sexta-feira, 28 de outubro de 2022

SERÁ, SOBRETUDO, UM ATO DE AMOR.



O voto tem poder! É por meio do voto que definimos o rumo do nosso país, mostramos que fazemos parte de uma nação democrática e que nos orgulhamos em exercer a cidadania em sua forma mais pura. Não há nada mais patriótico que votar. Mas o nosso voto deste domingo representará muito mais que o exercício do dever cívico. Será, sobretudo, um ato de amor.

Amor pelo próximo, pelos que passam fome, pelas minorias excluídas, pela Amazônia destruída, pelos desempregados, pelos trabalhadores em empregos precários, por aqueles que perderam um ente querido na pandemia. Amor pelo Brasil e os brasileiros.

No dia 30 de outubro, voltaremos às urnas para eleger o presidente que governará o Brasil pelos próximos quatro anos. Dois candidatos, com propostas bastante distintas, estão na disputa: o atual presidente, com um projeto de continuidade de destruição do Brasil; e o ex-presidente Lula, que traz como principal projeto de governo a reconstrução do Brasil como um país para todas e todos.

No primeiro turno, mais de 30 milhões de eleitores deixaram de votar, quase a mesma quantidade dos habitantes de países como o Canadá, a Polônia e o Peru. Isso significa que essas pessoas deixaram seu futuro nas mãos de outros cidadãos. Precisamos mudar esse cenário. Não é possível que dezenas de milhões de brasileiros não tenham compreensão do momento conturbado que o Brasil atravessa.

Não nos esmoreçamos. Domingo é dia de votar! Será rápido e simples. Como na maioria das unidades federativas terá apenas eleições presidenciais, tudo terá mais agilidade. Menos filas, menos santinhos espalhados pelas ruas, apenas o pirililili democrático do som da urna eletrônica. E o melhor de tudo é que quem não conseguiu ─ ou simplesmente não quis ─ votar no primeiro turno, ainda pode participar da festa da democracia neste 30 de outubro, desde que esteja em dia com a Justiça Eleitoral.

Quando falamos da importância do nosso voto, estamos falando de um forte instrumento de mudança política e social. Um instrumento de poder que eleva os cidadãos. Uma força suprema e independente, como destaca a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, parágrafo único: “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”.

E é com esse superpoder que derrotaremos o fascismo que já se encontra embrenhado em no nosso país, mas ainda com tempo de ser expurgado. 

Portanto, vote! Vote com o coração!

Vote para o Brasil ser feliz de novo!


terça-feira, 25 de outubro de 2022

ORÇAMENTO SECRETO UMA FÁBRICA DE CORUPÇÃO.




O maior esquema de corrupção institucionalizada da República foi criado por Bolsonaro em compadrio com o gangster alagoano, deputado Arthur Lira.

Esse instrumento de corrosão dos princípios constitucionais da Administração Pública desequilibra a independência entre os poderes e institui a promiscuidade.

1. Princípio da legalidade, é a obrigatoriedade dos agentes públicos de fazerem apenas o que está previsto na Lei.

2. Impessoalidade, é o que garante que a administração pública deva atender a todos os cidadãos de forma igual, sem interesse pessoal, sem privilégio ou discriminação, tendo por finalidade o bem comum. O artigo 5º da Constituição reza que “todos são iguais perante a lei”, e isso é alentado por este segundo e fundamental princípio.

3. Moralidade, é o que impõe ao administrador público os valores ético-jurídicos de retidão, portanto, não basta a legalidade, é necessário também a honestidade.

4. Publicidade, o quarto princípio é o que garante a transparência na administração pública. Obriga levar ao conhecimento do público, detentor do verdadeiro poder, todos os atos estatais, para que a sociedade possa exercer o controle sobre o Estado.

5. Eficiência, significa a obrigatoriedade de, em conformidade com a lei, fazer o uso dos recursos com eficácia, sem desperdício e com qualidade.

A violação desses princípios constitui ato de improbidade administrativa.

O orçamento secreto viola a Carta Magna, altera a independência e harmonia entre os três poderes, trinca o presidencialismo, e colocou nas mãos de duas pessoas, dois presidentes, um do Executivo e outro da Câmara Federal (também o do Senado), a gerência da nação.

