quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

UNINDO O ÚTIL AO AGRADÁVEL - FELIZ ANO NOVO !

Dinheiro traz felicidade para você?
Todos temos uma resposta irônica para esta pergunta, não é mesmo? Mas, piadas a parte, pense no sentido da palavra felicidade para você.

Você ainda curte seus prazeres de adolescente? Se não curte mais, em algum momento da vida você deliberadamente escolheu deixar de curtir aqueles prazeres? Você já deu um abraço forte nas pessoas que você ama nesta semana? Conseguiu se espreguiçar na cama por uns dois minutos de manhã? Se você é pai ou mãe, quantas horas você dedicou para curtir o carinho de seu filho na última semana? Quantas horas ficou debruçado na janela para ver o espetáculo que a última chuva proporcionou, ao fazer a água correr pela rua?

Muitas pessoas estão deixando de curtir as coisas mais importantes da vida. Estão deixando a vida simplesmente passar. Quanto custaria a você gastar um pouquinho de seu tempo para, simplesmente, curtir? Nada.

Perceba que curtir a vida pode não custar nada – se você quiser. Porém, você não consegue aproveitar nem uma pequena parcela da enorme quantidade de presentes que Deus lhe dá, todos os dias. Dentre as milhares de desculpas para não aproveitar esses lances de felicidade, a principal é a correria do dia a dia, justificada por um ritmo intenso de trabalho, que, por sua vez, é justificado para lhe trazer dinheiro, o qual será usado para pagar as contas e para lhe dar acesso às coisas que lhe dão prazer.

Curiosamente, abrimos mão de prazeres, da família, dos amigos e de nós mesmos para desfrutar disso após do trabalho, provavelmente gastando dinheiro para tirar o atraso de forma mais intensa. Perceba bem: as melhores coisas da vida estão disponíveis para qualquer ser humano.

Ganhar bem é diferente de ser rico. Está cheio de gente com muito dinheiro e que declaradamente não são felizes, assim como tem muita gente que vive humildemente e diz de boca cheia que é feliz.

Aqueles que conseguem unir o útil ao agradável certamente conseguem isso porque buscam esse objetivo conscientemente. Talvez esteja na hora de você acionar sua consciência para uma vida mais rica.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O AMOR E SEUS TRÊS INGRIDIENTES

1. CUIDADO

Segundo Alain de Botton: Uma maneira de entender por que o amor é tão importante e por que chega a ser considerado quase um sinônimo do sentido da vida é analisar os desafios da solidão. É muito comum deixarmos de mencionar o tema da solidão: aqueles que não tem a quem recorrer sentem vergonha; aqueles que têm alguém sentem (algum nível subjacente de) culpa. Mas as dores da solidão são uma possibilidade universal e nada constrangedora. Acima de tudo, não deveríamos sentir que estamos sozinhos ao nos sentirmos sozinhos. Inadvertidamente, a solidão nos propicia os insights mais eloquentes sobre por que o amor é tão importante. Poucas pessoas entendem mais sobre a importância do amor do que aqueles sem alguém para amar. É difícil saber ao certo por que o amor é tão valorizado até que – e apenas se –, em algum ponto do caminho, passamos por períodos amargos e indesejados sem a companhia de ninguém além de nós mesmos.

Quando estamos sozinhos, é bem possível que as pessoas se esforcem para ser bondosas conosco; talvez nos façam convites e demonstrem gestos de ternura, mas é difícil escapar de uma sensação subjacente de condicionalidade por trás de seu cuidado e seu interesse em nós. Estamos propensos a detectar os limites da disponibilidade até mesmo das pessoas mais dispostas, e também a sentir as restrições sobre aquilo que exigimos delas. Não raro é tarde demais – ou cedo demais – para telefonar. Uma edição radical de nosso verdadeiro ser é o preço a se pagar pelo convívio.

O amor promete corrigir todos os aspectos insuspeitos da vida solteira que corroem nossa alma. Na companhia do ser amado a preocupação, o cuidado, a atenção e a liberdade de ação alcançam uma profundidade quase ilimitada. Seremos aceitos mais ou menos como somos; não sofreremos pressão para reiterar nosso status o tempo todo. Poderemos revelar nossas vulnerabilidades e compulsões mais extremas e absurdas e ainda assim sobreviver. Não haverá problema em ter manias, chorar ou cantar mal. Seremos tolerados mesmo se às vezes deixarmos de ser charmosos, ou até mesmo se nos tornarmos repugnantes durante um tempo. Poderemos acordar o outro em horários estranhos para compartilhar tristezas e empolgação. Nossas menores minúcias serão relevantes.

Na presença do ser amado, as avaliações não serão mais tão cínicas e precipitadas. Haverá tempo em abundância. Quando estivermos buscando os meios para nos expressarmos, o outro ficará empolgado e ansioso. Dirá “diga, continue” enquanto claudicarmos e hesitarmos. Aceitará dedicar a grande atenção necessária para, aos poucos, desfiar a narrativa de como nos tornamos as pessoas que somos. Não dirá simplesmente “ah, pobrezinho” para então nos dar as costas. Ao invés de reagir às nossas confissões concluindo que somos um pouco esquisitos, dirá com bondade “eu também”. Com ele, nossas fragilidades estarão em boas mãos. Sentiremos uma imensa gratidão por quem fizer o que chegamos a suspeitar ser impossível: nos conhecer muito bem e, ainda assim, gostar de nós. Cercados por todos os lados pela frieza de maior ou menor intensidade, saberemos enfim que, nos braços de um outro bondoso, paciente e extraordinário digno, de gratidão infinita, nós somos importantes de verdade.

2. ADMIRAÇÃO

No diálogo O Banquete, de Platão, o dramaturgo Aristófanes sugere que a origem do amor reside em um desejo de nos completarmos encontrando uma “outra metade” há muito perdida. No início dos tempos, arrisca ele em uma lúdica conjectura, todos os seres humanos eram hermafroditas com dois troncos, duas costas, quatro mãos, quatro pernas e dois rostos virados em direções opostas na mesma cabeça. Essas hermafroditas eram tão poderosas e presunçosas que Zeus se viu forçado a cortá-las em duas, uma metade macho e outra fêmea. A partir desse dia, cada um de nós anseia nostalgicamente por reunir a parte da qual fomos apartados. Não precisamos encarar a história de modo literal para reconhecer nela uma verdade simbólica: nos apaixonamos por pessoas que, de alguma forma, prometem nos fazer inteiros. No âmago do êxtase que sentimos nos primeiros dias de um novo amor está a gratidão por encontrar alguém que parece complementar tão perfeitamente nossas características e propensões. Não nos apaixonamos todos pelas mesmas pessoas porque não carecemos das mesmas coisas.

Os aspectos que nos parecem desejáveis em um parceiro dizem respeito àquilo que admiramos, mas não temos certeza de possuir. Podemos sentir uma potente atração por alguém competente por sabermos como nossas próprias vidas são marcadas pela falta de confiança ou pela tendência a entrar em pânico diante de complicações burocráticas. Ou o nosso amor pode focar no lado cômico de um parceiro por termos plena ciência de nossa própria tendência ao desespero estéril e ao cinismo. Nossas inadequações pessoais explicam a direção de nossos gostos. Esperamos mudar um pouco na presença do outro, tornando-nos – com sua ajuda – versões melhores de nós mesmos.

Não devemos esperar alcançar isso por conta própria. Podemos, em alguns âmbitos, ser pupilos e professores ao mesmo tempo. Costumamos encarar a educação como algo penoso, imposto a nós contra nossa vontade. O amor promete uma outra forma de educação. Através de nossos amantes, nosso desenvolvimento pode ocorrer de um modo muito mais estimulante e receptivo, marcado por profundo desejo e empolgação. O amor nos dá energia para construirmos e mantermos a melhor narrativa a respeito de alguém. Retornamos a uma forma ancestral de gratidão. Nos comovemos com detalhes aparentemente ínfimos: ele ou ela nos telefonou, está vestindo aquele blusão específico, recosta a cabeça na mão de determinado modo, tem uma pequena cicatriz no topo do indicador esquerdo ou um hábito específico de pronunciar certa palavra um pouquinho errado… Não é atípico se importar assim com um parceiro, reparar em muitas coisas minúsculas e ao mesmo tempo comoventes, pungentes e positivas. É algo que pais, artistas e deuses são capazes de fazer. Não podemos seguir nessa mesma toada para sempre: esse arrebatamento nem sempre é de todo saudável, mas entregar-se por um tempo à devida apreciação da real complexidade, beleza e virtude de outro ser humano é um de nossos passatempos mais nobres e redentores, uma arte em si.

3. DESEJO

Um dos aspectos mais surpreendentes e, em certo sentido, desconcertantes do amor é que nosso desejo não se limita a admirar nossos parceiros; também nos inclinamos fortemente a desejar sua posse física. O despertar do amor costuma ser sinalizado por um ato que, em realidade, é imensamente esquisito: dois órgãos em geral utilizados para comer e falar são pressionados e friccionados um contra o outro com força crescente, ato acompanhado por secreção de saliva. Só seremos capazes de começar a entender o papel da sexualidade no amor se pudermos aceitar que ele não é, de um ponto de vista puramente físico, uma experiência necessariamente prazerosa em si, e que nem sempre configura uma sensação tátil mais prazerosa que, por exemplo, uma massagem na nuca ou um prato de mariscos.

E ainda assim, o sexo com a pessoa amada pode ser a melhor coisa em nossas vidas. O motivo para isso é que o sexo propicia um grande entusiasmo psicológico. O prazer que sentimos se origina de uma ideia: fomos autorizados a fazer algo muito privado com e para outra pessoa. O corpo de outra pessoa é uma zona muito privada e protegida. Ao tirarmos a roupa, estamos dizendo implicitamente a outra pessoa que ela foi enquadrada em uma categoria minúscula e muito policiada de pessoas: estamos concedendo a ela um privilégio extraordinário. A excitação sexual é psicológica. Não é tanto o que os nossos corpos estão fazendo que nos excita. É o que acontece em nossos cérebros: a aceitação está no âmago dos tipos de experiência que chamamos coletivamente de “ficar excitado”. Ela tem um lado físico – o sangue circula mais rápido, o metabolismo muda de chave, a pele aquece –, mas por trás de tudo isso está um tipo muito diferente de mudança: a sensação de um fim ao nosso isolamento.

