quinta-feira, 13 de agosto de 2020

AS NECESSÁRIAS TRANSIÇÕES II

 Noticias da tv brasileira: Animal Planet estreia A Terra Vista do ...



Tudo isso nos diz que devemos aproveitar a saída da pandemia como uma oportunidade para tentar remediar as crises ecológica e social, ou seja, corrigir nosso modelo de desenvolvimento e para nos direcionar ao imprescindível objetivo da sustentabilidade, ecológica e social. 

Não existem duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental que deve ser enfrentada com uma visão unitária dos problemas ecológicos e econômicos.

Para sair da crise ecológica e social, precisamos realizar três passos concretos para frente, em direção ao futuro: como nos lembram Greta e os outros jovens do Fridays for Future, é um dever que temos para com os nossos jovens. Os três passos que precisamos realizar são três transições para corrigir nosso modelo de desenvolvimento: a transição energética dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, a transição econômica da economia linear para a economia circular e, finalmente, a transição cultural do consumismo para a sobriedade.

A transição energética

Os combustíveis fósseis são muito cômodos de usar, mas há mais de 30 anos percebemos que seu uso causa dois problemas graves: a poluição, já mencionada, e as mudanças climáticas.

Hoje no mundo consumimos, a cada segundo que passa, e os segundos passam rápido, 250 toneladas de carvão, 1000 barris de petróleo e 105.000 metros cúbicos de gás metano produzindo, sempre a cada segundo, 1000 toneladas de dióxido de carbono, CO2. Esse gás, liberado na atmosfera, envolve o globo como um manto que permite que os raios do sol atinjam o solo, mas depois impede que o calor escape. O acúmulo de dióxido de carbono ao redor da Terra, portanto, provoca um efeito estufa que produz a mudança climática.

Em dezembro de 2015, após 25 anos de discussões, 196 países reunidos sob a égide da ONU firmaram um acordo, conhecido como Acordo de Paris, com o qual se reconhece na mudança climática o perigo mais grave para a humanidade. Como se sabe, a mudança climática provoca o derretimento do gelo, a elevação do nível do mar, o avanço da seca em muitas regiões do mundo, eventos climáticos violentos e, se não a determos, causará danos irreversíveis ao planeta.

Sob a égide da ONU, também há algum tempo se formou um painel de cientistas, o famoso IPCC, que estuda a tendência das mudanças climáticas e sugere aos políticos o que deve ser feito para detê-las. Na encíclica Laudato Sí', escrita com a consultoria de cientistas muito competentes, o Papa Francisco afirma vigorosamente que:

Os combustíveis fósseis devem ser substituídos sem demora, mas que a política e a indústria respondem lentamente, longe de estarem à altura dos desafios.

Abandonar o uso de combustíveis fósseis, dos quais obtemos grande parte (cerca de 80%) da energia que utilizamos, pode parecer um problema sem solução; a solução, ao contrário, existe: consiste em desenvolver e utilizar energias renováveis fornecidas pelo sol, pelo vento e pela chuva em vez de combustíveis fósseis. Essas energias não produzem CO2 nem poluição; além disso, fornecem diretamente energia elétrica, uma forma de energia muito mais eficiente do que o calor gerado pelos combustíveis fósseis.

Os cientistas demonstraram que não apenas essa transição pode ser feita, mas que, além de eliminar a poluição e conter as mudanças climáticas, é muito vantajosa por outros motivos. Estimativas aceitas de muitos economistas, incluindo o ganhador do Nobel J. Stiglitz, avaliam que as energias renováveis, com o mesmo capital investido, criam três vezes mais empregos do que as fontes fósseis, motivo pelo qual os investimentos nas energias renováveis também são os mais eficazes para o relançamento da economia.

Uma equipe da Universidade de Stanford fez uma pesquisa detalhada sobre os benefícios que a transição trará a vários países. No caso da Itália, o estudo afirma que a energia necessária pode ser obtida essencialmente de origem eólica, fotovoltaica e hidrelétrica, com um pequeno contributo geotérmico. Também estimou que não mais de 0,26% do território será ocupado para a construção das estruturas necessárias, que se criarão 138 mil empregos para a construção das usinas e outros 140 mil para a operação.

