domingo, 24 de maio de 2020

UM OLHAR DE CIENTISTA


5 cientistas famosos que mudaram o mundo

Há muita expectativa sobre o que está por vir – do ponto de vista emocional, o que mudará na humanidade depois da pandemia: a solidariedade será maior? Haverá mais transcendentalismo ou materialismo?

Não sou muito otimista em relação a uma mudança total. Não iremos despertar amanhã, no final desse surto epidêmico, com uma mentalidade coletiva nova. Tenho dúvidas das mudanças que se alcançam por via do medo. Gostaria, no entanto, de acreditar que haverá lições importantes: por exemplo, uma percepção mais clara da importância do Estado, dos sistemas públicos de saúde e de educação, do ideal da cooperação solidária em vez da competição e da exclusão. Gostaria que ficasse mais clara a falência das receitas neoliberais que, em países como Brasil, acabaram destruindo as conquistas sociais dos governos anteriores. Se for verdade que a vacina da BCG ajuda a proteger contra o coronavírus, os brasileiros só podem agradecer esse período de poder popular em que a totalidade da população se beneficiava de campanhas de vacinação e de cuidados médicos básicos. Não será por causa da medicina privada, inspirada no capitalismo selvagem, que nos iremos proteger nem nesta pandemia nem em nenhuma outra situação de sofrimento.

Do ponto de vista político, acredita que haverá alguma mudança na forma de condução dos grandes mandatários?

Receio que não. Veja como os seguidores de Trump continuam apoiando a sua liderança, mesmo depois das suas posturas e declarações completamente imbecis e criminosas. Não quero falar do Brasil, mas receio que seja ainda pior. Os mandatários, conforme refere a pergunta, mandam porque há quem lhes obedeça cegamente. No final de tudo, haverá ainda quem celebre o populismo criminoso em troca de uma falsa promessa de salvação. Tenho, apesar de tudo, esperança que a máscara caia para alguns que não usaram máscara quando era um dever cívico e de respeito pela vida.

Me pergunto como jornalista, é surpreendente acompanhar pesquisadores de várias partes do mundo trocando informações em busca da vacina, algo até então inimaginável em um setor tão competitivo?

Num caso extremo como esse, não vejo um conflito insuperável entre pessoas e empresas, entre interesses públicos e privados. Acredito que, quando se encontrar a vacina, ela será distribuída de forma bastante acessível. Os lucros virão depois, porque este vírus veio para ficar e vai ser preciso vacinar durante anos. E muito provavelmente as vacinas terão que ser ajustadas em função das mutações e das estirpes novas dos vírus. Nessa fase, sim, a descoberta cumprirá a sua vocação de fazer lucro. O mundo não vai mudar a ponto de deixar de ser conduzido pelas razões de mercado. Devia acontecer agora um momento de ruptura, com a imposição dos valores sociais e dos sistemas nacionais de saúde sobrepondo-se à medicina como um meio de negócio privado. Há uma criatura tão invisível como o coronavírus que vai teimar em ficar. Chama-se mercado.

Mais uma vez me pergunto: Se mantenho alguma rotina de escrita ou a reclusão forçada não oferece a mesma comodidade intelectual do habitual?

Não creio que este seja o melhor ambiente para a criação. Primeiro, porque é forçada. Depois, porque não posso esquecer que, apesar de tudo, vivo uma quarentena de luxo. Não é possível pensar que, para a maioria dos brasileiros, esse confinamento tem implicações de sobrevivência muito graves. O sofrimento dessa gente não pode ficar fora das nossas casas por muito que nos fechemos dentro de quatro paredes.

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