No geral, a civilização exige que apresentemos aos outros versões rigorosamente editadas de nós mesmos. Pede que sejamos mais puros, limpos e educados do que seríamos em outras situações. Essa exigência cobra um preço interior muito alto. Aspectos importantes de nossa personalidade são empurrados para as sombras. As pessoas que nos amam sexualmente fazem algo muito redentor: param de diferenciar as diferentes facetas de quem somos. Conseguem ver que somos a mesma pessoa o tempo todo; que nossa gentileza ou dignidade em algumas situações não é falsa, tendo em vista como somos na cama, e vice versa. Através do amor sensual, temos uma chance de resolver um dos problemas mais profundos e solitários da natureza humana: como sermos aceitos como somos de verdade.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

SARTRE PRISIONEIRO DE GUERRA: ESCREVEU ESTE TEXTO

 


Recebi de um amigo  este texto, conhecido, mas pouco divulgado de J.P.Sartre. Prisioneiro na segunda guerra mundial, a pedido de alguns padres, também prisioneiros, foi solicitado a escrever uma meditação, a mais ampla possível para que todos pudessem entendê-la. Ateu professo e generoso, acedeu ao convite. Entrou no espírito do Natal e lhes entregou este comovente texto que nos ilumina até os dias de hoje. Posto em dúvida, ele o reconheceu como seu em 1962, explicando o contexto em que foi elaborado. Agradecemos este texto em português.

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Estamos em 1940, na Alemanha, num campo de prisioneiros franceses. Alguns padres pedem a Jean-Paul Sartre, recluso há alguns meses com eles, que redija uma pequena meditação para a véspera de Natal. Sartre, ateu, aceita o pedido. Oferece aos seus camaradas “Barjoná ou filhos do trovão”, procurando unir crentes e não crentes.
“Como hoje é Natal, tendes o direito de exigir que vos seja mostrado o presépio. Ei-lo. Eis a Virgem, eis José e eis o Menino Jesus. O artista colocou todo o seu amor neste desenho, mas vós talvez o considereis ingénuo. Vede, as personagens têm belos ornamentos, mas estão rígidas, dir-se-ia que são marionetes. Não eram certamente assim. Se fordes como eu, que tenho os olhos fechados… Mas escutai: só tendes de fechar os olhos para me ouvir e eu vos direi como os vejo dentro de mim. A Virgem está pálida e observa o menino. O que falta pintar no seu rosto é um maravilhamento ansioso, que só aparece uma única vez numa figura humana. Pois Cristo é o seu filho, a carne da sua carne e o fruto das suas entranhas. Ela carregou-o nove meses e dar-lhe-á o seio e o seu leite tornar-se-á o sangue de Deus. E em certos momentos a tentação é tão forte que esquece que é Deus. Ela aperta-o nos seus braços e diz: “Meu pequeno!”. Mas noutros momentos permanece perturbada e pensa: “Deus está ali”, e sente-se tomada por um horror religioso por este Deus mudo, por este menino terrificante. Pois todas as mães se detêm por instantes diante desse fragmento rebelde da sua carne que é o seu filho e sentem-se exiladas diante dessa nova vida que foi feita com a sua vida e que povoam de pensamentos estranhos. Mas nenhum filho foi mais cruelmente e mais rapidamente arrancado da sua mãe, porque Ele é Deus e está além de tudo o que ela pode imaginar. E é uma dura provação para uma mãe ter vergonha de si e da sua condição humana diante do seu filho. Mas penso que deve ter havido outros momentos, rápidos e escorregadiços, nos quais sente ao mesmo tempo que o Cristo é seu filho, o seu pequeno, e que é Deus. Ela observa-o e pensa: “Este Deus é meu filho! Esta carne divina é a minha carne. É feito de mim, tem os meus olhos e esta forma da sua boca é a forma da minha. Parece-se comigo. É Deus e parece-se comigo”. E nenhuma mulher teve da sorte o seu Deus só para si. Um Deus pequenino que se pode tomar nos braços e cobrir de beijos, um Deus quente que sorri e respira, um Deus que se pode tocar e que vive. E é nesses momentos que eu pintaria Maria, se eu fosse pintor, e tentaria representar a expressão de terna audácia e de timidez com a qual ela avança o dedo para tocar a doce pelezinha deste menino-Deus, de quem sente sobre os joelhos o peso morno e que lhe sorri. E eis tudo para Jesus e para a Virgem Maria. E José? José, não o pintaria. Mostraria apenas uma sombra ao fundo da granja e dois olhos brilhantes. Pois não sei o que dizer de José e José não sabe o que dizer de si mesmo. Adora e está feliz por adorar e sente-se um pouco em exílio. Creio que sofre sem o admitir. Sofre porque vê o quanto a mulher que ama se parece com Deus, o quanto ela já está perto de Deus. Pois Deus rebentou como uma bomba na intimidade desta família. José e Maria estão separados para sempre por esse incêndio de claridade. E toda a vida de José, imagino, será para aprender a aceitar.

Jean-Paul Sartre – Trad.: Rui Jorge Martins

BRASILEIRO NÃO CONSEGUE PRESSIONAR VACINAÇÃO;

Até a Hungria de Viktor Orbán começou a vacinação contra a Covid-19. Bolsonaro passa a ser o exemplo do negacionista retardatário, que não só se nega a admitir a necessidade da vacina como cumpre o papel de sabotador.
Se fossem escolher uma figura que represente o déspota em meio à pandemia, não seria Orbán, a figura seria sempre Bolsonaro. Nenhum outro governante trabalha tanto contra o seu próprio povo quanto Bolsonaro.

Sua desenvoltura como genocida não é contida porque há aceitação da imposição da sua política da morte. O país foi subjugado por Bolsonaro. Desde o começo das pesquisas com as vacinas ele avisou que se negaria a aceitar a imunização.

E foi dizendo, mês a mês, que não queria vacinas, muito menos a chinesa.
Foi manobrando e enrolando os cientistas, o Ministério Público, a Justiça, os políticos e o povo.

O povo aceitou que Bolsonaro o enrolasse sobre a vacinação. Chegamos agora ao estágio da enrolação total, completa, e a população está quieta, submissa e imobilizada.

Nem Congresso, nem Supremo, nenhuma instituição irá forçar Bolsonaro a se mexer em favor da vacina se não se sentir com respaldo político. E esse respaldo popular não existe.

É real a sensação de que as pessoas brigam mais pelo direito de se aglomerar do que de se imunizar.

Os que desejam a vacina são a grande maioria. Mas a minoria que não a refuga expressa suas vontades de forma mais consequente. Nas ruas, nas festas, nas reuniões de família, nos ajuntamentos, na afronta do comércio às leis de restrições. O negacionista é mais ativo e mais efetivo também nas redes sociais.

O militante antivacina mobilizado por Bolsonaro tem mais potência do que os preocupados em se proteger e proteger os outros. A população interessada na imunização aguarda que em algum momento a situação se reverta em favor da vacina.

O povo espera. Espera que Bolsonaro mude de opinião, que Pazuello ofereça um plano verdadeiro de compra e distribuição da vacina, que a Anvisa demonstre o desejo de agilizar a aprovação de imunizantes já aprovados em outros países.

A expectativa de que o Brasil poderá ser um dos últimos países a fazer a vacinação é criada também pelos que aceitam essa condenação. O brasileiro médio, subjugado por Bolsonaro, condenou-se a ficar para trás.

Bolsonaro está sabotando o isolamento com a desculpa de que o país deve voltar ao normal. Mas insiste na ‘normalidade’ não pela vacinação, mas pelo prolongamento e pela intensificação da matança coletiva.

A vacina não lhe interessa, porque nunca esteve nos seus planos. A vacina é coisa de João Doria, da oposição, dos cientistas, dos médicos e enfermeiros. Aceitar a vacina é ser derrotado pelos outros.

Já há vacinação em quase 20 países. Alemanha, Costa Rica, Chile Catar, Israel, Canadá, China, Suíça, Emirados Árabes, Sérvia, Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Bahrein, Kwait.

Neste domingo, toda a Europa começa oficialmente a vacinação. Amanhã, a Argentina aplica as primeiras doses da vacina russa.

Em menos de um mês é provável que a maioria dos países já esteja vacinando, e as previsões mais otimistas indicam que o Brasil somente iniciará a vacinação em fevereiro.

Bolsonaro disse no sábado, sobre o fato de estar atrasado: ““Ninguém me pressiona pra nada, eu não dou bola pra isso”.

O sujeito está certo de que nem pressionado é. Ministério Público e Supremo tentaram reagir, os partidos procuraram mantê-lo acuado, os cientistas o alertaram, mas não há entre a população a radicalidade do sentimento de urgência.

Bolsonaro tem o controle absoluto do extermínio. Só teremos vacina quando ele quiser. A resignação é hoje o retrato do Brasil. Nos piores momentos, os espelhos são implacáveis.

domingo, 27 de dezembro de 2020

INVESTIR NA CULTURA


A vida é dom especial que não pode ser compreendida como um simples contar dos dias. Um frágil dom de valor inestimável. Bem diz o apóstolo Paulo: a vida é um tesouro carregado em vaso de barro. Por muito pouco, esse dom pode ser atingido em sua sacralidade, gerando prejuízos irreversíveis comumente causados pelas perigosas relativizações. Relativizar valores e princípios, de forma inadequada, significa desconsiderar muitos aspectos do cotidiano que requerem atenção especial. A vida merece ser reconhecida como um tesouro. Assim, é preciso cuidar da cultura que sustenta a vida – todo um conjunto de valores, práticas, hábitos e costumes que definem o jeito de ser da pessoa e de uma sociedade.

Muitos consideram que o sistema político é o campo determinante para que uma nação conquiste avanços. Também se fala da decisiva influência das relações econômicas e de tantos outros campos na vida de um povo. Entretanto, de modo particular, vale prestar atenção, analisar e compreender as características culturais que definem o contexto social. A cultura tem força para influenciar todas as áreas da sociedade. O tecido cultural, com sua incidência nas muitas ações que integram o cotidiano, é decisivo para alcançar avanços, ou mesmo sofrer com atrasos. Por isso, nos processos educativos, vale estudar, analisar e compreender as singularidades da cultura. Isso permite conhecer com mais profundidade a realidade, gerenciar melhor as dinâmicas da vida.