Como a população vai cobrar do Executivo o cumprimento do orçamento se a função não é de sua inteira responsabilidade? Como cobrar de Legislativo a fiscalização do Executivo se o cumprimento do orçamento é de ambos? Como cobrar de ambos se não há transparência?

Como efeito dialético, o Judiciário é mais acionado, e acaba, muitas vezes, até mesmo sem provocação, a invadir a seara dos demais poderes, e amiúde ocorre a judicializado da política, vira uma balburdia institucional.

Essa inconstitucional inovação acaba com o balance line entre os poderes e com a arquitetura de pesos e contrapesos no exercício de suas funções primordiais.

O equilibro entre os poderes só é crível se cada um cumprir suas funções sem invadir a do outro, quando ocorre isso, advém a promiscuidade, o desequilíbrio, a desarmonia, e vai-se a independência entre eles.

Com o orçamento secreto, a gestão pública do Estado não é legal, honesta, moral, impessoal, transparente e eficiente, é típico da cosa nostra, é a contrafação institucionalizada.

Continuar com esse esbulho, o Brasil não terá mais democracia, será a ditadura da corrupção cleptocrata.

Essa batalha contra o orçamento secreto é de toda a sociedade e deve fazer parte de nossas bandeiras a ser levada nas manifestações de ruas e nas redes sociais.

Deixar por conta do novo governo e Congresso, é postergar a necessária e urgente moralidade pública, como mandamento constitucional. É deixar ao sabor único dos arranjos da nova correlação institucional, é permitir a drenagem do dinheiro público para benefícios de políticos fisiológicas e clientelistas.

Essa luta é nossa, não podemos esperar pelo próximo ano, é tarefa nossa, dos militantes da democracia, hastearem essa bandeira em cartazes, nos comícios, nas redes, pelo fim imediato do orçamento secreto, que drena dinheiro das rubricas da educação, da saúde, da assistência social, enfim, das políticas sociais, para uma espécie de “parlamentarismo do compadrio fisiológico”.

Foi esse orçamento secreto que irrigou os bolsonaristas e suas campanhas, sem isso, com certeza, muitos não teriam sido eleitos, até forasteiro em SP conseguiu ir para o segundo turno; idem no ES onde um representante da bala, que fez parte da Scuderia Le Coq (Esquadrão da morte), político sem expressão e cultura, conseguiu estar no segundo turno, com o risco do estado voltar a ser comandado pelo crime organizado.

O orçamento secreto corrompe os representantes do povo, altera o equilíbrio do triângulo equilátero da democracia institucional e será uma camisa de força para o governo Lula.

Para acabar com essa caverna dos ladrões da nação, temos que começar essa batalha já.

sábado, 22 de outubro de 2022

O AMOR VENCE SEMPRE TODO O TIPO DE ÓDIO.

 

Está em curso uma terceira guerra mundial “em pedaços”. Há uma luta de interesses em que todos se colocam contra todos. Nesta luta, vencer se torna sinônimo de destruir, inviabilizando o levantar a cabeça para reconhecer o vizinho, ou ficar ao lado de quem está caído à beira da estrada. E, assim, pela força do ódio, que vai tomando o lugar do amor, da gratidão e do bem, instaura-se uma insana batalha, onde se busca destruir, inescrupulosamente, até mesmo a reputação alheia. Equivocadamente, pensa-se que essa destruição pode significar uma “escada” para a autopromoção. Esse tipo de pensamento não é novidade e acompanha o ser humano em todos os tempos. Talvez, o que vem mudando sejam os instrumentos para atacar a moral do semelhante, especialmente em razão das facilidades oferecidas pelo campo tecnológico. Mas, ao se reconhecer que a busca pela destruição do próximo é problema histórico, constata-se: a humanidade é permanentemente chamada a protagonizar a fraternidade.

