sábado, 15 de agosto de 2020

AS NECESSÁRIAS TRANSIÇÕES III

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A transição econômica

Da economia linear para a economia circular

Outro ponto a colocar na ordem do dia no relançamento da economia pós-vírus é a transição da economia linear caracterizada pelo descartável para a economia circular. Não é possível continuar com o “usar e descartar” porque é um sistema ecologicamente insustentável: conduz, por um lado, ao esgotamento dos recursos e pelo outro à acumulação de enormes quantidades de resíduos, sempre nocivos. Sem nos alongarmos nesse ponto que deveria ter sido discutido nos últimos dias, queremos apenas ressaltar dois aspectos do problema.

O primeiro é que a coleta seletiva não é suficiente para o sucesso da economia circular; de fato, é necessário também intervir na fase de projeto para que os objetos que se destinam ao uso sejam facilmente desmontáveis, de forma a poder reciclar mais facilmente os elementos de cada componente. O segundo aspecto, por outro lado, é que a diferença fundamental entre economia linear e economia circular diz respeito à energia: a economia linear é movida por combustíveis fósseis, enquanto a economia circular usa energia solar e outras fontes de energia (eólica, hídrica) conectadas a ela.

Aqui está, então, a segunda transição, aquela da economia linear para a economia circular, não pode ocorrer se a transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis não for concluída.

O crescimento

No que diz respeito à economia, existe também um problema mais geral sobre o qual faremos apenas uma breve consideração.

A situação pré-vírus era caracterizada pela palavra crescimento, atrelada ao PIB. Nos planos de renascimento, está se voltando a falar sobre crescimento de maneira cada vez mais insistente. Tudo deve crescer porque tudo que cresce aumenta o PIB. Se considerarmos que o planeta, o único lugar onde podemos viver, tem recursos limitados, não deveria ser difícil entender que um crescimento sem limites de todas as produções é simplesmente impossível.

Portanto, não devemos simplesmente voltar ao crescimento, mas cada vez que alguém pronuncia a palavra crescimento devemos nos perguntar: é necessário? é possível? que consequências tem para a saúde do planeta? que consequências tem para a sociedade? Se o crescimento não respeita o meio ambiente e não reduz as desigualdades, que são os dois pontos fracos de nossa sociedade, aquele crescimento não é progresso e, portanto, não deve ser buscado. Exemplos: o crescimento na compra (aeronaves Tornado) ou na venda (navios militares para o Egito) de armas não deve ser buscado de forma alguma, assim como a extensão das autoestradas não deve ser favorecida em detrimento das ferrovias, porque a energia renovável será elétrica e, portanto, os transportes, em particular das mercadorias, terão de ocorrer principalmente por via férrea, não por estrada.

A Terra como limite

Há outro conceito importante a esclarecer quando se fala de energia. As energias renováveis primárias, aquelas do sol, do vento e da água, para serem úteis, devem ser convertidas em energias de uso final, ou seja, eletricidade. Para isso é necessário construir dispositivos e estruturas materiais (painéis fotovoltaicos, pás eólicas, barragens, etc.) utilizando os recursos minerais que a Terra pode fornecer. Mas na Terra existe o que existe, não o que gostaríamos que houvesse. Podemos usar como exemplo o neodímio, um elemento que talvez muitos não sabem nem o que é, mas que é muito importante para o bom funcionamento das pás eólicas. Na Itália não existe neodímio: está quase todo na China. Desse fato devemos tirar a lição que ninguém pode fazer tudo sozinho, todas as trocas comerciais são muito importantes para alcançar a sustentabilidade ecológica global.

Depois há outra lição a ser aprendida. Nosso limite de recursos é a Terra, a disponibilidade limitada e distribuição não uniforme dos recursos materiais de que precisamos. Degradar o planeta significa reduzir os recursos disponíveis. A escassez de materiais pode ser parcialmente sanada com a reciclagem (economia circular). Mas é muito provável que com as energias renováveis não seja possível produzir toda a energia que gostaríamos, para depois desperdiçá-la e, certamente, estaremos mais uma vez diante do problema da desigualdade entre as várias nações, com tudo o que isso acarreta.

