Nosso atual modelo hegemônico de sociedade, baseado no consumismo e na
acumulação do lucro, encontra-se em crise. De cada três habitantes do planeta,
dois vivem entre a pobreza e a miséria. Todas as formas de vida estão ameaçadas
pela degradação ambiental. Apesar disso, mais de 6 mil culturas e 500 milhões de
pessoas resistem à modernidade neocolonialista que o paradigma anglossaxônico
insiste em nos impor.
O Fórum Social Mundial cunhou a utopia de “um outro
mundo possível”. Ora, melhor falar em “outros mundos possíveis”, abertos à
pluralidade de etnias e culturas. O que nos exige uma atitude iconoclasta, de
derrubar os mitos da modernidade capitalista, como mercado, desenvolvimento e
Estado uninacional, fundados na razão instrumental.
Ao questionar as lógicas
mercantilistas, desenvolvimentistas e consumistas, contribuímos para
desmercantilizar a vida. Sabemos todos que, em nome do deus Mercado, água,
florestas, mares e demais bens da Terra, deixam de ter valor de uso para ter
apenas valor de troca. Até as relações pessoais são sempre
mais
mercantilizadas.
“Vida em plenitude” nos exige resgatar a sabedoria dos povos
originários, numa atitude relacional e dialógica com a natureza e os
semelhantes. Abaixo a cultura do shopping, do consumismo desenfreado! Agora,
trata-se de viver bem, e não de viver melhor que o vizinho ou de acordo com as
imposições do grande oráculo do deus Mercado: a publicidade.
“Viver bem” é
poder pensar, discernir e decidir com autonomia; promover a interculturalidade e
a diversidade linguística; admitir a variedade de formas de democracia;
favorecer os autogovernos comunitários; socializar o poder.
Os povos
originários, como as nações indígenas que se espalham pelo Brasil, sempre foram
encarados, por nosso citadino preconceito, como inimigos do desenvolvimento.
Conheço sumidades acadêmicas que defendem a integração dos índios ao nosso
modelo de sociedade urbana. Ora, este nosso modelo é o grande inimigo daqueles
povos.
Frente à crise da civilização hegemonizada pelo capitalismo, é hora de
se construírem novos paradigmas. Isso implica valorizar outras formas de
conhecimento; integrar o humano ao natural; respeitar a diversidade de
cosmovisões; desmercantilizar e socializar os meios de comunicação; e opor a
ética da solidariedade à competitividade.
Se a secularização da sociedade
descarta cada vez mais a ideia de pecado, urge introduzir a da ética, a fim de
ultrapassar esse limbo de relativização dos valores que tanto favorece a
corrupção, a ridicularização do humano, a prepotência de quem se julga único
portador da verdade e não se abre ao direito do outro, à diversidade e ao
diferente.
Uma revista inglesa propôs a um grupo de leitores verificar,
durante três meses, quais os produtos estritamente necessários para que cada um
se sentisse feliz. Todos, sem exceção, concluíram que se ampliou o orçamento
familiar ao constatar o alto índice de supérfluos até então consumidos como
necessários.
“Vida em plenitude” significa estar aberto e relacionar-se com
o Transcendente, a natureza e o próximo. Não basta, porém, abraçar essa atitude
como mera receita de autoajuda. É preciso transformá-la em projeto político, de
modo a reduzir a desigualdade social e universalizar o acesso de todos à
alimentação, à saúde, à educação e aos demais direitos básicos.
Ao contrário
do que pregava o teólogo Adam Smith, é fora do Mercado que
reside a
salvação.
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