terça-feira, 24 de setembro de 2019

NÃO É UM SONHO É UM RUMO.

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Em 2018, 376 presidiários, que estavam sob a tutela do Estado, foram executados nas cadeias brasileiras. Criamos o caixa dois da pena de morte.

A frase do governador do Amazonas; "ali não tinha nenhum santo", com certeza, deve ter recebido velada ou declarada aprovação de muita gente. Afinal, eram bandidos. Pena que não sejamos tão rígidos com os fabricantes de bandidos. Nossa indignação tem que alcançar o andar de cima, avaliando de forma responsável e crítica as palavras, atos e omissões das nossas ‘otoridades’ constituídas. Afinal, a mesma frase de sua excelência poderia ser usada em relação a muitas casas legislativas do país, em palácios governamentais e tribunais de todas as instâncias. Se aplicaria, igualmente, às salas de diretoria de grandes empresas, empreiteiras e bancos ou à mesa de jantar em que nos sentamos.

Realmente, nenhum de nós é santo... (ainda que fosse preciso, aqui, rever nosso conceito de santidade...)

Não estou propondo que sejamos tolerantes com o crime. Quem já passou pela experiência de ser vítima de um assalto ou outro tipo de violência, sente, claro, uma justa revolta, acrescida de impotência e raiva. Mas esses sentimentos não nos trarão soluções. É preciso reafirmar o desejo de Justiça. É a ela que devemos buscar, não uma vingança pessoal ou social.

E aos que pedem penas mais duras, convido a refletir: quer punição mais dura e cruel que ser colocado em uma cadeia no Brasil, que não seja em Curitiba (ou mesmo em Curitiba)?

Diante desse quadro trágico e doloroso, penso que há um componente que, se considerado, pode ajudar nossa esperança. Refiro-me à indignação e repugnância que tais atos despertam. Aos poucos, vamos percebendo a diferença entre o “comum” e o “normal”.

É comum vermos estampadas nas manchetes notícias de tragédias anônimas ou universais, como um atentado, seja em Berlim ou Bagdá, Istambul ou Paris. Mas temos visto crescer a percepção de que tais atos nunca poderão ser considerados “normais”. E já foi assim.

Na história das civilizações é comum encontrarmos relatos de massacres de comunidades inteiras justificados pela frase “guerra é guerra”. A Bíblia está cheia de narrativas em que os vencidos eram passados a fio de espada. No entanto, devagarinho, engolindo, às vezes, nossos mais primitivos instintos e sentimentos, evoluímos.

Haveria, hoje, clima para aceitar que uma potência despejasse uma bomba nuclear sobre uma cidade dizimando sua população inteira? Há 70 anos os Estados Unidos fizeram isso, duas vezes, contra o Japão.

Há 50 anos o presidente Obama dos mesmos Estados Unidos não poderia se sentar ao lado de um homem branco, num ônibus, em seu país, por causa da cor da sua pele.

A guerra continua sendo guerra, o racismo está aí, assim como a homofobia e todos os preconceitos, mas as atrocidades cometidas em seu nome despertam, cada vez mais, um irreprimível sentimento de rejeição.

A meu ver, estamos nos movendo, ainda que lenta e penosamente, na direção de um mundo melhor.

Calma, não sou ingênuo ou alienado. Não é possível ignorar os absurdos que nos rodeiam e invadem. Minha esperança está ancorada, na verdade, à percepção de um movimento maior na direção de um marco civilizatório mais avançado. E ele não se dá sem tropeços e retrocessos.

A aparente guinada mundial em direção a um pensamento político identificado com a direita mais patética e grotesca, cujo símbolo maior é a eleição de Donald Trump, é um exemplo que, a meu ver, deve ser creditado muito mais à incompetência e até uma certa arrogância das chamadas forças progressistas, que à escolha de um modelo político. É o que vimos, também, aqui no Brasil.

Quando a esperança venceu o medo, em 2003, tivemos a chance de fazer política de um jeito diferente. Fomos cooptados, seduzidos e devorados por um sistema que se reinventa inspirado na máxima de que, de vez em quando, é preciso mudar alguma coisa para não mudar coisa nenhuma...

Mas as marcas, o sabor e o desejo de esperança ficam, em especial no coração de quem entende que somos herdeiros de uma utopia que não é um sonho impossível, mas um rumo.

É para lá que vou em 2020.

Vem comigo?

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