quinta-feira, 23 de julho de 2020

FALANDO DE AMOR.

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Falando de Amor... (@adsvdinha) | Twitter

Todos os caminhos religiosos e espirituais conferem centralidade ao amor. Nem precisamos referir-nos a Jesus para quem o amor é tudo ou ao texto de incomparável beleza e verdade de São Paulo na primeira Carta aos Coríntios, no capítulo 13:”o amor nunca acabará..no presente permanecem estas três: a fé, a esperança e o amor, porém a mais excelente é o amor.

“Grande coisa é o amor. É um bem verdadeiramente inestimável que por si só torna suave o que é penoso e suporta sereno toda a adversidade. Porque leva a carga sem sentir o peso, torna o amargo doce e saboroso…O amor deseja ser livre e isento de amarras que lhe impedem amar com inteireza. Nada mais doce do que o amor, nada mais forte, nada mais sublime, nada mais profundo, nada mais delicioso, nada mais perfeito ou melhor no céu e na terra…Quem ama, voa, corre, vive alegre, sente-se libertado de todas as amarras. Dá tudo para todos e possui tudo em todas as coisas, porque para além de todas as coisas, descansa no Sumo Bem do qual se derivam e procedem todos os bens. Não olha para as dádivas, mas eleva-se acima de todos os bens até Àquele que os concede. O amor muitas vezes não conhece limites pois seu fogo interior supera toda a medida.De tudo é capaz e realiza coisas que quem não ama não compreende, quem não ama se enfraquece e acaba caindo. O amor vigia sempre e até dorme sem dormir…Só quem ama compreende o amor”.

Em momentos dolorosos em que vivemos e sofremos, precisamos resgatar o mais importante e que verdadeiramente nos humaniza: o simples amor. Quase todos nos sentimos carentes dele. Mas sem ele nada de grande, de memorável e de heroico foi construído na história. É o amor que faz com que tantos médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras e todos os que trabalham contra o Covid-19, sacrifiquem suas vidas para salvar vidas, sendo que muitos deles por isso são vitimados. Eles nos confirmam a excelência do amor incondicional.

Testemunhos das ciências da vida, da arte e da poesia corroboram com o que proclamam as religiões.

Comoventes são as palavras do genial pintor Vincent van Goog, em carta ao seu irmão Théo:”É preciso amar para trabalhar e para se tornar um artista, um artista que procura colocar sentimento em sua obra: é preciso primeiro sentir-se a si próprio e viver com seu coração..É o amor que qualifica nosso sentimento de dever e define claramente nosso papel… o amor é a mais poderosa de todas as forças”(,

Consideremos o que testemunham os estudos sobre o processo cosmogênico e da nova biologia. Mais e mais fica claro que o amor é um dado objetivo da realidade global e cósmica, um evento bem-aventurado do próprio ser das coisas, nas quais nós estamos incluídos.

“O amor pertence à essência de nossa humanidade. O amor, esse impulso que nos faz ter cuidado com o outro foi o que permitiu a nossa sobrevivência e sucesso no planeta. É esse impulso, creio, que salvaguardará nosso futuro…Tão fundamental é o amor à natureza humana que estou certo de que a capacidade de amar está inscrita em nosso DNA; um São Paulo secular diria que o amor é a maior dádiva de nossos genes à humanidade”,

Os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela mostraram a presença cósmica do amor. Os seres, mesmo os mais originários como os topquarks, dizem eles, se relacionam e interagem entre eles espontaneamente, por pura gratuidade e alegria de conviver. Tal relação não responde a uma necessidade de sobrevivência. Ela se instaura por um impulso de criar laços novos, pela afinidade que emerge espontaneamente e que produz o deleite. É o advento do amor.

Desta forma, a força do amor atravessa todos os estágios da evolução e enlaça todos os seres dando-lhes irradiação e beleza.

O amor universal realiza o que a mística sempre intuiu acerca da gratuidade da beleza:“a rosa não tem por quê. Ela floresce por florescer. Ela não cuida dela mesma nem se preocupa se a admiram ou não”. Assim o amor, como a flor, ama por amar e floresce como fruto de uma relação livre, como entre duas pessoas enamoradas e apaixonadas.

Pelo fato de sermos humanos e autoconscientes, podemos fazer do amor um projeto pessoal e civilizatório: vive-lo conscientemente, criar condições para que a amorização aconteça entre os seres humanos e com todos os demais seres da natureza,até com alguma estrela do universo.

O amor é urgente no Brasil e no mundo. Com realismo nos deixou Paulo Freire, tão caluniado pelos propulsores do ódio e da ignorância, esta missão: forjar uma sociedade onde não seja tão difícil o amor. Educar, dizia ele, é um ato de amor.

Digamo-lo com todas as palavras: o sistema mundial capitalista e neoliberal não ama as pessoas. Ele ama o dinheiro e os bens materiais; ele ama a força de trabalho do operário, seus músculos, seu saber, sua produção e sua capacidade de consumir. Mas ele não ama gratuitamente as pessoas como pessoas, portadoras de dignidade e de valor .O que nos está salvando neste momento de intrusão do Covid-19 são exatamente os valores que o capitalismo nega.

Pregar o amor e dizer: “amemo-nos uns aos outros como nós mesmos nos amamos”, é revolucionário. É ser anti-cultura dominante e contra o ódio imperante.

Há de se fazer do amor aquilo que o grande florentino, Dante Alignieri, escreveu no final de cada cântico da Divina Comédia: “o amor que move o céu e todas as estrelas”; e eu acrescentaria, amor que move nossas vidas, amor que é o nome sacrossanto do Ser que faz ser tudo o que é e que é a Energia sagrada que faz pulsar de amor os nossos corações.

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