sexta-feira, 1 de maio de 2020

TRATA-SE AQUI DAS VIDAS DE TODOS.


Estatuto do Idoso: como está o brasileiro aos 60 anos? - Politize!

Uma crise como a que vivemos não deixa de estar carregada de ensinamentos. E ensinamentos sempre acrescentam, somam, agregam conhecimento e sabedoria, fazendo-nos ser mais humanos. Nem todas essas lições que a crise nos dá são positivas, ensinam como fazer, mostram o caminho que temos à frente. Algumas são negativas, apontam para o que não deve ser feito nem imitado sob hipótese alguma, mostrando-nos o que evitar para seguir caminhando. Entre estas últimas certamente está a questão dos idosos em meio à pandemia do novo coronavírus.

Chega a ser chocante, para não dizer repulsiva, a atitude de governantes, empresários, médicos, ministros, quando se referem à maior vulnerabilidade das pessoas de mais idade e, portanto, a sua maior chance de letalidade. Esses idosos não entram em consideração quando se trata de levar adiante o isolamento social ou são objeto de descarte quando se fala da estrutura sanitária chegar ao limite para receber todos os pacientes. É uma postura de desprezo revestido de fatalismo, mas que em verdade esconde uma concepção lamentável do que seja o ser humano e a vida humana como dom precioso que deve ser cuidada desveladamente em todos os seus estágios.

É curioso que alguns desses mesmos que vociferam em favor de uma abertura irrestrita da quarentena já e imediatamente são os mesmos que clamam aos céus contra a interrupção da gravidez. Quando se trata da concepção e do início da vida essas pessoas ou grupos são enfáticos em defendê-la e por ela lutar. Por que então não mantêm a mesma coerência e ardor quando se trata da maturidade da vida, em sua etapa conclusiva?

"A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte. Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente".

Todas as vidas valem. E têm valor infinito. Não apenas a do nascituro indefeso, que não pode sequer gritar para defender-se. Não só as "produtivas", que podem trabalhar em tempo integral e produzir dividendos para o mercado. Nem apenas os fortes, as vigorosas e belas, no ápice da existência ou mesmo em suas etapas iniciais. E valem muito. Portanto, a luta contra a pandemia é por cada uma delas, uma a uma.

Todas as mortes ocorridas ou por ocorrer nos diminuem como humanidade. Entre todas as vidas que valem infinitamente estão as dos "idosos privados de cuidados" ou mesmo atirados ao contágio, sob pretexto de que suas vidas são descartáveis e dispensáveis.

Todas as tradições dos povos originários, todas as religiões têm enorme respeito pelos anciãos e por tudo que os mesmos representam em termos de sabedoria, capacidade de conselho, densidade identitária do grupo humano. Os idosos são venerados por toda parte. São a sede da memória de uma cultura, de uma tradição, de uma religião.

Trata-se aqui das vidas de todos. É fundamental se buscar salvá-las com todos os meios ao alcance. E entre estas contam-se também e plenamente as dos idosos. Todas as vidas valem. Igualmente as vidas que transcorrem há mais tempo, que formaram as jovens vidas que hoje são o futuro da humanidade. Quem com essa ligeireza considera a possibilidade de assassinar seu passado, mostra-se indigno do presente e também do futuro. Esperemos que a pandemia, além de todos os sofrimentos que já trouxe, não deixe esse amargo legado.

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