Para os cristãos, protagonizar a fraternidade é possível quando se reconhece a centralidade de Cristo Jesus, Mestre e Senhor, na vida e na história. Nessa centralidade reside o desafio de se respeitar diferenças, tornando-as sempre uma riqueza. Isto significa jamais seguir o caminho da destruição. Assim, quando se considera a sociedade contemporânea, a fé cristã, por sua força de correção, pode indicar caminhos e dinâmicas no processo de iluminação da cidadania e na organização política. Mas é preciso absoluto respeito aos princípios que permitam reconhecer a distinção entre o campo da política e a vivência da fé. Quando não há clareza sobre as fronteiras de cada campo, corre-se o risco de um desvirtuamento da fé, impedindo-a de ser o luzeiro que orienta direções, promove reconciliações e até a relativização de escolhas, especialmente daqueles que se apresentam como “donos da verdade”.

A fé não pode ser reduzida a instrumento para embates no campo político, pois a sua vivência autêntica dissipa a busca pela destruição do outro, reconfigurando discursos e escolhas. A fé cristã tem propriedades específicas com dinâmicas experienciais fortes, capazes de alertar sobre o perigo de semear o ódio, de convencer a respeito da honestidade, que faz parte da vocação de toda pessoa para promover a bondade, o bem comum e uma ordem social justa. . Perde-se a razoabilidade mínima, gera-se descrédito, pois disseminam-se afirmações e informações distantes da verdade, obscurecendo mentes e corações, para se alcançar propósitos a qualquer preço.

O ódio cega, traz justificativas para atitudes inconsequentes, até mesmo quando reputações e vidas estão em jogo. No caminho do ódio, torna-se perdedor não somente adversários e a sociedade, mas, também, aquele que investe na destruição, em nome de um êxito ilusório.  Um recurso fundamentado no ódio, que manipula e acirra a revolta. Um grave equívoco, pois a verdade sempre prevalece. O bem sempre vence o mal.

Quem se deixa inocular pelo veneno do ódio age em clara oposição à autenticidade da fé cristã. E pode-se correr o sério risco de não se perceber agente do desamor, quando, dentre outros aspectos, deixa-se escravizar pelo mundo obscuro do mercado, da idolatria do dinheiro e, até mesmo, de uma baixa autoestima. Ilusoriamente, tenta-se reagir, buscar reconhecimento, pisando nos outros, com mecanismos de desmoralização.

Oportuno é sempre se recordar de um princípio proclamado pelo apóstolo Paulo: a plenitude da lei é o amor. O amor que vence todo tipo de ódio. Na tarefa de impulsionar o bem comum, os cristãos, ao lado de dos homens e mulheres de boa vontade, por vocação e missão, devem sempre, e cada vez mais, protagonizar a fraternidade.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

DIABO OU SATÃ?

Nestes tempos de campanha política e presidencial não é raro um candidato satanizar seu adversário. Faz-se inclusive uma divisão esdrúxula entre quem é da parte de Deus e quem é da parte do Diabo ou de Satã.

Esse termo Satã (em hebraico) ou Diabo (em latim) ganhou muitos significados, positivos e negativos, ao longo da história. Isso ocorre em muitas religiões especialmente nas abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo.

No entanto, devemos dizer que ninguém sofreu tantas injustiças e foi tão “satanizado” como o próprio Satã. No inicio não foi assim. Por esta razão é importante fazer brevemente a história de Satã ou do Diabo.

Ele é contado entre os “filhos de Deus” como os demais anjos, como se diz no livro de Jó (1,6). Está na corte celeste. Portanto, é um ser de bondade. Não é a figura má que ganhará mais tarde. Mas recebeu de Deus uma tarefa inusitada e ingrata: deve pôr à prova as pessoas boas como Jó que é “um homem íntegro, reto, temente a Deus e afastado mal”(Jó 1,8). Deve submetê-lo a todo o tipo de provas para ver se, de fato, é aquilo que todos dizem dele:”não há outro igual na terra”(Jo 1,8). Como prova promovida por Satã, ele perde tudo, a família, os bens e os amigos.Mas não perde a fé.

Houve uma grande mutação a partir do século VI aC, quando os judeus viveram no cativeiro babilônico (587aC) na Pérsia. Lá se confrontaram com a doutrina de Zoroastro que estabelecia o confronto entre o “príncipe da luz”com o “príncipe das trevas”. Eles incorporaram esta visão dualista e maniqueísta. Deu-se origem ao Satã como da parte reino das trevas, o “grande acusador” ou “adversário” que induz os seres humanos a atos de maldade. Em seguida, produz-se o confronto entre Deus e Satã. Nos textos judaicos tardios, do século II as, especialmente no livro de Honoch, elabora-se a saga da revolta de anjos chefiados por Satã, agora chamado de Lúcifer, contra Deus. Narra-se a queda de Lucifer e cerca de um terço dos anjos que aderiram e acabaram expulsos do céu.

