sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ANDAR DE MÃOS DADAS;



 
Era muito mais bonito o tempo em que ele punha a mão no ombro dela ou publicamente andavam de mãos dadas. Alguém decretou e espalhou que o gesto está fora de moda. Que falem, mas, se não inventaram coisa melhor, que se calem! O fato é que continua bonito ver a mão dele segurando a dela, sem nenhuma outra razão além do carinho entre dois seres humanos.
Casais idosos ainda fazem isso e há casais jovens que não abrem mão desse privilégio. O gesto não tem nada de antiquado. Diz muito ao coração dela e faz bem ao homem que ele é. Mostra publicamente que há um laço a prender suavemente os dois. As mãos falam e ajudam a dizer coisas boas e más. Por elas também passam o cuidado, o carinho e a ternura.
Em algum ponto da caminhada muitos casais perderam esse delicado e belíssimo costume. Em era de tanta violência, fora e dentro do lar, de tanta indelicadeza, ingratidão e perda de valores, há costumes que devem ser preservados e incentivados. Um deles é a ternura do casal de mãos dadas.
Era bonito, simbolizava cuidado e laços de família e todos podiam ver. Que volte a simbolizar a unidade. Prefiro ver isso do que homens indelicados e mulheres magoadas e de rosto sombrio e enxabido, ao lado do homem que um dia foi a razão dos seus sorrisos. Pequenos gestos fazem a diferença. Parecem bobos e fora de moda, mas não são mais tolos e fora de moda do que um casal se espicaçando na frente dos outros e agindo como se o outro não significasse mais nada em sua vida. Pode até haver mentira naquelas mãos dadas, mas se até inimigos se dão as mãos e assinam tratados, por que não um casal que tem uma história? Que se reze o Pai-Nosso de mãos dadas. Que se comece pelos casais!

O DINHEIRO TRAZ FELICIDADE?

Não há informações precisas sobre quando surgiu a primeira moeda. Certamente, no alvorecer do mundo. Feitas de ouro, de prata, de cobre ou de papel, as moedas/dinheiro sempre estiveram no centro da história. Com o dinheiro construiu-se a civilização. Em função dele aconteceram as guerras. Há os que adoram o dinheiro, mas o escritor Giovanni Papini sustenta que é a mais abjeta e terrível criação do homem. Enquanto Judas, por 30 moedas de prata, vendeu o Mestre, Francisco de Assis recusava-se até a mexer no dinheiro.
Está fazendo muito sucesso um livro lançado nos Estados Unidos: Dinheiro feliz - a ciência de como gastar melhor. A tese defendida: “O dinheiro pode comprar a felicidade”. A obra ainda não foi traduzida para o português.
Os autores dizem que as escolhas que as pessoas fazem sobre seus gastos desencadeiam uma série de efeitos biológicos e emocionais. Eles apresentam estas sugestões: “Fazer viagens, pagar integralmente o produto antes de usá-lo e ajudar os outros”. O caminho da felicidade passa por aí. Outras duas indicações dadas pela obra: “Terceirizar as atividades chatas, como a limpeza da casa, por exemplo, e limitar o acesso a coisas das quais gostamos, evitando assim o consumismo”.
Investir em si mesmo e não nas coisas é mais um dos segredos sugeridos. Um jantar, uma viagem, um concerto, uma recepção aos amigos, podem ser mais significativos que bens adquiridos. Um dos itens do livro surpreende: “Ajudar aos outros”. E esta atitude é percebida em crianças antes mesmo de completarem dois anos. A norma não parte dos grandes banqueiros e nem do Fundo Monetário Internacional (FMI), porém figura no Evangelho. De preferência no anonimato: que tua mão direita não saiba o que faz tua esquerda.
As cinco normas sugeridas nada têm de revolucionárias e concordam com o bom senso. Nem por isso, a questão do dinheiro está resolvida, assim como a questão da felicidade. O dinheiro proporciona momentos felizes. Os dois extremos são prejudiciais: o muito e o pouco, o excesso e a carência.
O livro nada fala no modo de ganhar o dinheiro, apenas como gastá-lo melhor. O Evangelho nos adverte dos perigos que o dinheiro pode trazer. Ele quer ser absoluto e não admite restrições. De resto, o dinheiro não costuma fazer por nós aquilo que fazemos por ele. Além do mais, ele é volúvel: o corpo ainda está quente no caixão e o dinheiro já optou por outros amigos. Ele promete, mas não entrega a felicidade.

O AMOR É O MELHOR JEITO DE ABRAÇAR A VIDA E GASTAR OS DIAS.

O olhar, em alguns momentos, parece se perder voltado para um lugar longínquo, talvez inexistente. É próprio do humano questionar-se em vista do amanhã. Perguntar-se pelo ontem também faz parte da normalidade. Inquietações sempre estarão próximas de quem se ocupa com a existência e não é adepto da indiferença. Viver por uma causa, por um ideal é abrir diante de si possibilidades de novos horizontes, bem diferentes do rotineiro. É impossível fugir das obrigações e compromissos. Seria prazeroso estar em outro lugar, mas é necessário estar aí, dando conta do fazer e das responsabilidades.
O humano é extraordinário. Pode deslocar-se sem sair do lugar. Vive num espaço concreto, mas alcança outras dimensões, onde o sentir profundo cria a sensação de paz e o coração se aquieta como se fugisse das tribulações. Porém, o tempo segue seu curso. Os meses chegam ao final, o ano sempre parece adiantado. A vida é maior que o tempo, mas precisa do tempo para dar significado ao existir. As experiências vão sendo somadas, aprendizados alargam o conhecimento, encontros deixam marcas.
O corpo vai se desgastando. É próprio do tempo imprimir transformações. Não tem como sair ileso: é perceptível o passar dos anos. Impossível permanecer eternamente jovem, na aparência física. No entanto, há uma jovialidade invisível: manifestada na alegria, na sabedoria e na capacidade de continuar sonhando. Gastar a vida por um ideal é optar por não envelhecer. É ter a sensação que muitos anos ainda serão somados e que as realizações permanecem incontáveis.
Alguns, impulsionados por sistemas e ideologias, cedem à tentação de resumir a trajetória neste mundo através do acúmulo de bens materiais. Para estes, viver é trabalhar para amontoar coisas. Os dias são rápidos e a quantidade material parece não ter um ponto de equilíbrio. Correm o risco de esquecer-se de viver, mas não abrem mão de avolumar o ter. Lá adiante, a vida cobrará satisfação, realização e as mãos poderão estar vazias.
O amor é o melhor jeito de abraçar a vida e gastar os dias. Ninguém chega ao entardecer
vazio se tiver optado por amar. Oportunidades se multiplicam àqueles que vivem embalados pela caridade. As coisas materiais são necessárias. Amar, porém, é uma opção que depende do que vai no coração.

COMO SERÁ O DESFILE DO GAÚCHO NA CAPITAL DO RIO GRANDE DO SUL



. Carro 1: O imaginário - João Simões Lopes Neto - O carro apresenta João Simões Lopes Neto, escritor e empresário, como representante literário do imaginário social do RS. Seus contos e lendas vieram a fazer sucesso depois de sua morte.

. Carro 2: A lenda do Boitatá - a cobra de fogo - Diz a lenda que, nos passeios e viagens noturnas, um fogo em forma de cobra voa na frente dos cavaleiros, impedindo que sigam adiante. A forma de se livrar do ataque seria desatar o laço e arrastá-lo pela presilha. O Boitatá, que é atraído pelo ferro da argola do laço, deixaria assim o cavaleiro e o seguiria até amanhecer o dia.

