quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A IMPORTANCIA DE DAR CONTA DE SI.

Dar conta de si é dom e tarefa que remete ao alicerce sustentador de cada pessoa, no exercício de suas muitas responsabilidades e, particularmente, na competência de ser elo da fraternidade solidária e universal. Sabe-se que, em qualquer etapa da vida, a capacidade para dar conta de si é determinante nos êxitos ou fracassos. Compreende-se, assim, que essa competência é substrato indispensável para o adequado exercício da cidadania. Quando o ser humano não consegue dar conta de si são ampliados descompassos relacionais, em diferentes âmbitos e níveis. Eis, pois, uma causa da crescente violência e da aridez existencial dos que não conseguem encontrar sentido na vida. Não dar conta de si é caminho para descompassar relações familiares, institucionais e sociais. Por isso mesmo, é preciso cultivar essa competência, a partir de experiências relevantes com força de modelagem. Reconhecer que dar conta de si é dom remete o ser humano a Deus e, consequentemente, ao cultivo da espiritualidade.

Sem experiências relevantes e o adequado cultivo da espiritualidade prevalecem os muitos vazios existenciais, responsáveis por patologias que incidem muito negativamente na vida humana. É preocupante o nível de adoecimento da humanidade, na contramão do desenvolvimento científico e tecnológico. A multiplicação dos cenários vergonhosos de desigualdade social, provocados por interesses egoístas que desconsideram cláusulas pétreas essenciais ao bem comum, comprovam esse adoecimento. Os prejuízos são ainda mais graves quando aqueles que têm responsabilidade na defesa do bem comum não dão conta de si e, consequentemente, não conseguem desempenhar adequadamente as suas tarefas. No horizonte da saúde, na vida em sociedade, dar conta de si é essencial e urgente. Uma prioridade que pede investimentos na educação, no humanismo integral, em legislações apropriadas e, especialmente, na espiritualidade

domingo, 21 de novembro de 2021

O IMPERIO DO MEDO.

Neste mundo desprovido de utopia, senso histórico e confiança na representatividade política, o medo ocupa cada vez mais espaço. As forças conservadoras incutem em muitos tal insegurança que, como cordeiros a serem tosquiados, aceitam trocar a liberdade pela segurança. Essa doença tem nome: eleuterofobia, medo de ser livre. Deixa-se de melhorar a qualidade de vida ou fazer uma viagem de lazer para manter intocado o dinheiro no banco.

Temos medo do desemprego, da inflação, da recessão. Medo da pandemia. Medo do governo neofascista. Medo do ódio destilado nas redes digitais. Medo da velhice. “O medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa sem caminho” (Guimarães Rosa in “Conversa de bois”, Sagarana). A toda hora soa o alarme: Cuidado! A fera está solta!

Nem sempre identificamos a fera com nitidez mas, como manada, disparamos em atropelos para nos afastar o mais possível do seu alcance.

Quem é a fera? É o “outro”, o imigrante que vem roubar nossos empregos. É o estrangeiro que ameaça subverter o nosso estilo de vida. É o muçulmano que, por baixo da túnica, carrega um cinturão de dinamites. É o refugiado que obriga o nosso governo a desviar recursos para socorrê-lo. É o homossexual encarado como promíscuo. É quem pensa diferente e cujas ideias nos parecem conter material explosivo…

Assim o medo se dissemina pelo país. Penetra em nossas casas. Impregna-nos a mente, os olhos, os ouvidos, o olfato e o paladar. Medo do alimento que engorda, do tabaco que envenena, da bebida que embriaga. Medo de tudo e de todos. Esquecemos que a sabedoria recomenda ter medo do medo.

Cresce a síndrome do medo. Isso vale para Rio, São Paulo, Nova York, Paris ou qualquer outra grande cidade. Medo de assalto, o que induz o cidadão a tonar-se prisioneiro de sua própria casa, trancada a mil chaves, dotada de alarme de segurança, e quebrada, no visual, pelas grades que cobrem as janelas.

O medo viaja a bordo do desconhecido. O porteiro do prédio deve exigir identificação, o nome é anunciado por interfone, o visitante conferido pelo olho mágico e, por fim, as fechaduras, de roliças chaves dentadas, abertas uma a uma.