Surge então a questão: onde colocá-los se foram expulsos? Ai valeu-se da categoria do inferno: do fogo ardente e de todos os horrores,bem descritos por Dante Alighieri na segunda parte de sua Divina Comédia dedicada ao inferno.

No Primeiro Testamento (o Antigo) quase não se fala do diabo (cf.Cron 21,1;Samuel 24,1). No Segundo Testamento (Novo) aparece em alguns relatos”…serão lançados no fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes”(Mt 8,12;13,42-50;Lc 13,27) ou na parábola do rico epulão e o pobre Lázaro (Lc 16,23-24) ou no Apocalipse (16,10-11).

Essa compreensão foi assumida pelos teólogos antigos, de modo especial por Santo Agostinho. Ele influenciou toda a tradição das Igrejas, a doutrina dos Papas e chegou até hoje.

A categoria do inferno e da condenação eterna foi determinante na conversão dos povos originários na América Latina e de outros lugares de missão, produzindo medo e pânico. Seus antepassados, dizia-se, pelo fato de não terem sido cristãos, estão no inferno. E argumentava-se que se eles não se convertessem e não se deixassem batizar conheceriam o mesmo destino.Isso está em todos os catecismos que foram logo após a conquista elaborados com os quais se pretendia converter astecas, incas, mais e outros. Foi o medo, outrora levou e ainda hoje,leva à conversão de multidões como o mostrou o grande historiador francês Jean Delumeau. É apelando ao Diabo, a Satã que hoje em tempos de ira e ódio social, se procura desqualificar o adversário, não raro, feito inimigo a ser desmoralizado e,eventualmente,liquidado.

Aqui devemos superar todo o fundamentalismo do texto bíblico. Não basta citar textos sobre o inferno, mesmo na boca de Jesus. Devemos saber interpretá-los para não cairmos em contradição com o conceito de Deus e mesmo destruir a boa-nova de Jesus,do Pai cheio de misericórdia, como o pai do filho pródigo que acolhe o filho perdido(Lc 15,11-23).

Em primeiro lugar o ser humano busca uma razão pelo mal no mundo. Tem grande dificuldade de assumir a sua própria responsabilidade. Então transfere-a ao Demônio ou aos demônios.

Em segunfo lugar, o significado dos demônios e do inferno dos horrores representam uma pedagogia do medo para, pelo medo, fazer as pessoas buscarem o caminho do bem. Demônio e inferno, portanto, são criações humanas, um espécie de pedagogia sinistra, como ainda mães fazem às crianças:”Se não se comportar direito, de noite,vem o lobo mau morder seu pé”. O ser humano pode ser o Satã da terra e da sociedade. Ele pode criar o “inferno”aos outros pelo ódio, pela opressão e pelos mecanismos de morte, como infelizmente está ocorrendo em nossa sociedade.

Em terceiro lugar, Satã ou o Diabo é uma criatura de Deus. Dizer que é uma criatura de Deus, significa que, em cada momento, Deus está criando e recriando esta criatura, mesmo no fogo do inferno.Pode Deus que é amor e bondade infinita se propor a isso? Bem diz o livro da Sabedoria:”Sim, tu amas todos os seres e nada detestas do que fizeste; se odiasses alguma coisa não a terias criado; e como poderia subsistir alguma coisa se não a quisesses…a todos poupas porque te pertencem, oh soberano amante da vida”(Sab 11,24-26). Não existe condenação eterna; ela é só para este mundo”.