. Carro 3: A lenda do Negrinho do Pastoreio - Genuinamente rio-grandense, a lenda nasceu da escravidão e reflete o
meio pastoril, o poder e a religiosidade que
é associada aos outros tantos casos de escravos considerados mártires.

. Carro 4: A Salamanca do Jarau - O palco da lenda é o Cerro do Jarau, formado por uma cadeia de morros, que se destacam na paisagem do pampa gaúcho, no município de Quaraí. Simões Lopes Neto desenvolveu o tema com elementos que decorriam das superstições locais, como a princesa encantada, os tesouros escondidos apresentados na forma de serpente.

. Carro 5: O Mate do João Cardoso - Um dos mais populares contos de Simões destaca a tradição herdada dos indígenas, a hospitalidade do mate na roda do chimarrão, e o convívio, a solidariedade e a fraternidade do homem rural. Mostra um período da história em que os meios de comunicação eram escassos e as novidades vinham pelos viajantes, que passavam pelas terras e eram convidados para um mate.

. Carro 6: Trezentas onças - No conto, Blau Nunes perde sua guaiaca com 300 onças do patrão, com as quais deveria comprar uma tropa de gado. Assustado, pensa em se matar, mas desiste por questões divinas. Volta para a estância preparado para contar o ocorrido ao patrão. Ao chegar, vê sobre a mesa a guaiaca com o dinheiro. Ela havia sido encontrada por uma comitiva de tropeiros, que a devolveram. Lembra a honestidade, a confiança, a honra ao “fio do bigode”.

. Carro 7: Lobisomen e bruxa - Segundo a lenda, o sétimo filho homem de uma família será fatalmente lobisomem, a menos que seja batizado pelo irmão mais velho. O mito da bruxa no RS veio da Europa: será bruxa a sétima filha do casal, quando não for interrompida por varão, e batizada pela primogênita, perde o fado.

. Carro 8: Crendices e superstições - Retrata o acervo cultural, herdado dos antepassados gaúchos, que figura no mundo mágico, povoado de crenças, misticismo, simpatias, promessas.

. Carro 9: Chasque do Imperador - O carro lembra a narrativa da vinda de Pedro II para acompanhar a guerra contra os paraguaios que tomaram Uruguaiana.

DIA DO GAÚCHO


Celebra-se a Revolução Farroupilha, data máxima dos gaúchos, em 20 de setembro, feriado no Rio Grande do Sul. Os festejos alusivos à data, no entanto, estendem-se por quase todo o mês, iniciando em 7 de setembro, quando acende-se, na capital, Porto Alegre, a chama crioula, a partir de uma centelha da pira da pátria. De 14 a 20 de setembro, na chamada Semana Farroupilha, as celebrações intensificam-
se, com acampamentos, bailes e desfiles em vários municípios.
Este ano, o tema para os festejos farroupilhas é “O Rio Grande do Sul no Imaginário Social”, abordando mitos, lendas e contos do Estado descritas pelo escritor João Simões Lopes Neto (1865-1916), um gaúcho, naturalmente.
O tema é especialmente explorado nos desfiles temáticos. Em Porto Alegre, onde ocorre um dos maiores desfiles, o espetáculo está marcado para a noite de 19 de setembro. Nove carros retratarão diferentes lendas e mitos.
Quem foi João Simões Lopes Neto? Natural de Pelotas (RS), Lopes Neto era escritor e empresário. Para os estudiosos e críticos de literatura, ele foi o maior autor regionalista do RS, pois procurou em sua produção literária valorizar a história do gaúcho e suas tradições – daí a merecida homenagem neste 20 de setembro! Mas o escritor só alcançou a glória literária depois de sua morte, ocorrida em 1916, mais especificamente em 1949, após o lançamento das obras Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

SOMBRAS...

Já vi gente brigando com a própria sombra, imaginando estar sendo perseguido por alguém. Eu mesmo, em noite fria, acendi a luz da garagem e, com pressa, ao chegar perto do carro assustei-me do movimento de minha própria sombra, achando estar diante de um assaltante.
Também não faltam aqueles que reclamam quando as nuvens ou a neblina nos oferecem um dia de sombra. Dia cinzento parece nos oprimir, nos deixando em estado de natural mal-estar. Uma das atenções dos bons engenheiros atuais é o cuidado para que nenhuma repartição das casas ou dos edifícios fique condenada à sombra. Popularmente, quando alguém passa a ser uma presença indesejada em nossa vida e nos persegue, logo o intitulamos como nossa sombra.
Em geral a sombra desperta nas pessoas uma relação de desconforto. Na própria Bíblia a realidade da sombra passa a ser uma figura simbólica também do limitado e do negativo. Na última oração, o rei Davi declara: “Qual sombra passam nossos dias aqui na terra onde não há esperança”. Jó também desabafa e diz: “O ser humano, nascido de mulher, tem a vida curta, mas cheia de inquietações. É como a flor que se abre e logo murcha, foge como a sombra e não permanece”. “Como a sombra que se desfaz é todo o mortal!”
Porém, é justo que nos demos conta também da relação positiva com as sombras do caminho. Um antigo provérbio chama atenção e nos ajuda a perceber o lado bom da sombra: “Nunca tenha medo das sombras. Elas somente mostram que há uma luz que resplandece por perto”. É a lei dos contrastes. Não haveria sombra se não houvesse luz! E, certamente, não daríamos o devido valor à luz se não existissem sombras e trevas.
Além do mais, temos muitas experiências na vida real da importância das sombras confortadoras. Num dia escaldante de sol, andamos e trabalhamos, suamos e cansamos e ansiosamente procuramos uma sombra amiga que nos abrigue. Bendita sombra que se dispõe a aliviar o peso e o calor do dia!
Se na Bíblia temos textos que situam a sombra como símbolo do negativo, também comprovamos citações positivas, que exaltam o simbolismo da sombra. Assim o salmista reza: “Guarda-me como a pupila dos olhos, protege-me na sombra de tuas asas”  “Tu que estás sob a proteção do Altíssimo e moras à sombra do Onipotente, dize ao Senhor: ‘Meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio”. Isaías dá graças a Deus que acompanha seu povo: “Senhor, meu Deus... Tu te tornaste proteção para o fraco... sombra no tempo do calor” .
Na vida, nem tudo é tão negativo como parece! Benjamin Franklin dizia: “ Um otimista vê novas oportunidades em toda a calamidade. Um pessimista vê novas calamidades em toda a oportunidade”. Parece ser um tanto normal encararmos as sombras apenas pelo seu lado negativo. Porém a vida real nos ensina que estas também têm sua dimensão positiva e verdadeira.

OS DEPUTADOS E SENADORES NÃO ENTENDERAM O RECADO DO POVO

Ao invés de uma reforma política, uma minirreforma eleitoral. Este parece ser o máximo de mudanças que o Congresso Nacional aprovará para vigorar na eleição de 2014. Pouco, quase nada em relação ao que pediram as multidões que foram às ruas em junho – e ao desejo dos cidadãos de bem deste país.
A agilidade e a aparente boa vontade demonstradas durante e logo após os protestos cederam lugar à tradicional lerdeza com que os temas políticos, principalmente os polêmicos, são tratados no Brasil. E como alguns deles contrariam frontalmente parlamentares, acumulam-se motivos para a morosidade.
A rapidez com que foram aprovados e sancionados projetos importantes, como o que classifica corrupção e peculato como crimes hediondos, ou, razão inicial das manifestações, a redução das tarifas de ônibus, teve efêmera duração. Já não se fala mais em reformas, a ideia de um plebiscito foi se apagando, e sobressaem-se apenas tentativas de remendos, diferente das profundas transformações almejadas. Talvez por isso 52% dos brasileiros admitem desinformação sobre reforma política.
Os protestos terão restrito reflexo sobre o pleito de 2014. É que pela lei eleitoral, novas regras só poderão vigorar se aprovadas até 2 de outubro próximo.
Frustrando a enorme expectativa criada, parlamentares entregam-se ao ritmo do atropelo para ajustes em medidas de diminuto efeito prático. Pelas propostas que tramitam, é possível que haja proibição de alguns tipos de gastos, como placa e pintura de muro, seja encurtado o período de campanha e alteradas as datas de convenções partidárias.
São mudanças nada ousadas, acomodadas no limite do mínimo necessário para dar uma satisfação. Financiamento de campanha e prazo de mandatos, pontos importantíssimos, ficam para trás. O impacto da mobilização, nesse campo, não passa de ajustes. Chega a ser provocativo. Reação de quem não entendeu o recado.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ONDE É O LUGAR CERTO PARA SER FELIZ.