Nesse sentido, para se alcançar o desenvolvimento integral não bastam os êxitos políticos ou as conquistas da área econômica. É preciso investir na qualificação do tecido cultural, torná-lo base consistente para avanços sociais. Analisar criticamente esse tecido permite selecionar e promover tudo o que faz um povo progredir. Possibilita também eliminar ou substituir características e jeitos de ser que alimentam atrasos. Traços culturais determinam jeitos de enxergar, sentir e elaborar a autoconsciência, indispensáveis para a participação cidadã. Por isso mesmo, é sempre preocupante quando os indivíduos aprendem que as coisas, os jeitos e os lugares dos outros, sobretudo dos que são de fora, são melhores.

A consequência é o comprometimento da autoestima, as perdas do sentido de pertencimento e do reconhecimento do próprio valor como povo e cultura. Convive-se com a falta de determinação, de objetividade, de lucidez e de produtividade. Nasce, assim, uma generalizada incapacidade para promover avanços, mesmo tendo à disposição as riquezas singulares do lugar onde se habita. As condições favoráveis, até privilegiadas, do próprio território são desconsideradas por descompassos na dinâmica cultural e se desdobram na incompetência humana para agir com transparência e coragem, principalmente no tratamento de assuntos que exigem objetividade para gerar avanços.

Diante da necessidade de se buscar o desenvolvimento integral, há uma demanda óbvia em toda sociedade: investir cuidadosamente no tecido da cultura para se alcançar transformações sociais mais profundas. Isso exige que todos os cidadãos sejam reverentes à própria história e aos seus antepassados. Assumam com coragem a tarefa de criar melhores condições de vida nos dias atuais, considerando, também, o bem-estar das gerações futuras. Particularmente, investir no tecido da cultura é agir com prudência para não se equivocar diante das relativizações que vão cobrar um alto preço. Aqui, vale recordar-se do campo da arte, em discussão neste momento. Quando a arte abandona o bom gosto, faz valer os absurdos das apelações e comparações inadmissíveis. Tudo em nome de liberdades que permitem a qualquer pessoa desconsiderar que a cultura é um processo de assimilação e vivência, substrato sustentador de um jeito de ser, da vida, que é dom. Essa é uma tendência perigosa, principalmente quando se reconhece que é preciso cuidar da cultura.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

BRINCANDO DE TROCADILHOS

Em qualquer idioma, trocadilho é uma forma divertida de brincar com as palavras. São comuns os trocadilhos em jornais esportivos ingleses, espanhóis, franceses e argentinos. Entre os hermanos, o mais famoso é o tabloide Olé, que usa e abusa de trocadilhos, especialmente quando o jogo de futebol levanta a bola para um bom jogo de palavras.

Há os trocadilhos idiotas, metidos a besta, mas há também os inteligentes, bem-humorados e até eruditos. E há os toleráveis, porque engraçados, como o da Xuxa “que entrou no bar pra beber c’a Sacha”.

No meu tempo de estudante de segundo grau, costumávamos, eu e mais dois ou três colegas, praticar a arte do trocadilho, reunidos em frente ao bar do cinema. Um deles, chamado Marquinho do Dion, era o mais hábil e espirituoso. Para ilustrar, conto aqui um do Marquinho que nunca esqueço, pela presença de espírito e a rapidez com que foi perpetrado. Foi no dia em que um amigo nosso chegou, tristonho e meditabundo, lamentando a ausência da namorada, que tinha ido passar férias na casa dos pais, em Governador Valadares. Choroso, disse que já estava morrendo de saudade dela. Marquinhos pôs-lhe a mão no ombro e disse de bate-pronto: “Ora, meu caro: por que não governa a dor e vá lá dares um passeio?”

Há trocadilhos famosos, como o que se conta do poeta Emílio Moura quando estava ele no meio de uma pequena multidão que se formara em frente a um edifício do centro de Belo Horizonte. Um conhecido empresário, de sobrenome De la Peña, havia caído do décimo andar, onde morava uma também famosa e distinta senhora de vida fácil, que ali dava seus plantões sexuais. Alguém chegou e perguntou ao poeta o que havia acontecido e ele, instantaneamente, respondeu: “Um homem que se diz Peña por uma mulher que se disputa”. Não sei se a história é verdadeira, mas o trocadilho é muito bom.

O trocadilho mais infame da História foi o de um grande locutor chamado Heron Domingues, que apresentava o noticiário Repórter Esso, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Era um programa de audiência quase total no país. Ninguém deixava de ouvir esse noticiário da mais importante de todas as emissoras de rádio. Começava sempre com a voz inimitável do locutor anunciando que estava no ar o Repórter Esso, “com as principais notícias da United Press International”. Terminava com a frase publicitária do patrocinador:

“E lembre-se: só Esso dá ao seu carro o máximo”.

A principal notícia daquele dia 29 de junho de 1958 era a conquista da Copa do Mundo pelo Brasil na final contra a Suécia, quando Pelé foi o principal personagem, ao lado de Garrincha, Didi, Nilton Santos, Zagalo e outros craques que encantaram o mundo com uma goleada de 5 a 2 sobre as donas da casa.

Naquela edição, Heron Domingues mudou a última frase do noticiário e lascou:

“E lembre-se: Suécia dá ao Brasil o máximo”.

Trocar só Esso por Suécia pareceu um achado, mas na verdade foi um grandessíssimo trocadalho do carrilho. É lembrado como um dos piores trocadilhos de todos os tempos.

ADVENTO: PARA LEMBRAR QUE A LIBERDADE DEVE SER CONQUISTADA.

No advento lembramos:

O Faraó que habita dentro de nós, em nossos temores de sermos livres, em nossa vontade de que os outros se submetam a nossos desejos, em nossa dificuldade de conviver com o diferente.

Que o nosso Faraó interno não enxerga nem escuta, que é ignorante porque pensa que sabe tudo, e substitui o poder do sentimento pelo sentimento do poder.

E que os opressores externos podem ser derrotados, mas o opressor interno deve ser enfrentado durante toda nossa vida.

Como conta a Bíblia: foi curto o confronto com o Faraó, mas foram necessários quarenta anos de travessia no deserto para aprender a viver em liberdade.

Por isso não saímos do Egito se somos escravos do dinheiro e do poder.

Nem quando  dominamos por ressentimentos e ódios.

Ou quando oprimimos outros indivíduos e povos.

E demonizamos os que discordam de nossas posições.

Gritando em vez de conversar, falando sem escutar e procurando a perfeição e não o melhor possível.

Porque não saímos de Egito quando humilhamos e ofendemos.

E permitimos que que nossa a vontade de omnipotência nos retire a capacidade de ouvir, compreender e aceitar nossas limitações e as dos outros.

E a capacidade de rir de nossas limitações e dificuldades.

Não tratando nossos seres queridos como possessões, no lugar de apoia-los para que construam suas próprias identidades e caminhos, cada um com sua forma de ser.

Porque deixar de ser escravo não significa liberdade e autonomia.

Que depende de nossa capacidade de enfrentar adversidades e imprevistos.

E de não agir guiados pelo primeiro impulso de nossas emoções, sem refletir antes de falar ou fazer.

Porque o tamanho de nossa humanidade é dado pela capacidade de compreender as adversidades vividas pelos outros.

Não permitindo que a arrogância ocupe o lugar de nossas inseguranças.

Nem a vontade de controlar nosso entorno se transforme numa camisa de força que não nos permite respirar e tira o oxigênio dos outros.

Não deixando que nossos sofrimentos passados controlem nosso presente, pois quem vive em tempos mortos está morto em tempos vivos.

Por isso festejamos cada ano o Advento, para lembrar que a liberdade não é dada, nem nunca totalmente conquistada. Ela dever ser construída a cada momento, por cada povo, por cada geração, e por cada indivíduo. E assim agradecemos: Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

NÃO DEIXE A SOBERBA TE CEGAR...




A velocidade acelerada das mudanças no mundo contemporâneo é reconhecida de modo consensual e, por vezes, há um sentimento de certa incapacidade para acompanhar as transformações, que se configuram em desafio, até mesmo para as sinapses cerebrais, com suas conexões em número maior do que o de estrelas em uma galáxia. Essa impressionante velocidade das mudanças vem da inteligência humana. Um fenômeno que, ao ser contemplado, permite constatar admiráveis avanços da tecnologia e da ciência, nos muitos saberes, com quantidade de conquistas, nas últimas décadas, que séculos inteiros foram incapazes de alcançar. Mas, surpreende e se configura em intrincado nó à inteligência contemporânea o nível destruidor do obscurantismo reinante na atualidade pelo mundo afora. Oportuno é evocar um remédio com força terapêutica para vencer esse mal: a humildade advinda da atitude de reconhecer o limite do próprio saber.

A admissão da ignorância torna-se um princípio ético e epistemológico de grande valia para combater os riscos da pretensão humana de se saber tudo. Particularmente, cura obscurantismos comprometedores de valores inegociáveis, a exemplo dos que sustentam a democracia e os princípios ético-religiosos promotores da solidariedade, do respeito ao bem comum e à dignidade humana. Deve-se, pois, reconhecer: junto à avalanche de conquistas científicas, tecnológicas, há certa soberba, que alimenta cegueiras e torna-se poder para gerar destruição, posturas fundamentalistas, nada dialogais, e rigidez incompatível com as mudanças necessárias à humanidade. Admitir a ignorância como condição humana é remédio para essa soberba, pois guarda no seu reverso uma indispensável sabedoria: o reconhecimento de que o próprio saber é limitado e insuficiente. Esse exercício de humildade permitirá aos cidadãos perceberem-se como aprendizes e tornarem-se inventores, descobridores ou promotores de inovações na construção de uma sociedade melhor.

