segunda-feira, 21 de outubro de 2019

QUEM VAMOS CHAMAR, QUAL SERÁ A CURA?


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No plano internacional, o Uruguai aprovou de lei que autoriza o plantio e a venda de maconha pelo Estado, legalizando e estatizando a produção e distribuição da droga.

Segundo as autoridades uruguaias, a medida é mais uma tentativa de reduzir a corrupção e a violência, numa batalha que, pela via do enfrentamento com os traficantes, o Estado já perdeu. Como vemos, o assunto é mais que polêmico. Países de primeiríssimo mundo, como a Suíça que tem um dos mais altos índices mundiais de consumo per capita de drogas, já implementaram programas de redução de danos nos mesmos moldes, com resultados discutíveis. Ficou famoso o "needle park" (parque das agulhas), uma praça bem no centro de Zurique, onde viciados e usuários podiam se picar livremente. Mas a situação começou a fugir do controle, aumentou o índice de criminalidade na região e as cenas deprimentes de jovens caídos pelos cantos da praça, os recorrentes casos de overdose, tudo começou a se tornar agressivo demais aos olhos daqueles que eram contra o uso de entorpecentes.

Experimentou-se, então, a criação de salas para injeção supervisionada de heroína, onde cerca de 3 mil usuários problemáticos dessa droga passaram a recebê-la gratuitamente. O governo baseava-se na avaliação de que, quem abusava da heroína, ao recebê-la legalmente, não precisaria recorrer a crimes como roubo e furtos, nem seria mais um "cliente" dos traficantes de drogas.
Segundo algumas fontes, num primeiro momento, o número de novos usuários caiu e cerca de 30% dos dependentes chegaram a deixar a droga. Por outro lado, aqueles em estado avançado já não tinham consciência para administrar em si mesmos qualquer medida de redução de danos.

Poderíamos avançar ainda mais na análise de outros dados e experiências, mas temo que o problema continuaria sem uma solução clara e definitiva. Em relação às drogas, sabemos bem onde erramos, mas não conseguimos ainda definir como e onde podemos acertar. Talvez porque não haja, mesmo, uma única resposta ou solução.

Dito isso, gostaria de acrescentar apenas mais uma reflexão. Em meados dos anos 1970, o Brasil passava por uma ampla reforma no Sistema de Ensino implementada pelos militares, então no poder. É bom lembrar que o país tinha, à época, 100 milhões de habitantes a menos do que tem hoje. Dentre várias medidas decretadas, uma foi a obrigatoriedade da inclusão do ensino profissionalizante no que hoje é o Ensino Médio. A ideia era boa. Num país que, aos poucos, ia mudando do campo para a cidade, era preciso qualificar mão de obra que contribuísse na construção do "Brasil Grande" dos generais.
Segundo os teóricos do modelo, o aluno, ao terminar o Ensino Médio, teria, além do ensino acadêmico tradicional, formação técnica que lhe permitisse enfrentar o mercado de trabalho e garantir sua subsistência, entrasse ou não na Universidade, naquela época, um sonho para poucos.
Essa era a teoria. Já a prática...


Vou falar da realidade que vi e vivi. Grandes colégios particulares correram a cumprir as exigências legais e montaram modernos e avançados laboratórios, aparelhados para oferecer cursos técnicos de primeiro nível a seus alunos.
Só que... aluno do Colégio X não queria ser técnico de análises queria se médico.Aluno do Y  não queria ser técnico em edificações, queria ser engenheiro.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, nas escolas da periferia onde estava o público ansioso e carente por esse tipo de formação, não havia verbas, estrutura, nem pessoal habilitado. Sem laboratórios, sem professores capacitados, sem material, os cursos eram oferecidos para inglês ver e general aplaudir, dizendo: ninguém segura esse país! Tudo isso me faz pensar que continua grande a distância entre as ideias brilhantes das cabeças iluminadas confortavelmente instaladas nos gabinetes do poder e a realidade do país. Tivemos exemplo recente disso, quando as ruas ferviam com as manifestações e protestos enquanto nossas "autoridades constituídas" discutiam projeto de 'cura gay' e passeavam em jatinhos da FAB com a família.

Oferecer uma seringa descartável e uma garrafa de água destilada a quem não tem consciência sequer de si mesmo, não vai reduzir dano algum. Queria que a solução fosse fácil assim, mas não é.

Qualquer proposta de mudança no quadro teria que passar, primeiro, por uma discussão ampla, geral e irrestrita sobre o modelo de sociedade que estamos produzindo, essa verdadeira fábrica de candidatos à dependência química e psicológica, de drogas farmacológicas ou não, lícitas ou ilícitas, sociais ou clandestinas. Do punk da periferia à patricinha de shopping, da pedra de crack ao capítulo da novela, a droga corre solta. O que fazer?

A mistura de incentivo alucinado ao consumo com carência e miséria, as imagens televisivas e as vitrines sedutoras exibindo, despudoradas, as maravilhas do mundo capitalista, quando confrontadas com desemprego, subemprego, educação precária, cultura imbecilizante, oportunidades e salários mínimos, tudo isso pode gerar um resultado explosivo.

Um "grande filósofo contemporâneo", Silvester Stallone, o Rambo, criou outro personagem na mesma linha, o Cobra, um policial cuja missão e prazer era exterminar bandidos. Diante deles, dizia: "você é a doença, eu sou a cura". E despejava chumbo no meliante para alegria da plateia ensandecida.

A doença das drogas está aí, à vista de todos. A quem vamos chamar, qual será a cura?

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