O sol apenas aparecia no horizonte e o camponês já estava em sua lavoura. Teria pela frente um dia cheio de fadiga. Seu arado, puxado pelos bois, traçava sulcos na terra, onde brotaria um trigal. E com isso ganhava o pão, com o suor do seu rosto, para si e para sua família. Numa fazenda vizinha, um trator fazia o mesmo trabalho. E o homem do arado comentou para si mesmo: este que é feliz. Trabalha com rapidez, sem grande esforço e terá uma lavoura muito maior que a minha.
O tratorista viu um caminhão cruzar pela estrada e comparou as atividades. Veja, ele anda rápido, a paisagem muda constantemente, logo estará na cidade. Este que é feliz. Mas não era assim que pensava o motorista do caminhão. Tanto mais que por ele passou um luxuoso automóvel. Este não tem patrão, não tem que carregar e descarregar mercadorias. Deve ser um executivo com um alto salário e com direito a todas as mordomias. Olhando para o alto, o condutor do automóvel viu um avião cruzando o espaço. E imaginou a felicidade do piloto: alto salário, anda com rapidez, sem grande fadiga, não tem problemas de trânsito e conhece muitos países.
Olhando do alto, o piloto viu um pequeno ponto escuro, numa lavoura e pensou: feliz é este lavrador, faz o que gosta, semeia lavouras, cercado do canto dos pássaros, trabalha quando quer e está sempre perto de sua família.
O maior, o mais universal dos desejos do homem é ser feliz. Desde que nascemos até a hora da morte, nossa única preocupação é ser feliz. Todos os atos que fazemos têm esse objetivo. Por vezes a busca é indireta. Tomamos um remédio amargo, mas objetivamos a felicidade que vem da saúde. Trabalhamos, nos privamos de muitas coisas, para sermos felizes mais tarde. O filósofo pessimista Arthur Schopenhauer dizia: “O homem sempre quer ser feliz, mesmo quando se enforca”.
Nem todos concordamos a respeito do que é felicidade. Para uns, é sinônimo de dinheiro, para outros é o prazer. Saúde, família, bebida, viagens, reconhecimento público podem ser sinônimos de felicidade. O conceito muda também de conformidade com as etapas da vida. Para a criança, felicidade pode ser um brinquedo ou um doce, para o jovem a namorada dos sonhos, para o estudante o diploma, para o homem maduro uma viagem ou a aposentadoria.
Somos demasiadamente grandes para nos plenificarmos com coisas materiais. Elas se esgotam e deixam um vazio. Esta, por exemplo, foi a experiência de Santo Agostinho. Ele acabou por encontrar a felicidade onde, unicamente, está: em Deus. É uma felicidade que nos conduz na vida, superando as naturais frustrações e nos acompanha além da morte. De resto, felicidade está onde a colocamos. É inteligente ser feliz onde realmente estamos. É tomar consciência que podemos e devemos ser felizes ali em nosso cantinho e não onde não estamos.

SEGUIR O EXEMPLO DO RIACHO


Encheram o caminho do riacho de barreiras e pedras enormes. Ele não se atrapalhou em momento algum. Continuou correndo. Contornou todos os obstáculos, deu um jeito de achar o seu caminho.
Finalmente puseram diante dele uma enorme pedra. Ele foi inchando, inchando, inchando até que formou um lago, o lago cresceu e subiu e lá estava ele correndo de novo, por cima da enorme pedra.
Então os engenheiros concluíram que não é possível parar um riacho. Fizeram uma grande ponte sobre ele, porque riachos às vezes se enchem, transbordam e derrubam tudo à sua frente.
E disse o riacho: - Pareço frágil, mas não sou. Quando me barram, dou um jeito de achar outro caminho. Mas se abusam ao ponto de não me deixarem outra alternativa, passo por cima e vou em frente! Ninguém me impedirá de continuar servindo quem precisar de minha ajuda!

COMO A DROGA SE TORNA UM CAMINHO SEM RETORNO.


Quando um psicotrópico - uma droga qualquer - chega ao cérebro, estimula a liberação de uma dose extra de um neurotransmissor, provocando sensações de prazer. À medida que o uso vai se prolongando, o organismo do usuário tenta se ajustar a esse hábito. O cérebro adapta seu próprio metabolismo para absorver os efeitos da droga. Cria-se, assim, uma tolerância ao tóxico. Desse modo, uma dose que normalmente faria um estrago enorme torna-se em pouco tempo inócua. O usuário procura a mesma sensação das doses anteriores e não acha. Por isso, acaba aumentando a dose. Fazendo isso, a tolerância cresce e torna-se necessária uma quantidade ainda maior para obter o mesmo efeito. A dependência vai assim se agravando continuamente.
Como o psicotrópico imita a ação dos neurotransmissores, o cérebro deixa de produzi-los. A droga se integra ao funcionamento normal do órgão. E quando falta o “impostor” químico, o sistema nervoso fica abalado. É a síndrome da abstinência.
A recusa em abster-se do que quer que seja por parte de uma sociedade hedonista como a nossa leva ao uso incontido e descomedido das drogas, que provocam viagens para fora da realidade e do tempo, sensações sempre mais fortes e omniabarcantes de prazer, de relaxamento, de bem estar. Fugir do cotidiano esmagador, banal, sem futuro; viajar a outros mundos e realizar outro tipo de experiências, contanto que não sejam aquelas reais e autênticas - essa é a proposta das drogas de toda espécie que o tráfico insidiosamente crescente traz para dentro das casas e das famílias, dos colégios e instituições educacionais, dos bares, boates e lugares de lazer onde a juventude - presa fácil e incauta da viagem fictícia que a droga proporciona, - se deixa envolver e embarca muitas vezes, infelizmente, na viagem sem volta da overdose ou da violência de letais consequências que os efeitos da droga provocam.
Dizer não à droga é tornar-se livre, independente. Dizer não à droga é dizer ao próprio corpo e ao próprio desejo: você não manda em mim. Eu é que mando em você. Estamos situados na minha identidade mais profunda de ser humano e de filho de Deus. E aqui é o templo do Espírito e a casa de Deus. Aqui mandamos eu e o Criador que me fez à sua imagem e semelhança.
Os especialistas costumam dividir as drogas em dois tipos: leves e pesadas. Drogas leves são as que causam “dependência psíquica”, que significa o desejo irrefreável de consumi-las. Pesadas são aquelas que, além da dependência psíquica, causam também a física, ou seja, a sua falta acarreta uma síndrome de abstinência tão violenta, com sintomas físicos tão dolorosos, que o viciado procura desesperadamente pela droga a fim de aliviar a ânsia de consumo. Por essa razão, fumo e álcool podem ser considerados drogas pesadas, apesar de serem socialmente aceitas.
A bandeira levantada pela luta antidrogas tem provocado polêmica, porque faz referência direta e indireta à violência que cerca o mundo das drogas. Antes, as campanhas de prevenção propunham dizer não às drogas, apresentando apenas uma visão individualista de sua ação maléfica: os prejuízos físicos e mentais do uso. Agora o conceito mudou: a mensagem apela para a responsabilidade social, tendo como mote: “O tráfico é dependente de você”. “Quem compra drogas financia a violência.” Os filmes mostram jovens bem-nascidos indo às “bocas”. No momento em que o usuário entrega o dinheiro ao traficante, ouve-se o locutor em off: “O que você faz com seu dinheiro é problema seu. O que o tráfico faz com seu dinheiro, também é problema seu”. Assim os filmes chocam duplamente, porque mostram o mundo violento das drogas e, sobretudo, porque responsabilizam o usuário por essa violência.
Não há como nos enganarmos: nada do que fazemos começa e acaba apenas em nós mesmos. Atinge, ao contrário, toda a coletividade. Hoje, dizendo não às drogas, estamos não só beneficiando a própria saúde. Estamos igualmente contribuindo para construir um mundo de paz, onde a violência seja um pesadelo cada vez mais longínquo. Sejamos senhores de nossa vida. Não deixemos que a droga mande em nós. A primeira vítima seremos nós mesmos.
“O paraíso artificial das drogas é bem a imagem de uma civilização reduzida a pó” (Octavio Paz).

