segunda-feira, 4 de novembro de 2019

POR UMA FRENTE AMPLA

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Hoje temos no governo uma “família real” exposta à crítica violenta. Numa atitude defensiva, Olavo de Carvalho propõe um forte ataque aos meios de comunicação, retirando patrocínios em retaliação. Isso é desconhecer, lá do seu retiro nos States, o poder da mídia, quarto poder, só piorando a situação do presidente, exposto ainda mais negativamente diante da opinião pública.

Em momentos idênticos, no desprestígio de Jânio e de Collor, eleitos também com sua vassoura moralista e a luta contra os marajás, o caminho ficara aberto aos vices, Jango e Itamar, de opções diferentes. E neste caso? Vemos o vice, general Mourão, tomar cuidadosamente distância.

Como essas contradições irão enfraquecer um governo que chega vítima de tantas confusões? Assim, Bolsonaro se esvai no comando do governo. Seus problemas não advêm de atos de uma oposição, mas de suas próprias fragilidades. Como agirá quando terá de tomar decisões? Dá a impressão de que até bem pouco atrás não imaginava ganhar e que não teve tempo para treinar de ser presidente.

Esse futuro governo se manterá em 2020, ou poderá ter uma crise terminal durante os próximos meses? Para permanecer, provavelmente terá que entrar em acordo com os setores dominantes e as velhas raposas políticas, que procurarão assessorá-lo e que poderão deixá-lo sob tutela.

Na hipótese de não se sustentar no poder, fica a pergunta: quem viria depois? Mourão não é Jango nem Itamar, opções diferentes dos presidentes. Ou se o vice cair junto, qual seria a alternativa “legal” aberta, para um golpe semi camuflado? Uma certa legalidade formal deveria ser preservada, nascendo porém com uma ilegitimidade de origem. Vimos isso no impeachment de Dilma e na condenação preventiva de Lula.

Nesse último caso, não pareceria surgir no horizonte um golpe militar clássico, mas, uma vez mais, um sinuoso golpe de aparências legais, como tentaram depois da queda de Jânio, enfrentado na ocasião pelo movimento da legalidade de Brizola. Talvez pudessem pensar num governo provisório. Daí a importância da eleição para presidentes da Câmara e do Senado, na linha sucessória. Pelas primeiras sondagens, Rodrigo Maia e Renan Calheiros tem boas possibilidades de manter-se nos postos, apesar da forte oposição de Bolsonaro a Calheiros. O vice já se mostrou favorável a Rodrigo Maia. Numa forte crise de poder, o sistema talvez apostasse num destes políticos tradicionais, experientes em manobras nas sombras.

E depois, no caso de um possível interinato? Não há no horizonte, do lado do sistema, alguém sendo preparado para o que viria adiante? Ou melhor, haveria talvez um, o juiz Sérgio Moro, indicado para a pasta da justiça. Ele sempre esteve pronto a cumprir papéis que lhe têm sido designados. Teria o apoio do mercado e dos Estados Unidos, onde teve sua obediente formação.

E num caso destes, qual seria a força das oposições? Infelizmente parecem, até o momento, à margem.

Tenho insistido na necessidade de uma frente ampla nacional, democrata e popular. Entretanto estas eleições deixaram muitas feridas. Uma frente destas seria impossível sem o PT, que saiu das eleições com a maior bancada na Câmara e poder em alguns estados e no nordeste. Mas um dos maiores empecilhos seria o mesmo PT, avesso a alianças em pé de igualdade, com a tendência de se autodeclarar a força opositora hegemônica. A hegemonia não se proclama, se conquista no processo. Ou melhor ainda, uma frente deveria apagar hegemonias e aceitar o pluralismo. A “geringonça” portuguesa nos trás lições interessantes.

Se Bolsonaro se mantiver, veremos a implementação de medidas antinacionais, autoritárias e antidemocráticas. Se cair, haverá o esforço do sistema dominante para preservar seus privilégios.

Tudo indica que uma alternativa ao sistema deveria construir-se, pacientemente, num processo mais ou menos longo, a partir da sociedade civil e de suas forças sociais mais dinâmicas. Isso exigiria saber escutar o país e suas demandas. As forças populares saberão entrar em sintonia profunda com o país real? Para isso teriam de pôr de lado posições tradicionais e isoladas ou superar bandeiras parciais e colocar-se na escuta no amplo espaço de uma sociedade com dinamismos latentes e enormes carências.

O que acontece neste momento no Chile traz alguns ensinamentos que merecem uma análise séria.

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