terça-feira, 1 de novembro de 2011

ABRIR ESPAÇO PARA O NOVO

A concepção de morte em nossa civilização parece mudar de acordo com o período histórico. Ao longo do tempo, nota-se que deixamos de olhar para a morte como parte natural da vida. Perdas normativas têm sido vividas como um fracasso pessoal.

A morte e todo o processo de luto que ela envolve parecem estar na contramão de nossa sociedade pós-moderna. Atualmente, vivemos no gerúndio: fazendo, produzindo, consumindo, nos divertindo... e o processo de luto promove uma parada em nossas vidas para ressignificar quem somos, quem amamos e perdemos, nosso repertório de crenças e mecanismos de enfrentamento às adversidades. O processo de luto nada mais é que um exercício de alma, como afirma Rubem Alves: “A morte ilumina somente o que é essencial”. Quanto mais distantes estivermos do que é essencial em nossas vidas, tanto mais tentaremos nos distanciar da morte.
Em tempos de “relações líquidas”, o processo de luto nos conecta com a capacidade de sentir. No estilhaço de nossos corações sentimos a dor de amar e perder, o custo dos nossos compromissos, como afirma o psiquiatra Colin Parkes. E em meio as nossas dores vamos nos reaproximando do nosso mundo de significados frente a tudo. Falamos “ nossas dores e nosso mundo” porque o luto sempre será um processo individualizado. Primeiro porque lemos as situações de modos diferentes, segundo porque o significado que a pessoa perdida tem para mim é diferente do significado para outra pessoa, cada um perderá o seu amado, mesmo que sejam da mesma família.
Por quanto tempo sentiremos as mudanças bio-psico-sociais e espirituais promovidas pelo processo de luto? Do ponto de vista psicológico, o luto chega ao fim quando se abre espaço em nossas vidas para o novo: novas pessoas, novos projetos e sonhos. Reacomoda-se no coração quem perdemos de modo tão seguro, que não sentiremos medo de perdê-lo dentro de nós se seguirmos em frente. Sentir, revisitar o passado, se adaptar às mudanças, ressignificar a vida e seguir.... Segue-se para o novo, assim como segue-se elaborando a perda, possivelmente ao longo de toda a vida, principalmente em datas especiais. É importante que esses movimentos possam ser respeitosos e oscilantes: oscilar entre o mergulho na dor e oxigenar o corpo e a mente.

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