sábado, 29 de fevereiro de 2020

SONHAR E LUTAR.


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 Convidamos a todos a sonharem juntos, embora haja quem permaneça entrincheirado nas resistências. Alguns fazem parte da Igreja, sem se dar conta da viragem civilizatória que está ocorrendo em todo o mundo. Dentro dessas transformações em curso uma situação é preocupante: o fenômeno de um cristianismo torto, que se expande e se mistura com projetos políticos de poder, numa perigosa simbiose de interesses político-partidários, que envolve discursos e práticas mais ligados às manipulações do que à espiritualidade capaz de gerar mudanças a partir dos valores do evangelho. Todo esse fenômeno religioso-cultural, no Brasil, é emoldurado e alimentado pela condição viciada da política, suas instituições enfraquecidas, suas lideranças incapazes de sinalizar e encontrar novos rumos. Nesse descompasso se inscreve a pouca maturidade político-civilizatória da sociedade brasileira que, facilmente, trata líderes políticos como se fossem ídolos do mundo do esporte.

O convite é um remédio – jamais uma alienação e menos ainda uma iconoclastia, na contramão de princípios irrenunciáveis da rica tradição  que tem marcado mundo afora, de modo positivo, há mais de dois mil anos, diferentes culturas, a partir de um diálogo que merece reverências e reconhecimentos. São incontestáveis a força e a riqueza da tradição cristã na confecção do tecido cultural brasileiro. Tecido que sofre, na contemporaneidade, com a perda de suas raízes e, consequentemente, corre o risco de um colapso, provocado por efervescências religiosas que parecem portar a bandeira do cristianismo, mas se misturam com projeto de poder político. Uma realidade que requer posicionamentos assertivos, incidentes. E o convite a sonhar, na sua exortação depois do Sínodo da Amazônia, “Querida Amazônia”, é indicação sábia e luminosa desse caminho que precisa ser percorrido. Sem trilhá-lo, poderá se chegar a uma situação irreversível de prejuízos, manipulações e tortuosidade religiosa.

Não é, absolutamente, hora de praticar resistências demolidoras internas figadais, injustas e comprovadamente por interpretações de fatos e atos a partir de critérios distanciados do evangelho, para promover a vida – dom frequentemente negociado por quem desconsidera o seu real valor - e pela consciente tarefa de não deixar a nação sucumbir-se na mistura entre religiosidade e política, interesses de poder em contraposição ao bem comum.

A sociedade brasileira está enterrada numa intrincada complexidade, agravada pelas colisões, pelo esvaziamento de uma diplomacia assentada em valores humanísticos. Isso atrasa e inviabiliza o encontro de respostas para os problemas atuais. Assiste-se a uma ameaçadora adesão aos interesses que colidem com o sonho social, o que retarda mais o surgimento de uma economia capaz de combater exclusões sociais perversas, eliminar dinâmicas consumistas e imediatistas que esfacelam as raízes culturais. 

Vencer resistências à aprendizagem das lições da ecologia integral é o único caminho para se conquistar a justiça. De maneira profética, é possível contribuir para livrar a sociedade brasileira de maiores e deletérios fracassos políticos, para conduzir o país rumo à novidade que todos almejam, com a luminosidade do que é antigo, mas, ao mesmo tempo, sempre novo: a fé. Em lugar das resistências, desdobradas em ataques, todos devem sonhar, remédio para curar, transformar e edificar uma sociedade justa e solidária - buscar um genuíno compromisso com o anúncio do reino de Deus.


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