A condição de aprendiz não deixa a soberba cegar e enrijecer as pessoas, inviabilizando processos participativos indispensáveis. Sem essa condição, surgem os que se iludem pensando tudo poder, mas são incapazes de promover as transformações que mudariam a realidade para melhor. Revelam a própria fragilidade em discursos confusos, personalistas, pouco humanistas, misturando a defesa de valores importantes com o extremismo – cai, pois, em contradição. Dessa falta de humildade daqueles que se julgam sabedores de tudo – e tudo poder – nascem pandemias que prejudicam a qualidade dos tecidos cultural, religioso e político-econômico de uma sociedade. As pandemias, ao invés de um castigo divino – pois Deus é amor -, são fruto da soberba, das ganâncias inescrupulosas, dos privilégios excludentes. Resultam também das indiferenças em relação aos pobres e vulneráveis, da cegueira diante da Criação, passando por cima do meio ambiente com criminosas depredações.

Fala-se muito na convid-19, pois é a pandemia que igualmente torna-se ameaça para todos, mas tantas outras são ignoradas. A pandemia da fome não incomoda diariamente os que têm mesa farta. A que se relaciona ao feminicídio permanece sem a devida atenção. Igualmente, a pandemia dos extermínios de indígenas e moradores de rua é tratada com descaso por significativa parcela da sociedade que, perversamente, considera melhor liberar os espaços ocupados por essas pessoas para atender outros interesses. O mundo parou por causa de um novo vírus, mas a necessidade de mudanças não é de agora. Tornou-se mais evidente o dever-desafio de se arquitetar mudanças no jeito de conviver, trabalhar, locomover-se, cuidar e compartilhar, incidindo sobre hábitos, dinâmicas e práticas, para vencer o autoextermínio. Trata-se de exigência à inteligência humana, à moralidade, à racionalidade e ao bom senso.

domingo, 20 de dezembro de 2020

INOVAÇÕES NO CAMPO TECNOLÓGICO.


Há consenso que a pandemia da Covid-19 aponta para a necessidade de mudanças. Os esgotamentos de modelos econômicos, político-culturais e até religiosos ameaçam a Casa Comum, sacrificam, de modo criminoso, o meio ambiente. Com a pandemia, percebe-se, com mais clareza, a velocidade impressionante com que esses sacrifícios impactam, frontalmente, todas as pessoas, em cada lugar do planeta. Novas respostas aos muitos desafios contemporâneos são urgentes e, hoje, o que se tem, é a expectativa definida por uma expressão recentemente formulada: a chegada de um “novo normal”. E a recorrência dessa expressão, em muitos discursos, consolida, cada vez mais, um importante entendimento: não haverá retorno ao que se chamava de “normalidade”.

Para se viver o “novo normal”, muitas lições devem ser aprendidas – não apenas cultivar convicções morais em uma perspectiva conceitual, mas traduzi-las com a adoção de um novo estilo de vida. Sem essa mudança, o mundo continuará a pagar alto preço, agravadas pela fragilidade que toma conta das instâncias governamentais. Nessas instâncias, faltam gestores comprometidos com um sólido humanismo e capazes de aproveitar, mesmo que minimamente, os avanços científicos e tecnológicos da contemporaneidade para promover novos passos civilizatórios. Diversos setores – a exemplo dos contextos acadêmicos, científicos e religiosos – estão desafiados a alcançar nova epistemologia capaz de qualificar a cidadania, possibilitando adequado discernimento ético-moral sobre práticas e sistemas políticos.

Na ausência de adequadas mudanças, permanecem os colapsos agravados nos últimos meses com a pandemia, não somente nos sistemas de saúde, por falta de solidez, mas também na dimensão normativa que rege a sociedade. Há orientações conflituosas, pouco eficazes, vindas de diferentes esferas do poder público. Uma situação que constitui verdadeiro “bate cabeça” entre autoridades: falta diálogo entre instâncias de decisão, o que, consequentemente, inviabiliza a abertura de novos ciclos capazes de superar a atual situação de caos. O momento torna-se ainda mais grave porque valores inegociáveis da democracia, indispensáveis para promover o bem comum, sofrem atentados. Uma realidade triste, que pede o fortalecimento do coro dos lúcidos, capaz de impedir escolhas obscurantistas, antes que seja tarde.

Infelizmente, há uma lentidão nos necessários processos de mudanças civilizatórias especialmente urgentes no atual momento. Contribui para essa inércia a insistência perversa que vem de segmentos sociais que não enxergam nada para além da lógica do dinheiro. Esses grupos estão na contramão de um novo humanismo, esperança para superar os desafios estabelecidos pela pandemia e por outros males. A desafiadora tarefa educativa para se cultivar novos hábitos precisa, pois, contar com o serviço e a participação de instituições sérias e credíveis, a serem sempre fortalecidas.

Mudar mentalidades e promover a adoção de hábitos a partir de uma grande mudança cultural não é tarefa fácil. Exige cultivar convicções renovadas que levem à lucidez. A força educativa precisa gerar inspiração para transformar desde situações simples a realidades mais complexas, com incidência na infraestrutura da sociedade. É preciso conquistar o que é essencial para se viver adequadamente e descartar aquilo que ameaça a vida.

As inovações em campos tecnológicos de alta complexidade precisam inspirar um fenômeno similar em situações cotidianas até aqui tratadas com displicência, sem clareza sobre seus impactos no dia a dia. Trata-se de um desafio para a civilização contemporânea, exigindo adequada resposta de cada contexto social. Todos unidos em um mutirão para alcançar, ao mesmo tempo, urgentes correções políticas e uma Lei pedagógica, capaz de promover novos hábitos.

sábado, 19 de dezembro de 2020

PARA QUE SERVEM AS ÁRVORES


Mas, afinal, você sabe quais são os benefícios das árvores? Conheça doze deles abaixo!

1 Elas fornecem a melhor sombra que existe (quem nunca procurou estacionar ou descansar embaixo de uma boa sombra de árvore?)

2 São refúgio e casa para a vida animal silvestre, como pássaros que usam as árvores para ninhos, pousos, dormidas, etc.

3 São refúgio e casa para outras plantas, como trepadeiras, samambaias, bromélias e orquídeas

4 Fornecem comida saudável e deliciosa grátis: jabuticaba, amora, pitanga, acerola, gabiroba, coco, manga, mexerica/tangerina.. direto do pé é beeem mais gostoso, né?

5 Ajudam no escoamento da água pro solo, evitando inundações e enxurradas

6 Filtro natural do ar: Capturam CO2 da atmosfera, devolvendo oxigênio!

7 Reduzem a poluição sonora

8 Juntos com outras árvores são capazes de reduzir a temperatura das cidades onde se encontram

9 Trazem beleza aos ambientes, aumentando o bem-estar humano

10 Passar mais tempo perto das árvores comprovadamente diminui a pressão arterial e o estresse, melhorando a saúde física e mental

11 Árvores plantadas adequadamente ao redor de edifícios pode reduzir em 30% a necessidade do uso do ar condicionado

12 Combatem o aquecimento global ao capturar gases de efeito estufa

“Plantar árvores não resolve todos os problemas, mas ao plantar 1 trilhão de árvores, podemos ganhar o tempo necessário para superá-los!”

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

FAZ ISSO PRESIDENTE.

“Menina, levanta-te” é uma expressão forte, vinda do coração que é fonte do amor maior, capaz de resgatar os que se perderam, curar feridas da alma e colocar de pé quem é derrubado pelas circunstâncias da vida. “Menina, levanta-te” é a palavra restauradora pronunciada na casa de Jairo, o pai aflito e zeloso por sua filha. Um zelo exemplar que o impulsiona a buscar o alicerce que recompõe a vida ferida, na história de cada pessoa, pelos descompassos da humanidade.

O pai amoroso foi ao encontro de Jesus, à beira-mar, rodeado por uma grande multidão. Vendo o Mestre, caiu-lhe aos pés. Apresentou-lhe, confiante, sua súplica: “Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe as mãos sobre ela para que fique curada e viva!”.

A vida de cada filho e filha é a razão maior do amor de Deus. Por isso, Deus oferece o seu filho único amado para a salvação da humanidade. A oferta de Jesus é sacrifício redentor e restaurador do ser humano, constituindo fonte que lava as chagas de cada pessoa, curando-as. Purifica a humanidade do pecado, devolvendo-lhe a inteireza perdida. É prova incontestável que existe um caminho libertador.

Jesus foi acompanhando Jairo – nome que significa “ele brilha”. Nos olhos desse pai, que zela por sua filha, brilha a luz do cuidado. Essa luminosidade o engaja no esforço para conquistar o bem perdido, proteger a vida ameaçada em sua inteireza. Jairo, um coração que, exemplarmente, resplandece o sentido de que o outro é o mais importante e a certeza de que há uma fonte capaz de curar o ser humano.

Jesus o acompanhou, ladeado por uma multidão carente do banho dessa luz resplandecente de Jairo. Carente também de confiança na fonte que lava e cura feridas, ergue os decaídos e devolve a integridade necessária para a vida desabrochar-se. A caminho da casa de Jairo – o chefe da Sinagoga – emissários chegam com a impactante notícia: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodas o Mestre?” Deus ouve tudo: tem os ouvidos do amor, sensíveis aos clamores dos pobres e sofredores. Ele se comove e se move até cada pessoa. Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da Sinagoga: “Não tenhas medo, somente crê”.

Entre lamúrias e choro, Jesus entra na casa. Pergunta sobre as razões de tanta agitação e assegura que a menina não havia morrido, apenas dormia. Muitos zombaram Dele.

Acontece de se zombar da vida quando se desconsidera a sua sacralidade, perdendo o horizonte que permite reconhecer a grandeza do sentido de viver. Jesus toma consigo, além de alguns discípulos, o pai e a mãe da menina. Entra no lugar onde a criança se encontrava e segura a sua mão. O Mestre diz: “Menina, levanta-te”. A menina o obedece. Levanta-se e começa a andar. O acontecido provoca êxtase e admiração. Brilha de novo a vida e dissipa-se a escuridão. Regenera-se o broto da esperança. O que parecia perdido é retomado e a vida pôde novamente florescer.

Ecoe, menina, no seu coração a força amorosa desta palavra: “Levanta-te!”. Caída sob o peso das adversidades, vai levantar-te exemplarmente para todos os seres humanos. Levantar-te para percorrer seu caminho, desabrochando seus sonhos e edificando a beleza de uma vida que se refaz. Seu viver perpetue um grito-convocação direcionado à sociedade, interpelando-a a cumprir sua missão: resgatar as vítimas, curar os feridos e garantir as necessárias condições para que seja edificada a vida em sua plenitude. Faz isso
Presidente, faz isso!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

UM URGENTE DESAFIO.




