domingo, 9 de dezembro de 2018

O PRÓXIMO!



Resultado de imagem para quem é o proximo

Sabe quando se está numa destas redes de cafés e vai se aproximando o momento de seu pedido... Quando se terá uma fração de momento de atenção do profissional do caixa demandando que sua escolha seja clara e decidida... Quando qualquer hesitação será recebida com impaciência e inadequação e ao menor sinal de indecisão lhe será roubada a legitimidade comercial levando as pessoas da fila a cassar em olhar seu direito de precedência... Pois é sobre este "próximo" que gostaria de falar.

Hoje o olhar está no "próximo": "Proximo!". O tempo de atenção que nos dispensam é de soslaio, uma breve passagem antes que o protagonista seja "o próximo". Nosso dinheiro, que até então nos comprava a consideração do momento, hoje apenas dá o direito de passagem no encadear de consumidores. Qualquer excentricidade será ameaçada pelo avançar do "próximo".

Tento entender o que seria hoje "amar o próximo como a ti mesmo". Hoje todos nós disputaríamos ser o próximo - o único a merecer atenção e reconhecimento. O presencial não consegue ser amado como alguém ama a si mesmo, mas tão somente o próximo. Estamos é no tempo pós-interesseiro, porque nem sequer a atenção dos outros se consegue por interesse. Isso porque o interesse sempre estará no próximo interesse. Algo só compreensível pelo mundo dos aplicativos, do que pode ser aplicado. O freguês é passado e a referência tanto do foco como do lucro se encontra no que está por vir, um interesse mais viral do que pessoal.

O próximo é com certeza um efeito colateral do olhar de hoje. Esse olhar que é oblíquo, sempre dividido pela atenção preferencial a uma tela, e que nos oferece o mesmo pálido prestígio disponibilizado pelo profissional do caixa: não somos o foco, mas apenas mais um estímulo não presencial e difuso no encadeamento de inputs que constituem o existir. O olhar está no próximo: no que vai pop-up na vida e que teremos que atender ou deletar. E aí tudo faz sentido porque estamos trocando a existência pela aplicabilidade, e o que está presente é irrelevante diante do que está por vir.

Descobrimos que mais fácil do que dobrar a morte com nossa ciência é usá-la para produzir nossa ausência. Inventamos existir no futuro driblando o Anjo da Morte porque não estamos em nenhum lugar do presente. Como um elétron que está em algum lugar da nuvem, mas não tem lócus, também nossa presença, nosso olhar e nosso existir ganham asas no que virá proximamente. Para os que cismam habitar o momento, o mundo se assemelha a uma realidade de zumbis: de pessoas que não olham nos olhos, cuja atenção está sempre na borda da tela à espera do que vai entrar em cena. Enfim acho que estamos no tempo de "amar o próximo mais do que a si mesmo".

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