Duvida?
Se você é capaz de lembrar o nome do deputado federal ou do senador no qual votou nas últimas eleições, pergunte a si mesmo: ele poderia se apresentar de cara limpa diante dos manifestantes que começam a enchem as ruas por todo o país?
Adianto a resposta; NÃO! Seria rechaçado e expulso, se desse sorte.
Adianto a resposta; NÃO! Seria rechaçado e expulso, se desse sorte.
Aliás, uma das interrogações que pairam sobre esse momento que vivemos é: onde andam os nossos políticos? Cadê as nossas "lideranças"?
Repito o que já disse, devem estar reunidos com seus marqueteiros e aspones, sussurrando a meia voz: "Imagina na Copa...".
Um dos slogans cantados pela multidão, Brasil a fora , que mais me chamou a atenção foi: "o povo, sem partido, jamais será vencido!".
Há um cansaço arraigado, uma descrença profunda nos políticos e partidos hoje estabelecidos, o que traz à tona um grande perigo; imaginar que podemos avançar política e socialmente abrindo mão da democracia representativa, por maior que seja a sua crise.
Alguns amigos, em conversas que temos mantido, expressam receio de que a situação, seguindo sem controle das autoridades, pode gerar o pretexto para que se pense numa guinada à direita, a modo de 1964. Em nome da lei da e da ordem, contra a baderna e a desordem, uma intervenção militar, um outro golpe?
Aviso de quem já sofreu com essa experiência: cuidado, meu amigo, na época dos militares no poder a corrupção e a bandalheira só eram menores que a censura. Doía tanto quanto dói hoje, só que ninguém podia reclamar. E, detalhe, as balas não eram de borracha...
Um golpe, uma intervenção militar não seria uma solução e nem creio que haja clima para tanto, mas sei que a ideia é atraente para muita gente.
O clima de baderna me faz lembrar um episódio acontecido diante das barricadas do Quartier Latin, na Paris de 1968, quando Lacan disse aos estudantes: "Como revolucionários, vocês são histéricos clamando por um novo chefe. E conseguirão".
Será que as multidões hoje, nas ruas do Brasil, expressam tão somente o histérico desejo de um chefe, um líder, um guia, um salvador da pátria?
Já tivemos muitos, e o último, Bolsonaro, sepultou sua biografia ao homenagear Ustra e falar bobagens.
Antes dele, tivemos um certo Fernando Collor, de triste, presente e atuante memória.
Não, salvadores da pátria, nunca mais...
Volto, então, à pergunta inicial: se nenhum dos políticos dos quais me lembro teria cara, coragem e dignidade para participar de uma manifestação nas ruas da minha cidade, se a alternativa de intervenção militar seria um mergulho nas trevas, qual a saída?
Não há saída, há caminho e construção. E, para mim, o trajeto é bem claro: começa na minha casa, passa por uma urna eleitoral e caminha firme para a construção, enfim, de um país do qual a gente possa, de verdade, se orgulhar.
Depois que a poeira do gás lacrimogêneo baixar, o que vai restar é um país pra gente reconstruir. Construção demora, mas é preciso começar.
Por isso, decidi minha primeira demão: nas próximas eleições não votarei em ninguém que já tenha sido eleito e cumprido um mandato. REELEIÇÃO ZERO!!! De quem quer que seja.
Não é para passar o país a limpo? Então radicalizei. JÁ TE VI E NÃO GOSTEI!!!
Qual um moderno Diógenes, vou sair à rua com o título eleitoral à mão, meu senso crítico a modo de lanterna, em busca de gente nova, ainda não contaminada. Cansei dessa história de algumas maçãs podres no cesto. Este cesto é que está podre! Vou trocar logo o cesto todo com tudo o que ele contém!
Já pensou, Brasília, as Assembléias Legislativas dos Estados, os palácios de governo amanhecerem no dia 1° de janeiro com uma longa fila de caminhões levando a mudança de TODOS os políticos que há anos ali instalaram suas bundas parlamentares e
executivas, produzindo tudo isso contra o qual estamos protestando nas ruas? Ah, dirão muitos, isso é impossível.
Até alguns dias atrás havia tanta coisa impossível...
Hoje sei, utopia não é um sonho impossível. É rumo. É pra lá que a passeata vai. Quando vai chegar? Não sei. Mas vou junto.
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