades que permitem a qualquer pessoa desconsiderar que a cultura é um processo de assimilação e vivência, substrato sustentador de um jeito de ser, da vida, que é dom. Essa é uma tendência perigosa, principalmente quando se reconhece que é preciso cuidar da cultura.

O MOMENTO ATUAL EXIGE AUTOCRÍTICA E CUIDADO.


Cuidado com a autocrítica! Não sabote a si mesmo - Guia do Viver

A fragilidade do tecido sociopolítico e religioso-cultural da sociedade brasileira aponta o preocupante fenômeno das tiranias, exigindo redobrada atenção para o conjunto dos descompassos que pesa sobre os ombros de todos. Curvada sobre si mesma, a sociedade apresenta preocupantes sinais de morte, o que requer urgente e adequado tratamento, ante o risco iminente de prejuízos irreversíveis. Por isso mesmo, há de se ter consciência mais clara sobre a realidade, para que se possa tomar direções acertadas e superar as graves lacunas que impõem sacrifícios e atrasam conquistas. Na ausência das providências necessárias, cresce a violência, aumenta o número de desempregados, multiplicam-se cenários de vergonhosas pobrezas, manipulações em instâncias que deveriam servir ao povo, mas se dedicam a oligarquias. A indiferença compromete a sensibilidade social e preocupa, com seus impactos negativos na justiça, inviabilizando a paz. Incapaz de atender às exigências contemporâneas e antropológicas, merece especial atenção o campo da educação, ainda muito balizado pela formalidade acadêmica e conceitual. Há, notadamente, um desafio na formação dos jovens: além de suas responsabilidades com o presente e o futuro, precisam lidar com as aceleradas mudanças que afligem a todos existencialmente. Considerar esta complexa realidade atual permite enxergar fragilidades que levam a ações, escolhas e palavras desprovidas de consistência e, consequentemente, incapazes de oferecer respostas aos desafios contemporâneos. Ao invés disso, alimentam mecanismos de tiranias.

Manifestação de uma força que busca esconder as fragilidades, as tiranias precisam ser enfrentadas urgentemente, a partir de investimentos para mudar mentalidades e qualificar as muitas dinâmicas da vida. Particularmente no contexto democrático, as tiranias promovem estragos, por encobrirem incompetências individuais e entendimentos que fundamentam propostas comprometedoras. Ora, a democracia inclui muitas exigências opostas às tiranias: capacidade de diálogo, sensibilidade social e política para respeitar e promover a igualdade, habilidade em articular a riqueza das diferenças e diversidades a partir de princípios irrenunciáveis, intocáveis. Assim, tiranias no exercício de poderes são sinais de alerta, pois ameaças à democracia levam a perdas irreparáveis. Reações e propostas não podem seguir na direção contrária aos parâmetros da democracia, com a opção por tiranias que simplesmente revelam fragilidades humanísticas e antropológicas, sinais do enfraquecimento geral das instituições, cada vez menos capazes de se orientarem pelo que, de fato, é importante para as pessoas a quem deveriam servir, não oferecendo respostas às muitas questões existenciais e cotidianas.

Constitui-se tirania não prover a sociedade dos funcionamentos necessários que venham a atender suas demandas e mobilizá-la na direção da justiça e da paz. Nesse sentido, vale, pois, analisar e considerar as posturas de cada cidadão e cidadã que podem ser também expressões de tiranias. As polarizações e extremismos, por exemplo, que se materializam nas relações estabelecidas especialmente nas redes sociais, são claros sinais desse mal. As atitudes que alimentam tiranias têm várias causas e origens. Entre elas, a falta de autocrítica tão fundamental em qualquer relacionamento. Essa capacidade é determinante no exercício de todas as responsabilidades, para que não se corra o risco de alimentar a presunção, que cega pessoas, enjaulando-as na mediocridade. Sem autocrítica, cresce a falta de respeito e perdem-se os parâmetros da urbanidade, inviabilizando avanços e a indispensável criação de consensos - entendimentos construtivos.

Não menos preocupante é o quadro de tiranias alimentado por fundamentalismos religiosos, no horizonte de um cristianismo torto que leva a perigos muito sérios, particularmente por influências indevidas, inclusive de instâncias democráticas. Essa e tantas outras formas de tirania merecem considerações à luz de análises, a partir de diferentes campos do saber, para que se perceba, com ainda mais clareza, os riscos causados pelo comprometimento da democracia, pela indiferença ante os clamores dos pobres, pelos autoritarismos e conservadorismo religioso inócuo, pelas crescentes intolerâncias, violências domésticas, particularmente, com abomináveis ocorrências de feminicídio.