Em quarto lugar, a grande mensagem de Jesus é a infinita misericórdia de Deus-Abba (paizinho querido) que ama a todos, também os “ingratos e maus” (Lc 6,35). A afirmação do castigo eterno no inferno destrói diretamente a boa-nova de Jesus.Um Deus castigador é incompatível com o Jesus histórico que anunciou a infinita amorosidade de Deus para com todos,também para com os pecadores. O salmo 103 já havia intuído isso:”O Senhor é compassivo e clemente, lento para a cólera e rico em misericórdia. Não está sempre acusando nem guarda rancor para sempre.Não nos trata segundo nossos pecados…como pai sente compaixão pelos seus filhos e filhas, assim o Senhor se compadecerá com os que o amam,porque ele conhece nossa natureza e se lembra de que somos pó…A misericórdia do Senhor é desde sempre para sempre”(103,8-17). Deus não pode nunca perder nenhuma criatura, por mais perversa que seja. Se ele a perdesse, mesmo que seja uma só, ele teria fracassado em seu amor. Ora, isso não pode acontecer.

A misericórdia sempre será maior que qualquer pecado e ninguém poderá pôr limites ao amor do Deus que perdoa”(Misericordiae vultus, 2)

Isso não significa que se entrará no céu de qualquer maneira. Todos passarão pelo juízo e pela clínica de Deus, para lá purificar-se, reconhecer seus pecados, aprender a amar e finalmente entrar no Reino da Trindade. É o purgatório que não é a ante-sala do inferno, mas a ante-sala do céu. Quem está lá se purificando já participa do mundo dos redimidos.

O inferno e os demônios e o principal deles, Satã, são projeções nossas da maldade que existe na história ou que nós mesmos produzimos e das quais não queremos nos resonsabilizar e as projetamos nestas figuras sinistras.

Temos que libertar-nos, finalmente, de tais projeções, para vivermos a alegria da mensagem de salvação universal de Jesus Cristo. Isso deslegitima toda satanização em qualquer situação, especialmente, em política e nas igrejas pentecostais que usam de forma totalmente exorbitante a figura do demônio e do inferno. Antes assusta os fiéis do que os conforta com o amor e a infinita misericórdia de Deus.

domingo, 16 de outubro de 2022

UMA RETAFINAL COM MUITA TENSÃO.

Bolsonaro está arruinando o país para comprar votos. Está chamando os seus fanáticos para constranger eleitores. Está prometendo ataques aos locais de votação para questionar os resultados. Mas ele depende da avaliação do MD para a operação visando a anulação do pleito. A pergunta é: que vai fazer o Alto Comando do exército? Esconder a dita avaliação? Endossar o questionamento dos resultados? Ou, como afirma o artigo da Folha, vai aceitá-lo?

Se a última pergunta for respondida positivamente, Bolsonaro não terá outra opção senão apelar para uma rebelião dos oficiais de nível médio contra os comandos maiores. Este apelo é pouco provável, pelos imensos riscos deste salto no escuro. Ele significa propor uma insurreição que pode levar à sua imediata prisão se os comandos de tropa se mantiverem na obediência devida à hierarquia militar. E se a rebelião tiver apoio, Bolsonaro vai gerar uma crise militar única na nossa história, com risco de uma guerra civil. O desfecho mais provável de uma posição republicana do Alto Comando é Bolsonaro aceitar a derrota e botar a viola no saco e ir comer pão com leite moça no seu condomínio na Barra da Tijuca. E rezar para que a enxurrada de processos pendentes contra ele não chegue a sua conclusão final, que o levaria a ir jogar gamão com Sérgio Cabral em um presidio do Rio de Janeiro.

Estamos diante de duas situações de alto risco. A primeira terá que ser enfrentada por cada um de nós, aceitando bravamente os perigos de ir votar enfrentando a máfia bolsonarista ameaçando-nos fisicamente. A segunda é a decisão do Alto Comando do exército, endossando os atentados bolsonaristas ou tirando o tapete do protoditador.

No interminável rol de riscos de última hora poderemos ver a repetição da jogada político-jurídica operada em Alagoas. A Polícia Federal, com o apoio do STJ, interveio na disputa eleitoral daquele pequeno estado para favorecer Bolsonaro e seus apoiadores locais, Artur Lira como emblema. Como parece estar dando certo, podemos esperar outras operações de mesmo tipo em outros estados, e a reação do STF, como sempre, será depois que os efeitos políticos da ação tenham dado seus resultados.