A sociedade sofre graves consequências quando o parâmetro da mediocridade preside o desempenho de tarefas, missões, exercícios profissionais e deveres cidadãos. Os prejuízos são incalculáveis nos âmbitos da economia e da cidadania, com impactos negativos que atrasam terrivelmente o desenvolvimento integral e retardam os avanços necessários para que a sociedade possa trilhar novos caminhos. Cumprir bem o próprio papel é uma tarefa desafiadora que exige pré-requisitos adquiridos na esfera pessoal: talentos, qualidades e capacidade técnica, além dos princípios éticos e morais que alimentam o altruísmo e proporcionam a lucidez para solucionar problemas, vencer desafios. Esses requisitos possibilitam o uso racional do tempo e de outros recursos, permitem reconhecer a prioridade do bem comum e do crescimento igualitário de todos os cidadãos.

A corrosiva mediocridade que emoldura o exercício de papéis, inclusive o cumprimento de tarefas e responsabilidades profissionais, é entrave para o avanço social. Com frequência, percorre-se longo caminho em busca de soluções e de respostas, investe-se dinheiro, tempo e outros recursos de maneira pouco exitosa. Insucesso que advém, exatamente, da falta de clareza e de competência analítica no cumprimento do papel de gestor público, privado ou comunitário. Constata-se que certas pessoas têm facilidade apenas para construir discursos, muitas vezes para simplesmente embolar relações, produzir sombras que inviabilizam diálogos. Desconsideram, assim, que as relações têm, em si, a prerrogativa de clarear rumos e definir acertadamente as direções.

A competência analítica não é característica necessária apenas aos consultores, analistas e acadêmicos. Deve ser partilhada por todos e se consolidar como valor cultural. Um valor que permeia o conjunto dos hábitos e das atitudes, possibilitando a constituição de cidadãos habilitados para analisar situações, propostas e projetos; pessoas qualificadas para discernir bem e serem capazes de decidir adequadamente. Oportuno é lembrar que as escolhas, individuais e institucionais, são determinantes na definição dos rumos de uma sociedade. E, lamentavelmente, é comum ver problemas que se arrastam, geram atrasos e desgastes pessoais, em razão da falta de competência analítica nos processos de leitura e interpretação da realidade. Quando não se dá conta nem da própria tarefa, cumprindo-a de maneira medíocre, as perdas não ocorrem somente no âmbito individual, pois toda a sociedade partilha os prejuízos. Por isso, é importante cumprir o próprio papel a partir de motivações que ultrapassem a simples remuneração financeira. Afinal, os corações estão eivados por medidas e vetores sustentados por uma desenfreada busca pela acumulação de riquezas e, por isso, as pessoas nunca estão satisfeitas com o dinheiro que recebem. Para corrigir esse descompasso, vale se colocar no lugar dos mais pobres e dos que vivem na penúria. Certamente, é um remédio para debelar tudo o que atrapalha o princípio da solidariedade, fundamental nas relações sociais e políticas.

Superar o grave problema cognitivo e ético que impede cada pessoa de se perceber como parte de um conjunto maior, considerando que a sociedade é a união de suas partes, é um urgente desafio. Todas as pessoas, no exercício competente, inteligente e esforçado de seu papel, têm decisiva importância na articulação dos elementos que integram o tecido social. Cada indivíduo deve ser elo indispensável e determinante que assegura as condições saudáveis para o bem viver de todos, o desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, são necessários investimentos em processos educativos que qualifiquem o exercício da cidadania. E isso não pode se restringir somente ao território da educação formal, pois se relaciona a uma dinâmica formativa mais ampla: o cultivo, em todas as pessoas, da disposição para cumprir bem o próprio papel. Na lista grande de requisitos para a qualificação cidadã não pode faltar a humildade, a superação da ganância, a sensibilidade com a dor dos mais pobres. Para além dos discursos e promessas, o importante é fortalecer o amor à própria nação e lutar por uma cultura civilizada, que se oriente nos parâmetros do bem comum. Tudo muda e tudo avança quando se cumpre bem o próprio papel.

É TEMPO DE ADVENTO


Os cristãos se preparam para a celebração do Natal de Jesus em um tempo chamado advento, com momentos de espiritualidade e celebrações que recuperam a sintonia dos corações com o coração de Deus. Um tempo de esperança, que pode fecundar um futuro melhor sonhado por todos, particularmente quando se avalia o peso dos muitos percalços vividos na contemporaneidade – a desolação provocada pelos esquemas de corrupção, as irresponsabilidades e o gravíssimo descaso pelo outro, que é um irmão.

De modo muito especial, o advento da vinda do Messias tem propriedade para reavivar sensibilidades perdidas, o gosto pelo bem, e sedimentar a convicção da importância de todas as pessoas, sem distinções.

Isso pode parecer mera teoria diante da dificuldade para se vivenciar a beleza e a delicadeza deste tempo, pois há uma avalanche de apelos nessa época para estimular o consumismo e as festas. Convive-se com a fantástica e ilusória sensação do belo, a partir de luzes e cores com fugacidade própria – logo após esse período vem a realidade com seus desafios. A força necessária para todos vem justamente do amor e da experiência de se encontrar com Jesus Cristo. Ora, o que define a vida e as pessoas não são as circunstâncias, nem mesmo os desafios da sociedade. Acima de tudo, o que define a autenticidade da condição humana e os rumos novos da história é o amor. E o amor torna-se realidade na experiência de se buscar Jesus Cristo. Eis o sentido da celebração do Natal, oportunidade singular e inigualável para se desenhar um horizonte diferente, conferir à vida uma orientação decisiva.

A alegria que nasce do encontro com Jesus não é artificial, diferentemente das que são produzidas por mecanismos ilusórios, efêmeros. É a felicidade que nasce da experiência de aproximar-se da fonte inesgotável do amor de Deus, Pai misericordioso, que transforma, recria e salva. Sem esse encontro, não há como passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo para o sentido profundo da existência, do desalento para a esperança. Não aproximar-se do Messias Salvador é perder a chance de se qualificar como ser humano e, assim, contribuir para melhorar a sociedade. Distante dessa necessária espiritualidade profunda, que deve ser experimentada na dimensão existencial – longe de misticismos ou fundamentalismos – a humanidade não avançará rumo aos avanços almejados. As estatísticas serão sempre vergonhosas, revelando que a sociedade adoece cada vez mais, convivendo com o medo e o desespero. Permanecem as dinâmicas que levam ao desrespeito, à violência e à desigualdade social.

O convite permanente, com força singular no tempo do advento, é fixar o olhar n’Ele, Cristo, o Messias Salvador. Conhecê-Lo, dialogar com Ele, deixar-se transformar por suas propostas e lições – os valores do Evangelho. Essa experiência espiritual qualifica a existência, as ações e escolhas do ser humano. Por isso, é hora de aceitar a proposta de se encontrar com Jesus Cristo – abertura ao advento de um novo tempo.

sábado, 12 de dezembro de 2020

SUPERAR FRAGILIDADES E ENFERMIDADES.

“Fique em casa” é o mais interpelante apelo desses últimos meses ante o necessário e indispensável isolamento social. Esse apelo remete ao ambiente mais significativo e referencial da vida de cada pessoa, a casa, o lugar sagrado da família. A orientação “fique em casa” tem força no combate efetivo à pandemia da Covid-19, evitando a disseminação do vírus que é letal para muitas vítimas, submetendo famílias ao luto. Uma pandemia que gera ainda colapsos na saúde e incidências na economia. Não é fácil a obediência ao imperativo de ficar em casa, evitando aglomerações e contatos desnecessários. E esse imperativo estampa, ainda mais, o grave problema do déficit e das más condições habitacionais do Brasil, uma vergonha.

A realidade de vilas e favelas reflete a acentuada desigualdade social que caracteriza o país. Para os que não têm habitação adequada, como ficar em casa? E como se não bastasse, há ainda uma questão que torna mais cruel essa situação: no outro extremo, entre os que têm casa, a orientação para permanecer no lar é tratada com escárnio. Há, inclusive, os que incitam a população a ir para as ruas, obviamente aumentando os riscos de contaminação. Pessoas insensíveis a uma realidade óbvia: a saúde requer moradia digna e sustentável. O equilíbrio na natureza, fundamental para prevenir pandemias, não é alcançado apenas com o bem-estar de pequena parcela da população. A exclusão de muitos gera adoecimentos que ameaçam toda a sociedade.

Especificamente sobre a segregação sofrida pelos que não têm casa, a referência alcança também aqueles que até possuem um endereço, mas destituído de mínimas condições para a habitação. Esse cenário revela a fragilidade social que não isenta, inclusive, os que se acham protegidos da contaminação por um vírus. A saúde do planeta, de uma sociedade, depende de condições menos desiguais no campo da moradia – cada um tem direito a uma casa digna para viver. Assim, a orientação “fique em casa” deve também representar um clamor que leve a um novo significado relacionado à rua – fortalecendo o seu sentido de agregação das diferenças, da cooperação, do encontro, de intercâmbios e serviços ao próximo, que é irmão, para gerar inclusão e vencer abismos sociais que adoecem.

Mas sempre se reconheça: a força social e política da rua nunca substituirá a importância da casa, com seu sentido mais forte e fundamental – é a primeira escola do amor, da fé, dos ensinamentos indispensáveis à civilidade, do desenvolvimento da competência em gerar e cultivar vínculos. A casa tem uma sacralidade que ultrapassa os limites estreitos de relacionamentos. É, para além de sua configuração material, sagrada sustentação do viver e do aprender a viver. Apesar disso, movimentos civilizatórios levaram à relativização do valor pedagógico e existencial da casa que, para muitos, tornou-se apenas um alojamento noturno, um “point” para atendimento de algumas necessidades muito básicas, a exemplo do repouso, sem considerar tantas outras, igualmente essenciais. As pessoas desaprenderam, assim, por exemplo, sobre a importância da convivência possibilitada pela casa. Há dificuldade para se relacionar qualificadamente com quem se partilha o mesmo ambiente. Paradoxalmente, por estar desabituado a ficar no próprio lar, o ser humano também é incapaz de lidar com a solidão. Até se deprime. Percebe-se uma dificuldade para cultivar a interioridade. Ficar em casa torna-se, neste contexto, desafiador, e revela carências humanísticas que levam a esgotamentos psíquicos e aqueles inerentes à própria natureza.