Os lobbies da obstrução

A transição energética dos combustíveis fósseis para às energias renováveis encontra, no entanto, forte obstrução por parte dos lobbies dos combustíveis fósseis (na Itália, pela ENI). De forma que estamos numa situação estranha onde o futuro, ou seja, as energias renováveis, já está presente, mas o passado, ou seja, os combustíveis fósseis, não quer passar. O passado não quer passar porque há enormes interesses em jogo, não apenas econômicos.

Como não há espaço para entrar em detalhes, basta lembrar que o CEO da ENI, nas inúmeras entrevistas concedidas a jornais ainda nas últimas semanas, insiste no fato que as energias renováveis ainda não estão maduras, então segundo ele, teremos que continuar por muitas décadas com os combustíveis fósseis.

Para desmentir essa fábula das energias renováveis não maduras, basta fazer uma simples comparação: a fotossíntese natural converte a energia solar em energia química com uma eficiência energética de 0,2%, enquanto o sistema fotovoltaico converte a energia solar em eletricidade com uma eficiência de 20%, ou seja, 100 vezes maior!

A isso podemos acrescentar outro número: atualmente os sistemas fotovoltaicos instalados no mundo geram uma quantidade de eletricidade igual à gerada por 170 usinas nucleares, sem produzir rejeitos radioativos e sem produzir gás carbônico.

Então, por favor, CEO da ENI, pare de dizer que as energias renováveis não estão maduras; em vez disso, perceba que a energia fotovoltaica é um formidável sucesso do engenho humano e uma inovação realmente grande que contribuirá a eliminar o uso dos combustíveis fósseis.

A Itália e a Europa, antes da pandemia, não se mostraram particularmente ativas na promoção da transição energética. O nosso grupo energiaperlitalia tem criticado com veemência o PNIEC (Plano Nacional Integrado Energia e Clima) porque, mesmo que contenha elementos positivos, está formulado para que a principal fonte de energia na Itália continue a ser os combustíveis fósseis não apenas em 2030, mas também até 2040. É evidente que houve forte pressão do lobby dos combustíveis fósseis na elaboração desse plano energético do governo.

O governo deve favorecer as energias renováveis

Agora as coisas, pelo menos no nível europeu, mudaram. Foi lançado um plano bem financiado, o Green Deal Europeu, que é uma estratégia articulada para zerar as emissões até 2050, reduzir a poluição, proteger o planeta e garantir que a transição energética seja socialmente justa e inclusiva. A Itália não pode perder essa oportunidade que, entre outras coisas, pode revelar as grandes potencialidades de nossa indústria manufatureira: fotovoltaicos, eólicos, sistemas de armazenamento da energia elétrica e tudo o que se relaciona com as energias renováveis se baseiam, de fato, nesse tipo de indústria, na qual somos mestres.

Vimos com satisfação nos últimos dias que foi apresentado um projeto para a construção de um parque eólico no Adriático ao largo da costa de Rimini: 59 pás com 125 metros de altura e capacidade para gerar 330 MW. Um excelente projeto, ao qual naturalmente se opõem os conservadores que não sabem ver a beleza das pás eólicas e aos quais, de toda forma, é preciso dizer que se não quiserem as energias renováveis terão que ficar com os combustíveis fósseis, com poluição e mudanças climáticas, ou viver no escuro. Nesse sentido, lembramos que hoje a energia eólica mundial abastece o mundo com uma quantidade de eletricidade igual à que seria gerada por 270 usinas nucleares.

Portanto, a sugestão de energia perlitalia é a seguinte: para relançar a economia e aumentar os empregos, o governo deve estimular e desenvolver a produção e o uso de energias renováveis. Na Europa deveríamos nos opor, como diz o secretário da ONU, a qualquer tentativa de que as ajudas pós-coronavírus sejam destinadas para indústrias e atividades poluidoras. Claro, teremos que fazer isso. 

Devemos lembrar que, segundo dados do Ministério, em 2018 os subsídios e incentivos a fontes de energia com impacto ambiental negativo (essencialmente os combustíveis fósseis) somavam 16,9 mil milhões, enquanto aqueles a favor de fontes com impacto ambiental favorável (ou seja, as energias renováveis) eram de 13,7 bilhões. Por isso, temos uma situação absurda em que os combustíveis fósseis, responsáveis por danos à saúde e por alterações climáticas, são até mais incentivados do que as energias renováveis que, pelo contrário, vão nos salvar desses desastres. Também consideramos que a Itália deve assumir um papel de liderança no Green Deal europeu, no mínimo porque temos muito mais sol do que os insuportáveis “países frugais”.
Continua amanhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário