terça-feira, 7 de outubro de 2014

DIVERSIDADE NÃO SIGNIFICA CONFRONTO, MAS RIQUEZA.

Há milhões de anos, durante uma era glacial, quando nosso planeta esteve coberto por grandes camadas de gelo, muitas espécies animais não resistiram ao frio e desapareceram. A crise atingiu também os porcos-espinhos. Numa tentativa de sobreviver, trataram de aproximar-se uns dos outros. Assim, cada um podia usufruir o calor do outro. Todos juntos, unidos, aqueceram-se. Porém, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente os que forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte. E acabaram afastando-se feridos e magoados. Dispersaram-se por não suportarem os espinhos de seus semelhantes.Porém, a vida se encarregou de ensiná-los. Afastados, começaram a morrer de frio, congelados. Os que não morreram, trataram de reaproximar-se aos poucos, com cuidado. Cada um conservava uma certa distância do outro, o suficiente para conviver sem mágoa, mas acolhendo o seu calor. Assim suportaram-se, acolheram-se e superaram a longa era glacial.
O que acontece com o ouriço ocorre também com as pessoas. Existem em nós dois sentimentos que parecem contraditórios, mas que precisam coexistir. De um lado, a individualidade, do outro, a necessidade de partilhar e conviver. E nesta dialética, de criar o próprio espaço e acolher o outro, é construída a vida. Não existe um modelo único, mas precisa acontecer um processo, por vezes vagaroso. Para Sartre, os outros são o inferno. Para Francisco de Assis, os outros são irmãos enviados por Deus. Sartre percebia apenas os espinhos, Francisco apenas o calor.
E muitos dos espinhos na vida humana têm origem afetiva. Meus amigos, diz a sabedoria popular, não têm defeitos, meus inimigos não têm qualidades. Na realidade, todos somos diferentes e precisamos aprender a conviver. Isso supõe o dialogo que dilui nossa tentativa de julgar com nossos critérios e experiências. Tudo é visto a partir de um ponto de partida. E o ponto de partida de cada um é diferente. Diversidade não significa confronto, mas riqueza.
A tentação de julgar é muito forte em todas as pessoas. Talvez por isso, a sabedoria do Evangelho pede “não julgueis e não sereis julgados”. Não julgar é um ato de inteligência, porque pouco conhecemos dos demais e este pouco, quase sempre, é superficial. De resto, julgar é colocar-se como juiz, como centro de referência e da verdade.
Uma imagem, que vem de nossos avós, lembra: carregamos nossos defeitos às costas e por isso não os vemos. Porém, vemos facilmente os defeitos dos outros. O outro é sempre maior que seus defeitos. E o calor é mais importante que os espinhos. Até os ouriços acabaram por entender isso.

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