O UNIVERSO... O QUE PODEMOS APRENDER COM ELE.


O universo é muito mais do que o sol e as estrelas. É o inseto que eu piso, é o alimento que eu como. É toda a realidade que me cerca e me dá vida. E em tudo há respeito, acolhida e serviço. Podemos dizer que em tudo há relacionamento de amor. Relacionamento sem ciúmes e sem poder.
As flores enfeitam nossa terra. No colorido do jardim elas se beijam, se tocam e se acariciam. Nenhuma reclama da beleza da outra. A rosa não tem inveja do lírio. A sabedoria da natureza é um livro aberto para a humanidade. Toda pessoa deve estar aberta ao ensinamento das flores.
O sol cumpre sua missão. Não reclama das nuvens que diante dele fazem passagem. Ele sabe que as nuvens têm sua missão e seu espaço. Sabe que a terra necessita das nuvens para espalhar a chuva. Toda pessoa deve aceitar a missão e a função das outras pessoas para existir uma harmonia da vida.
E como é gostoso ficar olhando e sentindo a harmonia dos animais! Nenhum animal se envergonha pela sua condição. O sabiá não fica ciumento com o tubarão porque não sabe nadar. O gato não fica reclamando do canário porque não tem asas para voar. Não há rivalidade entre eles e nem ciúmes. Os animais podem lutar entre si por conquista de alimentos e água, mas nunca por conquista de poder e espaço. As pessoas é que não sabem respeitar o espaço de cada coisa, de cada animal e de cada criatura humana. E por causa da conquista do espaço e do poder são capazes de destruir e de matar.
As estrelas brilham no firmamento. Todas andam em seu caminho. Nenhuma atrapalha o caminho da outra. Nenhuma tem ciúmes do brilho e do calor da outra. Algumas brilham mais, outras menos. Assim é a humanidade. Cada pessoa é uma estrela. Brilha do seu jeito. Cada uma merece o respeito e o apoio. São bilhões de estrelas nesta humanidade que devem se respeitar.
Ao mesmo tempo, em nosso ser e em todo planeta terra está a variedade do calor e do frio, da luz e da escuridão. Há uma primavera e verão, um outono e inverno. Tudo vai acontecendo no seu ritmo. Há uma beleza na primavera, que é de causar admiração para o verão. Há uma beleza no inverno que pode encantar o outono. Cada realidade tem sua beleza. Assim, a vida de cada pessoa é perpassada pela primavera e verão, pelo outono e inverno. Como a natureza se respeita em suas estações, as etapas de nossa vida devem merecer o mesmo respeito.
Tudo isso parece ilusória poesia. Mas não é. Há uma poesia em cada ser e no universo como um todo. Mas a natureza, e cada ser, é um livro aberto que ensina a viver. Em cada ser e no universo todo estão as lições da vida. Depende de cada um acolher e viver essas lições. O livro aberto de um canteiro de jardim pode servir para os namorados conversarem de amor, como pode se tornar um local que recebe um corpo ferido por um criminoso, para quem o livro do jardim nada diz.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A INFÂNCIA CAPTA FATOS E PAISAGENS INESQUECÍVEIS


A infância capta fatos e paisagens inesquecíveis. Seguidamente voltamos no tempo e reavivamos peculiaridades que nos enchem de nostalgia e nos transportam para lugares incríveis. É simplesmente fantástica a capacidade que o cérebro humano tem de guardar detalhes e de torná-los próximos, afetivamente. Daí a importância de experiências positivas nos primeiros anos de vida. São registros que se perpetuarão, ao longo da existência.
Um poço de água límpida e fresca. Um balde atado em uma corrente. O ruído da descida e subida do balde, no ato de alcançar as profundezas e trazer à superfície o precioso líquido, capaz de saciar a sede. Uma imagem sempre presente. Quando pequeno, as forças eram limitadas. Mas o desejo de mexer no poço permitia outras energias para que o balde subisse à borda, cheio de água. O ruído da corrente sendo enrolada num cepo de lenha era como uma melodia. Havia, também, o cuidado de não avançar sobre o poço. As advertências eram levadas a sério.
Os tempos são outros. Os poços artesianos são bem mais profundos e automatizados. O balde tem outras funções: já não desce às profundezas. Os humanos continuam ingerindo água, condição para continuar saudáveis, e permanecem sedentos. Outras sedes permeiam a existência, nas profundidades que produzem ecos sonoros, nem sempre captados e tratados. Inquietações abrem caminhos, multiplicam itinerários. Viver é responder aos contínuos anseios que emanam de corações que não abrem mão do significado da vida.
Enquanto o humano for sedento de amor e de paz, haverá possibilidade de transformação. O materialismo parece ter eliminado outras sedes e privilegiado o desejo de ter. Porém, certa insatisfação parece crescente entre os humanos. Prova disso é que a grande maioria que tem coisas parece não ter a serenidade de uma vida bem alicerçada. A necessidade material é indiscutível. Limitar o humano à satisfação mediante o ter é reduzi-lo à pequenez.
Não há necessidade de voltar ao poço e ouvir novamente o ruído da corrente. No entanto, é urgente auscultar o que vai nas profundidades do ser. Outras sedes merecem atenção e cuidado. O tempo não pode ser o único encarregado para serenar a interioridade. Convém não esquecer que um coração sedento precisa de laços fraternos, de afeto e de espiritualidade.