O momento atual exige autocrítica, cuidados, atenção e empenhos para serem alcançadas legislações adequadas aos novos contextos. É indispensável, sobretudo, conversão pessoal para alavancar as necessárias mudanças e se viver tempos com mais civilidade e solidariedade. É hora de investir na superação dos sinais preocupantes, os riscos de tiranias.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

MUDEM DE VIDA...


4 Razões para Você Mudar de Vida Antes de que Seja Tarde

A cada dia, a situação social e política no Brasil é mais trágica e violenta. Despreparada e desavisada, a maior parte da população se defronta com um vírus cruel que, a cada dia, faz mais vítimas. Enquanto isso, a preocupação de muitos governos municipais e estaduais é satisfazer a empresários e comerciantes. Estes querem o funcionamento normal das indústrias e do comércio. Para que os ricos possam cumprir sua quarentena, os pobres precisam produzir e fazer o comércio funcionar a pleno vapor. No meio de tudo isso, o presidente da República cuida de alimentar a sociedade com a sua porção diária de ódio, racismo e todas as possíveis fobias sociais. Assim, com muita competência, acirra cada vez mais os ânimos, favoráveis e contrários ao seu desgoverno.

Neste clima de quarentena, um dos elementos mais dolorosos é que as pessoas doentes e em risco de vida devem ser isoladas. Não podem contar nem mesmo com a presença e o apoio afetivo dos familiares mais próximos. E nos bairros de periferia, onde as condições de moradia não permitem qualquer distanciamento social, o vírus penetra com mais violência. O mesmo acontece com as populações indígenas e grupos tradicionais, cuja cultura comunitária não interioriza a noção de contágio ou imunização.

Nesse momento, o mundo inteiro vive a crise econômica e social provocada pela pandemia. No plano do cuidado com o planeta, a pandemia revela que chegamos ao fundo do poço. Cientistas predizem que se não houver mudança drástica de caminho, possivelmente outros vírus se sucederão a estes e a humanidade não sairá dessa corrente de destruição.

No plano social, o Brasil inteiro se recorda de que estamos em tempos de festas juninas. No Nordeste, é a festa mais importante do ano e corresponde aos festejos pré-cristãos realizados desde tempos imemoriais no solstício do inverno. Na região andina, em locais especiais da Bolívia, Peru e Equador, os índios festejam o Inti Rami, as festas ao sol no ano novo. No Brasil, em roças e aldeias, principalmente do interior do país, há festas com brincadeiras, quadrilhas e comidas típicas de cada região. Algumas destas danças juninas vieram das cortes da Europa e são hoje o que se chamam “quadrilhas”. Até hoje, nessas danças, se usam termos franceses. As pessoas se vestem de caipiras e dançam como a nobreza de outros séculos. Nos casamentos matutos, figuras como padres e juízes da roça são caricaturadas e acusadas de só se interessarem por dinheiro e poder. Através dessas cenas humorísticas, as camadas mais pobres do povo expressam suas fortes críticas à elite e o seu protesto social contra as injustiças estruturais. Mesmo o fato de considerar Santo Antônio santo casamenteiro, associar São João Batista com fogueira e brincar com as chaves de São Pedro quebra algo da seriedade sisuda com que se costumam olhar os assuntos do céu. Ligam os santos às realidades de cada dia.

Por trás das festas juninas, podemos descobrir a imensa capacidade de se organizar do povo mais simples. Em poucas semanas e em condições de pobreza e de servidão no trabalho, as pessoas superam todas as dificuldades do dia a dia, ensaiam as danças, conseguem as vestes tradicionais, organizam comidas típicas e revelam uma unidade fundamental, mesmo na diversidade de opiniões políticas e de opções sociais. Atualmente, com o atual desgoverno brasileiro, corremos o risco de perder esta identidade fundamental de povo.

Em um mundo sem perspectivas, essas brincadeiras populares contêm uma forte crítica social. Ricos e autoridades são caricaturadas e apresentadas em suas ambições mesquinhas e suas velhacarias. Os mais pobres ensaiam uma sociedade nova, na qual todos são protagonistas. Assim, na alegria e de forma despretensiosa, grupos e comunidades populares sinalizam uma realidade nova que se aproxima ao que os evangelhos chamam de reinado de Deus.

