quarta-feira, 11 de março de 2020

O FUTURO INCERTO DAS CRIANÇAS E NOVAS GERAÇÕES.


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“Algumas pessoas dizem que não estamos fazendo o suficiente para combater as mudanças climáticas. Mas isso não é verdade. Porque para “não fazer o suficiente” você tem que fazer alguma coisa. E a verdade é que basicamente não estamos fazendo nada” - Greta Thunberg (22/01/2019)

As velhas e as atuais gerações são as responsáveis pela crise climática e ambiental, pois, entre 1770 e 2020, a população mundial cresceu 9,2 vezes, a economia global cresceu 135 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. É claro que a maior parte este crescimento foi concentrado numa parcela minoritária dos habitantes da Terra, mas o aumento do padrão de consumo se espalhou por todos os cantos, ocorrendo de forma desigual e combinada.

O fato é que houve um aumento geral do nível de consumo da população mundial e todo o crescimento e enriquecimento humano ocorreu às custas do encolhimento e empobrecimento do meio ambiente. O conjunto das atividades antrópicas ultrapassou a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a Biocapacidade do Planeta. A dívida do ser humano com a natureza cresce a cada dia e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana.

Isto quer dizer que as gerações futuras vão receber de herança uma Terra arrasada, com enorme déficit ambiental e territórios cada vez mais inóspitos ou até inabitáveis. Os dados sobre a população mundial de 2100 mostram que somente 0,2% dos adultos de hoje, que nasceram no século XX, devem estar vivos em 2100 e apenas 8% da população de 2100 será composta pelos jovens de 0 a 19 anos atuais. A população mundial em 2100 deve alcançar o valor de 10,87 bilhões de habitantes, segundo a projeção média da Divisão de População da ONU, sendo que 92% terão nascido a partir de 2020. Portanto, são as pessoas que ainda vão nascer que vão sentir os maiores impactos do caos ecológico.

Um relatório conjunto da Organização das Nações Unidas, Fundo da ONU para a Infância (Unicef) e a revista médica The Lancet, lançado em fevereiro de 2020, mostra que países de todo o mundo estão fracassando em proteger as crianças das ameaças à saúde, causadas pelas mudanças climáticas e falhando em criar um ambiente saudável essencial para o bem-estar das pessoas que vão nascer no restante do século. O relatório constata que as mudanças climáticas, a degradação ecológica, populações migrantes, conflitos, desigualdades persistentes e práticas comerciais predatórias ameaçam a saúde e o futuro de crianças em todos os países.

Enquanto crianças de países ricos possuem maiores chances de sobrevivência e bem-estar, esses mesmos países contribuem de forma desproporcional com as emissões de CO2 que ameaçam o futuro de todas as crianças em todos os países, constata o texto que consta com a autoria de 40 dos maiores especialistas em saúde infantil e juvenil do mundo.

Os pesquisadores desenvolveram três índices: além da desigualdade, um social e outro ambiental. O índice de “desenvolvimento infantil” inclui fatores como mortalidade, saúde, educação e nutrição, e o outro (ambiental), considera as emissões per capita de gases de efeito estufa de cada país. Evidentemente, nenhum país consegue ter bom desempenho conjunto, pois, em geral, o bom desempenho social se dá as custas do mal desempenho ambiental.

Indubitavelmente, indica o relatório, o mundo está falhando em garantir que as crianças tenham um planeta habitável. As crianças nos maiores países emissores de carbono são mais saudáveis, enquanto as que têm pegadas ambientais minúsculas sofrem duas vezes com problemas de saúde e com a crise climática. Os países não estão conseguindo proteger a saúde das crianças e seu futuro da intensificação da degradação ecológica, das mudanças climáticas e das práticas de marketing exploradoras.

O relatório inclui um índice de 180 países que compara dados sobre sobrevivência, bem-estar, saúde, educação e nutrição; bem como a sustentabilidade, com um proxy para emissões de gases de efeito estufa, e equidade ou diferenças de renda.

Ou seja, enquanto os países mais pobres precisam garantir os direitos para a capacidade de seus filhos viverem vidas saudáveis, as emissões excessivas de carbono – desproporcionalmente dos países mais ricos – ameaçam o futuro de todas as crianças. Os jovens que vivem nos países mais pobres estão enfrentando o impacto de uma mudança climática, apesar de terem uma pequena pegada de carbono.

A situação é extremamente grave nos países de baixa renda, pois as crianças que já enfrentam enormes desafios à sua saúde e ao bem-estar, tendem a ter maiores desvantagens devido à crise climática. O desafio de garantir ganhos sustentáveis em saúde e desenvolvimento infantil requer uma redução geral dos gases de efeito estufa, mas os grandes emissores de carbono precisam reduzi suas emissões de forma mais rápida para que todas as crianças do mundo prosperem.

O relatório também diz que as crianças estão em risco em função do marketing prejudicial, pois as evidências sugerem que as crianças em alguns países veem até 30.000 anúncios apenas na televisão em um único ano, o que requer autorregulação da indústria do marketing.

O relatório ainda considera que se o aquecimento global exceder 4o C até o ano 2100, de acordo com as projeções mais recentes, isso levaria a consequências devastadoras para a saúde das atuais crianças e das crianças que ainda vão nascer, devido ao aumento dos níveis dos oceanos, ondas de calor, proliferação de doenças como desnutrição, malária, dengue (e outras como o Covid-19), além dos eventos climáticos extremos.


artigo publicado por EcoDebate, 06-03-2020.

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