GEOMETRIA QUE IMPRESSIONA


 
As abelhas sempre impressionaram o homem, seja pelo alimento que fabricam, rico em propriedades nutricionais e medicinais; pela organização das colmeias; pelo trabalho em equipe, pela dedicação à rainha, pela forma como se comunicam e, mais ainda, pela complexidade e perfeição da geometria dos favos de mel, que são hexagonais.
Até Charles Darwin, autor da teoria da evolução, se rendia à casa das abelhas, considerando-as absolutamente perfeitas, construídas com economia de mão-de-obra e cera. Agora, uma equipe de pesquisadores se dedicou a desvendar o mistério de suas formas hexagonais.
A equipe de pesquisadores de Bhushan Karihaloo, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, constatou que, antes de se transformarem em hexágonos, os favos têm, inicialmente, a forma circular. Eles ganham a forma hexagonal e levemente arredondada ao longo da construção das fileiras, prateleiras onde são depositados pólen e mel. Os especialistas explicam que o mecanismo desta transformação se dá no escoamento da cera derretida, que uniria os favos vizinhos.
Inúmeras hipóteses foram elaboradas ao longo dos séculos na tentativa de explicar a geometria impressionante das colmeias. Já se acreditou, inclusive, na capacidade que estes insetos teriam para fazer complexos cálculos matemáticos a fim de medir as larguras e os ângulos. Mas segundo o estudo, a explicação está nas propriedades físicas da cera utilizada para construir os favos circulares.
Em uma temperatura de aproximadamente 45ºC, a cera começa a derreter como um líquido elástico, viscoso. Ela se estica como um caramelo, e os ângulos se formam na junção das células, dando origem aos hexágonos. De acordo com os pesquisadores, o calor na origem desta transformação é fornecido pelas abelhas operárias que trabalham sem parar, lado a lado, na construção das fileiras.
Mesmo que o enigma desta impressionante estrutura tenha sido solucionado graças a uma combinação física e matemática, a perfeição dos favos não é mero acaso da natureza. Os cientistas confirmaram na pesquisa o papel decisivo dos insetos. “Nós ficamos maravilhados com o papel das abelhas no processo: aquecendo, endurecendo e afinando a cera exatamente onde é necessário”, afirmaram.

AQUILO QUE SEMEAMOS UM DIA VAMOS COLHER

Roberto e Euclides eram dois irmãos e nasceram em família pobre. Apesar de crescerem juntos e frequentarem a mesma escola, os dois tinham personalidades bem diferentes. Roberto era trabalhador e esforçado, Euclides gostava de festas e fazia muito sucesso com as moças. Na cidade em que viviam, existia uma grande empresa e os dois foram contratados, mais ou menos na mesma época. O emprego e o salário não eram grande coisa. Os dois foram admitidos como faxineiros. Euclides fazia o mínimo possível, enquanto Roberto procurava o máximo e estava sempre pronto para horas extras e fazia todos os cursos que a empresa possibilitava.
Passaram-se anos e Euclides foi fazer a faxina na sala principal da empresa, onde naquela noite aconteceria uma grande festa. Alguém, que não conhecia o parentesco entre os dois, comentou: que excelente pessoa é o Roberto, afável e competente. Nesta noite recebera a homenagem que mereceu. Não sei se você sabe, mas Roberto é meu irmão, comentou Euclides. Espantado o interlocutor disse: mas ele é gerente e você faxineiro? Pois é, concluiu Euclides, você vê como a vida é ingrata, ele teve sorte e eu não.
Uma velha afirmação garante: aquilo que semeamos, um dia vamos colher. Quem semeia flores, colherá flores; quem semeia espinhos, colherá espinhos; quem nada semeia, nada colherá. Outra afirmação ainda mais contundente: somos livres para escolher a semente que vamos semear, mas um dia seremos obrigados a colher a semente que semeamos.
Sorte ou azar também acontecem uma ou outra vez na vida. A lógica, porém, prevalece: há causas e consequências. O bem ou o mal que semeamos, cedo ou tarde voltarão para nós. Frequentemente ouvimos de pais bem-intencionados: meu filho não tem sorte no emprego, não tem sorte no amor, ninguém o compreende, todos estão contra ele! E põem a culpa no mundo, quando o culpado é ele mesmo.
O Evangelho conta a parábola dos talentos. Um patrão deu a seus empregados determinada soma de talentos. Eles deveriam negociar com eles. No regresso, dois empregados devolveram os talentos multiplicados, mas um deles enterrou seu talento na terra. Os dois primeiros foram recompensados, mas o terceiro perdeu até o talento que tinha. Deus deu a todos diferentes qualidades. Nem todos servem para tudo, mas todos podem marcar seu lugar. Não se trata de competir contra os outros, mas competir consigo mesmo. Isto significa acolher e dar a maior dimensão possível ao talento. Cada um tem sua medida e Deus aceita todas as medidas, por pequenas que sejam. Mas aquele que enterra seu talento, isto é, não aceita partilhar, não assume a dimensão do serviço, este se exclui. E ainda se lamenta: não tenho sorte.

A FÉ CULTIVADA NO DIA A DIA, VAI ACENDENDO LUZES.

Existem pessoas que conhecemos por ver repetidas vezes, por saudações formais e até amistosas ou por ouvir falar. Mas o tempo pode ir se encarregando de revelar surpresas agradáveis e propiciar lições de vida , quando a própria pessoa se manifesta. É o caso de uma humilde senhora de noventa anos que participa de uma comunidade em serviços voluntários e nos cultos religiosos.
A mencionada anciã chegou na igreja por primeira, num destes domingos do tempo comum, e mostrou o aparelho auditivo, afirmando estar quase surda. Dizia: “Embora eu não escute quase nada, preciso participar porque minha fé me traz até aqui! Desde que começou diminuir a minha audição comecei assinar alguma revista que traz a liturgia de cada domingo. Acordo cedo e me coloco a par das leituras do dia e leio alguns comentários. Enquanto estou lendo, sinto que Deus me fala. Então vou à igreja com a Palavra no coração, mesmo que os ouvidos não escutem”.
Pela primeira vez me dei conta que a pessoa de fé também se torna capaz de ouvir com os olhos. A fé revitaliza e integra todo o ser da pessoa e se irradia também na convivência comunitária. Este diálogo revelador é mais uma confirmação que a pessoa envelhece conforme vive e também morre carregada da herança que sempre cultivou no terreno do seu coração.
Sempre ouvi falar que uma pessoa cega desenvolve outros sentidos, capacitando-se para enfrentar cenários que não vê com os olhos, mas sente e situa-se para poder andar com segurança. Agora a nossa vovó garante que ouve através dos olhos a fala de Deus, quando lê a sua Palavra. Realmente, mais do que os sentidos, a fé garante o olhar e a escuta do coração. Esta escuta e este olhar parecem ser os mais verdadeiros e mais amplos.
O que estamos falando confirma a capacidade incrível do ser humano adaptar-se e administrar os limites que o percurso natural da vida vai apresentando. Quando se fecha uma porta, abrem-se janelas. Quando um caminho apresenta barreiras, outros caminhos se abrem. Se, ao natural, acontecem reações e ajustes, quanto mais com a força motivadora da fé.
A fé é um recurso sobrenatural que nos é dado, para podermos ir trilhando o percurso da vida com dignidade e responsabilidade, mesmo que nossa aparência exterior traga as marcas de nossas perdas. A fé, cultivada no dia a dia da vida, vai acendendo luzes para chegarmos iluminados na travessia das sombras da morte.
É sempre mais feliz a pessoa que vai se aproximando do ocaso da vida, quando esta foi sendo tecida com os recursos vislumbrados pelo olhar e a escuta do coração. Sempre somos mais do que aquilo que os olhos veem e os ouvidos ouvem. Nosso tamanho certo, conforme a medida da fé, é sempre maior do que nossos frágeis recursos humanos nos mostram. Podemos nos ver sempre melhores do que uma possível avaliação estética exterior.