É importante que, mesmo neste ano, quando não podemos vivenciar o caráter comunitário e presencial destas festas juninas, que este tempo não seja esquecido. Que as músicas próprias desta época animem uma festa no nosso coração, mesmo se estas festas coincidem com tempos de grande sofrimentos e lutas. Elas podem sim ser instrumentos de esperança e resistência. Do seu modo e em sua linguagem lúdica, parecem traduzir uma palavra que os evangelhos atribuem a São João Batista: “Mudem de vida porque a realização do projeto de Deus no mundo está próximo!” (Mt 3, 2).

quinta-feira, 25 de junho de 2020

NA TERNURA DA POESIA.


poema teu gesto

A humanidade está desafiada a tomar a direção certa para não ser vítima de emboscada. A pandemia da covid-19, em curva crescente de contaminações, expôs, ainda mais, as muitas outras pandemias que ameaçam o ser humano. A fome, a miséria, o feminicídio, o extermínio de indígenas, moradores de rua e vulneráveis mostram grande ferida, a ser curada, na civilização contemporânea. Em especial no contexto brasileiro, há uma preocupação: o país parece estar entre dois “paredões”, obscurecendo seus rumos e esmaecendo a luz de sua esperança. Urgentes providências são necessárias - os paredões precisam ser rompidos por um processo técnico-humanístico. Processo que seja capaz de iluminar direções para libertar a cultura de obscurantismos crescentes, obstáculos ao desenvolvimento integral.

Embora a contemporaneidade seja marcada pela assinalação de muitos avanços tecnológicos e científicos, admiráveis, convive-se com um terrível despreparo humanístico-espiritual. Faltam as bases para o cultivo de novos hábitos. Consequentemente, não há adequado enfrentamento das muitas crises que pesam sobre a humanidade. Ao analisar os acontecimentos dessas duas primeiras décadas deste terceiro milênio percebe-se, claramente, esse despreparo humanístico-espiritual. Há, no Brasil, muitos fatores que contribuem para o crescimento da exclusão social, para o recrudescimento da violência e para a consolidação de hábitos que são fonte de esgotamento do meio ambiente, causa de adoecimento das pessoas. Esses males ainda acentuam os atentados contra a democracia, com desrespeitos graves a instituições democráticas, a princípios pétreos da Constituição Federal, passando por cima da integridade das pessoas.

Espera-se rapidez para investir em ferramentas, dinâmicas e, principalmente, em experiências humanístico-espirituais que permitam à civilização contemporânea tomar rumo certo, libertando a sociedade brasileira de “paredões” escurecidos como porões. É preciso inaugurar novo estilo de vida e não permitir que a herança cultural-religiosa do povo seja ameaçada por escolhas ideológicas e políticas. Essas escolhas, além de serem equivocadas, alimentam vandalismos, que comprovam delírios de onipotências de grupos guiados pela hegemonia do dinheiro. Essa submissão a ideologias que distorcem o ser humano leva pessoas a acreditar, alucinadamente, serem “donas da verdade” e, por isso, detentoras de autoridade para atacar, desrespeitar, passar por cima dos outros. Uma situação incontestavelmente grave, que gera perdas no exercício da cidadania e na força das instituições a serviço do país.

Almas adoecidas, ideologias que comprometem a democracia, cidadania enfraquecida e instituições fragilizadas levam a um diagnóstico preocupante: faltam forças estratégicas para vencer as pandemias e há carência de lucidez para escolhas acertadas, capazes de gerar as mudanças necessárias. Sofre-se com a ausência da capacidade para articular valores, interpretar adequadamente a realidade e, assim, acertadamente contribuir para qualificar o contexto sociopolítico, nos parâmetros da democracia e do humanismo integral. Há, também, um nível de desgaste nas relações que provoca a perda de um componente indispensável para a harmonia entre as pessoas: a ternura, um dos fundamentos necessários à convivência. Importante é superar esquemas viciados e enxergar horizontes de valores e princípios que inspirem cada pessoa a contribuir para uma virada civilizatória urgente. O convite é recorrer sempre ao discernimento e à poesia.

Tristemente, falta a competência para o discernimento. Isto se torna evidente quando é observado o amplo universo de palavras proferidas na vida social - poucas são edificantes. Grande parte das palavras ditas apenas revelam delírios de onipotência. A poesia pode ser caminho para corrigir essa triste realidade, pois recompõe o encantamento - por Deus, pela natureza, por si e pelo outro, que é irmão. É hora de palavras edificantes, do coro dos lúcidos, para que ocorra o que diz Dante Alighieri: “Porque se as palavras curam tua alma, também hão de curar o teu corpo”. A humanidade, com feridas expostas, neste tempo difícil, de travessia, acolha também a indicação de Carlos Drummond de Andrade: “Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim”. Por uma humanidade nova, na lucidez de discernimentos e na ternura da poesia.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A SOBERANIA DOS ALIMENTOS


PIB do agronegócio inicia 2019 com leve queda - ABISOLO ...

Definitivamente, o futuro da alimentação não é o que era para ser. Pelo menos no que a agricultura industrial se referia. Monsanto, o vilão mais conhecido da agricultura transgênica, pode em breve perder seu nome e desaparecer do cenário mundial, se sua compra for autorizada pela Bayer - embora suas intenções sejam as mesmas. As fusões Syngenta-ChemChina e DuPont-Dow também seguem em negociação sob o escrutínio das autoridades anti-monopólio em muitos países. Se as fusões se concretizarem, as três empresas resultantes irão controlar 60% do mercado mundial de sementes comerciais (incluindo quase 100% de sementes geneticamente modificadas) e 71% dos agrotóxicos a nível global, níveis de concentração que superam amplamente as regras antimonopólio de qualquer país.