Tudo indica que estamos por decidir o futuro do país por uma margem muito estreita de votos. Isto é inacreditável para qualquer um que tenha dez mil réis de inteligência, mas este é mundo em que vivemos. O mal está mandando e o bem na defensiva. Lula é, gostemos dele ou não, o último baluarte contra a barbárie nas relações sociais e políticas. O nosso esforço, enquanto brasileiros conscientes, é tentar afastar as trevas que se avolumam e ganhar tempo para redefinirmos que país queremos para nós e nossos filhos e netos. Tempo para reencontrar um espaço de diálogo entre os divergentes. Tempo para encontrar racionalidade na busca de soluções para os nossos imensos problemas sociais, muito agravados pelos quatro anos de promoção da divisão, do ódio, da doença, da miséria e do horror.

As manifestações de rua aquecem os nossos corações, mas esta eleição vai ser decidida no voto dos amigos e parentes iludidos com o monte de mentiras disseminados pela máquina de propaganda de Bolsonaro. O esforço pela vitória da civilização contra a barbárie depende de cada um de nós, na busca de tentar entender as motivações de amigos e parentes que votam no fim do futuro, que se atiram voluntariamente no buraco da destruição.

Vamos sair da bolha e buscar os outros. Escolhamos o caminho da amizade, do amor, da compreensão. Aceitemos as diferenças para tentarmos superá-las. O tempo é curto e a emergência é fatal.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A TARDIA DECEPÇÃO DOS EVANGÉLICOS: BOLSONARO NA MAÇONARIA.


Jair Bolsonaro, o candidato que se apresenta como o defensor da família e dos valões cristãos na sociedade brasileira, parece ter caído em desgraça com o povo de Deus. Tudo por causa de um vídeo antigo, provavelmente de 2018, quando ele estava se lançando como candidato à presidência, onde ele aparece discursando dentro de um templo da maçonaria. Observando a repercussão do vídeo nas redes sociais, principalmente, entre os seus apoiadores cristãos, percebe-se como a influência da religião é capaz de produzir raciocínios que colocam a sua doutrina acima do senso de humanidade das pessoas.

Durante a pandemia, enquanto milhares de pessoas morriam e outras tantas se desesperavam para se manterem vivas, Bolsonaro promoveu aglomerações, passeou de jet ski, andou à cavalo, reuniu selvagens para exibirem suas motocicletas, comeu picanha de 1.799 reais o quilo, enquanto o povo estava na fila do osso, fez piada com a falta de ar de quem estava morrendo de covid, disse que não era coveiro para enterrar os mortos, fez campanha contra o isolamento social, relutou em liberar o auxílio emergencial para a população, contrariou ciência e receitou cloroquina como tratamento precoce e deixou de comprar a vacina em tempo hábil para impedir que, no mínimo, umas 200 mil pessoas tivessem morrido. Sem falar nas incontáveis mentiras ditas por ele.

Apesar de ter se comportado como um verdadeiro anticristo, não só durante a pandemia, mas como em toda a sua vida pública, dando declarações racistas, homofóbicas, machistas, aporofóbicas e violentas, só agora, apenas por vê-lo participando de uma sessão maçônica, é que os evangélicos que sempre o apoiaram em tudo decidiram se decepcionar com ele. Como se o fato de ele ter entrado numa loja da maçonaria, fosse pior do que ele ter se comportado como um sujeito sem alma em toda a sua existência. A religiosidade cristã e suas incoerências. Eis um dos motivos que não me deixa enxergar com bons olhos a junção política e religião. Uma combinação que historicamente sempre produziu um mal cheiro dentro das sociedades.

O problema, pelo menos ao meu ver, não é Bolsonaro ter estado na maçonaria ou recebido o apoio da misteriosa ordem para se eleger presidente. O problema é Bolsonaro ser o que ele é. Desumano, desonesto, criminoso, nefasto, mentiroso, corrupto, preconceituoso e genocida. Porém, para muitos ditos cristãos, a hipocrisia do discurso vale mais do que o resultado das ações praticadas. Obviamente, precisamos lembrar que Bolsonaro, além de se declarar cristão, também costuma se apresentar como o único presidente em toda a história do país que fala de Deus. Afirmações estas que não permitiriam que ele se associasse à maçonaria, uma vez que a igreja a qual ele diz pertencer condena tal prática. Fato, é que Jair agora está sendo demonizado por muitos que o adoravam e o tinham como o salvador da pátria. Uma decepção tardia e distópica, característica de pessoas que vivem uma realidade paralela produzida pela alienante ”verdade” religiosa.