UM ESCÂNDALO DE TIRA A VIDA DE MILHÕES

Quando o Papa Francisco diz que ‘morrer de fome constitui um verdadeiro escândalo’, como ouviram dele integrantes da Conferência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), está traduzindo a indignação e a tristeza das pessoas minimamente conscientes deste planeta. E ao afirmar que é preciso encontrar formas para que todos possam se beneficiar dos frutos da terra, resume um desejo de todos os cidadãos de bem.
É fundamental que se evite o abismo entre os que se deleitam em banquetes nababescos e aqueles que recebem, no máximo, migalhas. Ou pelo menos que se abrevie esta distância injusta e perversa.
Desde que o crescimento demográfico alcançou patamares elevados, em algumas regiões ‘explosivos’, transitou entre lideranças mundiais a preocupação sobre a capacidade de se produzir alimentos suficientes para esta população. Há décadas está comprovado que é possível, com os recursos naturais disponíveis e com o avanço tecnológico, colocar comida no prato de todos. E por que quase um bilhão de pessoas ainda passam fome?
Esta pergunta traz a campo uma repugnante associação entre desperdício e interesses de grupos políticos e econômicos. É inadmissível que no planeta em que morrem por ano quase 20 milhões de pessoas por subnutrição, ou razões ligadas a ela, se perca um terço dos alimentos entre a produção, a venda e o consumo. Não é admissível também que, para manter altos lucros e dar vazão à ganância, sejam manipulados os preços de grãos, carnes e outros produtos, o que impede que multidões de famintos tenham acesso a eles.
Está cada vez mais evidente que, na maioria dos casos, as pessoas não são vítimas da fome, mas de
quem constrói cenários que tira desses grupos o direito de se alimentar. É, realmente, cruel, indecente, vergonhoso, desumano.

QUEM TEM QUE MUDAR: A IGREJA OU OS JOVENS?



AJMJ é um evento criado para atrair jovens à Igreja Católica e despertar neles o espírito missionário. Pesquisas indicam que o número de católicos se reduz em todo o mundo, especialmente entre jovens. No início do século XX, quase 90% da população da Europa Ocidental se assumiam como católica. Hoje, apenas 24%.

No Brasil, o DataPopular constatou que, em apenas três anos, o índice de jovens católicos se reduziu em 30,6%. Em 2010, 63% dos jovens entre 16 e 24 anos se declaravam católicos. Hoje, apenas 44,2%.
Quais as causas desse desinteresse dos jovens pela Igreja? Por que eles são presença rara nas missas de domingo?
Há dois fatores a serem considerados. Primeiro, o crescente desinteresse das famílias católicas em cuidar da educação religiosa de seus filhos e netos. Com frequência, amigos me indagam: “Minha filha tem 18 anos, meu filho 16, e nenhuma motivação religiosa. O que fazer?” Dou sempre a mesma resposta: “A pergunta chegou com 10 anos de atraso. Se seus filhos tivessem 8 e 6 anos, eu saberia o que responder.”
O que esperar de um jovem que, na infância, jamais viu os pais participarem da Igreja, orar em família, comentar um texto bíblico? O que esperar se, na Semana Santa, se aproveita para viajar, e não para celebrar a morte e ressurreição de Jesus? E o Natal é comemorado em família em torno da figura consumista de Papai Noel ou como festa do nascimento de Jesus?
Os próprios anacronismos e rigores da Igreja são outro fator de afastamento dos jovens do catolicismo. Como atrair jovens se pensa sobre eles as exigências de manter a virgindade até o casamento, jamais usar preservativo e, uma vez casados, não ter relações sexuais exceto se houver intenção de procriar?
Soma-se a isso o despreparo de muitos padres e freiras. No afã de cobrir o déficit de sacerdotes, pois há cada vez menos vocações e muitas evasões (padres que se casam e ficam impedidos de rezar missa), a formação dos seminaristas no Brasil é, em geral, de péssima qualidade, salvo raras exceções.
A filosofia é estudada em apostilas e cópias de sites, sem contato com fontes primárias e textos integrais. A teologia é quase um curso de catequese para adultos, mera retransmissão da tradição doutrinária, sem debates e pesquisas sobre temas da atualidade.
A Igreja, para atrair jovens, deve renovar sua postura nesse mundo globalizado, pós-moderno, do século XXI. Para isso basta aplicar as decisões do Concilio Vaticano II e valorizar o protagonismo dos leigos, sobretudo dos jovens, na missão evangelizadora.
Caso contrário, haverá, sim, jovens da Igreja, fechados em movimentos espiritualistas, descolados da realidade, subjugados por um moralismo que centraliza o pecado na sexualidade, indiferentes aos apelos do Papa Francisco de não transformar a Igreja em uma ONG, mas fazê-la sair pra fora, ser fermento na massa, participar, como Jesus, da conflitividade e dos desafios do mundo em que vivemos.
Não custa recordar que todos nós, cristãos, somos discípulos de um prisioneiro político. Jesus não morreu de doença ou de acidente em Jerusalém. Foi preso, torturado e condenado à morte na cruz por dois poderes políticos

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

MAIS UM POUCO DE CULTURA INUTIL

13.08.20_Cultura inútil_III_blog

Continuo “pondo pra fora” abobrinhas que armazenei durante muito tempo, extraindo de almanaques, revistas, jornais, conversas, dicionários e outros livros. Lá vai.

Quando se diz que algo foi feito nas coxas, há quem pense em safadezas, mas a única safadeza, no caso, era o uso de mão de obra escrava. Nas olarias, não existiam formas para fazer telhas, os escravos que trabalhavam nisso moldavam as telhas nas coxas, e como as coxas variam de grossura entre as pessoas, as telhas feitas nelas também eram muito desiguais, irregulares, tidas como malfeitas.

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Outra coisa que não tem nada de pornográfico é a expressão puxa-saco. Numa época, os oficiais militares que iam viajar levavam suas roupas num saco, que era carregado ou arrastado, e alguns ordenanças carregavam esse saco para eles. A expressão passou a ser mais utilizada com o sentido de bajulador a partir do Carnaval de 1946, quando se cantava nas ruas do Rio de Janeiro: “O cordão dos puxa-sacos, cada vez aumenta mais”…

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Certa vez Karl Marx escreveu ao seu amigo Friedrich Engels: “Não confio em nenhum russo. Sempre que um russo consegue se insinuar, abrem-se as portas do inferno”.

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Um líder chamado Narses derrotou os ostrogodos e estabeleceu o domínio bizantino na Itália, em meados do século VI. Detalhes: ele era eunuco, tinha 74 anos de idade e governou até os 98.

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A exploração de petróleo nos Estados Unidos, em meados do século XIX, não tinha a ver com a gasolina. Dava-se grande valor a alguns subprodutos como óleos lubrificantes, querosene, geleia para pomadas e parafina. A gasolina era considerada um subproduto quase sem valor, até o aparecimento do automóvel.

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Goethe, expoente da literatura alemã, foi também bombeiro, advogado, pintor, diretor de teatro e ator, ministro do Exterior… e conhecido como grande conquistador de mulheres.

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Há várias versões sobre quem inventou o fósforo, essa maravilha que facilitou a vida das pessoas. Uma delas é que o inventor foi John Walker, químico inglês. E segundo consta, ele se negou a patentear uma invenção, dizendo que ela era tão importante que devia ser propriedade pública. E há tantos caras que patenteiam até invenções alheias…

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A laranja foi trazida ao Brasil pelos portugueses. No século XIX, em um laranjal do Recôncavo Baiano, as laranjas começaram a nascer com uma espécie de umbigo. Foi uma mutação ocorrida naturalmente ali, e ela começou a ser chamada de laranja-baía ou laranja baiana. Um gringo veio ao Brasil, levou a laranja-baía para os Estados Unidos e depois apresentou essa variedade como se fosse uma mutação criada por ele, lá na gringolândia, e deu a ela o nome pelo qual se tornou conhecida em vários países: washington navel. Como veem, não foi só da invenção do avião que eles se apropriaram.