Doença da moda é a agorafobia – medo de lugares públicos. Teme-se que a praça esconda ladrões atrás das árvores, e crianças pedintes se transformem em perigosos assaltantes ao se aproximar do carro. Aumenta o número de pessoas que preferem não sair à noite, jamais usam joias e entram em pânico se alguém se dirige a elas para perguntar onde fica tal rua. O homem é, enfim, o lobo do homem. “Quem vive sob o domínio do medo nunca será livre”, dizia Horácio.

De onde vem tanto medo? Da sociedade que nos abriga, marcada por desigualdade e preconceitos. Se não somos iguais em direitos e nas mínimas condições de vida, por que se espantar com reações diferentes? Como exigir polidez de um homem que sente na pele a discriminação racial e, na pobreza, a social? Como esperar um sorriso de uma criança que, no barraco em que mora, vê o pai desempregado descarregar a bebedeira na surra que dá na mulher? A discriminação humilha, e a humilhação gera ressentimento, amargura e revolta.

O medo decorre também das autoridades civis e religiosas que, na falta de argumentos, atemorizam com ameaças, bravatas, terrorismo psicológico, evocações do demônio e do inferno.

O contrário do medo não é a coragem, é a fé. Não apenas religiosa, mas cívica, política, utópica. Acreditar que o futuro pode ser melhor e diferente. E começar, hoje, a semear os bons frutos a serem colhidos no futuro.



Frei Betto.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

ACOMPANHAR RESULTADOS DA COP-16 - (2)


Quando se considera a realidade brasileira, os números, as ações governamentais e as tentativas de flexibilização legislativa são preocupantes. Lamentavelmente, os discursos ainda são mais demagógicos que incidentes – não possuem força para correções. Considerando as informações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento da emissão de gases de efeito estufa já provoca transformações prejudiciais irreversíveis no Brasil. Uma realidade que exige o compromisso ético-moral de cada cidadão brasileiro na tarefa de promover mudanças no tratamento dos recursos naturais do País. A desarvorada ânsia por riquezas e lucros leva a situações climáticas cada vez mais danosas em todas macrorregiões que integram o território nacional. O enriquecimento de alguns coabita com um crescente amargor da população que pode se acentuar nos dias vindouros.

Para se efetivar as soluções técnico-científicas de modo a frear o aquecimento global é preciso contar com a dedicação dos cidadãos e com a responsabilidade daqueles que ocupam as instâncias do poder. A sociedade brasileira, nos trilhos da esperada seriedade dos governantes, de coerentes escolhas legislativas e de decisões judiciais inequívocas, requer mais investimentos para efetivar uma educação ambiental no horizonte inegociável da ecologia integral. Assim, todos poderão reconhecer que o peso dos efeitos prejudiciais das mudanças climáticas alcança cada pessoa, mas pagam o preço mais alto os empobrecidos e excluídos, especialmente castigados pelas secas, enchentes, geadas e outros fenômenos climáticos.

sábado, 13 de novembro de 2021

ACOMPANHAR OS RESULTADOS DA COP-26.- (1)

 

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26) precisa abrir um novo ciclo em que as propostas apresentadas por líderes governamentais sejam cumpridas ante às urgências climáticas que “ardem na pele” da população. Essas urgências revelam tropeços da humanidade e, particularmente, da sociedade brasileira. E não é suficiente delegar a responsabilidade às autoridades. A sociedade civil precisa assumir a sua insubstituível tarefa de acompanhar e interpelar os governantes sobre o adequado tratamento da casa comum. Também as instâncias parlamentares têm a importante responsabilidade legislativa de fazer avançar acordos que busquem a proteção do planeta. Nessa missão, é muito necessário acompanhar as movimentações sobre os processos que podem inviabilizar conquistas e até mesmo gerar prejuízos significativos. No contexto da COP-26, por exemplo, presenças e ausências de autoridades convidadas já sinalizam a disponibilidade para efetivar, ou não, acordos estabelecidos na Conferência. Há de ser considerada, ainda, a força do mercado, vetor determinante para avanços ou retrocessos na luta contra as mudanças climáticas. Mercado e política contracenam no desafio de alcançar avanços na busca por um desenvolvimento sustentável e integral.