Casa e rua devem ser consideradas a partir de renovado significado, compreendidas como outro lugar, diferente do que até então se imaginava. Sem a casa, as instituições se enfraquecem e há despersonalização do ser humano. A Igreja de Cristo, por exemplo, nasce nos lares e, de casa em casa, fortalece a sua presença servidora no coração do mundo. Ao perdurar a exigente e indispensável convocação “fique em casa”, a sociedade aproveite para cultivar e enriquecer a compreensão a respeito da casa e da rua. Nesses espaços, sejam adotados estilos de vida renovados para superar fragilidades e enfermidades.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O CUIDADO SANA AS FERIDAS...


Nos dias atuais, especialmente durante o isolamento social, devido a presença perigosa do coronavírus, a humanidade despertou de seu sono profundo: começou ouvir os gritos da Terra e os gritos dos pobres e a necessidade do cuidado de uns para com os outros e também da natureza e da Mãe Terra. De repente, demo-nos conta de que o vírus não veio do ar. Não pode ser pensado isoladamente, mas dentro de seu contexto; veio da naturea. Ele é uma resposta da Mãe Terra contra o antropoceno e o necroceno, vale dizer, contra a sistemática dizimação de vidas, devida à agressão do processo industrialista, numa palavra, do capitalismo mundialmente globalizado. Ele avançou sobre a natureza, desflorestando milhares de hectares, na Amazônia, no Congo e em outros lugares onde se encontram as florestas úmidas. Com isso destruiu o habitat dos centenas e centenas de vírus que se encontram nos animais e até nas árvores. Saltaram em outros animais e destes a nós.

Em consequência de nossa voracidade incontrolada, cada ano desaparecem cerca de cem mil espécies de seres vivos, depois de milhões de anos de vida sobre a Terra e ainda, segundo dados recentes, há um milhão de espécies vivas sob risco de desaparecimento.

A ideia-força da cultura moderna era e continua sendo o poder como dominação da natureza, dos outros povos, de todas as riquezas naturais, da vida e até dos confins da matéria; esta dominação ocasionou atualmente as ameaças que pesam sobre o nosso destino. Essa ideia-força tem que ser superada. Bem dizia Albert Einstein: “a idéia que criou a crise não pode ser a mesma que nos vai tirar da crise; temos que mudar”.

A alternativa será esta: ao invés do poder-dominação deve-se colocar a fraternidade e o cuidado necessário. Estas são as nova ideia-força. Como irmãos e irmãs, somos todos interdependentes e devemos nos amar e cuidar. O cuidado implica numa relação afetuosa para com as pessoas e para com a natureza; é amigo da vida, protege e confere paz a todos que estão à sua volta.

Se o poder-dominação significava o punho cerrado para submeter, agora oferecemos a mão estendida para se entrelaçar com outras mãos, para cuidar e para afetuosamente abraçar. Essa mão cuidadosa traduz um gesto não agressivo para com tudo o que existe e vive.

Portanto, é urgente criar a cultura da fraternidade sem fronteiras e do cuidado necessário que a tudo enlaça. Cuidar de todas as coisas, desde o nosso corpo, da nossa psiqué, do nosso espírito, dos outros e mais comezinhamente do lixo de nossas casas, das águas, das floresta, dos solos, dos animais, de uns e de outros, começando pelos mais vulneráveis.

Sabemos que tudo o que amamos, cuidamos, e tudo o que cuidamos também amamos. O cuidado sana as feridas passadas e impede as futuras.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

TEMOS QUE RETOMAR O HORIZONTE ÉTICO E MORAL.

A sociedade convive com a lamentável perda da soberania da ética que, gradativamente, deixa de presidir a conduta cidadã e os funcionamentos institucionais diversos. E quando se desconsidera a soberania da ética, perde-se a credibilidade e a possibilidade de corrigir rumos. As consequências são as derrocadas que vão corroendo o tecido social e político. Não se confia mais no que deveria ser inquestionável: a palavra das pessoas, inclusive de líderes. Tornam-se escassos os que são merecedores de reconhecimento. E cada vez mais raras são as práticas alicerçadas em princípios que convençam os indivíduos, no mais recôndito de suas consciências, a agir conforme os valores que refletem o respeito incondicional à soberania da ética.

Hoje, infelizmente, vale tudo, conforme conveniências e interesses. Perde-se o rumo, pois quando se abandona a soberania da ética, a sociedade tende a descompassar-se violentamente. São produzidos cenários abomináveis que danificam a identidade social e política de uma nação. Tudo em consequência do desrespeito de governos e de segmentos variados que pautam seus funcionamentos nos interesses cartoriais e partidários. Por isso mesmo, o noticiário está repleto de referências aos esquemas de corrupção, às muitas formas de violência, às abomináveis ações que revelam a perda do sentido de respeito e de sacralidade da dignidade humana.

Considerações subjetivas, com a força arbitrária de relativização negativa, impactam no sistema de valores que deveriam ser capitaneados pela ética. Isso provoca uma deterioração do núcleo da consciência e escancara as portas para atos ilícitos. Assim, constata-se a falta de ética nas escolhas, nas decisões e nas atitudes. Uma situação ainda mais preocupante quando se considera que a formação da consciência cidadã requer longo percurso, com práticas cotidianas e a exemplaridade de testemunhos. Já a deterioração dessa consciência cidadã ocorre “da noite para o dia”, desencadeada pela hegemonia que se confere aos interesses relacionados à patológica ganância por dinheiro, às condutas que revelam mesquinhez e indiferença com o que é digno. Por isso, urgente é promover a recuperação da ética civil, com investimentos na dimensão moral da sociedade.

Sem esses investimentos, as reformas da sociedade ficam enfraquecidas. A racionalidade que poderia produzir avanços e garantir conquistas torna-se ineficaz pela ausência da ética civil. Há, pois, urgência em priorizar a moralidade na sociedade contemporânea. O pluralismo não pode jamais dispensar o compromisso e a responsabilidade de todos, particularmente de dirigentes, líderes e formadores de opinião, em colaborar com um projeto legítimo e unificador: o resgaste do gosto de ser honesto. Envergonhar-se das dinâmicas prejudiciais ao bem comum, com atentados à dignidade humana. Se esse projeto unificador não for assumido, os segmentos sociais e políticos continuarão a gastar suas maiores e mais importantes forças na tentativa de recuperar os prejuízos da corrupção.

Toda a sociedade está desafiada a redesenhar ou retomar o horizonte ético e moral, que deve orientar desde as práticas mais simples do cotidiano até o respeito incondicional a leis e normas. Trata-se de caminho para garantir a justiça e a paz. Nesse sentido, é importante pautar a ética civil como prioridade e razão dos investimentos. É hora de assumir os valores próprios de uma ética civil soberana.

domingo, 6 de dezembro de 2020

CULTIVAR O LADO ESPIRITUAL

Cultivar a espiritualidade ainda não faz parte do cotidiano de muitas pessoas. Pouco se compreende que esse exercício é um pilar determinante na sustentação da interioridade e de uma qualificada participação na vida social. Por isso, muitas dinâmicas estão comprometidas. Ilusoriamente, pensa-se – talvez por forças de secularismos, excesso de racionalizações ou imediatismos – que a espiritualidade é opcional, mais apropriada para alguns mais devotos. Na verdade, a espiritualidade é indispensável para sustentar a vida de todos em parâmetros qualificados. Assim, um permanente desafio é estar em sintonia com o que diz o salmista, nas Sagradas Escrituras: “Desde a minha concepção me conduzistes, e no seio maternal me agasalhastes. Desde quando vim à luz vos fui entregue, desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus”.

O lado espiritual não é apenas uma parte da existência. Trata-se de alicerce para a vida, cultivado pelo desenvolvimento da competência de se contemplar, isto é, tornar-se capaz de mergulhar no sentido mais profundo de cada ser, de cada criatura, superando superficialidades. E a oração é, por excelência, a experiência do exercício da espiritualidade. Causa empobrecimento considerar a oração como um recurso de poucos, para momentos passageiros de aflições maiores. As preces possibilitam o enraizamento de si mesmo na verdade e na fonte do amor que é Deus. Tertuliano, reconhecido escritor dos primeiros anos da era cristã, destaca a força da oração, ao comentar: “nos tempos passados, a oração livrava do fogo, das feras e da fome. Agora, a oração cristã não faz descer o orvalho sobre as chamas, ou fechar a boca de leões, nem impede o sofrimento. Mas, certamente vem em auxílio dos que suportam a dor com paciência, afasta as tentações, faz cessar as perseguições, reconforta os de ânimo abatido, enche de alegria os generosos, acalma tempestades, detém ladrões, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam e confirma os que estão de pé”.

A oração possibilita ao humano experimentar o deserto de seu próprio ser. Leva-o a reconhecer sua condição solitária e pobre, para explicitar sua dependência de Deus. O lado espiritual de cada pessoa é que lhe permite assumir e conquistar a humanidade verdadeira e integral. Na espiritualidade, cultiva-se o silêncio que faz da própria vida um ouvir determinante, gera-se a competência para o diálogo que promove a cultura do encontro e quebra, com propriedade, a rigidez da mesquinhez. A experiência espiritual qualificada é que nos permite cultivar e aproveitar os nossos dons, edificando a unidade interior básica que permite a inteireza moral e existencial. Quando se compromete essa unidade, a conduta pessoal sofre com reflexos negativos. E o caminho da espiritualidade, que possibilita uma condição humana qualificada, não pode ser trilhado apenas com a própria força, nem mesmo unicamente com a luz da razão. Trata-se de percurso impulsionado pelo Espirito Santo, que está presente em cada um dos que cultivam a abertura para receber seus dons.