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O que têm em comum o escritor Ambroise Birce, a dançarina Isadora Duncan, o escritor Jack London, o general Ulysses Grant (comandante das forças da União na Guerra de Secessão dos EUA), o escritor F. Scott Fitzgerald e o rei Eduardo VIII da Inglaterra? Eram alcoólatras.

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A primeira apresentação da música “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense, aconteceu em 8 de agosto de 1913.

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George Bernard Shaw ganhou a Ordem do Mérito da Inglaterra, mas rejeitou, dizendo que ela era supérflua “uma vez que já me conferi essa honra a mim mesmo”. Ele ganhou também o Prêmio Nobel de Literatura, em 1925, e não queria recebê-lo, mas foi convencido a aceitar.

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Já no Brasil, alguém que se deu um título de nobreza foi o jornalista e humorista Apparício Torelly. Na Revolução de 1930, quando os gaúchos rumavam para o Rio de Janeiro, armou-se um grande esquema de defesa contra eles em Itararé, no sul do estado de São Paulo. Mas os gaúchos não passaram por lá, e a Batalha de Itararé não aconteceu. Os títulos de nobreza no Brasil, durante o Império, teoricamente, eram conquistados em campo de batalha, mas na verdade teve gente que ganhou sem nunca ter participado de batalha nenhuma, eram títulos “comprados”. Apporelly (apelido que Apparício usava), embora em plena República, inspirou-se na nobreza brasileira e deu-se o título de Duque de Itararé, e dias depois, como “prova de modéstia”, rebaixou-se a Barão de Itararé, apelido pelo qual ficou conhecido.

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Luíz XIII, rei da França, teve a seu serviço, entre 1649 e 1652, um regimento de mercenários croatas. Eles trouxeram da Croácia o hábito de usar uma tira de tecido pendurada no pescoço, os franceses gostaram e a adaptaram ao seu gosto, e daí surgiu a gravata, uma corruptela de croata. Aos engravatados que acham que uma vestimenta masculina decente tem que incluir esse paninho besta (na Câmara Federal e no Senado, por exemplo, seu uso é obrigatório), lembro então: essa frescura de vocês era hábito de uns soldadecos mercenários.

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Uma forma “diferente” de contribuir em uma campanha para arrumar dinheiro para os pobres de Berlim foi a de Albert Einstein: ele vendia autógrafos a 3 dólares e fotografias suas, autografadas, por 5 dólares.

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No mundo mediterrâneo antigo não existia sabão. Usavam azeite de oliva para lavar o corpo.

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Em 1709, o padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão faz em Lisboa a primeira experiência com um aeróstato, uma “máquina de voar”, que bateu num telhado e caiu. O padre levou uma baita vaia da multidão e nunca mais foi levado a sério.

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Quando Dom Pedro I era imperador, havia duas facções políticas no Brasil: osjurujubas (liberais) e os corcundas (conservadores, incluindo portugueses que aderiram à independência). Depois, no Segundo Reinado (de Dom Pedro II), osjurujubas passaram a ser chamados de luzias e os corcundas de saquaremas.

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Ver gato preto, para algumas pessoas, dá azar. Mas para Winston Churchill, não era assim. Ele afagava gato preto para dar sorte.

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Em Portugal, certa época, as tabernas frequentadas por prostitutas costumavam colocar ramos na porta, para os cliente saberem o que encontrariam ali, e assim a palavra rameira virou sinônimo de prostituta. No Brasil, até há relativamente pouco tempo, os prostíbulos costumavam ter uma lâmpada vermelha na porta.

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Dedos mínimo, anular, médio, indicador e polegar… Na infância, aprendíamos outros nomes para esses dedos: mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura-bolo e mata-piolho. O “seu vizinho” corresponde ao anular, dedo da aliança de noivado e casamento. Antigamente, segundo uma superstição, havia um nervo que ligava esse dedo ao coração, daí ele ter sido escolhido para essa função simbólica do amor.

A NOSSA GISELE BÜNDCHEN É A MODELO MAIS BEM PAGA PELO SÉTIMO ANO.


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Gisele Bündchen, 33, foi apontada pelo 7º ano consecutivo a modelo mais bem paga do mundo. A tradicional lista da revista Forbes afirmou que a modelo brasileira faturou US$ 42 milhões no último ano, contabilizado entre junho de 2012 e junho de 2013. O total milionário é 6 vezes maior que o da segunda colocada, a top australianaMiranda Kerr – US$ 7,2 milhões.

Ainda segundo a publicação, Gisele lucrou mais que o marido, Tom Brady, apontado como o 11º jogador de futebol americano mais bem pago, ganhando US$ 38 milhões entre 2012-2013. A maior fonte de renda de Gisele Bündchen são seus acordos comerciais, a linha de lingerie lançada em parceria com a Hope, e inúmeras coleções de acessórios.

A brasileira Adriana Lima também figura a lista da Forbes. A top aparece em 3º lugar, tendo ganhado US$ 6 milhões.

Veja a lista com as 10 modelos mais bem pagas de 2013: 1. Gisele Bundchen – US$42 milhões 2. Miranda Kerr – US$7.2 milhões 3. Adriana Lima – US$6 milhões 4. Kate Moss – US$5.7 milhões 5. Liu Wen – US$4.3 milhões 6. Hilary Rhoda – US$4 milhões 7. Carolyn Murphy – US$3.6 milhões 8. Joan Smalls – US$3.5 milhões 9. Candice Swanepoel – US$3.3 milhões 10. Lara Stone – US$3.2 milhões

terça-feira, 20 de agosto de 2013

MORRER COMO ANTIGAMENTE


Morrer sempre foi doloroso. Pensar na morte nos dói. Porém, na medida em que elaboramos esta dolorosa realidade, ela é vivida de modo diferente. Os primeiros cristãos suplicavam: Maranatha, isto é, Vem, Senhor Jesus! E isso se aplicava à própria morte ou ao juízo universal definido como Parusia. Hoje, falar e pensar na morte é considerado de mau gosto, politicamente incorreto. Mais: escondemos a morte. Na impossibilidade de vencê-la, tentamos ignorá-la. Mesmo assim, nada é tão certo quanto a morte. Todos admitimos que os outros morrem, que a gente morre... mas não passamos daí.

