terça-feira, 16 de junho de 2020

ACABAR COM TUDO QUE LEVOU TEMPO PARA SER CONSTRUÍDO.


Não verás país nenhum - Ignácio Loiola Brandão - Kbook

Na manhã do dia 14 de junho, os jornais estamparam em suas manchetes que o Brasil alcançou a inimaginável quantidade de 851.321 casos confirmados de infectados pela Covid-19 com 42.802 mortes. Estes são números “oficiais” levantados pelo consórcio de veículos de imprensa, a partir de dados coligidos pelas secretarias estaduais de saúde. Este consórcio tornou-se responsável pela compilação e divulgação dos números referentes à pandemia, desde que o governo criminoso de Jair Bolsonaro resolveu “maquiar” os dados verdadeiros. O número de subnotificações de casos da pandemia é muito maior, segundo instituições científicas de todo o Brasil.

Quase 43 mil brasileiros mortos entre janeiro e 13 de junho deste ano. Números surpreendentes! A continuar no ritmo de cerca de 890 mortes por dia, o país terminará junho contabilizando por volta de 55 mil mortes! A título de comparação, os EUA perderam 58.328 combatentes durante toda a guerra do Vietnã que durou duas décadas.

O número de mortes pela Covid-19 em 5 meses já superou os 41.635 assassinatos ocorridos nos 12 meses de 2019. Para imprensa internacional e governos estrangeiros, o Brasil está se tornando um pária internacional, um país que ameaça a saúde mundial e que deve ser isolado.Apesar disto, em sua live do dia 11 de junho, Jair Bolsonaro solicitou aos seus apoiadores que arranjassem “um jeito” de entrar nas UTIs dos hospitais para verificarem se os pacientes que nelas se encontram eram, realmente, vítimas da Covid-19 e para constatar se havia leitos vagos. Para comprovar a seriedade da pandemia, não bastam ao genocida os números alarmantes de sepultamentos que aumentaram exponencialmente no Brasil, não bastam as fotografias de dezenas de covas abertas à espera de corpos nos cemitérios de todo o Brasil nem os números divulgados pelas secretarias estaduais de saúde. É preciso que seus apoiadores invadam as UTIs dos hospitais para constatarem in loco o tamanho e a seriedade do problema se é que irão constatar alguma coisa; uma pessoa que considera, seriamente, uma recomendação como esta, demonstra um sério problema cognitivo, além de mau-caratismo.

Em qualquer outro país do mundo onde as instituições democráticas funcionam, estas recomendações qualificariam crime e seu autor seria penalizado. Na conjuntura surreal que se instalou no Brasil desde o golpe de 2016, nada acontece, muito pelo contrário. Tudo parece estar dentro da normalidade. Se acusado, Bolsonaro alegará que não tem nada a ver com a invasão do hospital, que não mandou ninguém invadir hospital nenhum, apesar das imagens disponíveis nas redes sociais, e ficará tudo por isto mesmo.

No dia seguinte à live, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, declarou estar mais preocupado com a pandemia do que com o “risco” à democracia. Para ele, o ambiente político brasileiro encontra-se estável e dentro do esperado, seguindo o roteiro que ele e outros ajudaram a construir com o golpe de Estado de 2016. Barroso é parte integrante e ativa desta trama.

Na mesma linha do presidente do TSE, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, declarou que seu partido é contra o impedimento de Bolsonaro, que seu partido fará oposição institucional. Não custa lembrar que o PSDB está por trás do manifesto Estamos Juntos que alega defender a democracia brasileira. Resta saber que democracia é esta que o PSDB defende.

O impedimento não é a melhor medida para restabelecer a democracia liberal burguesa porque individualiza o problema, como se substituir Bolsonaro por Hamilton Mourão, deixando Paulo Guedes no governo, resolvesse tudo como em um passe de mágica e fizesse o Brasil voltar a ser uma democracia autônoma que fizesse frente ao neoimperialismo. Só a anulação das eleições de 2018 e convocação de novas eleições gerais poderia resolver este problema.

Enquanto isso, Bolsonaro permanece no poder e vai acabando com tudo o que levou muito tempo para ser construído.

Somem-se a este problema a tentativa do governo Bolsonaro de intervir na autonomia das universidades públicas brasileiras, o descaso com o meio ambiente, o subfinanciamento das universidades e do SUS, o desinvestimento em pesquisa, o corte de investimentos públicos implementado pela PEC da Morte, a Emenda Constitucional nº 95, que estabeleceu um teto constitucional para os gastos públicos... A lista é interminável.

Permitir que a chapa Bolsonaro/Mourão termine seu mandato seja com quem for é permitir que a política de desmonte do serviço público, de desindustrialização e de submissão ao imperialismo seja executada em sua concretude e tenhamos terra arrasada em 2022. Permitir que governadores, senadores e deputados eleitos devido à fraude eleitoral nas eleições de 2018 cumpram seus mandatos é condenar o Brasil ao atraso e à submissão ao imperialismo e o povo brasileiro, à forme e ao desemprego.

Além do mais, em 2022 o que terá restado das nossas universidades, de nossos institutos e fundações de pesquisa, de nosso acervo e nossa memória, de nosso meio ambiente, de nossas estatais, do SUS, das nossas riquezas minerais, de nossas indústrias e de nossos bancos públicos, fundamentais para a alavancagem dos investimentos que serão necessários para a recuperação do Brasil?

É preciso agir agora, enquanto ainda nos resta algo para salvar, enquanto os investimentos necessários para soerguer a economia e a sociedade brasileira ainda não atingiram todo o potencial de destruição que podem atingir, enquanto ainda temos reservas para recuperar o país. É preciso cassar a chapa Bolsonaro/Mourão, é preciso anular as eleições de 2018 e convocar novas eleições gerais. A hora é agora ou, como já insinuou Ignácio de Loyola Brandão, “não verás país nenhum”.

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