A humanidade carrega fardo pesado por não compreender a importância de se cultivar a espiritualidade. Por isso, o cidadão contemporâneo fica moralmente enfraquecido gerando os descompassos que degradam o mundo. Assim, o investimento para transformar a realidade exige, de cada um, cultivar o lado espiritual. Eis o caminho que é fonte de soluções para os muitos problemas enfrentados pela humanidade.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

SE PREPARANDO PARA O NATAL.

No Brasil, o Dia de Ação de Graças, instituído pelo governo brasileiro, não tem a mesma importância que tem nos Estados Unidos. Lá a data é celebrada desde o século XVII e é feriado. A cada ano, governo e sociedade consagra a quarta quinta-feira de novembro para agradecer a Deus as suas vitórias. O agricultor agradece a Deus a boa colheita; assim como o comerciante, a prosperidade do comércio. Quem ganhou nas recentes eleições deve estar agradecendo a vitória. A ação de graças pode ser coletiva, mas por vitórias individuais ou de grupos que se sentem protegidos. Pouco importam os outros.

Em meio a uma sociedade de milhões de pessoas que não garantem nem o pão nosso de cada dia, alguém sai às ruas com um carro de luxo no qual está escrito “Este carro foi Jesus que me deu”. Os mais bem sucedidos agradecem a Deus os seus ganhos e convencem os que perderam que, se não ganharam foi porque não mereciam. Nos séculos passados, os senhores agradeciam pela quantidade de negros que tinham conseguido comprar e pelos territórios indígenas que tinham roubado das tribos originais. Até hoje, esta ação de graças está expressa nas palavras escrita nas células do dólar e reproduzida em alguns bancos e estabelecimentos comerciais – “Nós confiamos em Deus”.

Para quem tem algum senso crítico, esta religião civil tem pouco a ver com o Evangelho. Por isso, no nome do mesmo Jesus, irmãos e irmãs de várias Igrejas combatem o armamentismo espalhado pelo país, o imperialismo do governo e a falsa ética cristã da sociedade dominante.

No Brasil, em 1965, um ano depois do golpe militar pelo qual tomou o governo, o presidente Castelo Branco determinou a celebração nacional do Dia de Ação de Graças, na mesma data dos Estados Unidos e encarregou o Ministério da Justiça de coordenar esta celebração. Um Deus que legitima iniquidade não é o Deus de Jesus. Conforme a Bíblia, “oferecer a Deus orações e ofertas baseadas em injustiças, é como tirar a vida de um filho imaginando que assim se agradaria ao pai”.

É verdade que 2020 tem sido um ano de muitos desafios e de imensos sofrimentos para toda a sociedade. Como o papa Francisco chamou a atenção em sua carta encíclica Somos todos irmãos e irmãs, a pandemia pôde ceifar mais vidas e trazer mais sofrimentos porque a maioria dos países tinha desarticulado o seu sistema público de saúde e a solidariedade internacional quase não funcionou. O vírus contagia, por igual a pobres e ricos. No entanto, encontra mais vítimas entre as pessoas que vivem amontoadas em habitações irregulares, sem saneamento básico, sem acesso à água potável e sem condições mínimas de se protegerem.

De todo modo, temos muitos motivos para dar graças e para reconhecer a ação divina atuando na nossa vida. A ação de graças é boa e deve ser uma atitude permanente de quem crê, mas só se nos deixamos realmente mover pelas orientações de amor do Espírito de Deus. Podemos agradecer a resistência cotidiana do nosso povo, os gestos e manifestações de solidariedade que crescem nas periferias e nos ambientes humanos mais desafiadores. Podemos agradecer o fato de que ainda quando a realidade parece sem saída, optamos sempre por alimentar a esperança.

Quem procura ligar fé e vida aprende a discernir nos acontecimentos do dia a dia os sinais da presença íntima e discreta do Espírito que atua através das pessoas que aceitam ser instrumentos da atuação divina. Mesmo no meio das situações mais adversas, é possível esperar contra tudo o que seria a expectativa normal. A realidade é, de fato, problemática. No entanto, optamos por crer. Por isso vivemos a esperança da realização do projeto divino no mundo e ninguém poderá nos roubar a confiança de que o reino de Deus virá. Isso se concretizará aqui e agora, no fato de que outro mundo será, sim, possível. Conforme o apóstolo, essa esperança tem três características: não se corrompe, não se desgasta, nem se dilui (1 Pd 1, 3- 12). Ela nos convoca a nos manter unidos/as em comunidades e a antecipar nos sinais da celebração litúrgica aquilo que queremos viver no dia a dia do mundo: a comunhão.

A cada ano, quatro semanas antes do Natal, portanto, a partir do domingo passado, as Igrejas cristãs mais antigas começaram um novo ciclo de celebrações que formam o chamado “ano litúrgico”, com o tempo chamado “Advento”. Seu objetivo é preparar a festa do Natal e realimentar nas pessoas a esperança da realização do projeto divino de paz e justiça eco-social aqui e agora.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O MENOS INSANO X O MAIS INSANO,

Erich Fromm, renomado psicólogo social judeu-alemão que foi forçado a sair de sua terra natal no início dos anos 1930, com a chegada dos nazistas ao poder, trouxe anos depois uma visão perturbadora sobre a relação entre a sociedade e os indivíduos.

Em meados da década de 1950, seu livro The Sane Society (“A sociedade sã”) sugeria que a insanidade não se referia simplesmente ao fracasso de indivíduos específicos em sua adaptação à sociedade em que viviam. Mas que, em vez disso, a própria sociedade poderia se tornar tão patológica, tão desligada de um modo de vida normal, que Erich Fromm induziria a uma alienação profunda e a uma forma de insanidade coletiva entre seus membros. Nas sociedades ocidentais modernas, onde a automação e o consumo em massa prevalecem sobre as necessidades humanas básicas, a insanidade pode não ser uma aberração, mas a norma.

Fromm escreveu:

“O fato de milhões de pessoas dividirem os mesmos vícios não torna esses vícios virtudes; o fato de compartilharem os mesmos erros não os transforma em verdades; e o fato de milhões de pessoas terem em comum as mesmas patologias mentais, não as converte em pessoas sãs.”

Definição desafiadora
Esta ideia ainda é muito desafiadora para qualquer pessoa que tenha sempre ouvido que a sanidade é definida por consenso, que abrange tudo o que o mainstream prefere, enquanto que a insanidade se aplica apenas àqueles que vivem fora desses padrões e normas. Esta é uma definição que nos diagnostica (assim como a imensa maioria), atualmente, como loucos.

Quando Fromm escreveu seu livro, a Europa estava emergindo das ruínas da Segunda Guerra Mundial. Era um momento de reconstrução, não só física e financeiramente, mas legal e emocionalmente. Instituições internacionais como as Nações Unidas tinham acabado de ser formadas para defender o direito internacional, frear a ganância e a agressividade nacionais, e assumir um novo compromisso com os direitos humanos universais.

Eram tempos de esperança e expectativas. Uma maior industrialização, estimulada pelos esforços da guerra e pela extração intensificada de combustíveis fósseis, significava que as economias começavam a crescer; nascia uma visão do Estado de Bem-estar. Uma classe tecnocrática, promovendo uma social-democracia mais generosa, passava a substituir a velha classe oligárquica.

Foi nessa conjuntura histórica que Fromm decidiu escrever um livro, onde dizia ao mundo ocidental que a maioria de nós éramos loucos.

Graus de insanidade
Se isso já era evidente para Fromm em 1955, hoje, para nós, deveria ser muito mais — à medida em que autocratas bufões avançam no cenário mundial como personagens de um filme dos irmãos Marx; em que o direito internacional está sendo intencionalmente desmontado para restaurar a autoridade das nações ocidentais de invadir e saquear; e em que o mundo físico demonstra, por meio de eventos climáticos extremos, que a ciência da mudança climática (há muito ignorada) e muitas outras destruições do mundo natural causadas pelo homem não podem mais ser negadas.

No entanto, nosso compromisso com nossa insanidade parece tão forte como sempre — talvez, até mais forte. Igualando-se ao capitão do Titanic, o irreconciliável escritor liberal britânico, Sunny Hundal, deu voz memorável a essa loucura alguns anos atrás, quando escreveu em defesa do status quo catastrófico:

“Se você quiser substituir o atual sistema capitalista por outra coisa, quem vai fazer seus jeans, iPhones e cuidar do Twitter?”

À medida em que os ponteiros do relógio avançam, o objetivo urgente de cada um de nós é obter uma visão profunda e permanente de nossa própria insanidade. Não interessa se nossos vizinhos, familiares e amigos pensam como nós. O sistema ideológico em que nascemos, que nos alimentou com nossos valores e crenças com a mesma certeza que nossas mães nos alimentaram com leite, é insano. E como não podemos sair dessa bolha ideológica — porque nossas vidas dependem de nos submetermos a essa infraestrutura de insanidade — nossa loucura persiste, mesmo que nos consideremos sãos.

Nosso mundo não é um mundo do são versus a insanidade, mas do menos insano contra o mais insano.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O MELHOR DO MEU PAÍS É O SEU POVO.


Por que me ufano do meu país: Era este o título de um livro de Afonso Celso, do ano de 1900. Era um texto laudatório em relação ao Brasil, que cantava suas belezas, suas glórias e seu brilho. A obra marcou época em nossa terra. Tornou-se leitura obrigatória nas escolas secundárias brasileiras, e teve várias edições e traduções. Passou a ser uma verdadeira cartilha de nacionalidade, um distintivo que marcava a condição de brasileiro.

Mais tarde, o livro e seu autor já não foram tão apreciados, sendo mesmo ridicularizados. A visão acrítica e ingênua da positividade do país, sem perceber seus aspectos sombrios, instigou as mentalidades mais críticas. Criou-se, a partir do título da obra, a palavra “ufanismo”, com o sentido pejorativo que os dicionários Aurélio e Houaiss registram: vanglória desmedida, patriotismo excessivo.

Muitas décadas mais tarde, o humorista e artista Ary Toledo fez um show com o mesmo título: “Por que me ufano do meu país”. Ali, entre canções e piadas de sua autoria, o artista lançava farpas contra o Brasil da ditadura militar, que cerceava a liberdade de pensar. E criticava sobretudo a mania que o povo brasileiro tem de imitar os Estados Unidos, assassinando a própria cultura e assumindo na dança, na música, nos gostos, os hábitos norte-americanos.