Leo Moulin nos deixou uma crônica sobre a maneira de morrer de um monge da Idade Média: “Toca-se o sino do convento. Toda a comunidade, junto com o abade, reúne-se à porta do quarto do doente e entram os que cabem. Rezam três orações dos moribundos. O enfermo entende que a morte se aproxima. Reza o Ato de Contrição, se ainda é capaz de falar. Caso contrário, o abade reza por ele. O enfermo, se é capaz, confessa-se pela última vez e pede perdão à comunidade pelos pecados cometidos contra Deus e contra os irmãos. Recebe de todos o abraço da paz. Outros ritos são feitos, entre eles a chamada extrema-unção. O enfermo beija as cinco chagas do crucifixo a fim de reparar os pecados cometidos pelos cinco sentidos. Depois recebe a Eucaristia e é interrogado se está feliz de morrer na fé e com o hábito monástico. Se a agonia se prolonga, a comunidade se retira, mas permanece um monge lendo para ele a Paixão de Jesus.”
Assim se morria na Idade Média. Algo parecido acontecia em nosso meio no passado. O pai, ou a mãe, morria no grande leito do casal, cercado dos filhos. Os ritos sagrados constituíam-se na grande escola de preparação. A Unção, se administrada a tempo, com a expressividade de seus símbolos, permitia ao enfermo perceber e vivenciar a proximidade da morte. E também aceitar morrer. Uma indefectível vela acesa lembrava a vela da fé, recebida no cerimonial do batismo. Era a luz que havia guiado a pessoa através dos caminhos da vida.
Hoje, morre-se, com grande frequência, na mais absoluta ignorância. Ou, pior ainda, na mais absoluta solidão de uma CTI de hospital. Ao redor dele arma-se um verdadeiro teatro, o teatro de uma civilização que não sabe o que fazer com a morte. Os familiares, fingindo que o enfermo logo retornará às suas atividades, falam de negócios, de férias, de futebol... E na chegada - ou despedida - garantem que ele está muito melhor e em breve terá alta. O enfermo, o primeiro a suspeitar da gravidade da doença, mas o último a acreditar, embarca nesta encenação, acreditando ou fingindo acreditar.
Depois, sobrevindo a morte, o cadáver é velado numa anônima capela funerária, onde se fala em voz baixa, mas se fala das coisas da vida. Ou até se lembram episódios cômicos ou se contam piadas. Sepulta-se o morto o quanto antes, não se carrega luto e não se fala mais dele. Nos países mais secularizados, a encenação continua com funerais festivos. O morto é esquecido numa pequena sala, enquanto os convidados se agrupam junto a mesas com doces, salgadinhos e bebidas. Num grande telão é projetada a vida do falecido, com cenas de sua infância, adolescência, namoro, viajando ou jogando futebol. Também já existe o funeral on line, pela Internet. Os conectados veem as cerimônias, mandam mensagens para os familiares, desde a tranquilidade de suas casas.

A grande viagem - A psicóloga Ana Paula Reis, especializada em lutos e perdas, fala da insensibilidade - falta de amor - na atitude de mentir ao doente, de fingir que ele está bem. Com prudência e jeito, sugere que se ajude o enfermo a “preparar a bagagem” com calma, para a grande viagem. Com sensibilidade, familiares e médicos devem revelar ao doente seu verdadeiro estado, sem jamais tirar-lhe a esperança.
O sacramento da unção dos enfermos é das maneiras interessantes de ajudar a preparar a viagem sem volta. Num passado recente se falava da “extrema-unção” um sacramento para os moribundos, por vezes já em estado de coma. Ou até depois do passamento. A unção com o óleo santo, que Tiago recomenda, é para os doentes. Também podem receber a unção as pessoas idosas, com saúde, ou as pessoas que vão para qualquer cirurgia. E se trata de um sacramento para viver: “A oração da fé salvará o enfermo, o Senhor lhe dará alívio e se tiver pecados, serão perdoados!” (Tg 5, 15).
O culto à juventude e ao prazer faz com que a morte seja ignorada. Não se deve pensar ou falar nela. Na realidade, assim como temos que aprender tudo na vida, precisamos aprender a envelhecer e a morrer. Cada um deve preparar e merecer a própria morte.

CORAGEM E VONTADE POLÍTICA CONTRA A FOME


A constatação de que mais de um bilhão de pessoas passam fome no mundo deveria sensibilizar até os mais egoístas habitantes deste planeta. A revelação da Organização das Nações Unidas (ONU), no entanto, parece se juntar a tantas outras feitas nos últimos anos, cada uma delas elevando o número de subnutridos, como se estancar esse problema fosse algo impossível. E não é. O diretor-geral da FAO, braço da ONU para a Agricultura e Alimentação, Jacques Diouf, deixa claro: existem recursos técnicos e econômicos para fazer a fome desaparecer. Falta é vontade política.
Desde que a comida passou a integrar o leque de mercadorias do balcão mundial de negócios, os interesses de poderosos grupos econômicos sempre nortearam preços e destinos. E em um cenário influenciado pela crise financeira internacional, a oscilação de preços se torna ainda mais cruel para os desfavorecidos.
Estudos comprovam que há condições de produzir alimentos para toda a humanidade, mas a injusta distribuição acaba privilegiando uns e, em muitos casos, condenando à morte outros. Os dados da ONU mostram que mais de 900 milhões dos atuais famintos habitam regiões paupérrimas da Ásia e da África. Na América Latina estão outros 53 milhões de vítimas. Em todos os países desenvolvidos, apenas 15 milhões sofrem com a fome. Essa distribuição geopolítica torna evidente que a falta de comida existe só para os pobres.
Erradicar a fome exigiria uma revolução global, com passos ousados e demorados. Mas há providências viáveis a curto prazo. Reduzir o desperdício, que em certas regiões ultrapassa um terço apenas na colheita e no transporte, é um exemplo. Incentivar a agricultura familiar é outro. Medida mais consequente ainda: dar real destinação social à terra. Para isso, como diagnostica a ONU, basta vontade política - e uma boa dose de coragem. Sem elas só crescerá a fila de famintos.

O PROBLEMA É A OMISSÃO DOS BONS.


O mundo não vai mal porque existem muitos maus, mas porque os bons se omitem

Num campo isolado, com muita relva e muita água, viviam tranquilos três touros: um marrom, um branco e um preto. Nas cercanias habitava também um leão, que era visto, algumas vezes, entre a vegetação espessa, espiando os animais. Naturalmente, ele causava medo. Mas, aos poucos, os touros estavam se acostumando, até mesmo comentavam que o leão não era tão feroz como se dizia. Vez por outra o leão, respeitosamente, desejava a eles um bom dia.
Aproveitando a ausência do touro branco, o leão se aproximou dos touros preto e marrom e fez-lhe esta proposta: corremos o risco de chamar atenção dos caçadores por causa da cor chamativa do touro branco, tão diferente da nossa, que é tão discreta. Os touros concordaram e o leão devorou o touro branco. Passado algum tempo, o leão insinuou-se junto ao touro marrom: a tua cor e a minha cor são iguais. Deixa-me comer o touro preto, para que possamos viver tranquilos. A contragosto, o touro marrom concordou e o touro preto foi também devorado. E o touro marrom ficou sozinho. Chegou tua vez, disse o leão, uma semana depois. Conformado, o touro disse apenas: faze-o, mas antes deixe que eu proclame uma verdade: fui devorado no dia em que entregamos o touro branco.
A fábula dos animais se repete, muitas vezes, com os humanos. A injustiça praticada contra um inocente afeta a todos. A omissão costuma cobrar um preço muito alto. O raciocínio é míope: não tenho nada a ver com aquilo.
Poeta e pensador alemão do século XX, Bertold Brecht deixou um pequeno poema sobre a omissão diante do nazismo: primeiro vieram prender os comunistas, eu não me importei, pois não era marxista; depois prenderam alguns operários, não me importei, pois não sou operário; depois agarraram os sacerdotes, mais uma vez não me importei, não sou religioso... Quando vieram prender-me, não tinha ninguém para me defender.
A tentação de lavar as mãos, a clássica receita de Pilatos, costuma trazer um perigoso saldo de injustiças, lágrimas e sangue. Aparentemente não é conosco e fingimos não ver e escutar. O pensador John Danne proclamava: nenhum homem é uma ilha: cada homem é uma parte da terra. Se um torrão cai no mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, o solar do teu amigo ou o teu próprio...
Possivelmente o maior pecado da atualidade seja a omissão. O mundo não vai mal porque existem muitos maus, mas porque os bons se omitem. Povo unido jamais será vencido, proclamava um grito de mobilização na década de oitenta. A estratégia contrária propõe: dividir para vencer. Determinadas alianças podem tornar-se perigosas. E no final da vida seremos cobrados por tudo o que não fizemos. E a aliança do leão com o cabrito nunca dará certo.