Assim como Al Capone, Bolsonaro pode acabar pagando por todos os seus terríveis erros e crimes hediondos, sendo condenado e execrado publicamente pelo menos letal deles todos. A sua falsidade religiosa. Para a maioria da população que votou em Lula no primeiro turno, por entender que já chega desse faz de conta político, social, religioso e humano, tanto faz se Bolsonaro será punido pelas mortes que ajudou a produzir durante a pandemia ou por ter sido desmascarado como um dos falsos profetas previstos na Bíblia. O importante é que ele desapareça, se escafeda, suma do mapa. Seja derrotado nas urnas no segundo turno ou queimado vivo na fogueira da santa hipocrisia cristã.





Ricardo Nêggo Tom

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

DESCULPEM, MAS DA PARA GANHAR - (Texto para refletir)


1. O RESULTADO DAS ELEIÇÕES deste 2 de outubro é impactante em vários aspectos. O primeiro e mais evidente é o da falha gritante das pesquisas: elas não captaram a força do bolsonarismo e de seus agregados na sociedade brasileira.


2. O BRASIL É MUITO MAIS CONSERVADOR do que supunha nossa vã filosofia. Para qualquer um, que se paute por um pensamento democrático e progressista, é chocante ver gente como Hamilton Mourão, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Ricardo Salles, Mario Frias, Damares Alves, Magno Malta e semelhantes serem consagrados pelo voto popular. Temos aqui o enraizamento social da extrema-direita após os quase 700 mil mortos da pandemia, os 33 milhões com fome, a apologia das armas e de tudo o mais. O fascismo não nos é mais um corpo estranho; foi naturalizado. Ao mesmo tempo, esse é o país que gera o fenômeno Boulos, que trafega em sentido contrário, com um milhão de votos.

3. ENTENDER COMO e porque isso acontece é tarefa dura e longa. Interessa saber como essa brutalização da vida social se torna atraente para milhões de pessoas.

4. SOMOS UM PAÍS TREMENDAMENTE DESIGUAL, com a maioria dos trabalhadores fora do mercado formal, sem direitos trabalhistas (ou de cidadania), mal formados (pela exclusão educacional proporcionada pela precariedade da escola pública), mal informados (por redes sociais e por uma mídia que não está aí para isso), sem tempo para o lazer, brutalizada pela dura batalha do dia a dia e sem perspectiva de futuro. Somos, além disso, uma coletividade fragmentada, marcada por um individualismo atroz, na qual há raros incentivos para que se estabeleçam laços de solidariedade.

5. SOMOS, ENFIM, UMA SOCIEDADE em que o lumpesinato tem enorme peso em sua composição e em que o favor, o compadrio e o ódio são manifestações usuais nas relações humanas. Esse estilhaçamento comunitário, potencializado pelo desmonte do mundo do trabalho ao longo de quatro décadas de neoliberalismo nos torna sensíveis a um tipo de liderança salvacionista e inorgânica – uma espécie de neopopulismo – , capaz de direcionar vontades e de transformar a raiva social em força política. Esse é o resumo do resumo do caldo de cultura que possibilita a ascensão do bolsonarismo. E isso nós – alinhados a um pensamento democrático e progressista – ainda não conhecemos totalmente.

6. QUE SOCIEDADE É ESSA cujas vontades não são captadas pelas sondagens de vários institutos? Ou melhor, que pesquisas são essas que não conseguem apreender e tabular preferências imediatas? Como é possível que siga se repetindo o fenômeno notado na eleição do Rio de Janeiro de 2018, que possibilitou a um desconhecido até a última semana de campanha se tornasse governador? A situação se generaliza, com o quadro paulista, que inverte a folgada dianteira aferida em favor de Fernando Haddad em sua disputa com Tarcísio de Freitas a poucos dias da votação.