Transição cultural

Do consumismo à sobriedade

Na tentativa de resolver, ou pelo menos mitigar, os problemas da relativa escassez de recursos materiais e das desigualdades, podemos nos pôr uma pergunta, sempre nos limitando ao tema da energia, mesmo que o raciocínio possa ser facilmente estendido a outros recursos.

A pergunta é: de quanta energia realmente precisamos? Sabemos bem que nos países ricos grande parte da energia é desperdiçada e, por outro lado, pesquisas e estatísticas revelam que o bem-estar das pessoas não é diretamente proporcional à energia que consomem.

Então, vamos ver alguns números. Cada cidadão estadunidense usa em média o equivalente a 12.000 watts de potência, o dobro de um cidadão europeu (6.000 watts). Pesquisas mostram que o bem-estar das pessoas nos Estados Unidos não é maior que o das pessoas na Europa. Não só isso, mas em 1960 os cidadãos europeus precisavam de 2.000 watts per capita para viver bem.

Com base nessas considerações, os cientistas suíços estimaram que 2.000 W representam uma quantidade suficiente de energia para viver confortavelmente e o governo suíço, portanto, propôs uma lei para reduzir o consumo de energia por pessoa para 2.000 W até 2050. Essa lei foi submetida a um referendo e aprovada pela maioria dos cidadãos suíços em 2017. Assim, é possível viver bem consumindo menos energia.

Devemos "fazer menos".

Nesse ponto, resta um problema sutil. Como se pode reduzir o consumo de energia quando estamos acostumado a desperdiçá-la? Quem estuda esse problema aponta duas estratégias: a primeira é agir sobre as coisas, ou seja, aumentar a eficiência energética de todos os equipamentos que utilizamos. Então: carros e lâmpadas que consomem menos, esquadrias que evitam que o calor escape das casas, etc.

A experiência demonstra, no entanto, que aumentar a eficiência das “coisas” muitas vezes não leva a uma redução substancial no consumo de energia por várias razões, entre as quais o chamado “efeito rebote”. Efetivamente, pode acontecer que um aumento da eficiência energética incentive uma maior utilização dos serviços energéticos. Por exemplo, quando uma pessoa substitui um carro velho por um menos poluente, muitas vezes acaba usando-o mais do que o antigo.

Se realmente se quer consumir menos energia para contribuir com a sustentabilidade ecológica e social, é preciso agir sobre as pessoas, antes que agir sobre as coisas. É necessário partir do conceito de suficiência e convencer, solicitar com gentileza (ver “O empurrão para a escolha certa”, de Richard Thaler) e, em casos extremos, obrigar as pessoas com leis e sanções, a reduzir o uso desnecessário de serviços energéticos.

Para economizar realmente energia, não basta "fazer com menos", é preciso "fazer menos": menos consumo de produtos inúteis, menor velocidade na autoestrada, menos viagens não estreitamente necessárias e assim por diante. E se a "coisa" que se usa, depois de ter adotado a estratégia da suficiência, for mais eficiente, se terá uma economia ainda maior: é "fazer menos (suficiência) com menos (eficiência)". Esses conceitos podem ser aplicados a qualquer recurso, pois todos os recursos da Terra são, mais ou menos, limitados.

qui está a terceira transição a ser implementada para alcançar a sustentabilidade (ecológica, social e econômica): do consumismo para a suficiência, ou melhor, para a sobriedade. Sem adotar estilos de vida inspirado na sobriedade, não será possível ir muito longe.

Conclusão

É claro que as três transições mencionadas acima requerem um forte empenho e grandes investimentos. Mas, enquanto isso, podemos começar pelas pequenas coisas, mas ainda assim significativas. Por exemplo:

– Eliminar os obstáculos às energias renováveis, permitindo que os consumidores se unam em comunidades, como já é o caso na Europa, para compartilhar a energia produzida a partir de fontes renováveis no condomínio ou no bairro;

– Eliminar subsídios e incentivos aos fósseis, transferindo-os para as energias renováveis;

– Desativar as 8 usinas a carvão, que o governo prometeu fazer até 2025, sem substituí-las por usinas a gás.

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