segunda-feira, 5 de agosto de 2013

OS ESPIÕES SOMOS NÓS MESMOS, SIMPLES ASSIM.

O jornalista investigativo e especialista em internet e em novas tecnologias da informação, Jaques Henno, autor de dois livros sobre espionagem (“Todos fichados” e “Sillicon Valley, o Vale dos Predadores”), comenta: “Nós, enquanto europeus, estamos na periferia do império norte-americano. Enviamos informações a ele porque não fomos capazes de criar o equivalente do Google, Apple ou Facebook para conservar na Europa essas informações”. Kavé Salamantian, professor de informática e telecomunicações na Universidade de Lancaster, expressa certa amargura quando diz: “A NSA nos enganou. Era previsível que nos espionasse. Fomos enganados pelas empresas privadas, Google, Facebook, Apple, Microsoft. Elas nos espionam de uma forma muito simples: utilizam as informações que nós proporcionamos e a confiança que tivemos nas empresas que oferecem serviços informáticos. Esses atores se tornaram parte tão cotidiana de nossa vida que nos esquecemos das informações essenciais que disponibilizamos”.

A espionagem organizada a partir do dispositivo Prisma revelado pelo ex-membro da NSA norte-americana, Edward Snowden, é de uma simplicidade infantil. Stéphane Bortzmeyer, especialista em segurança informática e arquiteto de sistemas e redes, explica que Prisma “é só uma parte da espionagem norte-americana. A ideia consiste em se conectar com os grandes serviços de intercâmbio, as grandes redes sociais que estão nos Estados Unidos, ou seja, entre outros, Google e Facebook. O grande interesse de atuar neste nível consiste em ter acesso a uma informação que já está estruturada e tratada”.

Todas as fantasias dos adeptos das teorias conspiratórias que imaginavam os EUA espionando cada canto do planeta com satélites e dispositivos ultra tecnológicos viraram fumaça em um par de dias: “Prisma”, acrescenta Bortzmeyer, “é uma tecnologia simples, que já existia e que, além disso, é a mesma que utilizamos”. Em resumo, a alta tecnologia somos nós mesmos, não satélites espiões, nem raios invisíveis. Não. Nós entregamos nossos correios, nossos segredos, as fotos e os nomes de nossos filhos e irmãos, de nossos amigos, envoltos em um papel de presente transparente. Nicolas Arpagian, especialista em cyber-segurança, professor no Instituto de Altos Estudos de Segurança e Justiça, ressalta justamente que “o problema com os dados reside em que se toma uma informação de um servidor informático que está aí permanentemente. Não há roubo. Pode-se operar sem que a vítima se dê conta. A força desse tipo de espionagem radica no fato de que a vítima ignora seu estatuto de vítima”.

Os brinquedos conhecidos que a NSA emprega para acessar nossas intimidades são três: o olho é Prisma, seus aliados são Boundless Informant e X-Keyscorey. Prisma se conecta aos servidores das redes sociais, Google, Microsoft, Apple, Twitter, Skype, Facebook e outros. Boundless Informant é um software dirigido em grande parte ao ataque extraterritorial. O dispositivo mede o nível de segurança que cada país aplica a seus sistemas ao mesmo tempo em que consolida os meta-dados das conversações telefônicas (quem fala com quem) e das comunicações informáticas, as IP. X-Keyscorey é, nesta montagem, o cérebro do chamado Big Data, ou seja, o conjunto dos dados armazenados e analisáveis. X-Keyscorey é uma espécie de “Google” interno da NSA, ou seja, um analisador de conteúdos que abre as portas de tudo: histórico de navegações de uma pessoa, buscas realizadas na internet, conteúdos dos e-mails, conversações privadas no Facebook, cruzamento de informações segundo o idioma, o país de origem e de destino dos dados e dos intercâmbios.

A hora da mudança chegou. Todos os especialistas consultados confluem na mesma análise: é imperativo mudar nossa cultura na rede, precisamos ser mais responsáveis e, da mesma maneira que ocorre com o ambiente físico, tomar consciência do perigo virtual que nos cerca e nos proteger dele. A era do sonho virtual coletivo e da inocência ante o computador chegou ao fim. Snowden, que era parte do sistema, desgarrou a imensidade da verdade intuída. Agora sabemos.A hora da mudança chegou. Todos os especialistas consultados confluem na mesma análise: é imperativo mudar nossa cultura na rede, precisamos ser mais responsáveis e, da mesma maneira que ocorre com o ambiente físico, tomar consciência do perigo virtual que nos cerca e nos proteger dele. A era do sonho virtual coletivo e da inocência ante o computador chegou ao fim. Snowden, que era parte do sistema, desgarrou a imensidade da verdade intuída. Agora sabemos.

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