O contexto socioambiental exige intervenções urgentes, pois a humanidade não pode mais permanecer envolta pela cegueira que o dinheiro provoca – o lucro ambicioso e perverso compromete muitas formas de vida no planeta. Por isso mesmo, as narrativas sobre a casa comum precisam entrar, com mais frequência e familiaridade, nas pautas cidadãs. É preciso que a sociedade civil esteja bem informada para se posicionar, por meio dos mecanismos possíveis e disponíveis, a respeito dos compromissos assumidos por governos e organismos internacionais. Indispensável é o horizonte rico e muito bem articulado da Carta Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, com arquitetura de um fundamental processo educativo. Essa aprendizagem viabilizada pela Carta Encíclica inspira sensibilidades e honestidade para as urgências socioambientais. Um contraponto às conveniências e às manipulações legislativas, às leniências e às concessões em desfavor do planeta, rumo às catástrofes climáticas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

BEM-VINDO AO AMANHÃ.

Não sou propenso a adivinhações, mas é da natureza humana imaginar o futuro, sem o que perderíamos a disposição de viver. Nossa alma é nostálgica; a mente, prospectiva. Ao menos pressupomos, ao levantar da cama, como será o dia de hoje.

Mas não custa imaginar o amanhã. A etiologia da conjuntura se dá, como na medicina, a partir de determinados sintomas. E, nas relações de trabalho, a pandemia de Covid-19 generalizou o trabalho remoto, tornado possível graças à rede de internet. Essa modalidade improvisada em benefício da reclusão doméstica e do distanciamento social tende a ser amplamente adotada. Como a economia capitalista visa, em primeiro lugar, ao lucro, ganham as empresas mantendo os funcionários em suas casas. Isso representa economia de transporte, água, energia, alimentação, aluguel de salas ou outros imóveis. Interessa aos governos das metrópoles, pois reduz o trânsito e a emissão de gás carbônico. Mas, na outra ponta, onera o funcionário, obrigado a transformar seu lar em um anexo da empresa. E assumir todos os custos materiais e espirituais que isso implica, como arcar com a alimentação no horário de trabalho e se ver forçado a traçar uma linha invisível, no âmbito doméstico, que o distancia de filhos e demais parentes.

No futuro, desaparecerão as oficinas mecânicas. A tendência é a adoção do carro elétrico, cujo motor é composto por cerca de 20 peças. O atual, a gasolina ou diesel, requer cerca de 20 mil peças! E a eletricidade, comparada ao preço do combustível, torna o custo do quilômetro rodado muito mais barato com um veículo elétrico.

Os carros elétricos serão vendidos com garantia vitalícia, serão reparados somente pelas concessionárias, e leva apenas 10 minutos remover e substituir um motor elétrico.

As bombas de gasolina darão lugar às estações de recarga elétrica. Isso significa levar à falência as indústrias de carvão, as empresas petrolíferas, decretar o fim da OPEP e dar fim ao acúmulo de petrodólares por parte dos países do Oriente Médio.

Uma criança nascida hoje, quando adulta, só verá carros movidos a combustível fóssil em museus. As empresas de energia fóssil estão tentando desesperadamente limitar o acesso à rede para evitar a competição das instalações solares domésticas, mas isso não pode deter o progresso. A tecnologia cuidará de torná-las obsoletas.

Os carros elétricos se tornarão populares em 2030. As cidades serão menos barulhentas porque todos os carros novos funcionarão com eletricidade.

Elon Musk, fundador da Tesla, a maior fabricante de carros elétricos do mundo, inventou o telhado solar – telhas fotovoltaicas que, apesar de terem a aparência de telhas feitas de barro ou pedra, são de vidro temperado e texturizado. A aparência é a mesma de um telhado normal. A casa armazena energia elétrica durante o dia, usa-a e vende o excedente à rede que armazena e distribui às indústrias, grandes consumidoras de eletricidade.

Em 2018 começaram a circular os primeiros carros autônomos. Em breve, ninguém precisará comprar um carro. Basta ligar pelo celular e o carro estacionará na sua porta pronto para levá-lo ao destino. Com outra vantagem, não precisaremos buscar onde estacionar ou pagar estacionamento. Como no táxi, pagaremos apenas pela distância percorrida. Isso significa que os bebês de hoje, quando adultos, jamais precisarão tirar carteira de motorista ou comprar um veículo.

As cidades agradecem! Com muito menos carros nas ruas, o ar que respiramos estará mais limpo e os estacionamentos poderão ser transformados em parques.

No Brasil, quase 30 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito por ano, e quase 2 milhões em todo o mundo. Graças à direção autônoma, o índice passará de 6 para 1, o que significa mais de 1 milhão de vidas salvas anualmente no planeta. As seguradoras terão grandes problemas porque, sem acidentes, os custos ficarão mais baratos.

