domingo, 22 de setembro de 2019

O GRITO DOS EXCLUÍDOS

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“A vida em primeiro lugar” continua sendo o horizonte que deu sentido ao tema fundamental do 25º grito dos excluídos que aconteceu em todo o Brasil, a 07 de setembro. Nesse ano, esse grito em favor da Vida se concretiza em uma denúncia que partiu do papa Francisco, ao dizer aos movimentos sociais: Esse sistema mata!

Lutamos por justiça, direitos e liberdade”. A intenção dos que coordenam nacionalmente o Grito dos Excluídos é que nesse 25º ano se possa:

1º - resgatar o projeto que deu origem e sentido ao Grito dos Excluídos.

2º - apontar caminhos a seguir nesse momento atual, tão difícil para o nosso país.

Falar em grito é optar por comunicação. É preciso reavaliar quem grita e para quem se grita. É preciso de fato dar voz e vez aos mais pobres e excluídos. Infelizmente grande parte de nosso povo pobre nem tem consciência de ser excluído e não se interessa por gritar. Por isso, tão importante quanto o Grito que se realiza a cada 07 de setembro, é o processo de formação e discussão com as bases que antecede o grito e que dura praticamente o ano inteiro. Significa dialogar com os movimentos sociais e através deles escutar as realidades que precisam ser denunciadas no Grito. E não basta tomar consciência delas. É preciso saber como lhes dar voz e fazê-las participar ativamente do Grito.

Evidentemente, quando se fez o primeiro grito dos excluídos no ano de 1995 e os dias atuais, o Brasil mudou muito. É preciso perceber essas mudanças para ver em que devemos mudar. Os/as excluídos/as de hoje não são mais apenas os trabalhadores rurais e urbanos. Desde 1995 para cá, a massa de desempregados aumentou muito. E há ainda muitos excluídos pela cor de sua pele. Outros/as são excluídos/as por sua orientação sexual. Nesse ano, em várias regiões do Brasil, povos indígenas estão manifestando presença e gritando como vítimas de profunda exclusão social e humana.

Ao grito dos excluídos humanos, temos de expressar o grito incontido e mudo da mãe Terra agredida. Nesses dias, choramos a destruição progressiva e escandalosa da Amazônia. E não basta chorar. Apesar do papa Francisco ter proposto um Sínodo de bispos católicos do mundo inteiro para tratar da Amazônia, no próprio Brasil, muitos bispos e dioceses continuam alheios ao que está acontecendo. Quando se fala em “Vida em primeiro lugar”, até agora, muitos pastores católicos e grupos de Igreja se interessam apenas pela vida uterina e fazem passeatas pela vida contra o aborto. É preciso integrar no Grito dos Excluídos a voz dos povos da Amazônia e todos os seres vivos ameaçados pelas queimadas, pelo agronegócio e pelas mineradoras que destroem a região. Que esse Grito dos Excluídos seja o grito da terra e da natureza (criação de Deus) que, como diz o apóstolo Paulo, “geme e sofre como em dores de parto e conosco espera a libertação integral de nossas vidas”.

Atualmente há certo consenso de que a concentração e a caminhada do Grito não podem mais ter o estilo único de comício político. A palavra deve ir além do discurso e tomar formas diferentes de arte, gestos e música. Precisa da participação de grupos artísticos, de profissionais do teatro, cantores/as e principalmente garantir um maior diálogo com a juventude, principalmente juventude de periferia. Ainda hoje, no Brasil, é uma tragédia o número de jovens de periferia, principalmente negros, assassinados impunemente.

O projeto do Grito é de fato dar voz e vez a essas pessoas e esses grupos excluídos da sociedade. E ao possibilitar que gritem, que possam estar mais organizados em sua mobilização e saibam exatamente não apenas a situação que estão denunciando, mas também e principalmente, a organização social a que aspiram e desejam.

É essa a proposta do evangelho que mostra Jesus inserido na realidade do povo sofrido. Até hoje, ecoa a palavra do evangelho que afirma sobre Jesus que ele “tinha compaixão e vivia a solidariedade com o povo pobre porque eram como ovelhas sem pastor”.

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