Estas megafusões terão muitos impactos negativos a curto prazo: aumento significativo dos preços dos insumos agrícolas, além da diminuição da inovação e das variedades à disposição do mercado, maiores limitações ao melhoramento vegetal público e aumento de pesticidas nos campos - e, portanto, nos alimentos - para poder continuar vendendo sementes transgênicas, embora hajam provocado resistência em dezenas de plantas invasoras e tenham que subir as doses e adicionar misturas aos agroquímicos ainda mais tóxicos. Para essas empresas, seu maior negócio é vender veneno. Ou seja, se não os impedirem, este será o curso de ação.

As fusões terão também fortes impactos sobre as economias rurais e de agricultores familiares, embora estes utilizem em sua maioria as suas próprias sementes e pouco ou nenhum insumo químico, porque o poder de pressão destas megaempresas frente a governos e instituições internacionais aumentará com o seu tamanho e com o monopólio dos primeiros elos da cadeia agroalimentar. Eles aumentarão a pressão para obter leis de propriedade intelectual mais restritivas; para restringir ou proibir as trocas de sementes entre agricultores - por exemplo, com normas "fitossanitárias" e a obrigação de utilizar sementes registradas -; para que os programas voltados para o campo e os créditos agrícolas sejam condicionados ao uso de seus insumos e sementes patenteadas; para que os gastos em infraestrutura e outras políticas agrícolas beneficiem a agricultura industrial e desloquem os camponeses.

Como se isso não bastasse, há outros fatores muito preocupantes. A sequência de fusões não acabará com esses movimentos, mas está apenas começando. O que está em jogo a médio prazo é quem controlará os 400 bilhões de dólares de todos os insumos agrícolas. Atualmente, o valor conjunto do mercado comercial mundial de sementes e agrotóxicos é de 97 bilhões. O resto, três vezes maior, é controlado por empresas de máquinas e de fertilizantes, que também estão se consolidando. As quatro maiores empresas de maquinário agrícola (John Deere, CNH, AGCO, Kubota) já controlam 54% do setor.

O setor de maquinário agrícola já não é mais constituído apenas por tratores simples: ele tem adquirido um alto grau de automação, integrando GPS e sensores agrícolas às suas máquinas, drones para irrigação e pulverização, tratores não tripulados, assim como um acúmulo maciço de dados de satélite sobre solos e clima. Por sua vez, a Monsanto e companhia, as seis grandes "gigantes genéticas", também se digitalizaram e controlam uma enorme base de dados genômicos de cultivos, micro-organismos e plantas de agroecossistemas, além de outras bases de dados relacionadas.

Já existem entre ambos os setores contratos de colaboração e até mesmo empresas compartilhadas para a venda de dados climáticos e seguros agrícolas. A Monsanto, por exemplo, adquiriu em 2012 a empresa Precision Planting, de instrumentos e sistemas de monitoramento para "agricultura de precisão", desde o plantio à irrigação e a administração de agroquímicos. Em 2013, ela comprou a The Climate Corporation, para registro e venda de dados climáticos. A John Deere posteriormente concordou em comprar a Precision Planting para a Monsanto, mas os escritórios antitrust dos Estados Unidos e, posteriormente do Brasil, contestaram a compra, considerando que a John Deere passaria a controlar uma porcentagem monopólica do setor. Por mais que finalmente a venda tenha sido cancelada em 2017, este é um exemplo da tendência. Existem várias outras empresas de base digital-instrumental (Precision Hawk, Raven, Sentera, Agribotix) partilhadas ou em colaboração entre as transnacionais de maquinaria agrícola com as de sementes e agrotóxicos. A este respeito, veja o documento "Software contra Hardware" do grupo ETC.

Tudo indica que as grandes empresas de maquinaria se mobilizarão para comprar os gigantes da genética, logo após terem terminado a primeira sequência de fusões. Esta segunda sequência tem o objetivo de impor uma agricultura altamente automatizada, com muito poucos trabalhadores, o que oferecerá aos agricultores um pacote que não poderá ser recusado: desde as sementes, insumos, máquinas, dados genéticos e climáticos, até quais seguros eles terão de comprar, além de buscarem que os créditos agrícolas sejam condicionados à aquisição deste novo pacote, assim como já é feito agora com as sementes e os agroquímicos.

