terça-feira, 3 de setembro de 2019

NOTÍCIA PASTEURIZADA!

Resultado de imagem para pasteurização do leite

Voltando ao tema Meios de Comunicação Social, fiz, algum tempo atrás, uma experiência interessante; gravei os telejornais apresentados num mesmo dia pelas quatro principais redes de TV: Globo, Record, Band e SBT e depois vi os quatro, de enfiada. Haja paciência.
Com pouquíssima variação, repetiam-se quase que as mesmas palavras e imagens, confirmando o que já disse aqui, em outra crônica: notícia, hoje, é uma mercadoria que se pode vender e comprar.

Com a facilidade das comunicações on line, em tempo real, as chamadas “Agências Internacionais”, preparam blocos prontos que são adquiridos de maneira avulsa ou através de assinatura. O pacote chega prontinho às redações. É só fatiar e colocar no ar.
Assim, a mesma imagem, e às vezes o mesmo texto que assisto, leio ou ouço aqui, no Brasil, é transmitido aos quatro cantos do mundo, num poderoso, avassalador e pasteurizante processo de formação de opinião que não conhece ou respeita fronteiras, culturas, valores e princípios. O que vale é o espetáculo da notícia. Por isso, o termo pasteurização torna-se bem adequado.

Quando fui com meus amigos para o meio Rural, em comunidades do interior dessa região, uma das coisas que mais chamou a atenção dos meus amigos e amigas, a turma urbana, era o processo de coleta e distribuição do leite.
Em cada sítio ou pequena fazenda, feita a ordenha, o latão de leite era colocado à margem da estrada, em geral ao lado da porteira por onde passa o caminhão que recolhe tudo e leva para a usina da cooperativa. Meus amigos ficavam intrigados. O leite fica ali, à beira da estrada, sem ninguém pra tomar conta, vigiar, ninguém pra conferir? É, na roça ainda é assim...
O caminhão percorre toda a zona rural de determinada região e recolhe os muitos galões, de muitos e diferentes leites, de muitas e diferentes vacas: leite da Mimosa, da Formosa, da Malhada, da Princesa. Na usina, são todos misturados e aí acontece a tal da pasteurização e homogeneização.
Segundo o “São Google”, o processo de pasteurização foi desenvolvido pelo cientista francês Louis Pasteur (1822-1895). Nele, o leite é aquecido à alta temperatura e logo em seguida submetido a um resfriamento brusco. A variação rápida mata os germes e bactérias.
Daí, inclusive, me veio a ideia de criar uma receita para gripes e resfriados em geral. O doente deve preparar um chá, composto por um dente de alho, duas colheres de mel, quatro folhas de hortelã, um limão cortado em cruz, ferve tudo por 10 minutos em 500 ml de água, depois toma, com Aspirina, Paracetamol ou Dipirona. Na sequência, corre para debaixo de um cobertor bem felpudo e espera começar o suadouro. Quando o suor estiver pingando, corre à cozinha, tira do freezer uma garrafa de Stella Artois estupidamente gelada, reza uma Ave Maria e bebe.
O micróbio da gripe não está esperando a cerveja. Morre de susto ou de choque térmico. É batata!

A pasteurização, voltando a ela, além de eliminar os agentes causadores de doenças, permite também que os diversos leites possam ser igualados, homogeneizados e conservados por um longo tempo.

Pois é... notícias também podem ser pasteurizadas e homogeneizadas. Assim como o leite, que vem de muitas fontes, as notícias são, também, recolhidas “à beira da estrada dos acontecimentos”, engarrafadas e levadas à usina das redações onde são misturadas, aquecidas e resfriadas a gosto do dono do jornal, pasteurizadas, homogeneizadas e redistribuídas.

E o que temos, então? A morte do menino Joaquim misturada e diluída nos gols da rodada; a subida do dólar fervida junto com a queda do guindaste, o helicóptero parlamentar cheio de cocaína resfriado pela imagem das crianças sem esperança. As denúncias de corrupção acabam sendo leite das mesmas tetas e, ao final, tudo vira uma coisa só, girando na autoclave do noticiário diário.

E, não se esqueça, se o processo de pasteurização permite a conservação por longos períodos, notícias armazenadas podem ser requentadas e novamente servidas, ao gosto e necessidade do freguês ou interesse do vendedor...
Notícias podem ser servidas e engolidas, como leite. Misturadas, frescas, requentadas, adulteradas, camufladas por outros produtos que lhes dão um sabor ou aparência que não tem em sua origem.

É a política do café com leite, notícia com espetáculo. Leite com achocolatado, manchete com merchandising. Leite com conhaque, notícia com mentira patrocinada. Leite com creme, notícias com agrado para os amigos...

É... é preciso ter, dentro de cada um de nós, um sistema de filtragem e controle de qualidade que possa submeter a notícia a um “INMETRO” pessoal, antes de assistir ao Jornal Nacional, ler a Veja, ouvir o noticiário da gaúcha, na CBN, na Band News, ler as manchetes da Folha, do Globo e  Zero Hora..
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Pensem nisso, enquanto lhes digo: até amanhã.

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