terça-feira, 7 de julho de 2020

PALAVRAS QUE DEVOLVEM A ESPERANÇA.


A esperança, a virtude menor, mas a mais forte - Vatican News

O mundo acompanha, pelos meios de comunicação, a dor do luto sofrida, anonimamente, por uma grande multidão, revelando, de maneira desconcertante, o sofrimento humano, provocado pela pandemia da covid-19. Muitas famílias sequer tiveram a oportunidade para se despedir de seus entes queridos. Uma dor sem bálsamo, um peso necessário ante as exigências para a prevenção de novas contaminações. Há, pois, um clamor silencioso, mas ensurdecedor, que vem do luto dessas famílias. Esse clamor deve sensibilizar a sociedade, para que seja adotada a lógica da compaixão solidária, capaz de aliviar a dor dos enlutados e de promover a aprendizagem de um novo jeito de viver.

É preocupante a indiferença em relação ao luto vivido pelo outro. Essa indiferença, entre tantas outras, aumenta ainda mais o risco de um colapso humanitário. A insensibilidade para a dor do outro, que é irmão, impede a construção de um tempo novo para a humanidade, pois leva à banalização da vida – um dom precioso. Sua preciosidade deve ser tratada com ternura, nobre reverência e sempre a partir de gestos solidários entre as pessoas. É nessa perspectiva da solidariedade que se deve, inclusive, lidar com as muitas perdas que fazem parte da vida. No caminho oposto - o da indiferença - é ainda mais difícil passar pelo luto, não somente aquele provocado pela morte, mas também pelo fim de ciclos. Cegamente, muitas vezes, as pessoas não aceitam nem a perda daquilo que, na verdade, constitui oferta para o bem de todos. Em vez da consolação, essas pessoas cultivam a revolta.

O luto é inevitável nas circunstâncias da vida humana, mas pesa muito mais aquele que se origina nas irresponsabilidades, a exemplo do que é imposto pela atual pandemia. O luto torna-se especialmente pesado quando não é vivido adequadamente, pois não se alcança a sua fecundidade dolorosa, a força de redenção que surge nos limites próprios da condição humana. Não se pode tratar o luto com indiferença. Trata-se de experiência a ser vivida considerando a singularidade de sua dor, a consolação que se recebe das pessoas próximas, a oportunidade para aprendizados e qualificação da própria existência, alcançando sentidos profundos sobre o dom da vida.

Assim é o luto cristão, caminho experiencial terapêutico que se distingue por estar fundamentado na esperança. Essa experiência no contexto da fé cristã é convite a vislumbrar, para além da separação terrena, o reencontro com Deus. Os cristãos consideram seus falecidos não como pobres mortos - eles são os que nos precedem e nos esperam diante de Deus. A morte provoca uma separação muitas vezes desconcertante. Há os que ficam extremamente desconsolados e até deixam de enxergar sentido na vida. O luto cristão se assenta na certeza da vida pós-morte. Assim, reorienta o viver de enlutados, ajuda a permear o coração com recordações consoladoras dos que morreram. E, mesmo na impossibilidade do contato, na invisibilidade, continua forte a presença de quem parte, ajudando a superar tristezas e angústias dos que ficam.

Neste contexto contemporâneo de tantas feridas, de corações tomados pela dor, é urgente que cada pessoa busque ser presença solidária, compartilhando palavras que devolvam a esperança. Trata-se de cumprir missão paraclética, isto é, consoladora, responsabilidade de todos – uns cuidando dos outros, unidos, para levar luz aos momentos de luto e aliviar a dor humana.

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