É essencial entender e denunciar os impactos das megafusões desde já. Muitas organizações têm se mobilizado para protestar nos EUA, Europa, China e vários países da África e da América Latina, inclusive diante dos escritórios antimonopólio, o que tem pelo menos atrasado a sua aprovação. Substancialmente, trata-se de impedir que os agronegócios se apropriem de todo o campo e da alimentação, além de ser uma forma de proteger a produção rural e agroecológica, a única forma de comer de maneira saudável e com a soberania dos alimentos.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

AO REDOR DA MESA DA VIDA,


Cleane Gourmet

Enquanto não chega o “novo normal” vamos nos virando com a anormalidade dos dias que vivemos.

No feriado de Corpus Christi! Feriadão dos mais requisitados do ano, pois que sempre cai na quinta feira, certeza de uma emendada básica pra boa parte dos habitantes dessa Terra Brasilis.

Nas escolas o recesso aguardado com ansiedade. Fim de semestre, todo mundo já meio baleado, era um refresco no sufoco, antes das bimestrais.

Hoje, não...

Nesses dias estranhos, palavras antipáticas, como quarentena, isolamento, distanciamento, e estranhas, como lockdown, vem fazer parte da nossa nova rotina.

Impedidos de aproveitar as ofertas de pacotes turísticos, livres dos congestionamentos em rodoviárias, aeroportos e estradas, podemos, quem sabe, re-cordar (trazer de novo ao coração) o significado desse feriado religioso.

Rezava, por esses dias, a 1ª Carta de Paulo aos coríntios. No capítulo 12 ele compara o cristianismo a um corpo que tem muitos membros. E finaliza dizendo: “Vocês são o corpo de Cristo...”.

Não sei se você reparou, mas o altar é uma mesa de refeição que ao longo do tempo foi sendo estilizada. Imagino a mesa comum, das primeiras comunidades cristãs, ainda clandestinas, nas casas das famílias. Em silêncio, repartem o pão. O cálice com vinho passa de mão em mão. “Tomai todos... comei... bebei...”.

Depois, com o cristianismo assumindo o lugar de religião oficial do império romano, o altar vai ganhando espaços arquitetônicos imponentes. As grandes catedrais medievais realçam o poder dos papas.

Dos altares barrocos das igrejas históricas, até os templos modernos dos nossos dias, é possível perceber a evolução estética e litúrgica em torno do sagrado. O convívio com o poder afastou o altar para bem longe do povo, lá no alto, como podemos conferir nas igrejas históricas ainda preservadas. O lugar era isolado por uma balaustrada de onde o padre celebrava de costas para a assembleia e em latim! O Concílio Vaticano II trouxe a mesa de novo para perto da comunidade.

Se eu fosse arquiteto e me coubesse desenhar o projeto de uma igreja, colocaria o altar,  e a pia batismal no centro do templo.

É mais que uma mudança de lugar. É uma catequese.

Corpus Christi, como me lembra meu amigo e mestre, Adroaldo, “é um chamado urgente para que nos prostremos diante do Cristo, humilde e caminhante, que passa continuamente diante de nós, vestido de mendigo, desempregado, enfermo, faminto, solitário, abandonado, [à espera de uma vaga na UTI, num respirador]...

Esse Jesus nos convida a viver a Santa Ceia, não como milagre nem como mistério, mas como lugar de encontro com os mais necessitados.

Que passem procissões com o Pão Eucarístico por nossas ruas, com a solenidade e pompa permitidas pela pandemia, mas, que pensará Jesus ao passar diante das casas onde hoje falta o pão? Que pensará Jesus ao passar diante de crianças que tem fome? Que pensará Jesus ao passar diante de homens e mulheres que o acompanham com o estômago vazio, sendo Ele mesmo o “verdadeiro pão”? Que pensará Jesus ao ser levado nos “andores” e carros alegóricos por pessoas que não conhecem a fome, enquanto, nas filas, estarão aplaudindo os que esperam o auxílio emergencial?...”
Hora de olhar para as nossas mesas. Não para ver o que falta, mas QUEM falta?

A quem precisamos convidar, talvez pelo perdão, quem sabe pela solidariedade fraterna, a compartilhar conosco do mesmo pão?

O ato de estar à mesa é, para nós, simbólico. A etimologia pode nos ajudar a entender melhor.

O termo 'simbólico' vem do grego. É a junção de duas expressões: "Sin", quer dizer junto, perto, ao lado, e "bolós", que significa movimentar, trazer, bailar.

Assim, SIMBÓLICO, numa tradução livre e ligeira quer dizer: trazer para perto, para junto...

Não por acaso, a palavra diabólico, também é a junção de duas expressões; "dia", que quer dizer longe, distante, fora de, e "bolós" que, como vimos, é levar, movimentar, trazer, bailar.

DIABÓLICO, portanto, quer dizer dividir, separar, levar para longe.

O diabólico nos afasta uns dos outros, separa, gera conflito, intolerância, desunião.