7. O BOLSONARISMO OCULTO – ou envergonhado – é fenômeno que desafia as estatísticas. Ao lado da arrogância dos que exibem armas na cintura estão aqueles que sentem vergonha de se declararem eleitores de Bolsonaro fora da solidão da urna. Por que isso acontece?

8. EM SITUAÇÕES NORMAIS – ou seja, num estudo acadêmico e fora das eleições – tais constatações podem gerar copiosas teses de doutorado. Aqui se trata de avaliar resultados das urnas com um propósito definido: ganhar no segundo turno.

9. SE ERRARAM EM BOA PARTE das disputas estaduais, as pesquisas acertaram em cheio a votação nacional de Lula. Os prognósticos davam entre 47% e 51% de votos ao ex-presidente. Ele terminou o enfrentamento com 48,43% dos válidos. Faltou 1,57% dos sufrágios para uma vitória perfeitamente possível em primeiro turno! O equívoco das pesquisas ficou no segundo colocado. Segundo os institutos, Bolsonaro teria entre 37% e 41%. Ele terminou com 43,2%, ou 5,23% atrás do ex-presidente. Em números redondos, quase 6,2 milhões de votos atrás.

10. O SEGUNDO TURNO É UMA NOVA ELEIÇÃO. A vantagem aberta por Lula o coloca de saída em condição de vantagem. A soma do eleitorado de Ciro e de Simone Tebet totaliza 7,2%. É uma incógnita saber para onde penderão esses quase 7,6 milhões de eleitores, decisivos para o resultado final. Na hipótese – agora fluida – das pesquisas – todas - estarem corretas, Lula derrota Bolsonaro.

11. EXAMINANDO OS APOIOS ESTADUAIS, a vantagem se inverte. Apoiadores de Bolsonaro ganharam em 9 estados no primeiro turno (AC, DF, GO, MG, MT, PR, RJ, RO e TO), que somam 49.115.309 eleitores. Partidários de Lula levaram em 6 (AP, CE, MA, PA, PI, RN), onde vivem 23.592.589 eleitores. A comparação mostra que o bolsonarismo não é fenômeno dos grotões. Em 12 estados a contenda se resolverá na segunda volta (AL, AM, BA, ES, MS, PA, PE, SC, SE, SP, RO, e RS). Nesse último grupo haverá campanha acirrada dos presidenciáveis com os candidatos locais. Não se sabe como se comportarão os demais, onde o placar local está decidido.

12. A LUTA SERÁ DURÍSSIMA. É possível Lula ganhar no dia 30. Para isso, a campanha bem que poderia mudar de tom.

13. A PRIMEIRA COISA SERIA ABOLIR o passado e o salto alto nos discursos. Chega de “No meu governo o povo tinha isso e mais aquilo”. O que passou, passou e agora é hora de se dizer claramente o que será feito. Vai ter comida para todo mundo? Se tiver, vai ser barata? Vai ter emprego? Com salário de quanto? A gasolina ficará com o preço baixo? Minhas dívidas vão ser resolvidas? Vai ter saúde? Como resolver? Não é o eleitor quem tem de responder, mas a campanha.

14. TEREMOS UMA CAMPANHA COM COMÍCIOS que se parecem com shows do Rock in Rio, nos quais a plateia assiste, se deleita e vai para casa? Ou haverá um mínimo de chamamento à mobilização? Vai ter material? Anunciaram lá atrás um comitê voltado para essas coisas. Vai ter? A campanha de TV sairá do pieguismo brega do início, ou manterá o tom de combate dos últimos dias? Vão ficar repetindo feito matracas que Bolsonaro tem 51 imóveis comprados com dinheiro vivo ou uma equipe de reportagem irá atrás de pelo menos dois ou três e mostrará o valor, onde ficam, se são de luxo ou não? Ou seja, ficarão na conversa ou farão como a Globo agiu no caso do sítio de Atibaia, atribuído a Lula? Ali mostraram dos pedalinhos às torres dos cabos de internet, passando pelo laguinho doméstico. A campanha será concreta ou doutrinária?

15. ACIMA DE TUDO, é preciso termos uma jornada empolgante, que convoque as pessoas à luta por mais votos. Lambamos as feridas deste fim de semana para a batalha que se aproxima. Será dura, mas valerá a pena.

(Texto do Maringoni, para refletir)