Toda essa inovação deve levar a maioria das montadoras tradicionais à falência. Elas, sem dúvida, tentarão fazer carros melhores, enquanto as empresas de tecnologia (Tesla, Apple, Google) lançarão um computador sobre rodas…

Na natureza nada se perde, tudo se transforma, já dizia Lavoisier. Na tecnologia também. Em 1998, a Kodak tinha 170 mil funcionários e vendia 85% de todo o material fotográfico utilizado no mundo. Em poucos anos, o processo fotográfico sofreu drástica modificação graças à evolução digital. As câmeras digitais foram inventadas em 1975. Com a popularização dos smartphones, hoje são raros os consumidores de câmeras fotográficas.

Agora entramos na era do software, que ameaça tudo que conhecemos em matéria de empreendimentos. O UBER, por exemplo, é apenas uma ferramenta de software. A empresa não possui nenhum carro, jamais contratou motoristas e, no entanto, é a maior empresa de táxi do mundo! O Airbnb é, hoje, a maior empresa hoteleira do mundo, embora não possua um só quarto para alugar! Pergunte aos grupos Best Western e Accor se previram isso.

A Inteligência Artificial avança a passos acelerados. Computadores já são campeões de torneios, como os de xadrez, muito antes do que se esperava.

Nos EUA, jovens advogados têm dificuldades de obter emprego. Qualquer cidadão que recorrer ao Watson da IBM consegue orientações jurídicas. Pode-se obter aconselhamento jurídico em segundos, com 90% de precisão em comparação com 70% quando feito por humanos. Portanto, se você estuda Direito, reflita. O Watson já ajuda, inclusive, a diagnosticar câncer, e com precisão quatro vezes maior que os médicos. Em 2030, os computadores se tornarão mais inteligentes do que os humanos.

A ficção se faz realidade e revolucionará o sistema de saúde. Na série científica de ficção, intitulada “Star Trek”, há um sofisticado aparelho portátil chamado tricorder ou tricodificador capaz de escanear retina, amostra de sangue, respiração etc. Tudo isso pelo celular. Pois bem, o tricorder já existe. Dispõe de um sistema que analisa 54 biomarcadores capazes de identificar quase todas as doenças.

E prepare-se para presenciar a mais intensa guerra virtual: a dos governos com as grandes corporações digitais, que são privadas, como Google e Facebook, hoje mais poderosas que qualquer Estado. Já imaginou se uma delas suspende suas atividades por 24 horas? O mundo entra em colapso.

Bem-vindo ao amanhã!



Frei Beto

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

EXPLORAR O TERRENO DESCONHECIDO.

A cada dia quando nasce o sol, os seres humanos iniciam a repetição de uma enormidade de procedimentos.

A higiene pessoal ao sair da cama. Uma dose de café para animar o corpo. Uma oração, breve, para que o dia ao trazer seus próprios males também traga com eles as alegrias.

Um deslocamento para o trabalho a pé, de bicicleta, de ônibus, de Uber, de taxi ou em moto ou carro particular.

E, no trabalho, mais uma série de rotinas para iniciar as atividades.

Cada um desses espaços permite um tipo de contato humano. Em casa, antes de sair, com os familiares, no deslocamento, para o trabalho, com os vizinhos e conhecidos, no trabalho, com os colegas.

Uma palavra que deverá estar presente a todo o tempo é o respeito. Uma das expressões que esclarece o significado da palavra respeito, no dicionário, é “ter em consideração”.

De certo modo, então, respeitar uma pessoa, ou seja, ter consideração por ela, significa reconhecer sua presença e atribuir a essa presença um certo valor.

Ao reconhecer a presença dos familiares em casa, atribuo a eles um certo valor humano, um certo sentido, significado. E a partir desse valor, sentido, significado produzo com este familiar minhas interações.

Ao reconhecer a presença de um vizinho na rua, no transporte coletivo, na portaria do prédio, atribuo a ele um sentido e significado e produzo então as interações.

Da mesma forma, os colegas de trabalho.

Cada um desses locais tem seu código de ética e código moral. E as interações decorrentes do respeito demonstrado a cada pessoa, reconhecimento de sua presença com atribuição de sentido e significado, deve convergir com o código de ética do ambiente.