( Lembrou de alguém?... )

O simbólico nos aproxima, une, convida à comum-união.

Vivesse o Jesus Histórico nos nossos dias e houvesse nascido numa cidadezinha do interior gaúcho estaríamos celebrando a Eucaristia com chimarrão e pão de milho e faríamos, quem sabe, o verdadeiro milagre eucarístico acontecer ao redor da mesa da vida...

domingo, 21 de junho de 2020

PLENAMENTE REALIZADOS E LIVRES


CARROSSEL DE LUZ Grupo de Estudos Psicoespirituais: A FORÇA DO ...

"O amor é doação. Tudo o que contradiz a doação, machuca".

O amor é uma das idéias mais revolucionárias, capaz de garantir condições de vida em segurança. O medo, valor tão propagado e vivenciado por conta da violência cotidiana, não pode nos apequenar diante dos desafios de sempre construir vida na dignidade, a partir de relações de respeito, consideração e apreço de um para com o outro. O medo nos protege e não irá nos desencorajar para a vivência e a convivência humana.

Nossa civilização "encaixotou" o afeto. O afeto estimula a criarmos as condições para nossa plena realização. O ser humano é um ser em construção, por isso mesmo exige investimentos afetivos a vida toda. O cuidado, como algo essencial e que constitui a nossa condição humana, deve ser resgatado se quisermos devolver à humanidade o verdadeiro sentido de sua existência.

Não sobrevivemos se não somos bem cuidados. Na escala dos seres vivos, somos os mais dependentes de todos. Saímos da barriga da mãe, caímos nos braços de uma família. Aos poucos vamos crescendo e nos integrando aos grupos sociais da escola, da vizinhança, dos amigos, dos colegas de trabalho. E cada fase de nossa vida exige que sejamos cuidados e que saibamos cuidar, da gente e dos outros.

A necessidade do cuidado e as carências afetivas, próprias do ser humano, não constituem nenhuma fraqueza. O que nos torna fortes e capazes de superar as contradições é a coragem de assumirmos nossas carências, pois estas é que nos desafiam para o crescimento e discernimento pessoal, afetivo e social. As relações que se constituem na partilha, na compreensão, na doação, na gratuidade e na confiança são oportunidades que muitos constroem por acreditarem que sua realização depende da integração, convivência e complementariedade a serem construídas junto com os outros. São também excelentes oportunidades de vivenciar a doação, pois vida existe se for compartilhada.

Redescobrir-se em permanente relação com os outros é a grande contribuição que cada um pode oferecer para a elevação de uma consciência de humanidade. Reconhecer e vivenciar valores como a solidariedade, a amizade, o amor, a partilha e a alteridade pode nos possibilitar um mundo com menos violentos e menos violentados.

A solução para os problemas de convivência social não passa pela construção de novos presídios e nem pelo endurecimento de nossas leis. A solução passa pela promoção da vida e da humanidade, através do cultivo de relações de respeito, amor e afeto. Passa também pela promoção da justiça. Romantismo? Não para os que acreditam que o amor é sempre maior do que o medo e a dor. O amor sempre foi a inspiração dos grandes mestres como Jesus Cristo, Madre de Calcutá, Gandhi, Dallai Lama, Chico Xavier e outros tantos mais. Aprendamos com eles se quisermos sobreviver plenamente realizados e livres.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

MUDAR A EMBALAGEM


Mudar embalagem pode afundar um produto?

Quando uma pessoa nasce é imediatamente inserida num sistema. Nele, ela é alimentada, nutrida e se ajusta aos padrões que lhe foram impostos. Tudo é maravilhoso enquanto não se vê algo novo e diferente, mas quando isso acontece pode provocar tensões, crises. O choque entre o novo e o velho, ou os diferentes, quando for necessário é fundamental para o enriquecimento ou crescimento pessoal.

Todo sistema fechado cria leis e regulamentações de controle para manter aquilo que chamam de ordem. Algumas delas são oficialmente registradas, outras aparecem em momentos particularizados. No entanto, nada fica fora de um certo tipo de padrão.

Cada pessoa sofre o processo de se padronizar no ambiente cultural que nasceu. Neste caso, não há escolha de opção para nascer, simplesmente a pessoa se encontra num sistema que não pensou, não planejou, nem optou nascer, crescer. Com o tempo em que a pessoa vai crescendo e se sociabilizando com o primeiro ambiente, que é mais familiar, acontece o tempo da descoberta de ambientes diferentes como escola, amigos, local de morar...

Cada descoberta vai marcando a pessoa e abrindo para ela novas oportunidades e possibilidades diferentes de viver e conviver. Com cada nova descoberta abraçada acontece o envolvimento e a convivência que gera experiências novas provocando na pessoa uma decisão, ou seja, chega o momento de uma nova oportunidade e a escolha em seguir em frente ou não é pessoal. É o momento de um novo paradigma, mas que só acontece pela decisão.