Celebramos o 7 de setembro, festa nacional. Era a Semana da Pátria e estive em situação de imensa dificuldade para ufanar-me do meu país. Mas como sou brasileiro de coração e descendência; como só tenho um passaporte que me faz ficar horas em filas esperando agressivas e humilhantes inspeções nas fronteiras de vários países do mundo; como não consigo não vibrar quando ouço o hino nacional; quero e desejo encontrar razões para orgulhar-me da pátria em que nasci e onde até hoje vivo. E confesso que está difícil.

O país passa por uma pandemia e conta mais de 170 mil mortos. Mergulhado em luto e tristeza, não consegue vislumbrar uma solução a curto ou médio prazo para a enorme catástrofe em que se encontra. Ao lado disso, a barca brasileira flutua à deriva, sem que se consiga avistar com alguma nitidez onde está, o que faz, ou mesmo quem é o timoneiro.

A corrupção nossa de cada dia, apesar da pandemia e da situação de emergência, só faz crescer. A economia penaliza os pobres e faz projetos emergenciais que não atendem as emergências. Essas, por sua vez, passaram a ser pão de cada dia dos cidadãos desse chão. O Ministério da Saúde encontra-se vacante há mais de 200 dias, enquanto a crise sanitária segue grave. Os vários ministros que passaram pela pasta foram exonerados ou se auto exoneraram, não suportando ser constante e implacavelmente desautorizados pelo Executivo.

Até nossas riquezas e recursos naturais – abundantes e generosos – encontram-se ameaçados: desmatamentos, queimadas, agressões constantes ao meio ambiente, às reservas indígenas, contaminação de rios, loteamento da Amazônia situada em boa parte no Brasil, embora seja composta por nove países e constitua um patrimônio da humanidade.

Que razões tenho, então, para ufanar-me de meu país? Deverei sentar-me e chorar, lamentando a sorte desta terra onde nasci e que sempre amei? Não, se pensar nas centenas de voluntários que organizam e distribuem cestas básicas nas comunidades mais carentes, onde falta o alimento. Não igualmente se fixar meu olhar nos médicos e profissionais da saúde que se arriscam a todo momento nos hospitais para salvar vidas ameaçadas pela pandemia de Covid-19. Menos ainda se reparar no esforço dos artistas que, impedidos pela crise sanitária de dar espetáculos em teatros ou palcos, fazem lives pela rede ou mesmo cantam nos balcões e varandas das cidades, aliviando a angústia de muitos.

O melhor de meu país é o povo que nele vive. Gente que foi feita para brilhar e não para morrer de fome, como diz Caetano Veloso. Gente que tem que lutar pela vida com uma das mãos e reparte o pouco que tem com a outra. Gente que se arrisca para que o outro tenha vida. Gente que é capaz ainda de cantar e se alegrar mesmo em meio a tanta tristeza.

Essa gente, esse povo, é a única reserva de esperança que o Brasil tem. É o único motivo para dele “ufanar-se”. Essa gente que não deixam brilhar, mas apesar de tudo brilha em sua generosidade, solidariedade, alegria. Por essa gente e com ela faz sentido celebrar a Pátria.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

AMAR E APRENDER SÃO O MAIOR DOM DA VIDA,

Porque o calendário marca a passagem do tempo e nos interroga sobre o sentido de nossa vida, lembramos que há:

1.Tempo de olhar para o futuro e tempo de lembrar nosso passado.
2.Tempo de nos pensar como indivíduos e tempo de nos pensar como comunidade.
3.Tempo de realizar e tempo de refletir.
4.Tempo de ficar sós e tempo de ficarmos juntos.
5.Tempo de lembrar e tempo de esquecer.
6.Tempo de ensinar e tempo de aprender
7.Tempo de dar e tempo de receber.
8.Tempo de falar e tempo de calar.
9.Tempo de acreditar e tempo de duvidar.
10.Tempo de se sentir culpado e tempo de se perdoar.
11.Tempo de julgar e tempo de suspender o julgamento.
12.Tempo de se entregar e tempo de se dissociar.
13.Tempo de viver e tempo de morrer.
14.Tempo de rir e tempo de chorar.
15.Tempo de ser prudente e tempo de arriscar.
16.Tempo de trabalhar e tempo de descansar.
17.Tempo de semear e tempo de colher.
18.Tempo de ser orgulhoso e tempo de ser humilde.
19.Tempo de estar alegre e tempo de estar triste.
20.Tempo de ter ilusões e tempo de perdê-las.
21.Tempo de esperar e tempo de agir.
22.Tempo de amar sem ser amado e tempo de ser amado sem amar.
23.Tempos sem sentido e tempos com sentido.

E que a sabedoria se encontra em compreender que o tempo é sempre um, no qual:

1.Nosso passado esta sempre presente no nosso futuro.
2.A comunidade é formada por indivíduos livres e os indivíduos não esquecem que são parte de comunidades.
3.Quem faz deve refletir e quem reflete deve agir.
4.Os mortos continuam vivos em nos e a vida não pode desconhecer a morte.
5.Paramos de falar para ouvir e ouvimos para entender o que estamos falando.
6.A prudência não deve eliminar nossa coragem para ariscar e o risco deve ser responsável.
7.Quem recebeu já retribuiu e quem deu já recebeu.
8.Só aprendemos desaprendendo e só se ensina aprendendo.
9.Quem semeia já recolheu e quem recolhe não deixa de semear.
10.Não podemos ter dignidade se não somos humildes e somos humildes porque temos dignidade.
11.Estamos sós quando estamos juntos e estamos juntos quando estamos sós.
12.Acreditamos sem dogmatismo e duvidamos sem deixar de lutar pelo que acreditamos.
13. Choramos de alegria e rimos para não chorar.
14.No há culpa sem perdão, nem julgamentos que não sejam questionáveis.

Porque o tempo nos permite amar e aprender, e ambos são o maior dom da vida, agradecemos:

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

UMA IDEIA PARA CIDADES MAIS SUSTENTÁVEIS.




Uma retomada verde nas cidades passa por transformações para tornar as calçadas, as ruas e outros espaços em locais acessíveis, acolhedores e de permanência. As potencialidades precisam ser aproveitadas ao máximo para reduzir longos deslocamentos, melhorar a qualidade de vida e se reaproximar do meio ambiente.

Com o automóvel ligado a grande parte das emissões de poluentes, o pedestre virou o protagonista do século 21, com o apoio de uma série de outras alternativas de transporte. Para obter maior resultado, contudo, as propostas precisam ser aplicadas em grande escala.

Essa mudança de paradigma está ganhando espaço em diversas cidades, que apostam no planejamento urbano como principal plataforma de sustentabilidade. Inspirado nas propostas destas cidades, mostramos a seguir transformações simples para tornar as cidades mais sustentáveis.

MAIS ESPAÇO PARA O VERDE

– As cidades hoje: ruas e calçadas funcionam como espaços de deslocamento, priorizando carros e sem aplicação de conhecimentos e tecnologias que podem reduzir o impacto ambiental.

– Dar novos usos: encruzilhada antes desocupada pode virar um espaço de lazer, que se espalha também por uma área antes utilizada para o tráfego de veículos.

– Tornar ambientes mais acessíveis: projetar calçadas e caminhos com um desenho universal, preparado para atender pessoas com mobilidade reduzida e carrinhos de bebê.

– Plantar mais árvores: elas ajudam a reter os poluentes, reduzem as chances de alagamentos e tornam o microclima mais agradável.

– Aumentar oferta de mobiliário urbano: instalar bancos, mesas e playground feitos com materiais sustentáveis, que trazem conforto e lazer aos moradores e tornam a rua mais movimentada.

– Criar pomares urbanos: implantar hortas comunitárias e plantar árvores ajudam a unir a comunidade, fornecem alimentos para consumo local e atraem animais silvestres.

– Adotar energias renováveis: captação de energia solar e eólica pode ter aplicação em vias públicas e espaços privados. Um exemplo são os painéis fotovoltaicos.

INTEGRAR AS ESCOLAS ÀS VIZINHANÇA

– As escolas hoje: elas ficam isoladas do resto da cidade, o acesso ocorre por ruas com grande movimento de carros e a presença da natureza nem sempre é evidente.

– Abrir as escolas à comunidade: permitir o uso das áreas de recreação pela comunidade nos fins de semana e nas férias escolares.

– Instalar novos itens de mobiliário urbano: colocar brinquedos, bancos e mesas em espaços verdejantes para ampliar o contato das crianças com a natureza.

– Criar uma rua das crianças: restringir o tráfego de veículos, tornando o acesso a pé ou por bicicleta mais amigável e transformando a via em um espaço complementar de aprendizagem.

– Incluir sustentabilidade no ensino: implantar um currículo que discuta temas relacionados ao meio ambiente, incentive o contato com a natureza e pratique a cultura do “faça você mesmo”.

– Tornar as escolas mais sustentáveis: servir refeições orgânicas na merenda, adotar matérias-primas com menor impacto ambiental e tornar os espaços mais verdes.

– Instalar telhados verdes: plantar vegetais na cobertura da construção, melhorar o conforto térmico do prédio, atenuar o microclima e ajudar na drenagem da água da chuva.

RUAS MAIS ACOLHEDORAS

– As ruas hoje: as calçadas são estreitas, o trânsito de carros ocupa a maior parte do espaço e há pouca vegetação.

– Implantar ciclovias e faixas para fluxo de pedestres: elas dão mais segurança para o tráfego de pessoas e ajudam a desafogar o trânsito e o transporte público.

– Instalar mais mobiliário urbano: colocar mesas, bancos e cadeiras transforma a vizinhança em espaço de convívio e de lazer, onde se pode passear e brincar com conforto.

– Dar prioridade ao pedestre: reduzir o número de pistas para veículos e adotar o “traffic calming”, com elevação da rua para o nível da calçada e aumento do espaço para pedestres.

– Melhorar as calçadas: trocar o concreto por materiais que permitam melhor absorção da água, instalar rampas para dar acesso universal e adotar a criação de jardins.

– Dar uso aos térreos dos edifícios: implantar “fachadas ativas”, com a abertura de estabelecimentos comerciais, aumenta a movimentação e ajuda a manter a economia local viva.