Uma estratégia que raras vezes falha é tratar todas as pessoas como se fossem desconhecidas, e de um certo modo o são, pois o homem que entrou no rio quando sai do rio já não é mais o mesmo homem, de forma que o colega com quem se tomou um cafezinho ontem, hoje, no início da jornada de trabalho, já é um novo colega.

Ora, se todos são desconhecidos, se está a ter a cada instante um novo contato com o desconhecido. O contato com o desconhecido é e deve ser cuidadosamente tateado, olhe como a expressão “deve ser” convoca o atributo jurídico para todas as relações humanas.

É neste sentido que as relações humanas estão sempre a exigir de cada um este tato, este jeito pra lidar com as pessoas, este relacionamento a todo tempo como se fosse o interlocutor um desconhecido, de quem se quer informações para produzir a melhor interação possível.

Isso é jurídico.

Quando a Constituição da República diz que não será admitido no Brasil nenhum tipo de discriminação. E que o racismo será punido como crime inafiançável é desse respeito que se está a falar.

Primeiro, reconhecer a presença dos grupos humanos que historicamente foram colocados, por determinações culturais, numa posição de poderem ser discriminados. E atribuir a eles um valor, um valor que precisa ser compensatório, para que se garanta a igualdade entre seres humanos. Porque aqueles que nasceram num grupo historicamente e culturalmente colocados numa posição desfavorável, precisam de uma compensação para participar da sociedade em condições de igualdade.

No mês de novembro, será relembrado o dia de Zumbi de Palmares. Por isso, é muitíssimo importante aproveitar o período para refletir sobre o respeito.

Fala-se muito de respeito. Exige-se muito o respeito. Cobra-se muito que respeitem.

Mas pouco de fala sobre o que é respeitar. O próprio dicionário diz: Respeito – Ato ou efeito de respeitar. Respeitar – Ter respeito, ter consideração.

Na prática, respeitar é reconhecer a presença do outro e atribuir a esta presença um sentido ou um significado e a partir desse sentido ou significado estabelecer as interações. E estas interações devem necessariamente seguir um conjunto de valores dado pela ética do ambiente, pela moral da família e com certeza pela Constituição e pelas Leis do país.

Agora resta explorar o terreno desconhecido das outras pessoas, ainda que com elas tenha uma convivência de anos a fio.

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

TRANSFORMAR A MENTE.


O admirável apóstolo Paulo, escrevendo à comunidade cristã de Éfeso, partilha, enfaticamente, este conselho: “É preciso renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em justiça e santidade da verdade”. Em outras circunstâncias, por meio da pregação e da escritura, o mesmo apóstolo abordou essa temática, cônscio dos avanços e retrocessos na existência humana, com incidências fortes no tecido sociocultural. A mente humana é patrimônio da liberdade individual, mas com enorme responsabilidade social, por influenciar nas configurações de valores e princípios. Sabe-se o quanto a mentalidade coletiva incide sobre a realidade, inspirando ganhos e perdas, em diferentes etapas da história. No contexto contemporâneo da sociedade brasileira, é preocupante a hegemonia de compreensões que corroem conquistas importantes da democracia e do exercício da solidariedade. Retrocessos perigosos e a tendência de se manter, em “banho-maria”, temáticas relevantes para a preservação dos direitos e da justiça.

A forja dessas perdas é o predomínio de uma mentalidade que precisa ser debelada, a partir de providências urgentes, para reverter a crise antropológico-cultural em curso na sociedade. Sofre-se a consequência de uma verdadeira “babel”, revelada pela falta de conexões na linguagem, manipulada para formular juízos incoerentes, contaminados por vícios que englobam desde a defesa do que é indefensável até as manifestações de ódio. Têm sido nefastas as consequências, que incluem equívocos nas escolhas políticas – o que aponta para a urgência de se investir sempre mais no exercício cidadão de adequadamente escolher aqueles que ocupam as instâncias do poder. Um passo importante nessa tarefa é reconhecer: mentes estão produzindo, mundo afora, “sombras de um mundo fechado”.
É hora de vencer todo tipo de desânimo e cuidar para que não haja propagação de desconfianças, alimentando as polarizações e o caos. A luta por interesses egoístas alimenta a configuração de uma realidade em que todos estão contra todos, onde vencer se torna sinônimo de destruição. O momento requer o exercício da escuta, condição essencial para qualificar aquilo que se diz. Oportunidade para transformar a mente – acolhendo a orientação do apóstolo Paulo – e gerar entendimentos que promovam a fraternidade, com novas incidências existenciais, políticas e sociais.