A decisão tomada por um novo paradigma cria a transformação pessoal, que nada mais é do que é a mudança necessária para a sobrevivência. É preciso estar atento ao momento de um novo paradigma para que haja na pessoa uma evolução da inteligência, do comportamento.

A felicidade fica justamente nesta convivência dos velhos para os novos paradigmas. É uma felicidade fora dos padrões originários. Portanto é preciso passar por essa transição, sem medo. Nada de pensar que quem está fora dos padrões recebidos são os perversos, na verdade o perverso continuar com padrões em desusos para a humanidade.

Na mudança de paradigmas ou transição de padrões, mantêm-se o que é essencial, o que se muda é a embalagem do produto. É um ato de inteligência perceber a necessidade de mudar a embalagem para os novos tempos, para manter atualizado o produto. A felicidade é uma espécie de produto que precisa fugir de muitos padrões para se manter firme, validade e eficaz.

O QUE É NORMAL?

Renda básica: por um "novo normal" que se oponha ao inaceitável ...

O estouro da boiada. Como não vivo no campo, aprendi essa semana, vendo como as pessoas estão se comportando logo aos primeiros sinais de relaxamento do isolamento social, e compreendi a expressão – foi o que me pareceu um estouro da boiada. Vendo as filas horrorosas, os apertos e ajuntamentos, as burlas das leis ordenadas, mas sem fiscalização em um país onde faz tempo se aprende a viver ilegalmente. Parece que ficaram os quase 90 dias em casa esperando o sinal tocar, como esperávamos o sinal do recreio na escola, e que passaram esses dias anotando o que comprariam com o pouco que ainda lhes restou, se é que ainda restou. Ou se apenas o que aconteceu é que ficou mais escancarada a possibilidade do fim do mundo, ou da instantaneidade da vida. Partiram para o tudo ou nada.

Nos noticiários vi gente impaciente esmurrando a porta da loja que se atrasou para abrir. Vi também alguns comerciantes reclamando do horário limitado e do número baixo de clientes, como se isso já não fosse de certa forma normal até bem antes da pandemia. Gente atabalhoada tentando tirar o atraso, e esse atraso correndo deles.

Diferente das filas criadas pelo confuso e desatinado governo para dar o auxílio emergencial e quando muitos correram para portas de bancos para tentar garantir aquele trocadinho, o que até valeria algum risco, desta vez se aglomeraram para comprar nas ruas e shoppings populares, bater pernas atrás de presentes para datas que já não marcam é mais nada. Houve também muitos que vieram com sacolinhas e sacolões para comprar o que venderiam em outras filas e aglomerações, em outros locais, nos paraguaizinhos de todo o território nacional.

Máscaras foram o hit da vez nas barracas dos camelôs, mas nem todos as usam no lugar, ou mesmo as usam. Estão faltando beber álcool em gel, como se esse pudesse ser servido em copinhos e, espirrados, fossem mágicos seus respingos. O resultado dessa loucura estará no futuro logo ali, nos números de novos infectados e mortos, como se não bastasse já termos ultrapassado a terrível marca oficial de 40 mil brasileiros mortos e de quase um milhão de infectados, números ainda acanhados perto da realidade, sub notificados de todas as formas possíveis, inclusive oficialmente, na cara dura.

Repito: e vocês aí achando que uma nova sociedade surgiria dessa experiência que, inclusive, não tem qualquer data para acabar, sem vacina, sem remédios, só desatinos e improvisos. Como? Com um dirigente máximo insano?, que pouco está se lixando para a vida, e que agora – dá até vergonha de falar – incentiva seus seguidores chucros (que certamente poderão, com razão, serem chamadas de gado, se o fizerem) a entrarem nos hospitais para registrar e “denunciar” (!) camas vazias... Qual o próximo passo?

Esse presidente e sua equipe, sim, podem ser chamadas de anormais por não pararem um minuto de multiplicar a ignorância e o perigo. Obrigaram até a oposição a tentar se organizar e chamar protestos nas ruas, antes ocupadas apenas por uns seres estranhos e feios vestidos de verde e amarelo abanando bandeiras antidemocráticas ou desconexas, montinhos perdidos que podiam ser encontrados tentando se acasalar e se multiplicarem lá na frente do Palácio da Alvorada; em São Paulo, na porta da Fiesp e em frente ao 2º Exército.

E os ladrões, espalhados, enchendo os bolsos com o super faturamento de equipamentos e insumos hospitalares? Aumentando preços como se realmente não houvesse amanhã? Bancos posando de bonzinhos nas propagandas e ignorando pedidos de socorro por créditos a juros mais baixos? A lista é enorme e você aí já deve ter lembrado de mais algum fato entre esses que assistimos estupefatos.

