segunda-feira, 2 de setembro de 2019

OS MASCARADOS

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Escrevo desde antes de aprender a ler. Acho que com todo mundo é assim, a gente começa rabiscando paredes com giz de cera e acaba digitando mensagens cifradas no Twitter e no Facebook.
Em mim, a escrita criou raízes que se entranharam no meu coração e na minha vida. Escrever é minha terapia, uma alternativa à loucura. Escrevo para sobreviver (não economicamente), apesar de saber que as pessoas podem viver, e muito bem, sem ler o que escrevo.
Imaginando, talvez, que estudando e conhecendo muitas letras, poderia ajuntá-las para formar palavras, frases, parágrafos, páginas, crônicas e livros. Lá, nos labirintos do aprendizado da palavra escrita, uma das disciplinas que mais apreciei foi Etimologia. A Etimologia nos ajuda a compreender mais que o significado das palavras, revela sua alma, seu coração, sua gênese e sua história, levando ao sentido que elas encarnam e exprimem.
Palavras são entidades mágicas e algumas ganham vida própria, ao se misturarem com a própria vida.
A Etimologia é o húmus de onde nascem e crescem as palavras. A língua, claro, é algo dinâmico, as palavras mudam de sentido com as mudanças de tempo e cultura, mas nunca se separam totalmente da sua fonte original.
Disse tudo isso como preâmbulo para compartilhar com vocês a etimologia de uma palavra que me veio à lembrança, diante de acontecimentos recentes, destacados na mídia dessa terra brasilis. A palavra é isonomia.
No Congresso Nacional, via voto secreto, suas excelências estão tentando salvar alguma coisa do pau de galinheiro em que se tornou a imagem do Legislativo.
No Rio, manifestantes mascarados foram detidos e o Tribunal de Justiça baixa norma que proíbe o uso de máscaras nas manifestações. Na Bahia, as autoridades querem impedir o bloqueio de ruas e rodovias, durante protestos, para garantir o direito de ir e vir dos cidadãos.
Concordo com tudo; sou absolutamente contrário ao anonimato que gera violência, vandalismo, acho perfeito que se busque garantir direitos que conquistamos a duríssimas penas, mas invoco, aqui, outro direito inalienável das sociedades organizadas de forma civilizada: a isonomia.
Valei-me, Etimologia!
A palavra "isonomia" vem do grego iso = igual + nomos = lei e significa, literalmente, lei que iguala, que estabelece a justiça mediante a igualdade de direitos a todos, usando os mesmos critérios. Tem como sinônimos, equidade, justiça, igualdade e, como antônimos, desigualdade e injustiça.
O argumento das autoridades é que, por trás das máscaras, podem se esconder criminosos, vândalos, bandidos de todas e das piores espécies. Há lógica nisso e as imagens dos atos de violência e vandalismo exibidas à exaustão confirmam o receio.
Sejam proibidas, pois, as máscaras, banidos os mascarados. Mas, coerentes com o princípio da isonomia, proíbam-se, sim, TODAS as máscaras e sejam banidos para sempre TODOS os mascarados!

O que é o voto secreto, senão uma máscara? E as promessas eleitorais? E os programas dos partidos? E as legendas de aluguel? E os conchavos da base aliada e a falsa e conveniente indignação da oposição alienada? E as togas de juízes comprados (ou vendidos?)?
Quanto vandalismo pode se esconder por trás dos discursos e dos silêncios de autoridades e excelências engravatadas?
Quanta violência pode haver numa canetada, numa emenda ao orçamento, numa votação em fim de mandato?
Ah, pobre grande país, reduzido a esse patético desfile de máscaras ao qual o povo assiste, da geral, exercitando seu parco "direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval" e hoje se chama programa eleitoral.
Vai passar?
Estamos condenados a ver, de dois em dois anos, passar o bloco dos napoleões retintos e os pigmeus do bulevar (Arrudas)?
Ah, meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar, a evolução da liberdade, até o dia clarear...
Clareia, dia! Liberdade, abre as asas sobre nós! É 7 de setembro e as urnas vêm logo aí.
Chega de máscaras! Chega de mascarados!

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