Daqui de meu posto de observação estou é vendo muita gente brincando com a morte, como se ela já não estivesse bastante visível. E fico, acreditem, cada dia mais preocupado e temeroso com a forma dessa abertura precipitada, sem conscientização, como se o vírus tivesse tirado férias. Mas ele ainda está lá escalando a montanha em busca de asfixiar e tirar o oxigênio vital, todo feliz com os pratos oferecidos para sua alimentação, especialmente os pobres.

Para finalizar, não me venham falando em percentual de ocupação de leitos estar folgado. Ninguém quer vê-los cheios. Ninguém quer ficar doente. Não é possível que esse tal novo normal seja tão burro que não possa entender isso.

Normal. O que é normal?

quarta-feira, 17 de junho de 2020

A BOA POLÍTICA

A política como gestão de conflitos - Politize!

A boa política é uma “forma eminente de caridade”. É o caminho fundamental para se construir a cidadania, realizar obras. Uma verdade que precisa tocar o coração de todos, sobretudo dos que se candidatam e são escolhidos pelo povo para o exercício do poder. Mesmo que muitos interesses estejam envolvidos nas discussões políticas, é dever de quem representa o povo permanecer firme na defesa de seus representados, sem se deixar seduzir pelos objetivos de grupos com ambições pouco nobres. A política exige respeito a referências inegociáveis, ancoradas na liberdade e no compromisso com o bem comum. Nesse sentido, a meta de quem exerce o poder deve ser promover a dignidade humana, em profundo respeito à justiça.

A verdadeira política é arte que se vale do diálogo para encontrar as soluções mais adequadas ao bem comum, a partir da argumentação, de compreensões lúcidas sobre a realidade. Oportuno lembrar que a arte tem força para elevar a compreensão humana a novos patamares. Por isso mesmo, o exercício da política, enquanto arte, deve contribuir para que a sociedade avance rumo a novas conquistas civilizatórias. O interesse tem que ser o bem comum. É isso o que se espera dos representantes eleitos pelo povo. E que não percam a clareza de que o parlamento, em nível federal, estadual ou municipal, é a casa do povo, onde seus representantes estão reunidos, para servi-lo. Assim, a configuração de “bancadas”, para a defesa de interesses muito particulares de alguns segmentos, não raramente contrários ao bem, à justiça e à verdade, é algo incompatível com a boa política.

O exercício do poder exige qualificado debate sobre os diferentes anseios dos diversos segmentos da sociedade, processo indispensável para a construção de entendimentos acertados. É fundamental dialogar no contexto político, com a imprescindível capacidade para reconhecer os clamores do cidadão comum, particularmente dos mais pobres. Compreende-se que ser parlamentar é tornar-se porta-voz, principalmente, dos que sofrem. Na contramão desse sentido, o exercício da representação é de duvidosa qualidade e incapaz de promover melhorias, pois, quando a política é exercida de modo equivocado, contribui para que as riquezas sejam dilapidadas a partir de crimes ambientais e humanitários, em vez de convertidas em benefícios para a vida no planeta. Seja meta dos que ocupam cargos nas instâncias do poder a promoção do desenvolvimento integral, com respeito à natureza, aos valores culturais e religiosos, dentre tantos outros.

Não é tarefa fácil exercer a boa política. Por isso, ante às complexidades e exigências, muitos se afastam dessa responsabilidade. Os estreitamentos ideológicos, por exemplo, também agravam a aversão ao universo político. Mas essas distorções só podem ser corrigidas a partir da arte de dialogar. Assim é que se vencem barreiras e se constroem entendimentos, criando novos marcos regulatórios capazes de revisar legislações inadequadas, que atendem somente a interesses pouco nobres, fontes de crimes ambientais e humanitários.

A política como arte do diálogo é capaz de elevar o exercício da cidadania, reconhecendo que o bem coletivo é a meta central a ser buscada por todos. Dialogar é dinâmica que promove correções, possibilitando aos representantes do povo atuar, cada vez mais, de modo coerente com os anseios de seus representados. Estejam todos abertos ao diálogo, sem medos, preconceitos, para que ocorram os intercâmbios necessários de ideias. Particularmente, os políticos possam ouvir instituições que mereçam respeito, por terem credibilidade e, assim, desenvolver trabalhos comprovadamente importantes para a população, especialmente para os mais pobres.

Fazer com que a política se torne, cada vez mais, a arte do diálogo, exige dos representantes do povo disposição para o exercício da humildade e da generosidade. Abertura para a escuta, sem se apegar a interesses egoístas e cartoriais. Que os políticos renovem a disposição para dialogar, evitando descompassos e, assim, permaneçam firmes na busca pelo bem de todos.